Em conversas com muitos viajantes, todos foram unânimes em dizer que a Romênia é um lindo país e possui uma particularidade: parece uma viagem no tempo!!
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Castelo de Poienari: residência de Vlad, o Empalador |
Resolvemos conferir com nossos próprios olhos e deixamos a Hungria para trás, entrando numa fila de aduana com alguns veículos na nossa frente. Houve alguma confusão inicial ao apresentarmos nossos documentos, pois Marcos esqueceu de entregar a carteirinha de residente na Alemanha, e com os casos de Covid aumentando exponencialmente em nosso Brasil, há restrições de entrada de brasileiros na Europa (e na Romênia), os oficiais aduaneiros queriam exigir quarentena dele... aí apresentamos o outro documento (de cidadão da EU) e explicamos que deixamos o nosso país há mais de um ano! Assim, tudo foi resolvido!!!
Pagamos a vignette (espécie de carta pedágio) para trafegar nas estradas da Romênia (para todas as estradas) e fomos nos aventurar na Terra de Vlad!!! Como já estava anoitecendo buscamos um local para acamparmos. Optamos por um estacionamento meio abandonado ao lado de hotel fechado.
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Diversas vignettes dos países europeus |
Só como curiosidade: aqui a vignette é vendida para período de 7 dias (que nós compramos, por 5 Euros), por 1 mês ou anual e é emitido um documento com os dados do carro. Cada país possui suas próprias regras no que tange o tráfego em estradas. Na Áustria também se compra a vignette por período e é uma espécie de selo que se cola no para-brisas, mas apenas para automóveis que trafegarem nas autobahn (autoestrada). Na Hungria também é emitido um documento, com os dados do carro, para o tráfego apenas em autoestradas. Idem para a Suíça, porém apenas com a opção anual. Na República Tcheca a vignette é virtual, havendo apenas a opção online com emissão de um QRcode.
O romeno é um pouco parecido com o italiano, pois é um idioma latino (por ter sido habitado pelos dácios, na Antiguidade, e estes falavam uma espécie de latim, esta é a origem do idioma), o que facilitou bastante nossa compreensão na leitura de placas e produtos nos supermercados.
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A moeda da Romênia: LEU (ou LEI, no plural) |
A moeda da Romênia é o Leu Romeno (RON), cujo valor é de, aproximadamente, 1 Euro = 4,85 RON. No séc. XVII circularam pelo território romeno florins neerlandeses com a figura de um leão. Essas moedas ficaram conhecidas por lei (leões), cujo nome acabou virando a moeda nacional romena, a partir de 1867. A origem do lev búlgaro e do lek albanês é semelhante.
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Represa Lago Crișul Repede |
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Lago da represa |
Nossa primeira parada para curtir foi na Represa do rio Crișul Repede, próximo da localidade de Urvind. Passamos o dia ali, descansando, na companhia de alguns moradores locais.
SIGHIȘOARA
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Vista panorâmica da parte baixa da cidade |
A cidade onde o famoso Conde Vlad nasceu foi fundada por volta de 1191 por colonos saxões e possui cerca de 30 mil habitantes. Pertencente à região histórica da Transilvânia, a cidade é tombada pela UNESCO por conta de seu centro histórico bem preservado e por ser a cidade natal de Vlad, o Empalador, príncipe da Valáquia no séc. XV, que deu origem ao personagem literário de Bram Stoker, o Conde Drácula.
O reduto medieval da cidade - conhecido como Cidadela - foi construído no alto da colina e fomos direto para lá, estacionando o Garça num P (pagamos 3 RON por 1,5 horas de estacionamento). A cidade foi um importante entreposto de comércio nos limites da Europa Central, sendo visitada por artesãos e mercadores de todo o Império Romano-Germânico. Estima-se que entre os séc. XVI e XVII, Sighișoara possuía 15 corporações de ofício e 20 ramos de artesanato. Até teve moeda cunhada na época de Vlad II Dracul (pai de Vlad, o Empalador) que aqui viveu e mandou fazer a moeda, contra as regras do reinado húngaro, que detinha o monopólio na cunhagem das moedas.
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Na entrada do túnel de subida para acessar a Igreja de São Nicolau |
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Túnel com escadaria de acesso à Igreja de São Nicolau |
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Igreja de São Nicolau, no alto do morro |
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Interior da Igreja |
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Cemitério nos fundos da Igreja de S. Nicolau |
Depois do fim da 1ª Guerra Mundial, com a desintegração do Império Austro-Húngaro, Sighișoara deixou de fazer parte da Hungria e passou a fazer parte do reino da Romênia, como o resto da Transilvânia.
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Torre do Relógio e Casa ondeVlad nasceu |
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Torre do relógio ao fundo |
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Turnul cu Ceas:construído entre os séc. XIII e XIV |
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Casa do Veado: construída no séc. XVII |
Grande parte das 164 casas do centro histórico têm, pelo menos, 300 anos e consideradas monumentos históricos. Passeamos pelas vielas e admiramos sua arquitetura particular, imaginando o período em que Vlad passeava pelas suas ruas. Mesmo com algumas restrições por conta do Covid, pudemos passear por todo o local e até compramos algumas lembracinhas!
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Uma das entradas da Cidadela |
Nosso pernoite foi feito num campo já colhido, próximo de Brădeni, no Condado de Mures. Do local, podíamos ver a torre da Igreja Fortificada da vila. Uns poucos lavradores passaram por nós, nos cumprimentando alegremente de suas charretes!! Isso mesmo, o meio de transporte mais comum por aqui é a carroça!
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Vista da Torre da Igreja Fortificada do Condado de Mures |
Uma coisa que nos chamou bastante a atenção nesta região da Romênia é a presença de inúmeras Igrejas Fortificadas. Durante a Idade Média quem cumpria a função de proteção da comunidade nesta região não eram os nobres e sim a Igreja. Em caso de invasões estrangeiras, a pequena comunidade que vivia próxima da Igreja se reunia em seu interior, inclusive trazendo sua criação junto, e ficavam abrigados no pátio interno da fortificação até que a ameaça fosse embora.
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Igreja Luterana Fortificada em Brădeni |
Igreja dedicada a São André, construída por volta de 1350. O processo de fortificação das igrejas nas comunidadese iniciou por volta do séc. XV, após a invasão otomana.
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Igreja Fortificada em Dealu Frumos, fechada |
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Igreja Fortificada de Schönberg, também fechada |
Por conta do Covid muitas destas construções estavam fechadas, porém tivemos a felicidade de encontrar uma delas aberta à visitação - Biserica Evanghelică C.A. Cincșor - e após pagarmos o ingresso, de 10 Lei cada, pudemos admirar o seu interior e verificar como funcionava este tipo de forte.
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Kleischenk |
Algumas curiosidades, lendas e histórias da Transilvânia:
TRANSFĂGĂRĂȘAN
Esta estrada incrível, que liga as regiões de Transilvânia a Valáquia, foi construída para atravessar a Cordilheira dos Cárpatos (Montanhas Făgăraș) nos anos 1970, a mando do ditador Nicolae Ceaușescu, e levou 4 anos para ser concluída.
Estrategicamente construída como resposta militar rápida em caso de invasão pela União Soviética, a estrada teve um alto custo humano e financeiro, por usar mão de obra militar não especializada, em clima alpino (2000msnm) e usando dinamite (6 mil toneladas). Calcula-se que pelo menos 40 soldados perderam a vida durante as obras, mas há registros não-oficiais de pelo menos algumas centenas!
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Cachoeira Bâlea |
Inaugurada em 1974, teve sua pavimentação concluída em 1980. Ao longo de seus 90 km de extensão, este percurso é sinuoso, com curvas íngremes e fechadas, longas curvas em S e não permite uma velocidade superior a 40km/h. Aqui acontecem anualmente competições ciclísticas e durante o inverno a estrada permanece fechada.
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Túnel Bâlea, o mais comprido da Romênia |
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Tudo que sobe, tem de descer... |
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Adquirindo produtos locais |
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Laguinho na área de picnic, com águas geladas e cristalinas! |
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Nosso acampamento na área de picnic |
Realizamos a subida com muita calma, parando aqui e ali para tirar fotos e comprar queijos e salame regionais. Resolvemos acampar no meio da descida, numa área de picnic, onde havia um lindo e gelado laguinho. Não teve churrasco, pois a lenha e carvão encontrados no local estavam muito úmidos, porém o visual e tranquilidade do lugar foram top. A noite foi gelada (e estamos em pleno fim de verão) e o céu, estreladíssimo!!! |
Rebanho de ovelhas e seus pastores |
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Lago Vidratu |
Ao longo do percurso, pode-se admirar a Bâlea Lago e Bâlea Cachoeira, o lago e a represa Vidratu, além do Castelo Poenari - residência oficial de Vlad, o Empalador, do séc. XIV.
São 5 túneis, sendo um deles o maior túnel rodoviário da Romênia, com 884 m de comprimento - Túnel Bâlea.
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Represa Vidratu
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Infelizmente a grande quantidade de lixo espalhada pelos lugares, mesmo havendo lixeiras públicas disponíveis, demonstra um certo descaso e falta de educação dos cidadãos locais.
CASTELO POIENARI
A residência oficial de Vlad, o Empalador, do séc. XIV, só é acessível por 1480 degraus, pois está localizada no alto de uma montanha. O ingresso é de 10 Lei cada (e você paga quando chega lá em cima).
O calor intenso nos acompanhou durante a subida e descida. As ruínas estão em mau estado de conservação, mas deu pra ter uma ideia de como era o esconderijo deste "maluco" sanguinário.
Seguimos para o Castelo de Bran, em Brașov, distante 190 km daqui, e que inspirou Bram Stoker (1897) e seu personagem, Conde Drácula. A cidade estava cheia de turistas e o ingresso no Castelo custava "módicos" 17 Euros por pessoa, custo muito elevado e fora de nosso orçamento. Então, apenas olhamos a construção do lado de fora e buscamos um local bacana para acamparmos e de onde tínhamos uma vista privilegiada da cidade e do Castelo.
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Vista panorâmica de Brașov |
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Vista do Castelo de Bran |
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Castelo de Bran |
A comuna de Bran, localizada no distrito de Brașov, Transilvânia, foi um antigo ponto de comércio e protegido pelo seu castelo, construído inicialmente em madeira pelos Cavaleiros Teutônicos, por volta do ano 1213, durante o reinado dos Habsburgo.
A partir de 1920, este Castelo passou a ser residência oficial do Reino da Romênia e da Rainha Maria da Romênia. Após a ocupação soviética a construção passou a ser ocupada pelo regime comunista e apenas em 2005 a propriedade voltou para os proprietários legítimos, tornando-se um Museu, o segundo local mais visitado no país.
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Vista panorâmica de Rasnov |
Daqui seguimos para o litoral do Mar Negro, percorrendo inicialmente muitos quilômetros por uma estrada estreita e com muito tráfego (1A). Mais próximo da capital, Bucareste, resolvemos trafegar por uma Autoestrada A2. A qualidade da rodovia é muito boa, porém não permite acessar estradas vicinais e há pouquíssimos pontos de retorno, o que é um perigo no caso de você perder alguma saída! Nosso pernoite foi em um posto de combustíveis, com boa estrutura, porém muito barulhento, perto de Răzvani!
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Posto de combustíveis na A2, que liga Bucareste a Constanta |
Próximo de Constanta, já no litoral do Mar Negro, seguimos direção sul, especificamente para Eforie Sud, onde achamos um local bem bacana para pernoitarmos e curtirmos praia e banho de mar!
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E o Mar Negro é verde e azul! Rs |
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Poços de petróleo ao fundo e aves em primeiro plano |
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Nosso acampamento |
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Vista panorâmica do alto do morro |
Nossa passagem pela Romênia foi de encantamento. As pessoas muito simples e alegres, em sua grande maioria, nos encantaram. Muitas cidades, principalmente no norte do país, ainda vivem como no século passado. As atividades pastoreias são comuns e cruzar por carroças ou charretes nas estradas é super normal.
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A carroça ainda é um meio de locomoção bastante usado |
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Atividade pastoreia muito comum |
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Pastores acompanhando o rebanho ao longo da estrada |
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Feno amontoado em formato diferente |
Mesmo as roupas usadas pela população e expostas nas vitrines são "de modè"! País muito peculiar e cheio de curiosidades!
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Lindos e delicados bordados em roupas típicas |
A Romênia era para nós uma completa desconhecida. Mostrou-se acolhedora, com belas paisagens e muita cultura. Aqui também o domínio comunista se fez presente e "rondou" por muitos anos, transmitindo uma imagem de país fechado e isolado do resto do mundo. É um ótimo destino para ser visitado e explorado, fugindo do lugar comum! Em momento algum nos sentimos inseguros e a curiosidade demonstrada pelas pessoas locais só nos atraiu ainda mais!
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Bye bye, Romênia! |
Muito interessante conhecer a Romênia e todos os locais que vcs visitaram...pareceu bem bucólica..realmente uma agradável viagem no tempo
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