Viagem Família______________________________________

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Páscoa na Região do Contestado-SC

Praça Nereu Ramos-Videira, SC
Chegou a Páscoa, e como a Páscoa é renovação e reflexão, neste ano nós os Garças decidimos "fazer uma Páscoa diferente".
Decidimos em vez de tradicionalmente comemorar essa tão importante data em familia como sempre fizemos, sair para conhecer novos lugares e pessoas. A escolha recaiu sobre a região do Vale do Contestado, área localizada no meio-oeste catarinense, que abrange uma área de mais de 23.668 km quadrados e mais de 60 municípios.
É claro que seria impossível conhecer uma área tão grande em três dias, desse modo focamos algumas cidades para posteriormente podermos conhecer a fundo a região.

Chegando ao Vale do Contestado
Nosso primeiro objetivo ainda na sexta-feira foi ir até a cidade de Caçador, distante aproximadamente 410 km de Florianópólis e pouco mais de 370 km de Barra Velha onde moramos. O maior problema é que em qualquer feriado todos pensam em viajar; resultado, estradas congestionadas!!  Nosso caminho pela BR 470 não foi diferente, pois é uma rodovia mal planejada, passando por dentro de diversas pequenas cidades o que causa muito aborrecimento tanto para motoristas quanto para moradores locais. Nesta rodovia um dos principais locais de longos engarrafamentos rodoviários é na região da Cidade de Apiúna no Vale do Rio Itajaí, pois para cruzar esta cidade tem se que passar por inúmeras lombadas e radares(pardais) o que atrasa tudo.
Chegamos a Caçador perto das 15h e fomos dar uma volta pela cidade. Caçador é uma cidade com aproximadamente 80.000 habitantes, sendo a cidade mais populosa do Vale do Contestado. No século passado, era conhecida como a Capital da Madeira, e hoje sua economia baseia-se na agropecuária, produzindo mais de 100 mil toneladas de alimentos com destaque para o tomate, alho e cebola.
A colonização é predominantemente italiana, mas há forte influência alemã, polonesa, sírio-libanesa e mais recentemente japonesa.
                       Museu do Contestado-Caçador,SC.
Em Caçador está localizado o principal museu sobre a Guerra do Contestado, que foi instalado numa réplica da estação ferroviária da época da guerra ocorida de outubro de 1912 a agosto de 1916. Este conflito envolveu cerca de 20.000 camponeses e moradores da região que combaterem militares dos poderes federais e estaduais, ganhando este nome pois se tratava principalmente da disputa territorial entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Essa guerra mudou completamente a geografia da região pois até então o estado do Paraná tinha suas divisas até o Rio do Peixe, onde hoje é a cidade de Caçador.
Mais de 6.000 pessoas morreram nesse conflito, que foi principalmente causado pela construção de uma estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul estava sendo idealizada por uma empresa norte-americana,( Brazil Railway Co.)  através do seu proprietário Percival Farquhar, com apoio dos coronéis (grandes proprietários rurais com força política) da região e do governo. Para a construção da estrada de ferro, milhares de família de camponeses perderam suas terras. Este fato, gerou muito desemprego entre os camponeses da região, que ficaram sem terras para trabalhar.
Outro motivo da revolta foi a compra de uma grande área da região por de um grupo de pessoas ligadas à empresa construtora da estrada de ferro. Esta propriedade foi adquirida para o estabelecimento de uma grande empresa madeireira, voltada para a exportação. Com isso, muitas famílias foram expulsas de suas terras.

O clima ficou mais tenso quando a estrada de ferro ficou pronta. Muitos trabalhadores que atuaram em sua construção tinham sido trazidos de diversas partes do Brasil e ficaram desempregados com o fim da obra. Eles permaneceram na região sem qualquer apoio por parte da empresa norte-americana ou do governo.

Os coronéis da região e os governos (federal e estadual) começaram a ficar preocupados com a liderança de José Maria e sua capacidade de atrair os camponeses. O governo passou a acusar o beato de ser um inimigo da República, que tinha como objetivo desestruturar o governo e a ordem da região. Com isso, policiais e soldados do exército foram enviados para o local, com o objetivo de desarticular o movimento.

Douglas na sala das armas
Os soldados e policiais começaram a perseguir o beato e seus seguidores. Armados de espingardas de caça, facões e enxadas, os camponeses resistiram e enfrentaram as forças oficiais que estavam bem armadas. Nestes conflitos armados, entre 5 mil e 8 mil rebeldes, na maioria camponeses, morreram. As baixas do lado das tropas oficiais foram bem menores.
Roupa do General Atalíbio Taurino de Resende das Tropas Federalistas no Contestado.
A guerra terminou somente em 1916, quando as tropas oficiais do governo conseguiram prender Adeodato, que era um dos chefes do último reduto de rebeldes da revolta. Ele foi condenado a trinta anos de prisão. Aí,  sem lideranças fortes os rebeldes se dispersaram, encerrando um dos mais sangrentos conflitos de nossa história.

Como ainda era cedo, e em plena sexta-feira santa, está quase tudo fechado, então  ficamos perambulando pela cidade e aproveitamos para procurar um bom hotel com calmapara descansar e planejar o dia seguinte.  Acabamos encontrando o Alcácer Hotel (http://www.alcacerhotel.com.br/) na Av. Barão do Rio Branco no centro da cidade, sendo muito bem atendidos pelo Marlon, que ainda nos deu boas dicas de visitação na cidade e também para o jantar.
Antes de sairmos para jantar, demos uma volta a pé pelas redondezas e encontramos uma simpatica ponte de madeira coberta. Trata-se da Ponte Antônio Boltolon. É uma herança dos povos europeus que tinham esse costume para manter as pontes secas e desobstruidas na época do inverno, evitando o acúmulo de neve e tornando elas assim mais seguras.

Ponte coberta Antonio Bortollon
Um dos maiores problemas foi encontrar algum local aberto para jantarmos, pois com o feriado santo, com excessão da Suprema Pizza (49-3567-2233) tudo estava fechado. Os proprietários Claudine e Lorian muito simpáticos com uma equipe ágil e prestativa nos "salvou" com pizzas deliciosas. Obrigado amigos!!
Sábado pela manhã, fomos em direção ao Museu do Contestado que só abria as 10h então aproveitamos para passear no Parque Central Municipal José Rossi Adami que localizado as margens do Rio do Peixe oferece uma enorme área com quadras esportivas, arvorismo, parede de escalada, pista de corrida, ciclismo e aparelhos de ginástica.

Parque Municipal José Rossi Adami

Com o Júlio no Museu do Contestado

O Museu foi aberto pelo Júlio, que se desculpou pelo atraso e prontamente nos atendeu com muita gentileza. O prédio onde está localizado é uma réplica da antiga estação de trem de Caçador, e possui o melhor acervo da região sobre a Guerra do Contestado e também tem peças antropológicas de antigas tribos habitantes da região. Visitamos e conhecemos mais sobre essa parte da nossa história tão relegada, e ainda obtivemos uma verdadeira aula sobre o tema com o Júlio que acabou se revelando um verdadeiro expert  no assunto.  Na saída ainda compramos umas lembrancinhas e tiramos a clássica foto com o Júlio e também com o adesivo do Viagem Família, que é nossa referência de bons lugares.

Saindo de Caçador em direção ao sul, para a cidade de Videira, distante mais ou menos 30 km. Paramos na praça central (Nereu Ramos) pois alí estava acontecendo uma feirinha de Páscoa, mas infelizmente não havia nenhum chocolate para degustar, problema que resolvemos num shopping alí perto, ainda tentamos uma loja da Cacau Show, mas os proprietários aparentemente não queriam trabalhar pois fecharam a loja na nossa frente e disseram para voltarmos mais tarde! Azar deles, a concorrência agradeceu!!

Museu do Vinho Mário Pellegrin- Videira SC.


Subimos o morro onde está a Catedral da Cidade, pois alí ao lado está o Museu do Vinho Mário de Pellegrin (www.museudovinho.blogspot.com).  Ele conta toda a história do cultivo da uva na região (por isso o nome Videira) e também a história da cidade e de seus moradores e colonizadores. bem legal o museu, apesar da atendente não se mostrar muito interessada nem se oferecer para explicações. Videira tem aproximadamente 48.000 habitantes e as principais atividades econômicas são o cultivo do pêssego, ameixa, uva é claro, e também criação de aves e suinos destinados aos inúmeros frigoríficos da região. Além do museu vale a pena visitar o Observatório Astronômico Domingos Forlin (http://www.observatoriodevideira.com.br/) que deve ter a visitação agendada com antecedência  pelo email  (observatoriovideira@hotmail.com) . Como era feriado e não agendamos, não pudemos visitá-lo; fica para uma próxima vez.
Observatório de Videira
Assim saimos de Videira em direção a Treze Tílias-Dreitzehnlinden-no idioma alemão, uns 40 quilômetros ao sudoeste, com parte do percurso  em estrada de terra, chegando próximo das 15h.  Fomos direto ao Hotel Áustria onde já tínhamos nos hospedado a alguns anos atrás, e...   ... surpresa, estava fechado, quase caindo aos pedaços!! Uma pena, era um belo local com ótimo atendimento.  Então nos dirigimos a Secretaria de Turismo para pegarmos o mapa da cidade e rever esta cidade tão bonita.
Hotel desativado - Áustria
Treze Tílias, é uma pequena cidade de pouco mais de 6.000 habitantes na sua maioria descendentes dos primeiros imigrantes austríacos vindos do Tirol. Foi fundada em 13 de outubro de 1933 pelo então Ministro da Agricultura Andreas Tahler, da Áustria, que na época veio ao Brasil procurando melhores condições de vida pois a Europa passava por graves problemas econômicos.
Casa do Consulado da Áustria-Treze Tílias, SC.
A economia da cidade vem da agropecuária, nos arredores, e principalmente do turismo no centro.
A cultura tirolesa é preservada no dialeto, na arquitetura típica alpina da cidade, na culinária típica e nos grupos folclóricos de dança e canto que animam as festas do município. Tradições e costumes são preservados nas famílias e despertam o interesse de visitantes brasileiros e europeus. Treze Tílias preserva com orgulho suas raízes culturais, reforçando, assim, o elo de amizade entre brasileiros (das novas gerações) e  austríacos (origem dos fundadores da cidade).
Museu Andreas Tahler


Visitamos em seguida o Museu Andreas Tahler localizado num casarão (em más condições) da década de 1970 , onde estão expostas peças de época e documentos contando a formação e história do lugar, com ênfase a família Tahler fundadora da cidade. A arquitetura, artesanato e culinária do lugar são os principais atrativos bem como manifestações folclóricas e vestuário típicos.
Treze Tílias não é uma cidade barata! Comparativamente com suas cidades vizinhas, tanto hospedagem como gastronomia tem valores relativamente elevados, inviabilizando o turismo econômico. Nossa recomendação é para se achar os valores cobrados para hospedagem muito elevados, procurar cidades vizinhas como Água Doce (14 km) , Ibicaré (15 km) ou mesmo Videira ou Joaçaba  (30 km)que apresentam opções diversas. É claro que o charme de Treze Tílias bem como a atmosfera que se respira na cidade é bem agradável e a cidade é realmente linda, por esse motivo vale a visita.
As hospedagens mais econômicas que encontramos na cidade são o Hotel Schneider (http://www.hotelschneider.com.br/)  e a Pousada Adler (pousadaadler@yahoo.com.br), que tem preços bem semelhantes em torno de R$ 250,00 para 4 pessoas. Vale lembrar que em cidades vizinhas pode se encontrar hospedagem quase pela metade dos preços praticados aqui.
Assim sendo, optamos de passar o dia em Treze Tílias, visitando a arquitetura típica, Praça Principal com chafariz e cascatinha, o Parque dos Sonhos com seu interessante labirinto verde, e diversas lojinhas com artesanatos diversos, esculturas e chocolates.
Dentro do Labirinto Verde


Praça Central-Ministro Andreas Tahler


Portal da Cidade de Treze Tílias, SC
Saindo de Treze Tílias já no final da tarde, resolvemos seguir até a cidade de Curitibanos, distante mais ou menos 120 km, já em direção ao leste, no caminho de volta. Chegamos já escuro e depois de algumas tentativas achamos o Tortatto Hotel  bem no centro da cidade. Curitibanos é considerado o Portal do Contestado, possuindo também o Museu Antonio Granemann de Souza construido numa antiga edificação da cidade bem ao lado da Catedral. Curitibanos também foi palco de combates da Revolução Federalista (1895) e da Revolução Farroupilha ( 1835 a 1845) sendo parte também da Rota Tropeirista do séculoXIX. É uma cidade de quase 40.000 habitantes e grandes fazendas de gado dominam a região, com alguma economia também  no agronegócio, sendo esta cidade o Centro geográfico do Estado de Santa Catarina.

Museu Antonio Granemann de Sousa-Curitibanos-SC
Curitibanos apesar de ser uma cidade relativamente grande, possui poucas opções de alimentação e hospedagem.  Pesquisamos 2 ou 3 hotéis e optamos em ficar no Tortatto Hotel (tortatohotel@brturbo.com.br) que apresentou melhor custo/benefício. Já em termos de restaurantes, quase todos fechados. Abrem apenas para o almoço e assim acabamos ficando com uma das únicas opções abertas que era a Pizzaria Fornalha que tem um prato chamado Sugestão da Casa que consiste em: Macarronada ao Sugo, frango a passarinho, salada e polenta frita , tudo em porções generosas que literalmente devoramos pois não havíamos almoçado, apenas degustado uma deliciosa fatia de Apfellstrudell (Torta de Maçã) com sorvete e creme ainda em Treze Tílias.
Domingo pela manhã, depois de ter chovido quase a noite inteira, passeamos por toda a cidade, mas por ser Páscoa as poucas atrações estavam fechadas, uma pena. Esse sempre é um impecílio quando se viaja em feriados ou dias santos. De qualquer forma sempre vale a pena, pois fica aquele gostinho de querer voltar para rever tudo!
Percurso da Volvo Ocean Race - 2012
Agora é pé na estrada para voltar, mas antes de chegarmos em casa, decidimos ainda dar uma passadinha em Itajaí no litoral perto de casa pois está acontecendo lá uma das etapas do Campeonato Mundial de Vela Oceânica Volvo Ocean Race.
É uma competição de volta ao mundo da qual participam equipes de 15 diversas nacionalidades objetivando sempre chegar aos pontos de referência em menor tempo. Quando lá estivemos apenas duas equipes haviam  chegado, proveniente de Auckland na Nova Zelândia num percurso de mais de 6705 milhas náuticas-12.417 km.  Depois ainda seguem para Miami, e finalmente para a Europa onde em Portugal a corrida termina.
Barco da equipe da Espanha

Com nosso novo amigo Hassein(espero que escreví certo)-Volvo Ocean Race
Os barcos tem 21,5 m de comprimento com mastro de 31,5 m de altura, tão alto quanto o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. São fabricados em fibra de carbono e pesam até 14 toneladas. A velocidade desses barcos chega a 75 km/h e irão percorrer um total de 72.728 quilometros navegando em quatro oceanos(Atlântico, Pacífico, Indico e Antártico) e passando em cinco continentes durante os nove meses de duração
da competição.
Anatomia dos barcos
É um show de tecnologia sendo o custo desses barcos de milhões de dollares.  Também foi montado pequeno museu temático e informativo sobre a corrida, onde além de se ver muitas novidades e curiosidades do mundo nautico, se pode participar de algumas provas em terra sobre como manejar um barco.
Visitando a Volvo Ocean Race em Itajaí-SC.
Finalmente depois de termos rodado  938 km numa "Páscoa diferente" em família votamos para casa com a sensação de paz e felicidade por termos mais uma vez podido conhecer novos lugares e feito novos amigos, que são os motivos que nos movem. Até a próxima!!