Viagem Família______________________________________

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terça-feira, 29 de setembro de 2020

A Terra de Alexandre, o Grande: a Macedônia!!!!

Anfiteatro romano de Stobi, cuja construção foi iniciada em 69 a.C. Após sucessivas ampliações, chegou a acomodar 7600 espectadores (séc. III d.C.)

Nossa chegada à terra de Alexandre, o Grande, se deu pela pequena divisa entre a Bulgária (Logodaz) e a Macedônia do Norte (Zvegor). Ainda na aduana, compramos o Seguro para trafegar pelas estradas do país, a um custo de 50 Euros e mais 5 Euros pela mão de obra para emitir o documento, com validade para 15 dias! Aqui não é aceito o Seguro Carta Verde que é usado em toda a EU. A explicação do agente aduaneiro foi bem simples e prática: a Macedônia não faz parte da EU e possui seguro próprio!!



Chamada atualmente de República da Macedônia do Norte (após um referendo em que muitos habitantes não concordando com a nova nomenclatura simplesmente não foram votar) é um país dos Balcãs que não possui saída para o mar, tendo como vizinhos a Grécia, a Bulgária, a Albânia, a Sérvia e Kosovo. 

Dinar Macedônio

O Dinar Macedônio (MKD) é a moeda corrente da Macedônia e tem sua origem no dinar romano. 1 Euro = 61 MKD, aproximadamente. 

Conhecendo um pouco de sua história...

Alexandre III da Macedônia, ou Alexandre, o Grande, ou ainda Alexandre Magno nasceu por volta do ano 356 a.C. e aos 20 anos sucedeu o trono de seu pai, Filipe II, após este ter sido assassinado. Mesmo ele tendo sido uma das grandes personagens da História, muito poucas referências a este conquistador, cujo reino se estendia da Grécia até o Egito e ao noroeste da Índia, se encontram neste país que compunha a antiga Iugoslávia.

Igreja Ortodoxa abandonada - isso nos chamou bastante a atenção: muitas igrejas foram abandonadas e grande parte da população se diz ateia, provavelmente em função dos anos de dominação muçulmana, seguida do regime comunista que assolou a região por 40 anos. 

Mosaicos de Stobi, na área destinada aos batizados

O Império Romano esteve por estas bandas lá pelo ano 146 a.C. e no final do século VI tribos eslavas conquistaram a região, estabelecendo-se perto de Bitola. O cristianismo acabou se tornando a religião oficial por volta do século IX e o Império Bizantino passou a dominar toda a região dos Bálcãs, até a tomada pelo Império Sérvio, no séc. XIV e posteriormente pelos Otomanos. Após as duas Guerras dos Bálcãs (1912 e 1913) e a dissolução do Império Otomano, as terras controladas por eles foram divididas entre a Grécia, a Bulgária e a Sérvia. A região onde hoje fica a Macedônia foi conquistada pelos sérvios, que fecharam escolas e proibiram o idioma búlgaro, com seu alfabeto cirílico. Durante a 2ª Guerra Mundial o que hoje é Macedônia foi ocupada pelas forças do Eixo e a área foi dividida entre a Bulgária e a Albânia, sendo ocupada pelos italianos. Em 1944 a República Popular da Macedônia passou a fazer parte da Iugoslávia (dominada pelos soviéticos), situação que perdurou até 1991, quando ela declarou sua independência.

Geograficamente o país tem muitas montanhas e extensas plantações de uva. Possui 3 lagos, o Ohrid - o mais profundo dos Bálcãs e considerado um dos mais bonitos da Europa - o Prespa (bem próximo do Ohrid) e Dojran. 






Passamos ao lado do Sítio Arqueológico de Stobi e resolvemos visitá-lo. Não havíamos sacado ainda Dinares Macedônios, então pagamos o ingresso, que era de 100 MKD, com Euros! Só tínhamos 3 euros e a moça da recepção nos cobrou apenas um tícket e embolsou o dinheiro, levando-nos até a entrada do sítio, onde passamos sem catraca!!! Ela nos indicou um rapaz, chamado Godsé (ou qualquer coisa parecida), que nada mais era do que um dos arqueólogos responsáveis pelas escavações do local!!!  Além de termos uma aula sobre o local, ainda tivemos acesso a locais restritos, que normalmente não podem ser visitados!! Foi show!! 

Anfiteatro romano, construído entre os séculos II e III, depois convertido em arena de espetáculos com gladiadores



A mais antiga e principal igreja cristã construída em Stobi por volta do séc. IV. Restaurada e ampliada 2 vezes antes do séc. VI


A maior e mais rica construção do séc. IV-VI. Provavelmente o imperador Theodosius I hospedou-se nessa casa quando veio a Stobi em 388.

Stobi era um assentamento que se desenvolveu durante os séculos VII e VI a.C., porém chegou ao seu auge durante o Império Romano, no séc. II d.C, quando o Imperador Filipe V era o rei da Macedônia. A localização estratégica de Stobi, na Via Egnatia (ligava Tessalônica, na Grécia, a Singidunum (atual Belgrado)), foi um importante fator para o desenvolvimento da cidade, que possuía uma comunidade judaica bastante grande. 

Via Egnatia

Vista panorâmica do complexo de ruínas onde estava a cidade de Stobi


Os cidadãos de Stobi possuíam título de cidadão romano e havia até uma moeda local. Depois da queda do Império Romano, o imperador Constantino construiu na cidade uma basílica e outros prédios episcopais, durante o Império Bizantino. Os mosaicos maravilhosos que podem ser observados no chão dos templos e dentro de algumas casas é de uma perfeição absoluta. Muitos deles estavam recobertos de areia (para proteção são recobertos para não ficarem expostos à chuva e neve) e não foram limpos nesta temporada, pois com o Covid o número de turistas e visitantes caiu demais. 





Passeamos pelo local admirando a estrutura urbana visível desta cidade, suas casas, prédios públicos, igreja, sinagoga e também até o cassino. Fomos os últimos visitantes a sair do local, já era passado das 17h (hora de encerramento da visitação), mas o vigia do lugar estava pacientemente nos aguardando para fechar os portões.  

Percorremos algumas estradas secundárias do país, subindo e descendo muitas montanhas. Por ser entrada do outono, acabamos sendo brindados com muitas e copiosas chuvas, que alagaram as estradas e cidades por onde passamos. Quando paramos num posto de combustível perto de Stobi, Marcos observou que o chão do carro do lado do motorista estava alagado. Mais tarde observamos que o mesmo havia acontecido do lado do passageiro. Poucos quilômetros se passaram e Marcos observou que o alternador do Garça não estava carregando as baterias... afff!!! O painel do carro estava quase apagado e não podíamos acender os faróis. Resultado: paramos num posto de combustível e passamos a noite por ali. 

Centenas de plantações de uva ao longo da estrada

Com Biljana e seu esposo

No dia seguinte (sábado pela manhã), a gerente do posto, Biljana, conversando com seu marido, nos falou que havia a possibilidade de conserto numa cidade próxima, localizada a uns 20 km de distância, porém como era final de semana, teríamos que esperar até 2ª feira!!! Dirigimo-nos até a cidade de Kavadarci seguindo os novos amigos até um cruzamento, de onde nos orientaram como e onde deveríamos pernoitar na cidade para buscar auxílio no dia seguinte.

Nosso acampamento nos fundos do posto de combustível Mac Petro

No posto de combustíveis onde pernoitamos em Kavadarci, o frentista foi super simpático e compartilhou seu sinal de wi-fi (a rede de dados do Vodafone não funciona nesta cidade e a internet é muito ruim no país). Aproveitamos para passear pela cidade, observando o ir e vir dos caminhõezinhos e tratores que levavam uvas brancas e escuras até a cooperativa/vinícola da cidade, a maior do leste europeu, funcionando desde 1885! É época de colheita e todos os produtores estão trabalhando muito, pois a época de chuvas está começando. Também fomos até o mercado para analisar e comparar os preços com os dos outros países por onde passamos, além de adquirir alguns produtos locais. 




A cidade de Kavadarci é um importante centro produtor de vinhos da Macedônia e da região, com uma área de plantio de 120 km² e produzindo 85 mil toneladas de uva por ano. A Vinícola Tikves é a mais antiga da Macedônia, processando 55 milhões de quilos de uvas por ano, produzindo 35 milhões de litros de vinho anualmente. A tradição na produção de uvas e vinhos na região de Tikves vem do século IV a.C. Do total de uvas plantadas na região, 80 % são para a produção de vinhos e apenas 20% para consumo direto. 

O que vem preocupando os produtores locais é a instalação de uma siderúrgica na região, que produz ferro-níquel, e cujos rejeitos têm poluído os rios e solo. Enquanto muitos defendem a criação de empregos e a modernização da cidade e região, os agricultores locais vêm nessa indústria o fim da qualidade na sua produção tradicional da uva. Além disso, a cidade ainda possui atividade moveleira (móveis de madeira) e produção de tabaco. 



Durante nosso passeio pela cidade, encontramos a oficina mecânica e Marcos combinou com o mecânico que traríamos o Garça na segunda-feira logo cedo e às 9h já estávamos aguardando dentro da oficina. Quando os mecânicos chegaram, constataram logo que o defeito provável era no alternador (o que o Marcos já havia diagnosticado anteriormente) e o desmontaram, levando para um outro local de modo a testá-lo e consertá-lo.  Passadas algumas horas, o alternador voltou inalterado. Não estava com defeito algum!!! Um especialista nerd chegou com um multímetro e em alguns minutos constatou o que ninguém havia pensado: o problema elétrico todo se resumia a um fusível queimado!!! Provavelmente com a grande quantidade de chuva que pegamos nos dias anteriores, houve alguma infiltração e curto circuito no fusível  que alimenta a iluminação do painel. O rapaz o substituiu e tudo voltou ao normal!!! Mesmo o mecânico não querendo cobrar pelo serviço (pois no fundo não foi feito nada) efetuamos o pagamento combinado (1000 MKD = 18 Euros!) levando em conta o tempo usado para desmontagem e montagem do alternador, bem como o transporte do mesmo até o "conserto"! 

Resolvido este problema, seguimos até a cidade de Bitola, onde queríamos visitar o Sítio Arqueológico de  Heráclea Lyncestis.

A localização e sinalização para encontrar este sítio é um pouco confusa e acabamos nos perdendo, indo buscar informação com o frentista de um posto, Antonin, que num inglês muito bom nos explicou a origem da cidade, onde era o sítio e também nos confirmou aquilo que já sabíamos: a fronteira terrestre com a Grécia (que ficava a 5 km dali) estava fechada.



Chegamos ao sítio e não havia ninguém na portaria. Entramos no lugar e o desbravamos por nossa conta. Havia um grupo de trabalhadores escavando um local e o sítio parecia abandonado. Foi um pouco decepcionante. Quando deixamos o teatro grego para trás e estávamos saindo do lugar, se aproximou um rapaz, o Vitor, desculpando-se e dizendo que era o curador do local e que o ingresso era de 150 MKD por pessoa. 

Com Vitor, historiador e curador local






Então pagamos o ingresso na saída e ainda aproveitamos para ouvir a história deste sítio e das pesquisas aqui realizadas. Vitor é historiador e possui muita bagagem, batemos um bom papo, tiramos nossas dúvidas e  acabamos descobrindo muita informação complementar sobre a Macedônia.  


Lago Ohrid

Nosso próximo destino era às margens do Lago Ohrid, a maior e principal atração turística do país. A cidade de mesmo nome fica às margens do lago, considerado um dos mais antigos do mundo (junto com o Titicaca e Baikal) e também Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Com uma área de quase 360 km² e profundidade média de 155 m, se estende por 30 km de comprimento e uma largura de quase 15 m, estando na divisa com a Albânia. 

Nosso acampamento ao lado de um hotel abandonado

Vista da cidade de Ohrid, às margens do lago de mesmo nome

Acampamos nas margens do lago e tivemos de mudar o carro de posição em função do vento gelado e intenso que soprava. 

Museu da Água, perto de Pestani

Na porção sul do lago, já na divisa com a Albânia, fica o Monastério de St. Naum (Sveti Naum Manastir), um lugar muito bonito e imperdível para ser visitado.  Há a cobrança de estacionamento no local: 50 MKD.  


Mosteiro de São Naum foi construído por volta do séc. X e seu fundador, Naum, era professor e escritor muito conhecido e aclamado pela sua importância na alfabetização e educação eslavas. Discípulo de São Cirilo e São Metodio,  construiu a primeira igreja no ano 905 e dela restam afrescos que sobreviveram à destruição otomana. 

Igreja dos Arcanjos de Naum


A Igreja dos Arcanjos de Naum foi totalmente destruída pelos otomanos, porém no século XVII e XVIII foi restaurada, mantendo-se sua arquitetura bizantina.  Para admirar seu interior há a cobrança de ingresso, porém quando estivemos lá o monge gostou da gente e permitiu nossa entrada para admirarmos sua beleza sem custo. Dentro do templo estão os restos de São Naum e sua tumba. 


Aqui existe uma curiosidade sobre o alfabeto cirílico: os irmãos Cirilo e Metodio foram os primeiros a traduzir a Bíblia para a língua eslava, utilizando um alfabeto diferente e específico: o cirílico. Esta é uma das "brigas" existentes entre os búlgaros e os macedônios, pois ambos dizem serem os inventores do alfabeto. 

Barcos para o passeio pelo estuário do rio


Neste complexo há ainda um hotel e um restaurante, além de jardins e local para picnic. A vista do lago é maravilhosa e os pavões que passeiam livremente pelo jardim dão um toque especial ao lugar. No manancial de água que vem do lago Prespa e abastece o lago Ohrid pode-se passear de barco (aluguel) e também admirar uma pequena cachoeira. Este passeio nós não fizemos, pois o custo era um pouco fora de nosso orçamento e porque já não tínhamos mais Dinares Macedônios (havíamos gasto os últimos em compras de produtos locais na beira da estrada, pois estávamos indo para a Albânia). 

Ao deixarmos o local, ainda tivemos a sorte de ver dois helicópteros russos trazendo tropas para troca da guarda - anexo ao Monastério há um aquartelamento do exército para proteção das divisas, uma vez que estamos a 4 km da Albânia. 

Helicóptero russo classe Milmi 8

Ainda permanecemos mais um dia neste país interessante, pois na divisa com a Albânia nos foi solicitado o seguro e nesta divisa, de Pogradec (Albânia) - ao sul do lago - não se vende o mesmo. Então retornamos e contornamos o lago percorrendo uns 70 km e pernoitamos mais uma vez às margens do Ohrid, curtindo o pôr-de-sol e o ruído dos passarinhos, aproveitando para fazer um churrasquinho. 



Despedida da Macedônia, às margens do lago Ohrid

Nossa próxima aventura será na Albânia... e que aventura!!!!!