Viagem Família______________________________________

.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

República de Montenegro: nosso último destino nos Bálcãs

Vista panorâmica da Baía de Kotor

Ao norte do lago Shkodër, ou Skadar, fizemos nossa entrada na República de Montenegro, na divisa de Hani i Hotit, perto de Podgorica (capital), pagando o seguro do Garça, próprio do país (15 Euros para 15 dias!), uma vez que  não tínhamos a Carta Verde e também porque Montenegro não faz parte da EU (ainda) e nem da Schengen. 

O interessante é que mesmo a República de Montenegro não sendo parte da EU, a moeda adotada pelo país é o Euro. Curiosamente antes da introdução do Euro, em 2002, o Marco alemão era a moeda utilizada nas transações comerciais do país desde 1996. 

Nosso primeiro acampamento no país, às margens do rio Moraca

Montenegro, Crna Gora em montenegrino, é um país pequeno com pouco mais de 13 mil km² e 650 mil habitantes. Fazia parte da antiga Iugoslávia desde 1943, da qual se separou em 1992, quando ainda estava unida à Sérvia, tornando-se independente desta apenas em 2006. 

Rio Moraca

Amanhecer com névoa, no rio Moraca

Nosso primeiro acampamento foi às margens do rio Moraca, afluente do lago Skadar (o lago é o mesmo, porém em cada país muda um pouco de nome). Tínhamos como objetivo o litoral e seguimos para lá pela Rota Cênica E65/E80, passando por cima das montanhas, ao longo dos vinhedos e vinícolas da região, ao invés de optar pela via direta, com túnel (e pedágio). A paisagem e vista panorâmica do Mar Adriático valem o passeio. 

Rota cênica dos vinhedos, E80. Ao fundo, Mar Adriático




Praia de Petrovac na Moru

Mar invadindo a área de um restaurante em Petrovac na Moru


SVETI STEFAN

A ilha de Sveti Stefan e ao fundo, Budva

Em Sveti Stefan, já no litoral, buscamos local para estacionar o carro free (coisa rara por aqui) e pretendíamos visitar a ilha que fica separada do continente por um istmo. Infelizmente o acesso só é permitido para hóspedes do Hotel Aman Sveti Stefan, um resort 5 estrelas - o que descobrimos na hora em que fomos tirar fotos já no istmo e o segurança chamou nossa atenção, dizendo que não podíamos seguir adiante, a não ser que fôssemos hóspedes! 


Hoje este Hotel ocupa toda a ilhota (com 12440 m²), com 50 quartos e 8 suítes distribuídas pelas casas medievais do vilarejo. Esta pequena vila foi fundada por pescadores na Idade Média e fortificada pelos venezianos mais tarde para se defenderem das invasões otomanas. No séc. XX foi abandonada em função da pobreza absoluta de sua população e do regime comunista que dominava a Iugoslávia após a 2ª Guerra Mundial.  A Vila Milocer, que fica no continente, foi fundada em 1934 como residência de veraneio da Rainha Marija Karadjordjevic e hoje abriga uma cidadezinha com muitos restaurantes e hotéis. Sobre a praia ainda há uma curiosidade: o istmo divide a praia em duas partes, uma é do hotel e não pode ser frequentada por outras pessoas que não sejam hóspedes, sob pena de pagar multa!! Mesmo não podendo perambular pela ilha, o passeio valeu a pena, pois a praia é muito bonita e o local bem charmoso! O aluguel de cadeira com guarda-sol custa "módicos" 50 Euros por dia!!!! 


Oliveira centenária nos jardins do Resort

BUDVA

Um pouco mais adiante, na via litorânea M1, está localizada a cidade de Budva, fundada pelos venezianos na Idade Média e famosa pelo seu balneário e estrutura, é grande e com muito trânsito. Buscamos um local para acamparmos nas proximidades, em alguma praia menor, o que acabamos encontrando, ao norte, em Trsteno, uns 8 km distante do centro de Budva. Acessível por uma estradinha que vai contornando a montanha, há entradinhas onde existem restaurantes ou hotéis e por conta do Covid-19, muitos estavam semi-abandonados ou com poucos frequentadores. 

Praias ao longo da costa, próximas de Budva

Tormenta se aproximando em Trsteno


O lugar era bonito, porém havia bastante lixo na praia, trazido pelas marés e que ninguém recolhe - aliás, este é um senão dos Bálcãs: há bastante lixo nos locais turísticos e onde se acampa, pois a população que frequenta os locais não têm por hábito recolher e levar seus despejos! Isto ainda precisa se tornar um hábito por aqui!


Muito triste o descaso com o meio ambiente

Muito fofa, nossa companheira Mimi

Nosso acampamento na praia

Por conta do vento muito forte que soprou à noite, tivemos de mudar o carro de posição de madrugada... essas intercorrências acontecem quando se faz wild camping

KOTOR

A apenas 30 km de distância de nosso acampamento ficava Kotor, a mais linda cidade que visitamos em Montenegro e cuja Baía de Kotor é fiorde* que está ligado ao mar Adriático e tem paisagem de um cartão postal! * Muitos dizem se tratar do fiorde mais ao sul da Europa, porém na verdade trata-se de uma ria, isto é, um rio de cânion submerso.

Mapa ilustrativo da baía de Kotor e suas atrações

Estacionamos num dos poucos estacionamentos públicos que existem no local. Há estacionamentos pagos por hora distribuídos pela orla, mas não são necessariamente baratos e como pretendíamos ficar muitas horas perambulando pela Stari Grad (Cidade Antiga), ficamos um pouco mais longe, mas tranquilos em relação ao horário. 

Portão Gurdić e um bichano carente

Portão levadiço

Kotor (ou Cátaro, em português) é lindíssima, se parecendo com aquelas cidadezinhas medievais da Itália. Tendo uma muralha para proteção de invasores, existem alguns portões de acesso à Cidade Antiga e entramos por um deles, literalmente nos perdendo lá dentro, por entre vielas, lojinhas e restaurantes, todos às moscas, pois o número de visitantes por conta da pandemia caiu muito. Como incentivo para o turismo, a famosa Fortaleza, que fica no alto do morro não está cobrando o ingresso (que seria de 8 Euros por pessoa), e desta forma, acabamos nos rendendo aos encantos da cidadezinha e resolvemos pernoitar por aqui. 

Com Dejane, guia turística montenegrina

Com Jovana, na entrada de nosso apartamento 

Como nossa internet (Vodafone da Alemanha) não funciona fora da EU ou Schengen, tivemos a ajuda da Dejane, guia turística local e que nos ofereceu o passeio de barco pela baía, e ela fez uma busca pelo Booking.com, encontrando um apartamento dentro da Cidade Velha, a poucos metros da subida para a Fortaleza, por 15 Euros o pernoite. Jovana, a  proprietária do apartamento, veio nos buscar no Portão do Mar e nos acompanhou até o local, super aconchegante e legal! A partir daí, já com local para descansarmos nossos ossos, resolvemos nos aventurar e subir até a Fortaleza! 

Instalação feita simulando varal




O acesso à Fortaleza de Kotor, ou Fortaleza São João (Sveti Ivan) ou ainda Castelo de San Giovanni, é feita por uma escadaria com 1350 degraus! Em pouco mais de 30 minutos subimos a montanha, parando aqui e ali para dar uma admirada no visual, que é simplesmente fantástico! As ruínas deste castelo contam a história deste local, que foi atingido por grandes terremotos em 1563, 1667, e mais recentemente em 1979, bem como atingida também pela praga em 1572. 

Vista da Fortaleza




O complexo fortificado foi construído ao longo de séculos e o nome fazia referência à igreja construída no cume da montanha, Igreja de São João Batista, mencionada pela primeira vez em 1440 e que serviu de base para os exércitos que guardavam os muros da cidade. Já a construção das muralhas da cidade data dos séc. IX e X e é composto por muros que se estendem por 4,5 km, com 5 baluartes e 3 portões de entrada (Porta do Mar, Porta do Rio e Porta Gurdić, com ponte levadiça). 

Igreja Nossa Senhora dos Remédios







A Porta do Mar é a principal entrada da cidade antiga, construída durante o domínio veneziano e onde fica o Centro de Informação Turística e também o acesso ao porto onde param os enormes transatlânticos (que nesta temporada, por conta do Covid, não apareceram). Aqui reencontramos a Dejane e conhecemos o seu pai, que tem uma lancha com a qual fazem os passeios pela baía de Kotor. Sobre o portal existe uma estrela comunista que assinala a data da libertação dos nazistas e com uma inscrição de Tito, o ditador que esteve a frente da antiga Iugoslávia após o fim da 2ª Guerra Mundial. 

Porta do Mar, principal portão de acesso à cidade antiga

Porta do Rio, na porção norte da muralha

A Porta do Rio Skurda é menos utilizada e mais tranquila, ficando muito próxima de nossa acomodação e da subida para a Fortaleza e finalmente a Porta Gurdić, ao sul, próximo de onde havíamos estacionado o carro inicialmente e onde ainda se pode ver a ponte levadiça que existia no local. Na subida um dos pontos de parada obrigatória é a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, onde tivemos a companhia de uns gatinhos muito fofos. 


Souvenires de gatos de todos os tipos e tamanhos são a marca registrada da cidade



Este gato é o "dono" da loja e sempre que alguém se distrai, entra no local...

O grande número de gatos espalhados por todos os lados da cidade chama a atenção e não por acaso, os bichanos são o símbolo da cidade. Diz a lenda que a população os cuida e admira, pois nos dias ou horas que antecederam os terremotos, os gatos mudaram seu comportamento e desta forma, alertaram a população de que algo diferente estava por vir. Assim, "avisaram" os moradores que deixaram suas casas e o número de vítimas atingidas pelos terremotos acabou sendo bem menor. 


A cidade foi habitada desde a Roma Antiga e sua fundação data do século V a.C. Entre os anos de 1420 e 1797 pertenceu à República de Veneza, o que influenciou grandemente a sua arquitetura. Kotor também é Patrimônio Histórico da Humanidade, pela UNESCO.  

A Torre do Relógio é um dos símbolos da cidade desde 1602.

Torre do relógio 


A pirâmide localizada na Praça de Armas onde fica a Torre do Relógio era usado como local de punição


Esta região também fez parte do reino dos Habsburgos e até as tropas napoleônicas participaram de sua história. A Catedral de São Trifão (séc. III), o patrono e protetor da cidade, foi construída pelo ano 809 e consagrada em 1166. Os restos mortais do Santo foram trasladados de Constantinopla (atual Istambul) para cá na mesma época. Sua edificação foi bastante atingida e danificada durante o terremoto de 1667 e sua reconstrução ficou inacabada. Também no último grande terremoto que atingiu toda Montenegro, em 1979, boa parte de sua estrutura  foi atingida, porém restaurada muitos anos mais tarde. Em seu interior podem ser vistos afrescos do séc. XIV e outras obras de arte sacra.  

Catedral de São Trifão

Outra igreja que também pode ser visitada na Cidade Antiga é a de São Nicolau, ortodoxa, localizada numa das praças mais agitadas da cidade. Exatamente na sua frente, fica a pequena Igreja de São Lucas, construída como igreja católica em 1195, mas que entre os anos de 1657 e 1812 alternou seus serviços entre a doutrina católica e a ortodoxa. Hoje é ortodoxa, como a maioria da população montenegrina (80% se autodenominam ortodoxos).

Catedral Ortodoxa de São Nicolau

Interior da catedral

Igreja de São Lucas


Interior da igreja


A culinária local tem influência italiana, húngara e turco-otomana e a presença de produtos lácteos e queijos em geral é predominante, assim como na vizinha Albânia. Azeitonas, azeite, frutas e legumes, além de dezenas de queijos diferentes e maravilhosos podem ser encontrados aqui, no mercado público localizado do lado de fora da Cidade Antiga, encostado na muralha e próximo da entrada do Mar,  a um bom custo x benefício. Não resistimos e acabamos comprando alguns queijos e salames, após termos feito uma larga e deliciosa degustação na barraca de Cenka, muito solícita e simpática.  

Barraca deliciosa da Cenka



Com Cenka

Diferentes tipos de presuntos crus

Continuando a degustação na barraca vizinha... delícia!!!

Aproveitamos também para jantar fora (coisa muito rara desde que saímos em viagem) e passeamos pela linda e encantadora Kotor à noite, reencontrando a querida Dejane, com quem conversamos e trocamos ideias por mais de meia hora! Despedimo-nos e retornamos para "nossa casa" para descansarmos. Este havia sido mais um dia intenso e de muita caminhada. 


Pedimos uma pizza com presunto cru (da região) e também um filé de peixe regional

PERAST e HERCEG NOVI

Ainda percorrendo a M1, rota litorânea cênica que contorna toda a baía de Kotor, passamos pela bonita Perast, porém o clima não ajudou, pois estava chovendo muito. Desta forma, apenas tiramos fotos das bonitas ilhas, São Jorge e Nossa Senhora das Rochas, que ficam em frente da cidadezinha, e que possuem cada qual uma igreja. 

Vista de Perast e suas duas ilhotas

Mais adiante fica Herceg Novi, localizado aos pés do Monte Orjen e de frente para a saída da baía de Kotor para o Adriático. Era chamada de Castelnuovo entre 1482 e 1797, quando fez parte do Império Otomano e os primeiros registros de atividade humana datam da Era do Bronze. No séc. III a.C, os romanos a tomaram dos ilírios e posteriormente passou a pertencer ao Império Bizantino. Por volta do séc. VII d.C as primeiras tribos eslavas começaram a chegar à região. 

Herceg Novi

Passamos pela cidade e seguimos direto para a divisa com a Croácia, distante 10 km. Lá tivemos uma surpresa, que desencadearia uma série de mudanças no nosso planejamento e já descritas no texto sobre a Albânia! 

DIVISA MONTENEGRO - CROÁCIA

Ao chegarmos à divisa de Montenegro com a Croácia, os oficiais aduaneiros deste último país mostraram-se bastante irredutíveis e grosseiros, deixando claro que não poderíamos entrar em seu país sem a Carta Verde (seguro da EU). Também não permitiram o Marcos seguir até a cidade vizinha, distante 20 km, para comprar o tal seguro, deixando-me (Mari) na aduana com os documentos a sua espera. Tentamos, em vão, efetuar a compra do seguro pela internet. Com tantas dificuldades e sem a possibilidade de efetuar a compra do seguro ali, na aduana, como é feito em todos os outros países dos Bálcãs por onde passamos, resolvemos retornar à Herceg Novi, Montenegro, para lá tentar efetuar a compra do mesmo. 


Pois aqui começam as coisas estranhas: não se pode comprar o Seguro Carta Verde em um país cuja placa do carro seja de outro país! Pior, a placa de nosso Garça Kia é de Barra Velha, SC, Brasil e com exceção de uma única seguradora alemã, não existe outra seguradora na Europa que emita a tal Carta Verde para placas estrangeiras. Além disso, o valor deste seguro, feito pela seguradora alemã, é bastante salgado: o primeiro mês é de 200 Euros e cada mês subsequente, 90 Euros (isto descobrimos depois, quando finalmente conseguimos entrar em contato com a tal seguradora)!! 

Após todos estes senões e a impossibilidade de compramos um seguro específico para cruzarmos a Croácia, refizemos nosso plano e retornamos pelo mesmo caminho (contornamos a Baía de Kotor), voltando à Albânia... mas esta história vocês já conhecem!!! 

Até a próxima aventura, em terras italianas!!!