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Serro - Rota dos Diamantes |
Às vezes somos surpreendidos
quando fazemos nosso planejamento de rota... e na nossa entrada em Minas
Gerais, lá pelo cantinho do Triângulo Mineiro, a surpresa não foi
necessariamente boa!
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Um calor infernal além das queimadas injustificadas! |
Com um calor acima da média
rodamos por estradas secundárias, tentando fugir dos pedágios das rodovias
federais... Deixamos Goiás para trás pela GO 210 até Davinópolis. O rio
Paranaíba faz a divisa dos estados e em poucos km estávamos em Abadia dos Dourados,
MG 188 (muito mal conservada). Havia feito uma pesquisa sobre cachoeiras e
outras atrações na região do Triângulo, fugindo das conhecidas e grandes Patos
de Minas, Uberaba (já conhecemos) e Uberlândia, Araxá (bonita, porém já a
visitamos em outra ocasião) etc e tal.
Havia (supostamente) em
Coromandel algumas cachoeiras, mas depois de rodarmos umas 3 horas em meio a
plantações de café, algodão (recém colhido e em fardos embalados), tomate,
trigo, soja e milho, desistimos... o calor estava insuportável e na terceira ou
quarta parada para perguntar, o vivente nos falou que a tal cachoeira (Cachoeira
do Santuário - bem bonita nas fotos) estava a 20 km de distância, do outro lado
do vale!!! Affff... PPI (Puta Programa de Índio) de novo! Acontece!
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Rolos de algodão, recém colhido |
Nosso pernoite foi no meio de um
lindo (tranquilo e silencioso) cafezal! No dia seguinte, acabamos pegando a BR
262 num trecho (pedagiado e muito ruim! Que raiva pagar duas vezes e não ter
nada!) e depois desviamos em direção a Abaeté, Pompéu (cidade de 1784) e dali
para Cordisburgo.
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Cafezais a perder de vista |
CORDISBURGO é linda e
possui muitas atrações! Cidade natal do grande escritor João Guimarães Rosa
(“Grande Sertão Veredas”), era inicialmente distrito de Paraopeba. Em 1883, o
povoado de Cordisburgo da Vista Alegre foi fundado pelo padre João de Santo
Antônio onde edificou uma capela ao patriarca São José. O nome Cordisburgo é
uma mistura de palavras: “cordis” do latim, "coração" e “burg” do
alemão, “castelo/cidade/local”, formando assim a “Cidade do Coração”!
A Gruta do Maquiné é um
dos atrativos da cidade. Localizado a pouco menos de 5km da cidade, morro
acima, a Gruta foi descoberta em 1825 e passou a ser explorada cientificamente
a partir de 1834 pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund. Com 7 salões (abertos ao
público) e caminho de 650m demarcado, a gruta é uma das mais visitadas no
Brasil. Pagamos meio ingresso (professora + aposentado) e esperamos o horário
da visita guiada. Custo: R$ 25,00 (=U$5) por pessoa (integral)
Curiosidade: Peter Lund explorou
o interior da caverna há 100 anos e os espécimes encontrados (preguiça gigante,
mamute, tatu gigante, tigre dente de sabre, ...) foram todos levados para a
Europa. O Brasil, há 5 anos, entrou com a solicitação de devolução do material
e o processo ainda está em andamento!
O “Vestíbulo” é a porta de
entrada da caverna, com aproximadamente 27m de largura e estalagmites. Nele
pode se ver pintura rupestre. Depois vem o segundo salão, chamado de “Sala das
Colunas” onde a criatividade e imaginação induzem as formações rochosas
(estalactites e estalagmites) a terem lindas formas conhecidas por “Altar” e ao
“Carneiro”.
Estamos na época da seca,
portanto os travertinos estão secos e a caverna também! Nosso guia Ryan explicou que na época das
chuvas os lagos travertinos ficam cheios d’água e a caverna toda pinga!
O Salão das Piscinas e Salão das
Fadas poderia abrigar uma linda festa, de tão amplos que são!
Na volta para a cidade,
estacionamos perto da antiga estação ferroviária e fomos ao Museu Casa de
Guimarães Rosa, onde o autor viveu até os 9 anos de idade. Aqui os
visitantes são recebidos por voluntários que contam histórias do autor, além de
a antiga venda mantida pelo pai de Guimarães (e que funcionou até 1923)
continuar funcionando no mesmo local, agora vendendo lembranças da cidade,
livros e outros souvenires.
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"...E é graças aos encontros inesperados dos velhos amigos que eu fico reconhecendo que o mundo é pequeno e, como sala-de-espera, ótimo, facílimo de se aturar..." G.R. |
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Antigo comércio da família, hoje vendendo souvenires |
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"Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não entenderá." G.R. |
Seguindo dicas de moradores, fomos explorar o
Zoológico de Pedras “Peter Lund”, distante umas poucas quadras. Lá, nesta praça, há
esculturas/estátuas de animais cujos fósseis foram encontrados pelo arqueólogo
na Gruta do Maquiné.
Seguindo ao norte, agora pela BR
259, uma serra bem acentuada chegando a 1200msnm, nosso próximo destino era a
linda e inesquecível Diamantina.
A cidade estava em polvorosa,
pois naquela noite iria acontecer a Vesperata Diamantina*, evento musical que
tem origem no século XIX e é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de
Minas Gerais. O casario antigo estava todo enfeitado e nas suas sacadas os
músicos se posicionam e se apresentam, com diversos estilos musicais. Fomos ver
o custo para participar, mas não havia mais pulseiras disponíveis (a pulseira é
vendida nos restaurantes – R$ 60,00 (U$12) por pessoa, sem direito a consumação
- que ficam localizados na Rua da Quitanda, centro histórico da cidade).
*A Vesperata Diamantina possui
calendário anual disponível na internet. Normalmente ocorre entre os meses de
abril e outubro, de sexta a domingo.
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Nesta casa nasceu Juscelino Kubitschek de Oliveira, ex-presidente do Brasil e estadista |
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Catedral de Santo Antônio - Catedral Metropolitana de Diamantina (construção atual de 1930) |
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Praça Barão de Guaicui - em frente ao Mercado Municipal |
Diamantina foi fundada em 1831,
porém sua história começa muito antes. Há pesquisas arqueológicas que provam a
presença humana na região na mesma época de Luzia, em fins de Pleistoceno (10
mil anos Antes do Presente).
Já no período colonial, as
primeiras jazidas de diamantes foram descobertas por volta de 1730 e a partir
dali o então chamado Arraial do Tejuco passou a ser uma das áreas mais
desejadas pelos garimpeiros. Imaginem que a quantidade de diamantes retirada na
época fez com que o preço da pedra preciosa caísse no mercado internacional,
fazendo com que D. João V proibisse a mineração de diamantes por 1 ano!!!
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Feira de artesanato na praça central |
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Cruzamento das ruas Macau de Cima e Macau do Meio e a estreita Pça. Juscelino Kubitschek |
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"Vai um tropeiro aí, com uma breja gelada?" |
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Ruas enfeitadas para a Vesperata |
A cidade preserva até hoje sua
arquitetura colonial com os casarões, igrejas e ruas de pedra bem conservadas.
Em reconhecimento à sua importância cultural e histórica, Diamantina foi
declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1999.
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Igreja de São Francisco de Assis (1766, concluída em 1830), em estilo barroco |
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Interior rico e bem decorado |
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Sacristia |
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Vista panorâmica da torre da igreja - ao fundo, a Catedral |
Aproveitamos para rever a linda
cidade (estivemos aqui em 2017), passear pelos cantinhos, entrar em algumas
igrejas e comer uns quitutes antes de seguirmos até o Parque Estadual
Biribiri.
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Formações rochosas dentro da área do Parque Estadual do Biribiri |
Após um roteiro alternativo
proposto pelo maps.me (e que não deu em nada), voltamos pelo caminho
tradicional e chegamos à portaria do Parque Estadual, onde foi efetuado nosso
registro e orientações gerais. O caminho é lindo, apesar de as condições da
estrada não estarem boas (estrada de chão sem conservação). Fomos até o fim da
estrada onde fica a Vila do Biribiri, onde há pagamento de ingresso (R$ 10,00
por pessoa – U$2) e conversamos com o Edivaldo para saber se era permitido
dormir na área da Vila. Ele sugeriu que conversássemos com o presidente da
Associação, Tiago, morador da Casa 3, que nos orientou a ficarmos na área de
estacionamento ao lado da estrutura com banheiros públicos. Ao chegarmos lá, já
havia um MH estacionado e o grupo, animadíssimo (estavam bebendo desde as 9h),
logo já nos convidou pra “um queijim com cervejinha”! A conversa (e muitas
risadas) rolou até às 22h, com nosso almojanta e um cozidão no meio de tudo...
Adaury, Denise e Nereu e Tony são amigos há muitos anos e viajam juntos de
ônibus. Foi muito divertido encontrá-los e de quebra, nasceu mais uma boa
amizade!
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A Capela do Sagrado Coração de Jesus, estilo rococó, possui um relógio que foi doado pela Família Real e em seu entorno está enterrado o senador Joaquim Felício dos Santos que fundou a vila junto com o irmão bispo João Felício |
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Com os novos amigos mineiros (da esquerda para a direita): Nereu e Denise, Tony e Adaury |
Exploramos a Vila no dia
seguinte, pela manhã, revendo a antiga fábrica – que continua fechada. O
restaurante do Raimundo Sem Braço não existe mais e ele se mudou há alguns anos
(aqui comemos o melhor torresmo de nossas vidas!). Hoje, em seu lugar, está o
Restaurante da Vila que serve a la carte e buffet self-service. Além
do ingresso, agora há um limite de visitantes por dia (500 pessoas por vez) e a
Vila está com um apelo mais turístico e com preços mais salgados do que quando
estivemos aqui anteriormente.
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O casario branco com azul é um charme à parte |
A Vila do Biribiri é uma
pequena comunidade remanescente do final do séc. XIX (1876) quando havia uma
grande fábrica de indústria têxtil no local – Estamparia S/A. Os trabalhadores
da fábrica moravam nas casas da vila e com o encerramento das atividades
têxteis, em 1972, muitas foram vendidas para outras pessoas, que as usam como
casa de veraneio ou as transformaram em pousadas e restaurantes. A fábrica à
época da sua inauguração contava com 63 operários (36 moças, 18 meninos e 9
homens que trabalhavam 45 teares) que produziam tecidos de algodão grosso para
a região e Rio de Janeiro (antiga capital federal). A localização acidentada era ideal, pois as águas do
Rio Biribiri eram usadas como força motriz para a hidrelétrica que funcionava
dentro do complexo e produzia toda a energia consumida na fábrica e Vila.
O visual, em meio à Serra do
Espinhaço, com as charmosas e lindinhas casas pintadas de azul e branco é um
encanto! Nos apaixonamos no lugar quando estivemos em 2017 e agora, voltando
para rever, o encantamento continua!
“Biribiri” vem do tupi-guarani e
significa “buraco fundo”, fazendo referência à posição geográfica que ocupa
entre o pé da serra e o rio.
O Parque Estadual Biribiri
foi criado em 1998 e possui aproximadamente 17 mil ha dentro do cerrado
mineiro. Ele possui muitas cachoeiras e trilhas a citar a Cachoeira dos
Cristais que não tínhamos visto da primeira vez em que estivemos aqui.
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Antiga ponte desativada na trilha para a Cachoeira dos Cristais |
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Cachoeira dos Cristais |
Na Cachoeira da Sentinela (já
conhecida) aproveitamos para tomar um gostoso banho e dali a intenção era
refazer a Estrada Real, desta vez pelo caminho antigo, percorrendo o Caminho
dos Diamantes.
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Uma das quedas da Cachoeira da Sentinela |
Depois de Diamantina, seguimos em
direção à Milho Verde (conhecida pelas cachoeiras e por ser a cidade
natal de Chica da Silva) por rodovia bonita e asfaltada até uns 500 m antes de
Vau. Dali em diante, pó e pirambeira (com subidas em reduzida e descidas
íngremes) por uns 15/20km, passando pelo rio Jequitinhonha e pelo distrito de
São Gonçalo das Pedras, onde aproveitamos para almoçar uma comidinha mineira. Depois
de Milho Verde a estrada volta a ser asfaltada e a paisagem é deslumbrante!
Paramos em Serro, onde aproveitamos para pernoitar.
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Marcos da Estrada Real, distribuídas ao longo do caminho |
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Ponte sobre o rio Jequitinhonha |
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Chegando à charmosa São Gonçalo das Pedras |
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Igreja N. Sra. do Rosário, do início do séc. XIX |
SERRO
A cidade de Serro foi aquela
surpresa boa. Uma das primeiras comarcas da Capitania das Minas guarda
características das vilas setecentistas mineiras. Rodeada de montanhas, Serro é
famosa pelos deliciosos queijos que produz – Patrimônio Imaterial de Minas
Gerais.
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Igreja de Santa Rita, do início do séc. XVIII |
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A famosa "escadinha", com 57 degraus que levam à Igreja de Santa Rita, lá no alto |
Fundada em 1714 e elevada à
categoria de cidade em 1838, era o centro da exploração de ouro e diamantes na
região. Após 100 anos de exploração exaustiva houve o declínio da cidade e a
população passou a dedicar-se à pecuária e à agricultura de subsistência (o
destino de muitas das cidades onde ocorreu o ciclo de mineração). Seu acervo
urbano-paisagístico foi tombado pelo IPHAN em 1938.
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Igreja de N. Sra. do Carmo, localizada em frente à Praça João Pinheiro |
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As obras de construção foram realizadas entre 1767 e 1781. Altares em estilo rococó |
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Pintura do forro da capela-mor (Virgem do Carmo e S. Simão Stock), realizada por um discípulo de mestre Ataíde |
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Casa do Queijo - detalhe para as formas utilizadas para a confecção da iguaria |
Uma parada rápida no supermercado
localizado na entrada da cidade de Serro e conhecemos o Lilico, morador de
Itapanhoacanga!!! Como era em nosso caminho, desviamos da rodovia MG 010 e
entramos na vilazinha, onde tomamos água gelada com nosso novo amigo. Em função
de problemas sérios de saúde de sua esposa Rosângela percebemos que não era uma
boa hora para fazermos visita e seguimos em frente, prometendo para ele
voltarmos num outro momento, mais feliz! (dois meses depois de nossa “visita”
recebemos a triste notícia da morte de Rosângela!)
Neste trecho da estrada a
mineração é forte e vimos muitas barragens de rejeito e praticamente toda a
frota com quem cruzamos era da empresa AngloAmerican. Não é permitido acampar
nas áreas de floresta por aqui, pois tudo foi comprado pela empresa que possui
seguranças armados que fazem a fiscalização das estradinhas vicinais. Também
descobrimos que há um grande minerioduto em funcionamento, que faz a ligação
das lavras de Minas com o Rio, onde o minério é embarcado (na maior parte, para
a China).
A próxima parada foi em Conceição
do Mato Dentro, cidade grande, aonde chegamos na hora do rush. O
frentista sugeriu passarmos a noite no Parque Municipal Salão das Pedras, ali
perto (5km), no alto do morro e para lá fomos. O Parque é bem bonito e
encontramos um canto sossegado, longe dos olhares para armarmos nossa barraca e
dormirmos.
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Nosso acampamento no Parque Municipal Salão das Pedras, em Conceição do Mato Dentro |
Só no dia seguinte, durante o
café, é que um segurança do parque nos viu e veio nos avisar que era proibido
acampar e afins ... pedimos desculpas ao Geraldo (Lado) e explicamos que apenas
seguimos a sugestão de um morador e que não havia placas indicativas com a
proibição na entrada no Parque. Ele, muito simpático e solícito, explicou sobre
as novas regras que estão sendo implantadas e deu ideias/sugestões de lugares
bacanas para conhecermos no parque antes de seguirmos viagem!
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Parque Municipal Salão das Pedras |
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Ponte de pedra |
O Salão das Pedras é um lugar
muito lindo e com uma energia bacana! Lá conhecemos uma família com quem
batemos papo antes de rodarmos pela MG 010 mais 15 km até a Cachoeira Três
Barras, onde aproveitamos para tomar um gostoso banho.
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Cachoeira Três Barras, vista de cima |
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Agora, vista de baixo |
No entroncamento para Pilar da
Serra, saímos da estrada principal (MG 010) e seguimos pela antiga Estrada do
Diamante, de chão, até Itambé do Mato Dentro, parando no Mirante da Estátua do
Dominguinhos de Pedra, onde acampamos. A estrada é bonita, cheia de subidas e
descidas, curvas e vistas panorâmicas deslumbrantes!
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E agora? Pra direita ou pra esquerda? Marcos descobriu uma placa caída e "voilà" (aí está!) |
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Parada prum bate papo |
Domingos Albino Ferreira, o
Dominguinhos da Pedra, foi um eremita que viveu mais de 40 anos nas montanhas
de Itambé após uma desilusão amorosa. Nascido em Dom Joaquim (MG), morou em
muitos lugares e trabalhou em fazendas, até que o dia em que se apaixonou pela
filha de um patrão e teve sua desilusão amorosa. Desde então, passou a viver em
tocas de pedra, onde fazia balaios de taquara para carvoeiros. Dizia que “água
faz mal à saúde” e em função disto não tomava banho! (afff)
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Dominguinhos de Pedra |
A cidade de Itambé do Mato Dentro
está totalmente descaracterizada, não tendo mantido nenhum casarão de época.
Uma pena. Não valeu nenhuma foto!
Já Ipoema, alguns quilômetros
a frente, é bem bonitinha! Estacionamos na praça central e fomos dar uma olhada
na lojinha localizada do outro lado da praça. Lá conhecemos o casal Murilo e
Amália, naturais da capital BH e que se estabeleceram ali há alguns anos,
quando se aposentaram. O papo rolou solto. De quebra, troca de ideias e dicas,
além de uma boa amizade!
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Igreja Matriz de N. Sra. da Conceição (1969) |
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Com Amália, na lojinha de artesanato da praça |
Novamente na estrada, parada
rápida na Igreja Matriz de Bom Jesus do Amparo, muito curiosa, com seus balcões
laterais e também outra parada estratégica em Barão dos Cocais, para ver o
Santuário São João Batista.
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Igreja Matriz de Bom Jesus do Amparo (1841) |
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A igreja possui curiosos balcões laterais ao lado do altar |
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Santuário São João Batista, em Barão dos Cocais (1763) |
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A pintura do forro é atribuída ao Mestre Ataíde e as esculturas e fachadas são de Aleijadinho |
Com um calor infernal, estávamos
em busca de um local para tomar um gostoso banho de cachoeira e decidimos ir
até Catas Altas, onde havia uma Cachoeira da Santa! O caminho para lá,
horrível, só aumentou a frustração ao chegarmos ao local demarcado e
vislumbrarmos um filete de água descendo pelas pedras e formando uma poça de
lama marrom... afff! Alguns moradores falaram de outra cachoeira, maior e que
tem suas águas permanentes (estamos na época da seca), porém o terreno
acidentado, com subidas íngremes e a distância da cidade acabou fazendo com que
déssemos meia-volta! O que observamos nesta região é a dominação da empresa
Samarco, que tem minerado tudo e a água da tal cachoeira estava sendo desviada
para caminhões-pipa, que encontramos mais abaixo depois.
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Vista panorâmica da cidade de Catas Altas |
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Serra do Caraça ao fundo |
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Igreja Matriz N. Sra. da Conceição (1729), edificada em madeira, taipa e pedra - Praça Monsenhor Mendes |
De qualquer maneira, o centro da
cidade de Catas Altas é bem bonito e vale um passeio a pé. Fundada em 1703, seu
nome provém das profundas escavações que eram (e continuam sendo) realizadas no
alto do morro. A vista da praça central pra Serra do Caraça é linda! (Quando
viemos pra Minas em 2017, fomos até o Santuário do Caraça, por este motivo
desta vez não estivemos lá)
Após um pernoite no posto Ciclo
do Ouro, na beira da BR, localizado em Antônio Pereira, na manhã seguinte um
cidadão veio bater papo durante o café. Desta conversa gostosa, nasceu mais uma
amizade e um convite: irmos até a casa de Renato, no alto da Serra São João, em
Ouro Preto. Dali onde estávamos, no posto, era possível ver uma única árvore
alta no topo do morro: lá ficava a casa de nosso amigo!!!
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Nosso local de pernoite no Posto Ciclo do Ouro. O "Uno Bomba" do Renato ao nosso lado. Ao fundo, as montanhas que deixarão de existir logo, logo |
Como nunca recusamos um convite,
combinamos de nos encontrar mais tarde em Mariana e de lá seguir nosso amigo
até sua casa. (Renato é caminhoneiro a serviço da Samarco e iria levar cargas
de areia pra algum lugar durante o dia)
MARIANA
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Igreja de São Francisco de Assis (em frente) e Santuário do Carmo (à direita). Olhem o Garça ali... |
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Interior da Igreja de São Francisco |
Passamos o dia redescobrindo Mariana,
onde estivemos pela primeira vez há 32 anos!!! A cidade histórica está muito
bonita e seus casarões e igrejas foram restauradas (a Vale e Samarco
financiaram as obras de restauro, como troca ou moeda de barganha por estarem
consumindo todo o subsolo da região, sem contar o “acidente” de 2015, quando a
barragem de Bento Rodrigues se rompeu, matando 20 pessoas).
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Casario bonito restaurado |
Fundada em 1696, Mariana foi a
primeira vila, cidade e bispado de Minas Gerais. O nome é uma homenagem à D.
Maria Ana da Áustria, esposa do rei D. João V. Por ter sido a primeira capital
de Minas Gerais, acabou sendo um dos centros escravistas no Brasil Colônia,
tendo recebido o segundo maior importe de escravos na história da escravidão da
América (!).
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Igreja N.Sra. das Mercês (1787) |
A Praça Claudio Manoel, mais
conhecida como Praça da Sé, é a principal da cidade e onde fica a Catedral
(Sé), famosa pelo órgão dado de presente pela Coroa Portuguesa e construído por
Johann H. Hulenkampf em Lisboa (1723) e trasladado para o Brasil em 1753.
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Vista da Praça Cláudio Manoel e da Catedral da Sé |
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Catedral da Sé |
A Praça Gomes Freire, conhecida
como “O Jardim”, possui um coreto, lago, fonte e vários canteiros. Por ser
sombreada, acaba atraindo muita gente para seus bancos e restaurantes que ficam
em seu entorno.
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"O Jardim" |
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Coreto na praça |
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Chafariz |
A Praça Minas Gerais, mais
elevada que as outras duas, é onde começou a cidade. Nela ficam a Casa de
Câmara e Cadeia, a Igreja de São Francisco de Assis e a Igreja N. Sra. do
Carmo.
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Casa da Câmara |
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Vista da Igreja de São Francisco de Assis |
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Pelourinho em primeiro plano e Casa de Câmara ao fundo |
A Estação Ferroviária de Mariana
foi inaugurada em 1914 e tem estilo eclético. Daqui sai o passeio turístico
Trem da Vale que vai até a vizinha Ouro Preto.
Ponte Alphonsus de Guimarães,
mais conhecida como Ponte de Tábua, foi a primeira ponte de tábuas de Minas
Gerais (1713). Utilizada até os dias atuais, foi a primeira a cruzar o Rio do
Carmo.
Igreja de N. Sra. do Rosário dos
Pretos ou simplesmente Igreja do Rosário, fica no alto do morro localizada no
bairro de mesmo nome. De lá se tem uma linda vista da cidade. Aproveitamos para
descansar um pouco e bater papo com um comerciante da esquina, que nos explicou
o horário de visitas. Anexo à igreja está o cemitério.
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Igreja N. Sra. do Rosário |
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Vista panorâmica da cidade, lá do cemitério da igreja |
Capela de N. Sra dos Anjos, de
1760, tombada pelo IPHAN em 1980, em estilo rococó.
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Capela N. Sra dos Anjos |
Casa da Intendência/Cultura
Construída no início do século XVIII, funcionou como residência do intendente e, ao mesmo tempo, casa de fundição e arrecadação de impostos. Hoje abriga um museu - abrigando eventos culturais, exposições e oficinas - e a sede da Academia Marianense de Letras.
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Detalhes no forro |
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Ouvindo as explicações da guia (esqueci de pegar seu nome!) |
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Área da senzala, abaixo da casa, onde também havia a fundição |
Lá pelas 14h o Renato nos ligou e
passou na Casa da Câmara para nos “buscar”! De lá, subindo sempre, fomos até
Ouro Preto e subindo mais um pouco, chegamos ao alto da Serra de São João, onde
fica o céu!!! Rsrsrsrsrs
Renato, Adriana e as crianças
Manuela (5anos) e Miguel (8anos) foram nossa família estes dias que ficamos
aqui. Passeamos e conhecemos lugares em Ouro Preto onde nunca estivemos – e
olhe que já estivemos por aqui umas 3 vezes, em épocas diferentes!
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Nosso "lar" no alto do morro São João |
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Preparando os cachorros quentes para o Dia das Crianças |
No alto do Morro São João fica o
Hotel/Bistrô Vila Relicário, um lugar maravilhoso onde se realizam casamentos e
festas chiques. O primo do Renato, Marcelo, é chef de cozinha no Hotel e
aproveitamos para passear e conhecer as instalações. Mais tarde iria acontecer
um casamento e aproveitamos para ver tudo decorado! Que lindeza!
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Chalés individuais para os hóspedes |
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Com nosso querido amigo e guia, Renato |
Área do salão de festas, onde iria acontecer um casamento
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Salão de festas abaixo |
Nosso "book" personalizado* (rsrsrsrsr)
*Renato aproveitou para fazer nosso book, num lugar pra mais de especial
Também lá no alto do morro fica o
Parque Natural Municipal das Andorinhas. O local é bem bacana para tomar banho
de rio, possui cachoeiras e trilhas fáceis para percorrer toda a área.
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Passeando no Parque com Renato e Miguel |
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Cachoeira da Andorinha |
No morro
vizinho, São Sebastião, fica a escola onde os filhos do Renato/Adriana estudam
e fomos lá para buscá-los. Em frente à escola, a Igreja de São Sebastião e no outro
morro, a primeira igreja de Ouro Preto: a Capela de São João Batista, de
1698!!! Infelizmente ambas estavam fechadas.
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Igreja de São João Batista (1698) |
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Igreja de São Sebastião |
Os moinhos de vento (ruínas) estão
localizados no alto do morro e conta a história que eles funcionavam com o
vento (as pás de madeira não existem mais) para moer as pedras e facilitar a
retirada do ouro que era levado pelos escravos por um sistema de túneis,
chamado de “sari”, que possui chaminés de ventilação. Este sistema de túneis
era usado para evitar os salteadores (ladrões) que se escondiam pelo caminho e
roubavam o que tinha. Muito curioso! Existem ainda alguns “sari” que permitem a
entrada, mas como já era entardecer quando chegamos lá, apenas observamos a
construção engenhosa e ficamos imaginando como a aventura de entrar nos túneis seria
intensa!
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Vista de Ouro Preto, lá do alto dos moinhos (Morro São Sebastião) |
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Ruínas dos moinhos |
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Interior do moinho |
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"Sari" - buracos de circulação do ar que ficavam sob os túneis usados pelos escravos |
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Vista noturna de Ouro Preto (Museu da Inconfidência) |
Aproveitamos para andar pela
cidade, num domingo, ao léu! A primeira parada foi na linda Igreja de São
Francisco, no dia de São Francisco (08/10) – aquelas coincidências
maravilhosas! Como a missa iria começar em poucos minutos, aproveitamos para
admirá-la gratuitamente!
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Igreja de São Francisco de Assis |
Dali, a feira de artesanato em
pedra sabão que fica em frente à igreja foi nossa segunda parada.
Na sequência, muitas ladeiras,
ruas estreitas, subidas e descidas! Numa ladeira, aproveitamos para tomar um
chopp no Sabor da Escadinha.
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Escadinha e, ao fundo, Basílica Matriz de N. Sra. do Pilar |
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Iguarias da Sabor da Escadinha |
Noutra ladeira, passamos em
frente ao Museu Casa Guignard – cujo acervo reúne obras de Alberto da Veiga
Guignard, pintor e desenhista brasileiro. Passamos em frente ao Museu da
Inconfidência e ao Museu da Ciência e Tecnologia (que visitamos há muitos
anos).
A Igreja de São Francisco de
Paula (aberta, com missa), próxima da Igreja de São José (fechada), em cujo
mausoléu está enterrado o escritor Bernardo Guimarães, autor de “A Escrava
Isaura”.
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Igreja São Francisco de Paula |
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Fim da missa |
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Igreja de São José |
Igreja Matriz de N. Sra do Pilar
(cobra ingresso). A taxa de visitação é de R$ 15,00 por pessoa (U$3) e às vezes
o ingresso em uma atração dá direito a outras 2. A lei aqui funciona diferente
e existe o meio ingresso para aposentado e estudante, apenas. Professor não
está incluído no desconto!
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Basílica de N. Sra. do Pilar |
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Porta de entrada (que impede os olhares curiosos) |
Igreja N. Sra. do Carmo (aberta,
com missa)
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Igreja N. Sra. do Carmo |
Igreja N. Sra. do Rosário
(fechada)
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Igreja N. Sra. do Rosário |
Igreja Matriz N. Sra. da
Conceição (cobra ingresso, que dá direito à Igreja de São Francisco e Igreja N.
Sra. das Mercês e Perdões)
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Igreja Matriz N. Sra. da Conceição |
O Museu Casa dos Contos tem
visitação gratuita e possui um acervo interessantíssimo. Infelizmente não
pudemos explorá-lo mais, pois nossa carona chegou. Como tudo que é bom um dia
acaba, deixamos Ouro Preto para trás, prometendo vir visitar nossos amigos
outro dia!
CANTINHOS DE OURO PRETO
Em nosso planejamento, havíamos
nos organizado para rever Tiradentes e conhecer Bichinhos, mas a saudade de
nossa mãe apertou e fomos direto para Juiz de Fora, onde a d. Maria vive há 3
anos!!!
O reencontro familiar foi intenso
e feliz!!! Nos próximos 40 dias aproveitamos para “pegar muito colo”, conversar
muito, trocar ideias e contar histórias, ... afinal, foram mais de 5 anos
longe!!!
Revimos Juiz de Fora e caminhamos
muito pela cidade. Passeamos com a mãe pela cidade, fomos no Museu Mariano
Procópio e também assistimos a uma apresentação de Coral no Cine-Theatro
Central.
Inaugurado em 1929, com projeto
de Raphael Arcuri, o Cine- Theatro possui fachada com referências em art
déco e ornamentação interna neoclássica. Tombado pelo IPHAN, em 1994, é
palco de apresentações líricas e populares, recebendo artistas de porte nacionais
e internacionais.
O Museu Mariano Procópio foi o
primeiro museu surgido em Minas Gerais. Fundado em 1915, por Alfredo Ferreira
Lage, abriga um acervo de mais de 50 mil peças. Aproveitamos para ver as
exposições “Rememorar o Brasil: a independência e a construção do estado-Nação”
e “Fios de Memória: a formação das coleções do Museu Mariano Procópio”.
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Jardins e lago dentro do Museu |
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Do lado direito, a área aberta do museu e do lado esquerdo, a antiga propriedade de Mariano, onde não pudemos entrar em função da chuva |
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Entrando na brincadeira! |
Infelizmente, em função da chuva forte, não pudemos conhecer a Villa Ferreira Lage, residência da família, e que foi reaberta à visitação em maio deste ano. Ficará pra próxima vez. Ah, esqueci de dizer: a entrada no Museu é franca!
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Saindo um "Apfelstrudel" |
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Será que ficou gostoso?? |
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HUM!!!! |
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Estação Ferroviária de Juiz de Fora (1875): inaugurada no auge da produção cafeeira - Estrada de Ferro D. Pedro II, que partia de Entre Rios, seguia pelo ramal do Vale do Paraibuna, atravessava a Serra da Mantiqueira, alcançando Barbacena e Ouro Preto |
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Mercado Central de Juiz de Fora |
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Fazendo compras no Mercado |
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Que tal um trago? |
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Catedral Metropolitana de Juiz de Fora (1924) |
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Parque Halfeld |
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Paróquia São Mateus |
Despedidas são sempre
complicadas, mas esta foi um “até breve!”, pois não temos a intenção de viajar
para o exterior tão logo!
Primeira parada depois de nossas “férias”
em Juiz foi em Aiuruoca, onde havíamos visto que há uma linda Cachoeira
dos Garcia, localizada uns 6/7km numa subida íngreme, forte, em estrada de chão
e alguns trechos em pedra!!! Após o Sítio São Francisco, já no alto do morro,
há trechos mais planos com subidas e descidas leves. Fomos devagarinho,
curtindo a paisagem e ao chegarmos ao platô onde está a cachoeira, estacionamos
numa sombra e logo trocamos de roupa. A descida para ver a cachoeira de baixo e
tomar um banho é feita por uma escada rústica bem tranquila.
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A subida... |
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Cachoeira dos Garcia |
A Cachoeira é linda, a água é
ge-la-da!!! Tomamos um gostoso banho e na subida já esquentamos! O Ribeirão do
Papagaio é o rio que dá origem à cachoeira e acampamos numa área mais próxima
do rio, após explorar a área e verificar outros pontos bacanas para
ficar/acampar. À noite ficou frio - uns 8°C de madrugada! – e pela manhã, após
o café, demos uma caminhada até a Cachoeira da Prainha, onde só molhamos os
pés. O lugar é lindo!
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Cantinho do acampamento |
Pela BR 267, próxima parada: Caxambu!
Estacionamos na Igreja de Santa Isabel da Hungria, que estava fechada,
infelizmente! A Princesa Isabel veio se tratar em suas águas terapêuticas (1868)
e mandou construir a igreja após ter se curado da anemia profunda (as águas
ferruginosas curaram sua infertilidade.
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Igreja de Santa Isabel da Hungria |
- Caxambu, no dialeto tupi dos
cataguás que habitavam a região, significa “água que borbulha” ou “bolhas a
ferver”.
O Parque das Águas Doutor
Lisandro Carneiro Guimarães é bem bonito e fica no centro da cidade. Há águas
de todos os tipos e o consumo é free, inclusive pode-se levar garrafão para
abastecer, o que os habitantes da cidade sempre fazem! Para entrar no Parque,
no entanto, há que se pagar uma taxa. Como Marcos é aposentado, pagou meio
ingresso (R$ 5,00 – U$1 - por pessoa e R$ 20,00 – U$ 4 - para uso da piscina
por pessoa). Às terças-feiras e quartas-feiras o balneário está fechado –
adivinhem??? Era quarta-feira, portanto não pudemos nem tirar uma foto da
piscina! A Praça 16 de Dezembro fica em frente ao Parque das Águas e dali saem
passeios de charrete pela cidade. Aproveitamos para passear pela Praça e ver
seus arredores, antes de seguirmos adiante.
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Passeando pelo lindo parque, todo arborizado! |
Cerca de 40km adiante fica São
Lourenço, também conhecida por pertencer ao Circuito das Águas de Minas
Gerais, localizados na Serra da Mantiqueira. A cidade possui uma completa
estrutura de estâncias hidromineirais com o segundo maior parque hoteleiro do
estado.
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Igreja Matriz de São Lourenço Mártir |
A Igreja Matriz de São Lourenço
Mártir fica ali no centro e demos uma passadinha para admirá-la, após as obras
de revitalização feitas recentemente. Aqui optamos por acampar no Parque da
Cidade, local amplo, com quadras de esporte, local para treinos de corridas e
usado pelas auto escolas para ensinar os novos motoristas. À noite, tivemos a
companhia de dezenas de capivaras que ocuparam a pista.
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Lago Guanabara, em Lambari |
Passamos rapidamente por Lambari
e admiramos o lindo Lago Guanabara. A BR 381 é “logo ali”!
Cada dia que passa estamos mais
perto de nosso estado natal (PR)! Ainda na Fernão Dias (BR-381) aproveitamos
para comer uma gostosa comidinha mineira, comprar uma cachacinha e uns doces/queijos,
antes de chegarmos na divisa com São Paulo.
Mas esta já é outra história...