Viagem Família______________________________________

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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Belize - o país que fala língua inglesa na América Central

New River, Orange Walk
Nossa saída da Guatemala pela cidade de Melchor de Mencor foi rápida, assim como havia sido a entrada. Já na aduana de Belize a papelada foi mais demorada, primeiro enfrentando a fila para carimbar o passaporte, onde preenchemos um permisso de entrada, como se estivéssemos chegando de avião, preenchendo um questionário básico com os dados pessoais, número de passaporte, dias de estadia, etc e tal.

O que não sabíamos e nos pegou "de calça curta" foi o fato de que alguns produtos, tais como bebidas alcoólicas e refrigerantes, sucos, alimentos frescos (presunto, ovos, queijo) e frutas não são permitidos na entrada do país!!! Sabendo que o custo de vida por aqui é mais alto e a moeda em Belize é o Dólar de Belize e vale U$ 1 = BZD 2, fizemos compras na Guatemala como forma de economizar uns trocados... Enquanto eu (Mari) fiquei na fila da aduana completando os papéis para carimbar o passaporte, Marcos foi até o estacionamento e "escondeu" como pôde as cervejas, whisky e outros itens que havíamos comprado no dia anterior!!!   
Durante o preenchimento da documentação do carro e pagamento das taxas (BZD 10: fumigação + BZD 30: seguro) Marcos e a agente aduaneira belizenha ficaram amigos e ela foi inspecionar o carro (o que é totalmente fora dos padrões) e nos ajudou, pois se encantou com os lindos olhos azuis de meu maridão e mal olhou o interior do carro! 
Beleza!!! Passamos com 12 latinhas e uma garrafa de Jack Daniels zerada, além de queijo, presunto e carne!! 
Passados uns 5 km da divisa, paramos o carro e tiramos tudo que era perecível do esconderijo, voltando-os para geladeira e aproveitamos pra comprar umas verduras e frutas numa barraca que ficava às margens da rodovia.
Dólar belizenho (BZD) - US$ 1 = BZD 2

Arquitetura típica do país
Belize é um país relativamente pequeno e após fazermos compras e sacar algum dinheiro local em San Ignacio, em duas horas já estávamos no litoral, em Dangriga, passando por extensas áreas de floresta tropical úmida, algumas plantações de frutas (como banana, por exemplo) e muitos coqueirais.


Chegamos em Dangriga - "águas paradas" em garifuna - em plena Quinta-feira Santa e a Oficina de Turismo ainda estava aberta (15h iria fechar). Pegamos as informações básicas e mapas do país e da cidade e a atendente ainda nos apresentou a Sra. Grace (Miss Grace), vizinha da Oficina de Turismo e que mora em frente ao mar do Caribe, que permitiu que acampássemos em seu gramado, usando o banheiro e ducha por BZD 20 (que acabou ficando por BZD 17, porque ela não tinha troco para BZD 50)!!!
Com Miss Grace


Aproveitamos para tomar um banho de mar e nos enxaguar numa ducha morninha, e fizemos nosso almojantar enquanto conversávamos com a Miss Grace, senhora de 80 e poucos anos, muito curiosa e que, passados os primeiros minutos de conversa, foi se abrindo e até nos mostrou as fotos da família, tomando cerveja conosco!

Café da manhã de frente pro Caribe

Aproveitamos para recolher o lixo desta parte da praia, antes de seguirmos viagem

Despedida de Grace, uma nova amiga!
Garifuna é um grupo étnico cultural, composto por descendentes de escravos naufragados e fugidos de Honduras e caribes nativos (descendentes de maia), que adotaram a língua carib, porém mantiveram as tradições culturais (musicais e religiosas) africanas. 
Dangriga, antigamente chamada de Stann Creek town, é conhecida como "capital cultural" de Belize, pela influência da cultura garifuna e também pela música punta rock. Ela foi colonizada a partir de 1802, pelos Garinagu (Black Caribs) e está entre as cidades mais populosas e importantes do país.  Composta por Garinagu, Mestizos e Kriols, têm aproximadamente 11 mil habitantes. Tornou-se um importante porto de exportação de bananas, coco, peixe e madeira, tendo também indústria de processamento de suco de laranja.
Chuva se aproximando no dia seguinte

Vielas em Dangriga
Como estamos em plena Semana Santa, muitos locais estavam fechados e a cidade parecia meio "fantasma"! Passeamos pelas ruas e tiramos fotos das características casas em palafitas, marca registrada do país. Essas construções elevadas têm sua função, visto que Belize, antiga Honduras Britânicas, é um país plano, com muitos banhados e mangues e cuja elevação das marés é bastante grande, ainda sendo  suscetível à tsunamis.


Nas cidades percebe-se um certo planejamento e limpeza, porém nas praias e arredores das rodovias ainda se vê muito lixo e o péssimo hábito de queimá-lo é recorrente!





Belize, cujo idioma oficial é o inglês, é um pequeno estado independente (que tem como chefe de estado a Rainha Elizabeth II)  que ocupa uma área de quase 23 mil km² e têm uma população média de 335 mil habitantes, sendo um dos países menos densamente populosos da América Central. Sua independência só foi reconhecida em 1981 e a Guatemala só aceitou essa condição em 1992! Ao longo da costa caribenha de Belize se encontram recifes de coral e a barreira de coral mais longa do hemisfério ocidental, o que atrai milhares de turistas para sua costa e ilhas todos os anos, buscando áreas excelentes para mergulho. 


Antes de chegarmos a Belize City, uma parada no quartel da Guarda Costeira, de onde formos gentilmente expulsos!
Belize Town foi fundada em 1638, quando comerciantes de madeira ingleses aportaram nessas terras, anteriormente ocupadas pelos maias. Há inúmeros sítios arqueológicos maias importantes nesse país, mas 3 se destacam: Lamanai, Xunantunich e Caracol, o mais famoso.
Prédio histórico no centro de Belize City
A antiga capital do país, Belize City (que fomos conhecer no dia seguinte), fica no Mar do Caribe e foi assolada por muitos eventos naturais nos anos 1900: um furacão em 1931 e pelo tornado/furacão Hattie em 1961, que destruíram muito a cidade, além de incêndios residenciais de grandes proporções (as casas são praticamente todas de madeira) e enchentes na temporada de chuvas. Estes eventos sucessivos e recorrentes acabaram fazendo com que a capital fosse transferida, em 1970, para Belmopan, mais  protegida e no centro do país. Mais recentemente, a cidade foi atingida novamente por dois grandes furacões, Richard (2010) e Earl (2016), provocando muita destruição. Esses fatores influenciam grandemente a qualidade de vida da população na região e há muita pobreza e escombros espalhados na cidade.





Nossa impressão durante nossa visita à Belize City não foi das melhores. Chegamos em pleno feriado de Sexta-feira Santa e a cidade estava às moscas. A sinalização é precária e buscamos locais turísticos para visitar, porém as poucas pessoas que estavam nas ruas não foram simpáticas e muito menos receptivas, muitas inclusive sendo grosseiras no trato e querendo saber porquê estávamos lá!! Ué? A cidade não é um dos cartões postais do país?? Sentimo-nos desconfortáveis e resolvemos ir embora antes de vermos aquilo que tínhamos nos proposto (catedral, malecón, prédios históricos,...).
Construção à beira mar

St. John Cathedral: primeira igreja anglicana construída no país, entre os anos de 1812 e 1820
Só havia um posto de combustível aberto, pois era feriado, e depois de abastecermos com o combustível mais caro pago até aqui (cerca de R$ 5,55 o litro do diesel), Marcos ainda comprou um melão, pelo qual pagamos BZD 8  (quase 16 reais a peça!!) e seguimos para o norte onde acampamos em Orange Walk.





Orange Walk é a 4ª maior cidade de Belize. Na época maia, esta região era conhecida por Holpatin e quando os primeiros europeus aqui aportaram, em 1530, houve disputas por terras. Em 1848 houve um grande afluxo de mestiços e outras tribos maia do México incrementando a população local e em 1872 ocorreu a Batalha de Orange Walk, dando nome ao lugar. 
Junto com a chegada dos mestiços e maias à região, veio também a cultura da cana-de-açúcar, que é até hoje um dos motores que movimenta a economia local e que preocupa os ambientalistas, pois o seu processamento interfere na qualidade da água e do ar de toda a região.

New River, vista do Lamanai  Riverside Retreat


Ficamos acampados na área do Lamanai Riverside Retreat, onde o proprietário, Raul, fechou nossas duas diárias por BZD 30 (R$ 60,00), com ducha e banheiro à disposição. Este local fica às margens do New River e tivemos a companhia de um crocodilo, uma iguana, muitos pássaros típicos da região e o sossego necessário para trabalharmos em nosso livro por dois dias, além de conhecermos um inglês que está viajando de moto, o Mike, cara muito legal com quem fizemos boa amizade e trocamos muitas ideias. Lance, filho de Raul, guia turístico e ativista ambiental, veio conversar conosco e fizemos uma boa amizade também, amizades estas que duram até os dias de hoje!

Lamanai Riverside Retreat

A natureza por todo o lado: iguana e pássaro, com pequenas plantas aquáticas

Iguana
Nosso companheiro, o crocodilo!



Aprendemos muito sobre a cultura maia e os costumes do povo que mora aqui e também percebemos que existe uma preocupação ambiental crescente, pois a água que é farta por aqui não está apresentando boa qualidade, provocada pelo derramamento de esgoto doméstico e  subprodutos da indústria da cana! 
Aproveitamos para tomar uma Belikin, cerveja típica de Belize, e ainda ganhamos de presente do Raul, um porta guardanapo com a marca famosa. Boas recordações do país, afinal!!
Tomando um deliciosa e gelada Belikin

Com Lance, amigo e ativista ambiental, aprendendo sobre o povo maia
Trabalhando no livro

Com Raul e o porta guardanapo de presente
No dia seguinte, subimos até Corozal e nos extasiamos com o que vimos!! Aqui o mar do Caribe é verde intenso!!!! Lindo!! Indescritível!! Impossível não ficar aqui pelo menos um dia! Buscamos um local bacana e sombreado para passar a tarde, tomar banho de mar e relaxar!!
Corozal, mar incrivelmente verde


O local acabou sendo também nosso camping à noite! Mal havíamos nos recolhido na barraca, veio uma viatura da polícia e os policiais perguntaram se estávamos bem e precisávamos de algo. Falamos que estava tudo ótimo e que iríamos partir na manhã seguinte. Foram embora e tivemos mais uma noite tranquila e silenciosa!!!
O contraste: muito lixo na praia e o mar verde claríssimo! 


Pôr de sol em Corozal
Antes de deixarmos o país (e a América Central), pagamos a taxa de saída do país: BZD 80 (R$ 160,00)!

No final, Belize se mostrou um destino bonito, porém bastante caro! Muitas das atrações turísticas ficam nas ilhas e envolvem mergulho com equipamentos. Mesmo os passeios "em terra" são bastante caros e o preço médio de diária de um guia gira em torno de BZD 150 (R$ 300,00). Portanto, para desfrutá-lo é necessário um bom planejamento orçamentário! Saber falar inglês facilita algumas coisas, mas mesmo com o espanhol é possível se comunicar com as pessoas! De maneira geral, o povo é mais reservado que em outros países latinos da América Central. Percebemos, no entanto, que isso é influenciado pela sua colonização inglesa. As pessoas são educadas em sua maioria, sendo curiosas e solícitas quando necessário!
Assim deixamos a América Central!! Nosso próximo destino é o México, já na América do Norte!




sábado, 13 de abril de 2019

A inesquecível Guatemala, destino obrigatório da América Central

Praça central da cidade de Antígua, com comerciantes locais em suas roupas típicas
Depois de nossas rápidas, porém positivas passagens pelos outros 2 países do CA 4 (El Salvador ficará para outra oportunidade), não sabíamos o que esperar da Guatemala, mas ela já nos surpreendeu na aduana conjunta de El Florido, pois diferentemente dos outros países, não tem taxa de ingresso no país, apenas o seguro do carro, que custou Q$ 160 (U$ 20 mais ou menos) e foi pago no banco diretamente.  
O Quetzal é a moeda corrente na Guatemala e o câmbio para o dólar americano é de, aproximadamente, U$ 1 = Q$ 7,70.


Recebemos um lindo mapa do país na aduana, com as principais rodovias e cidades destacadas, bem como o agente aduaneiro nos deu algumas dicas antes de partirmos. Paramos a 80 km da capital, Cidade da Guatemala, num posto de combustível onde, em conversa com o frentista, descobrimos o porquê das estradas estarem quase sem movimento de caminhões: existe uma lei que só permite o transporte de cargas vivas e alimentos durante o dia! Nessa rota, caminhões só trafegam das 19h às 8h!! Resultado: nossa noite foi bem barulhenta e agitada!! 


Tínhamos acabado de chegar no posto quando, de repente, ergueu-se uma nuvem de pó que caiu do morro localizado na parte de trás do local. Nosso susto foi descobrir que não se tratava de um caminhão passando na rua ao lado, e sim, de um pequeno tremor de terra que tinha ocorrido minutos antes!! Um rapaz, vizinho ao posto, veio conversar conosco e nos orientou a mudar o carro de posição, deixando-o mais afastado do morro, pois corria o risco de haver outro tremor e a montanha de areia descer inteira!! Uia! Que medo!! Mudamos o carro na hora!


Na manhã seguinte nos dirigimos à capital, contornando a cidade limpa, bonita e organizada e de lá direto à Antígua ou La Antígua, terceira capital do país, com suas construções e arquitetura colonial bem preservada. Nesse primeiro contato com a cidade, resolvemos subir até o Morro da Cruz (Cerro de la Cruz), de onde se pode ver a cidade toda com o Vulcão de Água ao fundo. Não conseguimos enxergá-lo, pois estava encoberto. 

Vista superior da cidade de Antígua. Vê-se o contorno do Vulcão de Água à esquerda, na bruma
A cidade de Antígua foi Declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (1979), por ter uma arquitetura barroca espanhol bem preservada além de várias ruínas de igrejas coloniais, foi fundada em 1549.
Ruínas da Iglesia de la Candelaria (1548), destruída completamente após o terremoto de 1753
A história da cidade é confusa, visto que mudou de nome (era Santiago de los Caballeros até a mudança da capital para a Cidade da Guatemala), posição geográfica e função ao longo dos anos. Foi construída a partir de 1543 na atual localização e sua construção foi planejada em forma quadrada, tendo ruas largas correndo de norte a sul e leste a oeste, tendo uma praça central, onde ficam dispostos os prédios importantes e governamentais. Muitas construções foram destruídas pelos intensos terremotos que abalam a região periodicamente, sendo que inúmeras igrejas acabaram só em ruínas, que podem ser vistas e visitadas na atualidade. 

Iglesia e Convento San Francisco


Visitação do museu e ruínas, Q$ 8 por pessoa (U$ 1)
Em 1608 os jesuítas fundaram a escola "San Lucas da Companhia de Jesus" e ela foi referência onde a aristocracia colocava seus filhos para estudar. Em 1626 foi concluída a igreja da congregação, mas assim como a escola, sofreu com os inúmeros terremotos que se abateram sobre a cidade entre os séc. XVI e XVIII, tendo sua estrutura abalada.
Escola e igreja da Companhia de Jesus: em ruínas

Muitas imagens de santos aparecem sem cabeça e sem mãos. Dizem que quebraram quando da queda durante o terremoto. Existem, no entanto, outras situações em que se cortam as mãos das estátuas... vá saber!


Ruas da cidade

Pátio interno do Museu de Arte Colonial (Q$ 50 por pessoa = U$ 7, aproximadamente)

Prédios na praça central
As obras de reconstrução que se sucediam após cada tremor de terra faziam com que a cidade fosse ficando cada vez mais bonita e melhor. Imagine que em 1751 já havia sistema de distribuição de água e as casas e prédios tinham água nas torneiras?!
Finalmente, em 1776 a capital foi mudada para uma região mais segura, chamando-se Cidade da Guatemala de Assunção, e sob a ordem da Coroa Espanhola Antígua deveria ser evacuada, o que não aconteceu. 
Interior da igreja em frente ao Crucero (praça com cruz) enfeitada em função da Quaresma
Quando visitamos a cidade ela estava enfeitada e à espera dos festejos da Páscoa, onde a procissão da Sexta-feira Santa atrai milhares de fieis e turistas. Acampamos numa área central chamada DISETUR - Rancho Nimajay, onde já havia dezenas de turistas com seus motorhomes e campers. A única exigência para poder acampar aqui é possuir estrutura própria (banheiro, ducha e comida) e tirar fotocópia dos passaportes para fazer o registro. Mesmo não tendo banheiro, "demos o tombo" e ficamos, usando o banheiro do McDonalds e de outros estabelecimentos comerciais na região do entorno.
DISETUR - área de camping próximo do centro histórico de Antígua
Neste local pessoas da comunidades oferecem serviços para os turistas, desde água mineral até troca de gás. Como estávamos precisando recarregar nosso botijão de gás, chamamos o rapaz que veio prontamente e disse que em poucas horas traria o botijão recarregado. Já era noite quando ele retornou com o gás e, na manhã seguinte, Marcos foi instalá-lo no carro, porém não usou IPI's por distração!!! Por azar ou excesso de pressão do gás, houve um vazamento e Marcos queimou suas mãos seriamente! Rapidamente procedemos com os primeiros socorros, muita água corrente para estabilizar a temperatura e spray de Andolba para anestesiar o local e depois, sulfadiazina de prata, que é uma pomada excelente para queimaduras, barata e extremamente eficiente!

Umas das bolhas, resultado da queimadura provocada pelo vazamento de gás

Passeamos por dois dias pela cidade, vendo e fotografando seus encantos! A arquitetura local é lindíssima e as lojas e restaurantes aproveitam as fachadas, alterando e modernizando seus interiores.


Restaurante em local onde era uma armazém

Restaurante e Museu do Chocolate

Restaurante o Museu do Chocolate

Arco Santa Catalina, um dos cartões postais da cidade. Infelizmente não se vê o vulcão ao fundo
O Arco Santa Catalina construído no séc. XVII,  originalmente ligava o convento a uma escola, permitindo que as freiras enclausuradas cruzassem de um lado para o outro sem precisar andar pelas ruas. O relógio da torre foi adicionado em 1830, pela Confederação Centro-Americana.

Iglesia la Merced, de estilo barroco, finalizada em 1767
 A Iglesia de la Merced possui uma história bem pitoresca. Após o grande terremoto - cujo nome foi Terremotos de Santa Marta - que atingiu a cidade em 1773 e ocasionou a mudança da capital para Cidade de Guatemala, distante uns 80 km, o capitão geral de Antígua (ainda Santiago de los Caballeros, na época) decidiu que as imagens principais dos santos desta igreja fossem transferidos para o local onde seria erguida a nova igreja. Assim, o templo ficou sem santos, porém continuou funcionado normalmente e tendo ofícios por um tempo, quando os padres e cléricos em geral foram forçados a se mudar para a nova capital. Só muito anos mais tarde é que voltou a ter a estátua de Jesus Nazareno, utilizada nas procissões da Semana Santa.
Mercado público: comidinhas "da hora" já cedo pela manhã


Biblioteca da cidade de Antígua: pátio interno, com contemporâneo x antigo convivendo

Ainda nos pátios internos da biblioteca, que tem um restaurante muito chique em sua construção
Deixamos a cidade maravilhados, pois Antígua se mostrou um excelente cartão postal e de visitas deste país incrível e colorido! As roupas típicas coloridas e bordadas estão presentes no cotidiano do povo nativo com quem você poderá negociar peças de vestuário e para a casa nas ruas.
Dirigimo-nos para a próxima atração, lago Atitlán, subindo a serra até Chimaltenango, passando por Tecpán e dando uma volta por Sololá, antes de chegarmos à cidade de Panajachel seguindo por estradinhas sinuosas e bem movimentadas.
Vista do lago Atitlán. Por conta da névoa densa, não foi possível ver os vulcões que ficam a sua volta

Às margens do lago Atitlán

Testando a qualidade da água do lago... hum! Nada boa!
Localizada na costa nordeste do lago Atitlán, Panajachel é uma cidade que está a quase 1600 msnm e é um centro turístico bem importante da região, fornecendo serviços de navegação pelo lago, hotéis e restaurantes diversos. 
Panajachel deriva da língua Kaqchiquel e que significa "lugar dos Matasanos", espécie de árvore frutífera (fruto: sapote branco ou maçã mexicana).
A cidade foi destino de muitos hippies nos anos 1960, porém durante o período de Guerra Civil na Guatemala, houve o esvaziamento da cidade (e do país). Hoje o principal fator econômico da cidade é o turismo! 


A vontade de cair na água para nos refrescarmos foi abortada quando vimos o rio que desce da montanha e passa pelos lugarejos vizinhos, interferindo diretamente na qualidade da água do lago.

Rio que desce a montanha e traz consigo os efluentes domésticos dos povoados que ficam ao seu redor 
Andamos pelas ruas da cidadezinha, buscando um hostal ou hotelzinho/pousada para ficarmos, visto que o local de estacionamento público era muito barulhento para acamparmos. Como era sábado, havia muita gente no local (que é turístico), fazendo os passeios de barco e perambulando pelos restaurantes, como nós.

Vista do lago, no Hotel Bahia del Lago, onde acampamos
Finalmente achamos local para acampar no Hotel Bahia del Lago, indicado no IOverlander, próximo da  entrada da cidade e perto de um resort chiquetérrimo. Conversamos com o Maurício e negociamos nosso pernoite por Q$ 60 (aproximadamente U$ 8) com uso de chuveiro e banheiros na área da piscina.
Área de lazer do Hotel

Nosso acampamento às margens do lago Atitlán
Definitivamente esta não está sendo a viagem para avistamento de vulcões... Novamente não fomos afortunados pela vista deles! Muita névoa no local nos impediu de vermos os 3 vulcões que circundam o lago Atitlán: San Pedro, Atitlán e Tolimán.


O Lago Atitlán é um grande lago endorreico, considerado o mais profundo da América Central, porém ainda não completamente estudado, estima-se que tenha 340 m de profundidade. Tendo origem vulcânica formada por uma erupção ocorrida há 84 mil anos, possui 3 vulcões que hoje estão às suas margens, que são: San Pedro, o mais antigo e inativo há 40 mil anos, Tolimán ativo, mas dormente e Atitlán que teve sua última erupção em 1853. O lago é rodeado de muitas aldeias e cidadezinhas, muitas de origem maia, predominantemente das tribos tsutuiles e caqchiqueles. Hoje o turismo é a principal fonte econômica da região, porém nas encostas das montanhas existem muitas plantações de café e milho. 
Em 1958 foi introduzido um tipo de peixe no lago, o achigã, que acabou predando muitas das espécies nativas, sendo o principal causador da extinção do mergulhão-de-Atitlán, ave rara endêmica da região do lago.
Chichicastenango em dia de feira
Percebemos que era bem isso que tínhamos em mente e apenas circundamos a cidade, seguindo o caminho para norte, subindo (muito) e descendo as montanhas, contornando morros e andando devagar, pois além das subidas íngremes, são centenas de túmulos* (lombadas, obstáculos, muros, redutores de velocidade, quebra-molas, roempe mueletope, lomo: são alguns sinônimos para as famosas e horrorosas lombadas, que existem aos milhares em toda a América Latina).


O uso dos "túmulos" é frequente em toda a América Central e os nomes variam bastante
As estradas nesta parte da Guatemala são bem cansativas, pois são subidas imensas, com muitas curvas e descidas sempre contornando as montanhas. As paisagens são bonitas, mas a presença do lixo em todos os lugares é usual e além do acúmulo de resíduos, há ainda o costume de atear fogo para efetuar a limpeza. Aí a coisa fica pior...
Lixo jogado às margens das rodovias, neste caso, um curso de rio seco

Normalmente, as pessoas depositam seus resíduos na beira da rodovia 

Depois que se acumula um monte de lixo, ateiam fogo


Esses procedimentos foram observados tanto na Nicarágua quanto em Honduras e aqui, na Guatemala, o fenômeno se repete... Falta cultura, conhecimento e políticas públicas que realmente diminuam ou resolvam os impactos ambientais provocados pelo consumismo e conscientização da população em cada um fazer a sua parte.
Dá pena de ver o mau trato com a natureza num país tão lindo e incrível!!! E o contraste entre a sujeira e as belezas do país é impactante!
Plantações de café nas encostas das montanhas, próximo de Lanquín
A diferença de temperatura no país também é uma marca registrada. Enquanto que nas partes baixas as temperaturas ultrapassam fácil os 30°C, no alto das montanhas o frio e chuva ocasionais, principalmente à noite, baixam as temperaturas perto dos 10°C, necessitando de agasalho ou coberta para dormir!

Comprando batatas com balança de dois pratos!!
Nossa próxima parada era Semuc Champey, local próximo da cidade de Lanquín, que fica a 1 hora de Cobán. Havíamos parado no Centro de Informação Turística - IGUAT, no centro de Cobán, para pegar mapas e mais detalhes do caminho até Semuc Champey e descobrimos há asfalto até uns 12 km antes de Lanquín. De Lanquín até Semuc Champey são mais 12 km, em estrada ruim, estreita, com subidas e descidas íngremes com muitas pedras soltas.
Marca da freada e parada no guardrail... este foi por pouco!!!
Este trajeto foi marcado por um "quase acidente", pois numa determinada curva, a 30km/h, o Garça seguiu reto, não respondendo aos comandos pois havia óleo na pista... paramos assustados à 20 cm do guardrail (que já havia sido atingido por algum veículo antes da gente, pois estava deslocado e torto, para dentro do precipício)!!! UFA!!! Trabalho extra pros anjos da guarda no dia de hoje!!!


Passado o susto, paramos em Lanquín na entrada das Grutas (que decidimos ver na volta) e fomos direto até o Monumento Natural Semuc Champey, chegando lá depois das 17h. O parque já estava fechado, mas conversamos com os locais e o vigia permitiu que acampássemos na área do estacionamento, próximo da área comunitária em que há banheiros e ducha.
Durante a noite caiu um toró, deixando-nos apreensivos em como iríamos retornar para a cidade de Lanquín, visto que a estrada é muito ruim... Mas isso só seria preocupação depois de conhecer as piscinas naturais de Semuc Champey. Na manhã seguinte, o sol resolveu aparecer e pudemos aproveitar e nos admirar com um dos lugares mais bonitos que conhecemos até aqui!! Sem dúvida, SEMUC CHAMPEY é TOP 10!!! Lugar incrivelmente lindo!!


Vista panorâmica das piscinas naturais





Depois de desfrutarmos longamente do lugar resolvemos retornar para Lanquín, pois o tempo fechou novamente e não queríamos arriscar em fazer a volta debaixo de chuva. Enquanto Marcos desarmava a barraca, aproveitei para trocar de roupa no banheiro. Quando saí de lá, peguei o Marcos mexendo na farmácia, bastante nervoso e preocupado. Também pudera: havia sido picado no dedo do pé por uma aranha, quiçá venenosa, grande e amarela!! As meninas indígenas que estavam ao nosso lado conversavam entre si, preocupadas também!! Marcos agiu rapidamente e espremeu todo o veneno do dedo (um líquido esbranquiçado) até que começou a sair sangue. Daí, passou pomada e tomou uns remédios... A Guatemala está se mostrando um destino bem agitado!! O anjo da guarda voltou a agir e a ação rápida e os medicamentos fizeram efeito, pois o dedo não inchou e o Marcos não teve febre.  Affff! Que susto!!!
Aranha, depois da picada e da chinelada!

Detanhe dos "furinhos" da picada da aranha no dedo médio
Retornamos a Lanquín, não sem antes termos de esperar o "conserto" da ponte... isso está saindo melhor que a encomenda, cheia de aventuras!!


Conserto realizado, pudemos seguir viagem!  
Fomos direto até as Grutas de Lanquín, onde procuramos pelo Carlos, que foi a pessoa com quem havíamos conversado no dia anterior. Pagamos o ingresso (Q$ 30 por pessoa =  menos de U$4) e aproveitamos para testar a água que é distribuída para a comunidade e que vem das nascentes que passam próximo da gruta. A água é bastante mineralizada, porém de boa qualidade.

San Agustín Lanquín, ou simplesmente Lanquín, é uma cidade onde a maioria dos 17000 habitantes é descendente de Q'eqchi' Maia. Descoberta pelos espanhóis em 1540, só passou a ser cidade em 1846, tendo sido declarada Patrimônio Natural Nacional em 1997.


Vista da boca da caverna para o rio Lanquín, que nasce aqui

Espeleotemas no interior da caverna


A Caverna contém muitos espeleotemas, porém sua conservação está bastante precária, visto que o local ainda é usado para cerimônias religiosas e depósito de oferendas pela população local, por trata-se de um lugar espiritual para os maias. Existe uma preocupação dos guias que acompanham as visitas em preservar o patrimônio, recolhendo o lixo que porventura seja encontrado, e hoje a gruta conta com sistema de iluminação. Nem sempre foi assim e as paredes internas da caverna estão pretas da fuligem de candeeiros e velas ou tochas utilizadas antigamente para a sua iluminação. Ainda assim, o lugar merece uma visita e neste local também pode se acampar, porém não existem facilidades.
Muitos foram nossos companheiros de viagem até aqui! Todos fofos e carentes!



O calor das 13h estava infernal, porém a caminhada pelas trilhas se faz por debaixo das árvores, o que ajuda bastante. Levamos um bom estoque de água e Gatorade e percorremos praticamente todas as trilhas, admirando e curtindo as paisagens, ruínas e animais que existem dentro do sítio arqueológico. Existe uma espécie de lanchonete (comida industrializada: pacotes de biscoito, salgadinhos e refrigerantes) próximo da grande pirâmide e outra próxima da praça principal da acrópole (Plaza dos 7 Templos), mas aqui também tem de se pagar em dinheiro trocado, pois eles não têm troco. E lá pelas 15h, fecham os locais e vão embora! Portanto, leve seu farnel e bastante líquido, pois você vai precisar!



Tikal é a ruína de uma cidade maia antiga, declarado Patrimônio Histórico da Humanidade em 1979. Embora sua arquitetura monumental remonte ao séc. IV a.C., ela atingiu seu auge durante o Período Clássico, de 200 a 900 d.C., onde  dominou politica, econômica e militarmente a civilização maia interagindo também com a Mesoamérica da cultura Teotihuacan, que invadiu e dominou sua cultura a partir do séc. IV d.C. A partir daí, não foram mais construídos edificações em Tikal e a população começou a deixar o local, sendo abandonada até o séc X.
Estelas (monolitos de pedra) que contam a história das dinastias


O nome Tikal ("no poço") foi dado apenas a partir da sua descoberta na década de 1840. Há registros de que seu nome original era Yax Mutal ou Yax Mutul, "primeiro Mutal", porém seu significado permanece obscuro.  

A cidade foi toda mapeada e cobre uma área de 16km² com cerca de 3000 estruturas. A área ao redor de Tikal compreende 570 km² de área preservada, criada em 1955 quando foi declarado Parque Nacional. 


Vista de cima da pirâmide, acompanhados de alunos do Ensino Médio de Cidade da Guatemala



Além das ruínas estarem localizadas na área de floresta tropical da Guatemala, ainda se encontram na área do parque exemplares da Ceiba pentandra (kapok gicantesco), árvore símbolo da Guatemala e sagrada para os maias e mogno de Honduras e Cedro tropical. Entre as espécies de animais, encontramos o quati de nariz branco, o pavão, os macacos aranha e bugio, cutias, diversos tipos de aves e insetos. 






Ceiba, árvore sagrada dos maias e símbolo da Guatemala

A única fonte de água de Tikal era o armazenamento da água das chuvas em reservatórios construídos para este fim. Sabendo que o período das chuvas é incerto, havia uma grande preocupação com a manutenção das plantações e criação para sustento da comunidade. Esses reservatórios eram alimentados por canais que cortavam toda a cidade, inclusive em alguns havia estuque para impedir a fuga (perda) da água antes de chegar aos reservatórios. 
Plaza dos 7 Templos


Descansando e curtindo a sombra da pirâmide

Campo de pelota

A linha dinástica de Tikal - fundada no séc. I d.C e que durou 800 anos -  contou com pelo menos 33 governantes e sua história é contada nas inúmeras estelas (monolitos de pedra entalhada) espalhadas pelo sítio, além de outros monumentos. 
Arqueólogos pioneiros começaram a limpar e mapear a cidade de Tikal nos anos 1880, porém somente em 1956 o projeto de descoberta e estudos criou forma e seus estudos continuaram até 1984. 
O local já foi palco de inúmeros filmes, inclusive da saga Star Wars e 007. 




Cansados, mas felizes, fomos quase os últimos a sair depois de ainda irmos até o Palacio de las Ventanas e a Plaza Este, onde ficava o campo de jogar pelota e algumas habitações. Ainda aproveitamos para conversar com um turista chileno, Luiz, que estava acampado na área de camping, antes de retornarmos até El Remate, onde buscamos um lugar para acampar. Acabamos ficando na área em frente ao Casa/Restaurante do Ernesto, combinando de pagar Q$ 40 por noite, com wifi, banheiro e ducha. O lugar é um paraíso!

Lago Petén Itzá


Aproveitamos para descansar no paraíso, lavar roupas e curtir, batendo papo com locais e buscando um mecânico, pois o câmbio do Garça não está legal e não podemos partir pra Belize deste jeito. 
"Lavar roupa todo dia, que alegria..."

"Instalação" bem colorida


Voltamos a San Benito, perto de Flores (uns 20 km), capital do departamento, pois o mecânico indicado pelo Ernesto mora e trabalha na região.  Albertito ou Conejo, como é conhecido, deu uma volta com o carro e constatou aquilo que já desconfiávamos: tem algum errado na caixa de câmbio. Chamou outro camarada e em 4, Marcos, Conejo, Lourenço (afilhado) e o amigo, desmontaram a caixa de câmbio ali mesmo, no chão da oficina, que estava uma bagunça... Constataram que um rolamento da capa seca que havia sido trocado no Brasil antes de nossa partida havia quebrado, porque era usado!!! Além disso, aproveitaram pra trocar rolamentos e buchas e o suporte do eixo piloto foi encomendado da capital, Cidade da Guatemala, e irá levar uns dias pra chegar.




Tudo isso aconteceu no final de semana, portanto acampamos debaixo do telhado da oficina e ficamos junto com a família do Conejo, que nos recebeu bem como se fôssemos da família. Gladys, esposa do Albertito (ou Tito), já fez tortilhas com recheio de tomates temperados e aproveitamos nossa estada com eles pra aprender o modo de vida dos guatemaltecos.

Serviço mal feito no Brasil, tendo que ser refeito na Guatemala

A tortilha é o prato principal na culinária da América Central e aqui na Guatemala não é diferente. Tudo se come com a tortilha: carne, verduras, sopa, feijão,.... literalmente, tudo! O milho é o rei! Ele é usado para fazer tortilhas, tacos, enchiladas, tamalitos, chuchitos, pishtones,... Pelas ruas e estradas se vê mulheres (jovens, idosas, meninas) fazendo tortilhas frescas a todo momento, na frente de suas casas. 

Feijoada brasileira com Gladys, Rosaline Tito (Conejo)

Passeando pelo malecón (beira/lago) de Flores, com Rosalin, Gladys, Leibi e Tito

Igreja Matriz de Flores minutos antes da procissão de Ramos


Foi muito interessante nossa estadia com a família do Tito. Aprendemos muitas curiosidades sobre a maneira como vivem e seus costumes. Aproveitamos, também, para difundir nossos costumes e culinária brasileira. Fizemos feijoada pra família toda (e os vizinhos também viram provar) e frango com macarrão à moda brasileira. Em contrapartida, comemos tortilhas e pastel de banana (torta de banana), feijão diferente (tipo creme) e participamos do funeral do vizinho de Tito e Gladys, que faleceu no dia em que chegamos à oficina. O velório dura 3 dias e o defunto é velado à noite, quando a comunidade se reúne na rua (a rua é fechada) e todos rezam, falam palavras de conforto pra família,... 




Finalmente, depois de 5 dias (houve atraso, pois o ônibus que trazia as peças da capital quebrou no meio do caminho), as peças chegaram e os mecânicos puderam montar o quebra-cabeça novamente, colocando tudo no lugar. Ficamos  na expectativa se iria funcionar e funcionou direitinho!!! Oba, podemos seguir viagem!!! Belize, lá vamos nós!!!

As despedidas foram tristes, pois fizemos bons amigos aqui em San Benito. 

Com Gladys, Jonathan (na porta), Tito e Rosalin e Lourenço (ao fundo)
A Guatemala ficou marcada em nossos corações, não só pela beleza indescritível de suas paisagens e pelo povo acolhedor, mas por todos os momentos especiais vividos (inclusive os estressantes) e a cultura interessante e histórica deste país.