Viagem Família______________________________________

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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Carretera Austral (CH) ao Paso Roballos (divisa com a Argentina)

Rio Futaleufu
Percorrer novamente a Carretera Austral é um prazer... Além das paisagens serem lindíssimas, há muitas atrações pelo caminho e queríamos chegar até o Ventisqueiro Colgante no dia de hoje. Assim, levantamos acampamento um pouco mais tarde do que o normal, visto que a Joselle e o Amândio haviam retornado do hospital tarde (ou cedo, como queiram)... A ruta em direção a Villa Santa Lucia estava boa. 


Villa Santa Lucia havia sido soterrada poucos dias antes (17/dez/2017) por uma avalanche de terra e barro, ocorrida em função da grande quantidade de chuvas ocorridas no local num curto espaço de tempo. Por este motivo não pudemos seguir nosso planejamento original, que previa o transbordo da Isla Chiloé para Chaitén, e de lá, a descida pela Carretera. 

Villa Santa Lucia após a avalanche de terra

 Chegando à Villa, a guarda nacional junto com o exército e defesa civil nos mostraram o caminho a seguir, orientando que não parássemos, visto que a vila mais parecia uma zona de guerra... Não tive coragem de tirar muitas fotos, pois é triste ver casas soterradas, cachorros abandonados andando sem rumo, carros virados e cheios de terra... 

Rio Palena

A surpresa agradável foi verificar que a estrada agora, está asfaltada!!!! Um tapete!!!
Ainda há obras e trechos que não foram concluídos, mas as obras de asfaltamento estão bem adiantadas e seu término está previsto para meados de 2019!!


Agora as distâncias são percorridas mais rápido, sem pó e pedras soltas voando... Uma delícia! Apesar de que, para os puristas, falte um pouco de emoção, pois até bem pouco tempo, percorrer a Carretera Austral era para poucos, loucos e aventureiros...
Aproveitamos para abastecer em La Junta, no mesmo posto em que abastecemos nossos carros em 2010...

Serpenteando o Rio Palena, fomos imaginando conhecer as Termas de Puyuhuapi, elogiadas pelo casal que havíamos encontrado no Parque de Los Alerces. Entramos na vilazinha para nos informarmos e acabamos desistindo, pois o preço era "em salgado". Em torno de R$ 120,00 por pessoa!!! 
Apurado?? Alivie-se com uma paisagem de tirar o fôlego!
Logo retornamos para a Ruta 7 e fomos surpreendidos por uma fila... Teríamos de fazer um transbordo de balsa, sem custo, pois aquele trecho da estrada ainda não havia sido asfaltado e estavam explodindo algumas pedras para aumentar a sua largura... Desta forma, esperamos nossa vez e entramos de ré! 

Cada um viaja como pode, ou quer.... Família viajando de bike de Puerto Montt até Chile Chico

Dentro da balsa, de ré, sem poder sair!

Local de chegada da balsa
O tempo estava ficando curto, pois o Parque Queulat fecha às 17h e faltavam poucos minutos para entrarmos. Queríamos acampar dentro do Parque, que é permitido, usando a estrutura interna e já pagando o ingresso para subirmos a trilha do Ventisqueiro já cedo pela manhã... Quando chegamos à portaria, fazia 25 minutos que havia cerrado a oficina de turismo do local e o guarda não quis conversa!! 
Fomos obrigados a dar meia volta e ficar num camping (meio "mating") que ficava bem no entroncamento da Carretera com a entrada do parque. Fomos atendidos pela Catalina que, muito simpática, nos explicou que o camping ainda está sendo implantado. Pagamos S 8000 para casal, com direito a banho quente. Enquanto estávamos arrumando nossa estrutura, chegou a família de bike e logo fizemos amizade. Como o local estava ficando cheio, e as áreas boas para dormir já estavam ocupadas, convidamos o Christian e a família para ficarem conosco e logo fizemos nosso rango: panqueca de arroz de "tre'de'onté", macarronada ao sugo e salada de milho com salsicha. Caiu um toró à noite e ficamos felizes em termos convidado aquela gente feliz para ficar abrigada perto dos carros... quem havia colocado sua barraca sem proteção teve problemas...

Amândio, Christian e Marcos batendo um papo e falando sobre roteiros

Acampamento base logo cedo pela manhã
Bem cedo, pela manhã, retornamos até a entrada do Parque, pagamos os ingressos ($5000 por pessoa) e iniciamos a subida. Como cada um tem seu ritmo, acabamos seguindo na frente e Joselle e Amândio ficaram um pouco para trás.
Pagando ingresso na entrada do Parque

Atravessando o rio Queulat


Nas diversas paradas para descanso e contemplação da paisagem, conhecemos um grupo de americanos que viajava de excursão num ônibus todo equipado. 
Como não gostamos de conversar, já engatamos uma conversa e fizemos amizade com um japonês, de Ohio, Seal. 
Com nosso novo amigo, Seal
Estivemos por essas bandas em 2010, porém esse passeio foi um PPI: "puta programa de índio", visto que choveu o tempo todo e não vimos nada, além de nuvens! Pelo menos desta vez não apenas conseguimos vislumbrar o ventisqueiro, como pudemos ouvir quando um grande pedaço da geleira se desprendeu... estávamos chegando ao topo, faltavam ainda uns 10 minutos, quando ouvimos o estrondo!


Passeio de barco para chegar ao sopé do ventisqueiro

 Ficamos esperando que se desprendesse mais um pedaço grande da geleira, mas foi em vão. Quase 40 minutos depois de termos atingido o topo, descemos um pouco frustrados por termos perdido mais este espetáculo, mas valeu! Desta vez, pelo menos, conseguimos ver o Ventisqueiro em sua plenitude e foi top!



 Na descida ainda fizemos os outros recorridos (trilhas) e continuamos descendo a Carretera, dessa vez debaixo de muita chuva. Encontramos a família feliz do Christian num trecho de rípio e o Amândio parou para fazer um café e chocolate quente pras crianças... Quando nos encontramos, alguns quilômetros a frente, foi a nossa vez de lancharmos. Avistamos numa localidade um ônibus  lanchonete parado e foi lá mesmo que aproveitamos para comer um milanesa com huevo y cebolla.

"No dejes para mañana o que te puedes comer hoy"


A carretera está sendo recuperada e mesmo nos trechos em que ainda não está asfaltada, a velocidade média é de 60 a 70km/h. Chegamos a Coyhaique já no anoitecer e buscamos logo um camping. El Camping estava bastante cheio ($ 10000 o casal), porém arranjamos um cantinho e fizemos um churrasco (frango e carne) com risoto de legumes. Tivemos a companhia de 7 gatos e 2 cachorros que se comportaram direitinho e esperaram calmamente pelos ossinhos. Como é bom encontrar com amiguinhos no caminho!
Indo a Coyhaique, chuva e frio
A estrutura deste camping era ótima, pois tinha pias para lavar roupa, outras para lavar louça e banheiros grandes, além das duchas individuais com água quente. O único senão foi que estávamos perto da área comunitária e um grupo de viajantes jovens estava conversando e bebendo até às 3 horas da madrugada. Levantei-me, irritada, e antes de ir ao banheiro, mandei a real, solicitando que cumprissem o que dizia a regra afixada na parede: Silêncio a partir das 23h!" Quando retornei do banheiro, já não havia mais ninguém por ali, as luzes estavam desligadas e pudemos finalmente dormir tranquilamente...



Hoje era dia de trocar o óleo do Garça. Saímos relativamente cedo pro centro e o casal Amândio e Joselle,ficaram no camping resolvendo pendências pela internet. Desta vez não fizemos turismo da cidade, pela qual também havíamos passado em 2010! 
Adolfo muito solícito efetuou a troca de óleo
Encontramo-nos com nossos companheiros de viagem e seguimos até Cerro Castillo, onde tiramos fotos e fizemos filmagens e dali, pegamos um trecho novo, até Chile Chico e Rio Tranquilo. 


No caminho, de rípio, Amândio nos chamou pelo rádio e disse que estava com um pneu furado... paramos com uma chuvinha fina e ele efetuou o conserto ali mesmo, com um aparelho Made in China super útil e funcional. Ele usou seu compressor de ar e depois de uma meia hora, seguimos viagem até Puerto Rio Tranquilo. 


É desta cidade que partem todos os passeios para conhecer as famosas Capillas del Marmól. Fomos nos informar de como e quanto custa para fazer o passeio e decidimos fazê-lo cedinho na manhã seguinte. Desta forma, buscamos um camping para nos alojar e fazer nossa comidinha...
Na terceira tentativa, achamos um camping bacana, com boa estrutura, mas bem cheio... Normal, pois estamos na época das férias! Disputamos um espaço na cozinha coletiva e íamos usando um fogão quando uma pessoa nos disse: "esse gás e fogão são meus!" e pedimos mil desculpas, fizemos amizade e acabamos por usar o dito fogão para fazermos os deliciosos bolinhos de arroz que o Amândio tanto gosta! Distribuímos bolinhos entre os donos do fogão e bebemos e conversamos com todos enquanto nos aquecíamos. Lá fora o frio estava grande! Havia um grupo de moças com as quais batemos papo e elas nos contaram que estavam fazendo essa viagem "hacendo dedo", i.é., pedindo carona! Perguntamos quanto tempo levava, em média, pra elas conseguirem sua carona. Elas responderam: "10 minutos!" Afff! Quanta diferença... explicamos pra elas que no Brasil isso não acontece e é bastante perigoso.
Rio Tranquilo, às margens do Lago General Carrera


Brincadeiras na hora de zarpar



Formações rochosas de mármore



 A ida foi muito tranquila, com o lago de águas plácidas e cristalinas. Levamos pouco mais de 40 minutos par alcançar as primeiras formações rochosas, que ficam às margens do lago, sem acesso por terra. Entramos em algumas cavernas com o barco e pudemos tirar muitas fotos. Dali fomos seguindo de uma formação para a outra, venda a catedral, e outras famosas que não me recordo do nome!


Quando voltamos para o porto, as condições climáticas haviam se alterado... Agora tinha muito vento e o barqueiro teve bastante trabalho para surfar nas ondas de quase 2,5m de altura. Foi bastante emoção!!! Ficamos todos apreensivos no barco. Amândio que costuma ter enjoos acabou passando mal e nos preocupamos com sua saúde! O retorno foi mais longo e cheio de aventura! Quando finalmente chegamos ao porto, estávamos encharcados, mas felizes em termos saído sâos e salvos deste passeio.
Enquanto o Amândio se refazia e tentava acalmar seu labirinto,  aproveitei para trocar toda a roupa e acabamos desistindo de fazer o passeio até o glaciar que fica ali perto, aproximadamente uns 40 km de distância, ida e volta pela mesma estrada.
Assim, seguimos para o Paso Roballos, último que faz a ligação por terra (com automóvel) antes de Vila O'Higgins.

Às margens do Lago general Carrera


Comendo uma pizza deliciosa no meio do caminho
 No meio do caminho havia uma... pizzaria!!! Pense numa coisa gostosa, com sabores inusitados! Paramos para o lanche e aproveitamos para nos informar mais sobre o Paso para o qual estávamos indo. Antes, porém, havia mais uma atração a ser conferida: o encontros dos rios Baker, de águas azuis e o maior do Chile em volume d'água com o rio Neff, de águas leitosas e em desnível de quase 10 m. A cachoeira é linda e para vislumbrar esse encontro se caminha pouco mais de 10 minutos. 
Encontro dos rios Baker e Neff
 Seguimos em frente até alcançarmos o entroncamento para o Paso Roballos e entramos no Parque Nacional Patagônia, que antes de se tornar área de preservação era uma fazenda enorme para criação de ovelhas. Um casal bilionário de americanos, Cris e Doug Thompkins, ele amante de esportes radicais e que normalmente praticava rafting no rio Futaleufu, compraram as terras e as transformaram num refúgio de vida selvagem. É frequente encontrar com grupos de guanacos e outros animais enquanto se percorre a estradinha de terra que liga à Argentina. 
Paso Roballos, dentro do Parque Nacional Patagônia
O Paso Roballos, por ser selvagem e pouco usado, acaba sendo um lindo cartão postal. As paisagens são deslumbrantes são o maior atrativo! Percorremos a estradinha e paramos no Lodge At Valle Chacabuco, para pegarmos informações sobre as áreas de camping dentro do parque. O detalhe fica por conta do fato que tivemos que tirar os sapatos para entrar, pois no lobby está escrito para que se mantenha o local limpo. Há dois campings dentro da área do parque e uma área de picnic que estava fechada. 



 Seguimos adiante e poucos km adiante vimos uma área descampada, com árvores frutíferas e um bando de guanacos próximos. Amândio se animou e pegou o drone e nós fomos arrumando as coisas para jantarmos. Quando estávamos no meio dos preparativos, chegou a polícia ambiental e nos disse que não podíamos estar ali, pois havíamos saído da autoestrada e que teríamos que deixar o local. Combinamos que iríamos até o camping assim que terminássemos nossa comida.


Quando chegamos à área de camping, vimos que 1° não havia espaço para colocarmos nossos carros, pois já havia muitos motorhomes estacionados, além de que não poderíamos usar os banheiros, pois ficavam longe, na área de acampamento, depois de uma ponte. O custo também era bem elevado, desta forma seguimos adiante e buscamos um local próximo da divisa, distante da estrada e discreto o suficiente para não sermos apanhados pela polícia novamente!


 A pouco menos de 10 km da divisa havia uma bifurcação onde a estradinha ficava estreita e escondida no meio da vegetação. Foi ali que nos abrigamos e armamos nosso acampamento, já com as estrelas brilhando no céu!