Viagem Família______________________________________

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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Alaska - alcançamos o extremo boreal do Planeta


Durante toda nossa jornada desde que deixamos o Brasil, em janeiro de 2019, nossa única "preocupação" era de chegarmos ao Alaska no verão, por questões óbvias!!! Mesmo com pequenas intercorrências e muitos desvios no caminho, que só o tornaram mais incrível, finalmente entramos no Alaska, o 50º estado dos EUA, em meados de julho!!!
A emoção foi grande!! 

Marco de divisa entre os países Canadá (Yukon) e EUA (Alaska)
ADUANA
Cabe destacar que a aduana dos USA  fica a 30 km da divisa dos países e que para sairmos do Canadá não é necessário apresentar o passaporte. Os trâmites dos EUA foram rápidos e bem tranquilos. Foram feitas as perguntas básicas, sobre armas e drogas, ao que respondemos negativamente! Curiosamente é proibido trazer madeira do Canadá para o lado americano, no caso de se querer fazer um pit fire, por exemplo! Do resto, foi só trocar o papelzinho (com nossa data de validade de visto de entrada que dá 6 meses de permanência no país) e seguir viagem! 

Avistamento do primeiro alce (moose) jovem


Infelizmente no verão a ocorrência de wild fire é muito grande e quando estávamos a alguns km de Whitehorse (Yukon, Canadá) já havíamos encontrado os incêndios florestais de grandes proporções pelo caminho. A fumaça e o ar impregnado de cinzas nos acompanhou durante todo o percurso de reentrada nos EUA!! Quando chegamos ao Alaska a visibilidade estava pequena e havia muitos focos de incêndio pelo caminho! Com isso, a possibilidade de vermos animais diminuiu e foram poucos os mooses (alces) e ursos que vimos ao longo do trajeto!



Chegamos à Fairbanks, distante 950 km de Whitehorse (Canadá) e uns 400 km da divisa dos países, no começo da tarde. Fairbanks é uma cidade grande, com pouco mais de 40 mil habitantes e segunda maior do estado, possuindo toda a infraestrutura necessária. Próximo da cidade fica North Pole, a cidade do Papai Noel e aproveitamos para fazer uma visitinha. 

Acampamento no quintal do Cláudio e Teresa, em Fairbanks

Companheiro carente e muito fofo, Sammi
Havíamos o contato de um brasileiro, Cláudio, que mora em Fairbanks há muitos anos e após umas mensagens de Whatsapp, chegamos ao seu endereço. Infelizmente não foi desta vez que o conhecemos, pois fazia dois dias que ele havia ido para Deadhorse a trabalho! Assim conversamos com sua esposa americana, Tereza, e pedimos permissão para acampar em seu quintal por uma noite!
Curiosidade: Fairbanks foi fundada em 1901, quando foi criado um ponto comercial para atender os garimpeiros que atuavam na região.



Após a noite tranquila e feitas as compras necessárias, nos aventuramos pela Dalton Highway para chegarmos "ao fim do mundo"! Importante destacar que nesse trecho de 800 km entre Fairbanks e Deadhorse não há nada... Ou melhor, há dois locais para pegar água potável e abastecer o carro (um já ao lado da ponte do rio Yukon e outro em Coldfoot)! Por este motivo, nos abastecemos com comida e bebida, além de água potável e galões de combustível extra, para enfrentarmos sem estresse os 3 dias de aventura por estrada de rípio pesado, lama colenta e sol da meia noite!!!


Tudo no Alaska é extremo... a temperatura no verão estava bem amena e não havia tantos mosquitos quanto haviam nos prevenido! Os dias são looooongoooosss, isto quer dizer, o sol não se põe nunca no alto verão (julho/agosto)!!! 
Ponte sobre o rio Yukon... visibilidade muito pequena por conta da fumaça das queimadas
Chegamos ao rio Yukon e lá paramos para pegar informações turísticas. Conhecemos a Sheila Beck, uma senhora incrível (do Arizona), que nos deu dicas preciosas sobre as condições da estrada, de opções de passeio, de locais de apoio etc e tal! 

Ponte sobre o Rio Yukon, construída em 1975 e a névoa provocada pelos incêndios florestais

Com Sheila, companheira de luta pelo meio ambiente


Sheila ainda nos deu o Certificado de que chegamos ao Círculo Polar Ártico!! Algumas horas mais tarde acampamos neste local por onde passa a linha imaginária do Círculo Polar! 



A Dalton Highway é uma estrada bastante pesada, em alguns locais estreita e com muito tráfego de caminhões grandes e pesados. Isso torna a jornada perigosa e cansativa! Seguimos por ela com cuidado e tranquilidade, sem pressa! Mesmo tomando todos os cuidados, tivemos uma lanterna quebrada por pedra lançada de caminhão no sentido contrário e pedra que atingiu nosso pára-brisas também arremessada por caminhão em sentido contrário, deixando uma marca que nos acompanhará por muito tempo!!! Essas intercorrências são comuns para quem se aventura nesta estrada! 



Nosso acampamento no Círculo Polar Ártico, com estrutura básica e direito a sol da meia noite!
Dentro do pequeno Visitor Center do Círculo Polar Ártico (Artic Interangency Visitor Center)
Alcançamos Coldfoot no segundo dia, onde abastecemos tanto o tanque de combustível (caríssimo! U$ 5,099 o galão) quanto o de água potável! Batemos papo com alguns outros viajantes que estavam aqui fazendo o mesmo e seguimos direto para Deadhorse, passando pelo Atigun Pass, onde a cadeia de montanhas faz a divisa natural entre as correntes de água: as que estão ao sul da cadeia de montanhas, correm para o Estreito de Bering, no Oceano Pacífico; já as que estão ao norte das montanhas, vão para o Oceano Glaciar Ártico. 

Abastecimento em Coldfoot

Cidadezinha que só funciona no verão, atendendo ao turista
Coldfoot, cujo senso registrou uma população de 13 pessoas (!), tem esse nome em homenagem aos garimpeiros que por aqui se aventuraram buscando fortuna no ano de 1900 e ao cruzarem o rio Koyukuk ficaram com os pés gelados! Alguns anos mais tarde, em 1912, deslocaram o acampamento  e a mineração para Wiseman, distante 11 milhas ao norte. Durante a construção da pipeline (linha de distribuição de petróleo) e da própria Dalton Hwy, esse local foi utilizado para acomodar os 260 funcionários que trabalharam na obra. 



Coldfoot, no início do século XX, tinha um cassino, dois pequenos hotéis, 2 lojas e 7 bares (saloons).


Pouco mais de 12 milhas adiante, visitamos a cidadezinha de Wiseman, cuja população é basicamente nativa, e onde não vimos "viv'alma"! 

Wiseman, pequena vila com 20 habitantes, fundada por garimpeiros por volta de 1908


Equipamentos abandonados, provavelmente oriundos da construção da Dalton Hwy e da pipeline
Daqui em diante a visibilidade foi ficando melhor e a paisagem também foi ficando mais bonita. Quanto mais nos aproximávamos do Atigun Pass (cadeia de montanhas), mais bonitas as paisagens... e também mais animais próximos da pista para admirarmos! 

Lebre próxima da Dalton Hwy

Rio Koyukuk

Atigun Pass

Caribou (rena) ao longe


Descendo para o outro lado do Atigun Pass
O Atigun Pass é um passo de montanha a 1415 m de altitude e Brookskette, entre as Montanhas de Endicott a oeste e as Montanhas Philip Smith a leste. Mesmo sendo uma região inóspita, esta passagem e estrada são mantidas trafegáveis durante o ano todo. 
Em direção a Deadhorse, indo para a planície do Sagavanirktok River

Muskoxen próximos da milha 334



Sagavanirktok River e vista da tundra
Família de gansos atravessando a Dalton Hwy


Chegando a Deadhorse
Chegamos a Deadhorse, na Prudboe Bay, e nos surpreendemos, pois depois de 3 dias no meio do nada, encontramos uma baita estrutura montada exclusivamente para atender a empresa (Alyeska Pipeline Service Company) que explora o petróleo na região. São milhares de pessoas envolvidas, com empregos diretos ou indiretos, prestando serviço para manutenção e distribuição do petróleo que é transportado pela pipeline (oleoduto) até Valdez, distante 1287 km daqui. 



Em Deadhorse existe apenas um local que serve como loja, restaurante, souvenir,... e existem dois "postos de combustível" onde o preço é altíssimo (U$ 5,199 o galão) e onde apenas abastecemos um pouco, o suficiente para chegarmos a Coldfoot com tranquilidade. 

Pizza que nos demos de presente... U$ 25!!
Aqui finalmente conhecemos o Cláudio, que está trabalhando como motorista de caminhão e está auxiliando na manutenção da estrada e do oleoduto. 
O passeio e mergulho nas águas do Ártico ficaram só nos sonhos, pois não se tem acesso direto ao mar por aqui. Existe um passeio pré-agendado que a empresa petroleira fornece, a um custo de U$ 70 por pessoa, mas devido ao alto custo, desistimos de fazê-lo. 
Importante destacarmos aqui um pouco sobre a história da construção da Dalton Hwy e  consequentemente da pipeline (oleoduto)!

Diâmetro aproximado de 1,22 m do oleoduto
O oleoduto foi construído entre os anos de 1975 e 1977 após a crise do petróleo de 1973 que elevou os preços dos combustíveis nos EUA tornando a exploração no Alaska (na baía de Prudhoe) viável! A legislação ambiental foi alterada, permitindo a construção da Dalton Hwy e, posteriormente, da pipeline. 
  
Comprimento total da pipeline: 1288 km, ligando Prudhoe Bay a Valdez
O projeto de construção da pipeline (oleoduto) foi extremamente complexo, pois com as condições climáticas extremas do Alaska, os engenheiros tiveram de adaptar sistemas de aquecimento e anticongelamento da tubulação, soldas diferentes resistentes ao permafrost e estudos para lidar com o solo congelado. 

Com 11 estações de bombeamento, transportam 340 mil m³ de petróleo barris por dia, aproximadamente
A Dalton Hwy, inicialmente chamada de Haul Road, foi construída para dar apoio a empresa petrolífera e tornar viável a construção da pipeline. Ela foi construída em três estágios: o primeiro que ia de Livengood até o Yukon River, em 1970. Depois, na segunda fase (1974), ligou o Rio Yukon até Deadhorse e por fim, fez-se a ponte sobre o rio Yukon (1975). Esta estrada só foi aberta ao público em 1994. 


Nosso pernoite em Deadhorse foi feito atrás de um prédio (container) protegido do vento. No dia seguinte, retornamos até o camping do Círculo Polar, no mesmo local em que dormimos há duas noites, e dali voltamos a Fairbanks, onde acabamos dormindo num parque público, ao lado de um campo de baseball


Lavagem básica do carro
Para não levantar pó na Dalton Hwy é espalhada uma mistura de água com cloreto de magnésio que, depois de seco, faz uma espécie de impermeabilização na estrada. O problema é que enquanto ele está úmido, a camada superior faz lama, que cola no carro e não sai mais!!!Portanto, quando estávamos que saindo da Dalton, aproveitei para limpar o excesso do pó que colou no carro... não foi fácil, pois tive que esfregar com vontade, mas ao menos Marcos passou a enxergar algo pelo vidro traseiro do carro.

The Magic Bus: ônibus usado para filmar "Into the Wild"
Nossa próxima parada foi emocionante, em Healy: conhecemos a réplica do Magic Bus!! Trata-se da história de Christopher McCandless (Alexander Supertramp) protagonista do filme "Into the Wild"! Aqui se pode entrar no ônibus usado no filme, onde estão expostas fotos, pedaços do diário de Chris e outras coisas relacionadas a sua história emocionante!






Importante destacar que esse ônibus é a réplica usada para o filme, pois o verdadeiro ônibus está no meio da floresta, próximo do lago Wentitika, no deserto de Denali. Por terem havido muitas mortes de fãs em busca do famoso bus e para prestar tributo ao Alexander Supertramp, as autoridades do Alaska resolveram estabelecer um local seguro com essas homenagens e o local escolhido foi uma cervejaria artesanal em Healy!!!

Nosso acampamento a poucos km da entrada do Denali Park



No dia seguinte fomos conhecer o Denali National Park. Após estacionarmos na área própria fomos até o Visitor Center, onde descobrimos que o shuttle só iria passar dali a 35 min, então resolvemos ver o pequeno museu que há no local.




Quando nos direcionamos ao ponto do bus, as informações eram bastante confusas e acabamos perdendo o ônibus. Affff! O próximo shuttle iria passar só dali a uma hora! Aproveitamos para fazer uma pequena caminhada na área, conhecer a loja de souvenir, o restaurante,...



Desta vez, no horário certo, fomos ao ponto certo do ônibus e seguimos até o Savange River, último local de onde se pode seguir gratuitamente dentro do parque para fazer trilhas. A partir dali, só se pode adentrar pela estrada parque em ônibus próprios com excursões pagas e pré-agendadas, normalmente na pequena Vila Denali, onde estão centralizados os hotéis de restaurantes da região. O passeio básico custa U$50 por pessoa, com 11 h de duração, de onde se podem avistar alguns animais (ursos grizzly e negros, mooses, caribus,...), além das geleiras e, com sorte, do Mount Denali, porém não se pode descer do ônibus.



No Savage River fizemos a trilha de 3,2 km debaixo de chuva fina, observando dezenas de ground squirrels (marmotas) e no retorno para o Visitor Center perdemos o ônibus novamente!! Afffff...





Denali National Park foi criado em 1917 e abrange uma área de 24,5 km² de taiga, tundra e geleiras, com áreas de visitação e outras de preservação, além de conter a montanha mais alta da América do Norte, o Denali, antigamente chamado de McKinley, com seus 6190 msnm.
Denali, na língua Athabaskan, significa "o mais alto", porém nem sempre o parque recebeu este nome. Por questões políticas o nome do Parque quando da sua fundação era Mount McKinley National Park, homenageando  o ex-presidente dos EUA.

Casal alemão, Paul e Lio, que também perdeu o ônibus !!!



Trilha no Mount Vista



Quando estávamos deixando o Denali National Park, descobrimos que um casal de viajantes brasileiros também estava na área: Camarada Home. Resolvemos encontrá-los na Vila Denali, no RV Camping onde encontramos outro casal, também brasileiro, Marco Antonio e Suzete, naturais de Natal, RN e compadres do Ênio e da Marinês.

Camarada Home: Enio e Marinês!!! Altos vinhos, queijos e outras coisinhas
Despedimo-nos dos amigos perto da meia noite, com sol alto, e voltamos ao local onde estávamos acampando, perto da Highway, onde ainda cozinhamos nosso jantar. Jantamos perto da 1h da madrugada, com sol alto!!


Cadeia de montanhas da qual o Denali Mount (McKinley) faz parte

Mount Denali todo nevado, atrás (6190msnm)
No dia seguinte chegamos a Anchorage, a cidade mais populosa do Alaska. A presença russa na porção centro-sul do Alaska estava bem estabelecida no fim do séc XIX. O Secretário de Estado, William Seward, propôs a compra da área do endividado Império Russo por U$ 7,2 milhões (2 centavos de dólar por acre). A "loucura de Seward" acabou se tornando extremamente lucrativa alguns anos mais tarde, quando foi descoberto ouro na área (1888). Posteriormente também o petróleo tornou-se fonte de renda e lucro para os EUA (meados do séc XX).
Em Anchorage ficamos hospedados na casa de uma amiga do primo Josh (da Califórnia), a Moria. Além de nos receber hiper bem, como se nos conhecêssemos a vida toda, ainda pudemos ficar uns dias a mais trabalhando em nosso livro!!

Com Moria e Atreyu (11 meses)

Salmão defumado ela própria família
A família da Moria é nativa e produz muitos de seus alimentos. Pescam a quantidade de salmões permitida por temporada e já o defumam (delicioso!) ou congelam em pedaços. Também coletam frutas silvestres, produzindo doces e geleias. A caça também é praticada pela família e não tivemos a oportunidade de experimentar, mas eles tinham carne de moose (alce) do ano anterior congelado.
A  lei prevê a caça e pesca com licença para qualquer pessoa, desde que se respeitem as quantidades de cada espécie, além do tamanho permitido de cada espécie. Por exemplo, só é permitido percar um halibut adulto por temporada. A fiscalização é bastante rigorosa e o local onde se pode pescar ou caçar é determinada na licença. Não se pode alterar o local conforme seu desejo!
Jantares tranquilos e deliciosos em Anchorage
Passeamos pelos arredores da cidade, conhecendo Earthquake Park, onde fizemos umas trilhas e conhecemos um casal de Eau Claire - Wisconsin, Kathy e Dennis, que nos convidou para visitá-los quando estivermos indo para a Costa Leste.



Nas trilhas deste parque encontramos dezenas de pegadas de moose, mas infelizmente não encontramos com o bichão!  O nome do parque é uma homenagem ao terremoto que sacudiu a cidade de Anchorage (e toda a região do Alaska) no ano de 1964, de magnitude de 9.2 na Escala Richter, e que vitimou 115 pessoas, trazendo um prejuízo de 1,8 bilhões de dólares.



No Kincaid Park há dezenas de trilhas para bike e pistas de sky, no inverno. A cidade de Anchorage possui diversas lagoas onde a aviação de pequenos hidroaviões é comum e seguimos até o Museu da Aviação, cujo ingresso individual está U$ 14.




Ainda na cidade, aproveitamos para caminhar pelo Fish Creik Park, parque linear com quadras poliesportivas que atendem à população local. A umas 50 milhas de distância de Anchorage fica o Eklutna Lake e Glaciar, de onde vem a água que abastece a cidade.




Glaciar ao fundo, do lado direito
O Eklutna Lake and Glaciar é um parque estadual, onde as pessoas pagam seu ingresso sozinhas, depositando o valor individual em envelopes próprios. Há dezenas de opções de lazer no local, incluindo aluguel de bicicletas, caiaques, pranchas de stand up padlle,... ou apenas caminhar nas muitas trilhas disponíveis. A única coisa meio chata é a presença de AVT's que afugentam os animais com seu barulho. Ficamos caminhando umas 4 horas, mas não conseguimos chegar ao glaciar... para isto teríamos de ter alugado as bikes, pois a distância é de  uns 15 km aproximadamente.

Mirror Lake
No retorno para a cidade, ainda paramos no Mirror Lake, onde também havia dezenas de famílias curtindo o verão e o lago.


Em direção à Seward, pela lindíssima Seward Hwy, paramos em Beluga Point (onde não vimos nenhuma beluga!) e continuamos sempre em direção sudeste, chegamos à cidade no começo da tarde e indo direto fazer a caminhada de pouco mais de 40 min até o Glaciar, conhecido por Exit Glacier.

Beluga Point


Exit Glacier, no parque Kenai Fjords National Park, localizado em Seward, tem sido medido há duzentos anos e o seu processo de derretimento e diminuição está claro e todo demarcado.  Quando estacionamos o carro na área correta veio o ranger e nós apresentamos nosso Annual Pass... ele disse que não era necessário, pois a entrada deste parque é gratuita.

Exit Glacier ao fundo. Neste local acabava a geleira há 200 anos!!! O recuo é de quase 2 km em duzentos anos!

Local da medição da geleira em 1917!




Local da medição da geleira em 2005!


Saída de transatlântico do porto de Seward
Nosso próximo passeio em Seward foi a trilha do Tonsina Point, no Lowell Point. A trilha completa é bastante longa e não daria tempo de fazê-la, então caminhamos até a saída do rio onde observamos os salmões subindo pela correnteza. O lugar é lindo, a trilha é de média complexidade e havia centenas de arbustos com amoras deliciosas (redberries) pelo caminho!!


Tonsina Point

Foz do rio Tonsina, indicando a subida dos salmões




Nos deliciando com as redberries pelo caminho


Em Seward tivemos a felicidade de encontrar um grupo de amigos viajantes, um casal do Brasil (A Casa Nômade: Glória e Renato), uma família da Argentina (Viajamos_con_vos: Sergio, Valéria e Brisa), outros da Espanha (AC en familia: Nati, Javier, Alejandro e Carla e o casal Berta e Roberto, com seu Inuk).
Com os brasileiros, Glória e Renato e a família argentina, Sergio, Valéria e a pequena Brisa (que mais parece um furacão!!rsrsr)


Com Javier e Berta

Sergio comandando a churrasqueira, ao estilo argentino

Trocando ideias com Nati
Aproveitamos para fazer uma refeição comunitária e acampamos juntos, próximos do Exit Glacier. Foi muito divertido e familiar!!! Trocamos ideias, dicas de viagem e passeios, roteiros,...

Da esquerda pra direita: Nati, Alejandro, Carla e Javier (Espanha); espaço do casal Glória e Renato (Brasil); Sergio, Valéria e a pequena Brisa (Argentina); Berta e Roberto (Espanha)
As despedidas ficaram para a manhã seguinte e cada um seguiu o seu caminho. Nós fomos ao sul, em direção a Homer, parando em Soldotna, onde tínhamos o endereço de conhecido do Josh.

Com Otto, mais um "anjo" que passou pelo nosso caminho
Chegando a Soldotna, erramos o endereço por uma casa e acabamos conhecendo o Otto, uma pessoa incrível e que acabou nos apresentando ao vizinho, onde acampamos durante a noite. Na manhã seguinte, Otto veio conversar conosco e ofereceu seu sítio, a alguns km de distância, para podermos pernoitar no dia seguinte. Fomos atrás dele e acampamos em seu terreno, no alto da colina, em Anchor Point.

Acampamento em Anchor Point, no sítio do Otto

Vista do mar do alto da colina em Anchor Point

As lindas fireweed (flores rosas) por todos os lados
Chegamos ao Overlook Point de onde se tem uma vista linda de Homer, lá embaixo! Passamos o dia curtindo Homer e arredores. Trata-se de uma cidade portuária, com forte turismo e marina. Daqui saem muitos passeios de barco para ver baleias e outros animais. Fomos até o porto verificar o custo para embarcarmos direto a Valdez, mas descobrimos que os ferrys não estavam operando havia dias... greve em decorrência do corte de verbas para subsídios do governo Trump no Alaska. 


Shopping na praia, com cafés e produtos artesanais da região

Marina em Homer
Homer foi fundada em 1890 e está localizada no fim da Sterling Hwy, por este motivo conhecida por "the end of the road". Esta cidade também foi bem afetada pelo terremoto de 1964, quando uma parte da cidade afundou e literalmente desapareceu!

Leão marinho morto na praia de Homer
Parte antiga da cidade


Resolvemos não dormir por aqui e retornamos até Soldotna, onde acabamos acampando na casa do Billy, amigo do Otto, que está construindo a própria casa, toda em madeira, sozinho!!!





Muito interessante ver como as pessoas vivem e constroem suas vidas nesse recanto do mundo!! Auto suficiência é a lei no Alaska! Durante o verão se constrói toda a estrutura necessária para passar o inverno, que é longo e extremo!!

Holy Assumption of the Virgin Mary Church
Com o casal canadense Roberto e Audrey e o Father Daniel
Deixamos os novos amigos com o coração apertado e seguimos a Kenai, cidadezinha de origem russa, com arquitetura típica e aproveitamos para visitar a Igreja Holy Assumption of the Virgin Mary, igreja ortodoxa do ano 1895! Kenai foi fundada em 1791 quando uma comitiva russa aportou na região no navio St. George, the Victorius.

Saint Nicolas Chapel
No Kenai River (rio Kenai) centenas de pescadores artesanais estavam perdendo a disputa contra os salmões e halibuts, que no tempo em que ficamos por ali, observando o movimento, insistiram em não serem fisgados!!! Já diz o ditado: "um dia é da caça e outro do caçador"!!

Pescaria na foz do Rio Kenai



Ficamos passeando pela cidade com uma chuva fina insistindo em cair. Demos uma voltinha a mais e retornamos a Anchorage, onde ficamos mais uns dois dias hospedados colocando postagens e escrita do livro em dia.

Russian River


Nossa última pernada no Alaska tinha por objetivo seguir para Valdez, fundada em 1790 e onde o navio Exxon Valdez acidentou-se em 1989 causando o maior desastre ambiental já registrado no Alaska (derramamento de petróleo). Ainda hoje é um importante porto no estado do Alaska e local onde chega a pipeline (oleoduto) que  transporta o petróleo desde Pruehdoe Bay.

Mini museu dentro do Centro de Informação Turística em Glennalen

Muito fofo, o urso "Tonhão"! 
Em Glennalen pegamos informações de que o tempo iria continuar ruim e com muitas chuvas nos próximos 2 dias, no mínimo!

Glaciar Matanuska, no caminho entre Anchorage e Glennalen


Infelizmente o tempo não estava favorável e nem contribuindo para que nos deslocássemos até Valdez (uma vez que o caminho de ida e volta é o mesmo). Desta forma, acabamos desistindo dessa última incursão no Alaska e seguimos para Tok, onde acampamos debaixo de muita chuva numa Rest Area ao lado do rio Tanana e acabamos sendo convidados a jantar dentro do motorhome da Jane, pessoa maravilhosa, natural do estado de Washington (EUA) e que viveu como hippie nos áureos tempos. Depois de muito bate papo, nos despedimos. Mal sabíamos que iríamos nos encontrar algumas semanas mais tarde, já no Canadá. Mas essa história vocês já conhecem... está no texto sobre o Canadá, mais especificamente em Whitehorse, no Yukon.

Numa Rest Area, em Tok
Com Jane, que iríamos reencontrar algumas semanas mais tarde em Whitehorse, Yukon (Canadá)
Finalmente atingimos Chicken, uma pequena vila que nos tempos da corrida do ouro foi centro importante de garimpo, mas que hoje vive do turismo, oferecendo a oportunidade para as pessoas batearem o cascalho e encontrarem ouro, usando uma forma mais moderna do que a usada há 100 anos, é claro!

Em Chicken, pequena vila onde ainda se garimpa ouro, localizada às margens da Taylor Hwy

Antigos equipamentos usados na mineração de ouro



Observando como se bateia o ouro 
Quando chegamos à divisa dos países EUA e Canadá, imaginávamos que nossa aventura no Alaska acabava ali, na entrada da Top of the World Hwy... mas haveria surpresas pelo caminho!

Jovem moose (alce)


Reencontramos o Anton, viajante da Eslovenia, perto de Chicken.
Nosso primeiro encontro havia sido em Washington State (USA)
Recapitulando: quando chegamos em Whitehorse, capital do Yukon, dois dias mais tarde, tivemos uma intercorrência: nosso alternador queimou! Durante os 28 dias que ficamos lá esperando a peça chegar etc e tal, aproveitamos para conhecer mais um cantinho do Alaska, só acessível por mar ou pelo Canadá:  trata-se da cidade de Skagway!!!!


Johan e Carol (amigos de Whitehorse) nos acompanharam nesse passeio maravilhoso até Skagway, saindo de Whitehorse com destino a Carcross (onde já tínhamos passeado em outra oportunidade) e de lá, cruzando a divisa dos países (Canadá/EUA), através de paisagens lindíssimas, alcançamos a cidade charmosa e extremamente turística!

Com Johan e Carol, no Lake Bennett


SKAGWAY foi a porta de entrada da Corrida do Ouro no Alaska. O caminho realizado pelos mineiros era seguir de Skagway (Alaska), via Chilkoot Pass (cadeia de montanhas), até Carcross (já no Yukon) e de lá, em Whitehorse pegando o navio Klondike até Dawson City! 


Meios de se chegar à cidade: de carro (atravessando a  divisa de British Columbia com o Alaska), de navio transatlântico ou de trem ($ 278 dólares canadenses de Whitehorse a Skagway)


A população média desta cidadezinha do Velho Oeste gira em torno de 1200 pessoas, porém na temporada de verão, Skagway chega a receber 1 milhão de turistas, o que faz com que a população mais que dobre para poder receber e oferecer serviços para seus visitantes.
O nome Skagway tem origem do idioma Tlingit, e figurativamente significa "mar agitado na enseada de Taiya, causado por fortes ventos do norte"!


"Escada" construída para a subida dos salmões


A luta pela vida dos salmões subindo os rios
O primeiro morador da cidade foi o capitão William "Billy" Moore, que aportou no local e enxergou nas montanhas a possibilidade de se encontrar ouro, em 1887. A Corrida do Ouro, a partir de 1896, atraiu milhares de garimpeiros para a região que tinham pela frente 800 km para percorrer até Dawson City.

Vista da geleira, do outro lado do canal marítimo

Lagarta se alimentando antes de virar borboleta

Antigo quebra gelo usado para o transporte dos garimpeiros



A cidade conta a história da Corrida do Ouro que acabou sendo um dos fatores de desenvolvimento do Alaska. Em 1898 a cidade era a mais populosa do Alaska, com aproximadamente 10 mil habitantes. O comércio se intensificou na cidade e havia dezenas de lojas, bares, sallons, escritórios nas ruas enlameadas.




Um bando liderado por Randolph "Soapy" Smith passou a controlar a cidade (1900), enganando os garimpeiros, distribuindo favores para viúvas e "amigos", inventando um serviço de telégrafo para enviar mensagens para os Estados Unidos (não havia linha de distribuição!!)... um verdadeiro gânster! O vigarista foi morto durante um tiroteio em que Frank Reid e Jesse Murphy se envolveram e salvaram a cidade do domínio maléfico de "Soapy" Smith! Frank Reid também foi morto nesse tiroteio e todos os envolvidos (e outros moradores antigos) estão todos enterrados no Cemitério Klondike Gold Rush, também conhecido como Skagway's Boot Hill. 






Despedimo-nos do Alaska, este local incrível e inóspito, depois de quase 30 dias de muitas aventuras. Não sabemos se algum dia iremos retornar, mas ainda há muito para se descobrir e admirar neste extremo boreal do planeta.