Viagem Família______________________________________

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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Bulgária, a "Prússia dos Balcãs"

"A união faz a força", este é o lema da Bulgária!!! 

Interior da Igreja Ortodoxa de São Constantino e Santa Helena - Plovdiv

País até então desconhecido, era para ser apenas uma passagem para alcançarmos a Turquia, nosso objetivo mais a leste no continente europeu. Mas, como aconteceu em outros lugares por onde passamos nesta "viagem", acabou se mostrando um destino maravilhoso a ser explorado com mais tempo e atenção, pelas lindas paisagens, rica história e povo acolhedor! 

E agora? Tentar deduzir...

O idioma cirílico não facilitou as coisas em momento algum, mas as placas bilíngues nos auxiliaram um pouco, ao menos para podermos nos localizar nos cruzamentos rsrsrsrsr Então, já que tocamos neste assunto, vamos contar um pouco sobre a história deste alfabeto diferente, sempre relacionado ao povo eslavo! 

Camiseta típica de turista! Rs

Por sorte havia a tradução!!!

Também conhecido pelo nome azbuka, é um alfabeto cujas variantes são utilizadas para a grafia de seis línguas nacionais eslavas (bielorrusso, búlgaro, macedônio, russo, sérvio e ucraniano), além do ruteno e outras línguas extintas. A história conta que ele foi criado por dois missionários cristãos bizantinos, São Cirilo e São Metódio, no séc. IX, com o objetivo de transcrever a Bíblia para as línguas eslavas. Seu nome é uma homenagem a São Cirilo, o Filósofo, e foi difundido durante o Primeiro Império Búlgaro depois ganhando uma versão mais simplificada durante as reformas de Pedro, o Grande, na Rússia, por volta de 1700. 

Ok! 

Entramos no país pela pequena divisa Vama Veche (Romênia) e Kosmos (Bulgária), às margens do Mar Negro, onde também apresentamos documentos (passaporte austríaco e identidade alemã), pagamos a vignette e seguimos direto pra praia, afinal, é verão!!! 

Vama Veche RO - Kosmos BG

Nossa reentrada na Bulgária após ficarmos alguns dias na Turquia - Kapicule (TR)/Svilengrad (BG)

Nesta porção do Mar Negro existem grandes e altas falésias e fomos visitar o Farol Shabla, o mais antigo da Bulgária, onde conhecemos a encantadora Slaty (que significa "ouro"), ambulante que nos presenteou com dois imãs de geladeira (para nossa coleção) e de quebra, ganhou uma bandeira do Brasil. 


Com um diâmetro de 8,8 m, altura de 10 m e espessura das paredes de 1,5 m, começou a funcionar em 1856. Construído a mando do sultão Mohamed Abdul Medzhid

Com a querida Slaty

Batemos um bom papo com ela, que nos deu ótimas dicas e sugestões do que fazer e conhecer neste país incrível! Na despedida, abraços, beijos e um "até breve"! (Estamos devendo uma pedra típica de nosso país para a coleção dela!)




Não foi tão fácil encontrar uma praia acessível para acamparmos, uma vez que as falésias são a marca registrada nesta porção do Mar Negro, porém usando um App, chamado IOverlander, acabamos por encontrar uma praia isolada top - Praia Bolata, onde havia bastante pessoas locais (são os únicos que conhecem o acesso), pois era final de semana. 

Sábado de praia com sol!


Batendo papo com o jovem casal Boiana (19) e Nicolai (20)

Descobrindo as histórias da Bulgária com o casal Deise (Desislava) e Cristopher, búlgaros que vivem na Grécia

Praia Bolata



O Cabo Kaliakra, na localidade de Kavarna, é uma reserva natural cuja principal característica é ser uma das últimas áreas de estepe no Mar Negro. Com um bioma rico em espécies vegetais e animais, o local é protegido e a polícia ambiental faz rondas diuturnas para conter algum visitante mais barulhento ou sujismundo. 


Nosso acampamento no "cantinho" da praia



Aqui nos deixamos ficar por três dias, curtindo praia, banhos de mar, passeios pelas trilhas e observação das pessoas (e seus costumes) e das aves, bem como dos satélites, à noite. Foi um bom descanso e onde tivemos a oportunidade de conversar com locais que estavam de passagem e que nos presentearam com sua amizade, boas dicas, informações e curiosidades sobre o país! 

Nascer do sol na praia Bolata

A partir deste momento, o que deveria ser apenas um trajeto de passagem pelo país, acabou se tornando uma viagem de mais de 10 dias, cruzando o país em ziguezague, explorando montanhas e cidades antigas e conhecendo lugares incríveis. 

VELIKO TARNOVO

A primeira capital da Bulgária (do Segundo Império) tem mais de 6000 anos de história e possui aproximadamente 70 mil habitantes. Todos os acontecimentos importantes que envolvem o país tiveram como palco a cidade de Veliko Tarnovo. Ao chegarmos à cidade nos deparamos com muitos morros e o vale do rio. Difícil foi encontrar vaga para estacionar próximo da Fortaleza de Tsarevets. 

Vista do Castelo/Fortaleza de Tsarevets

A maior atração da cidade não possui lugar para estacionar!! 

                        


Como não havíamos sacado Levs ainda e o ingresso da Fortificação (6 BGN) não era pago em Euros, tivemos de primeiro ir até o centro histórico, onde encontramos o caixa eletrônico e também uma arquitetura muito linda e particular. 

O Lev Búlgaro (BGN) vem sendo usado desde 1881. 1 Euro = 1,96 BGN

Aproveitamos para passear pelas vielas e ver seu artesanato bonito e colorido. Também compramos adesivo e imã de geladeira. Infelizmente ficou tarde e por falta de estacionamento, acabamos não visitando o local mais importante e famoso da cidade. 




A história deste país remonta ao ano 6500 a.C. com fragmentos de cultura neolítica de Karanovo. Na Antiguidade (séculos VI a III a.C), o local foi palco de batalhas entre trácios, persas, celtas, gregos e macedônios, até ter sido conquistada pelos romanos em 45 d.C. O Império Bizantino (ou Romano do Oriente) foi mantido até o séc. VII, quando os búlgaros fundaram o primeiro estado búlgaro unificado (em 681), dominando a Península Balcânica e influenciando as culturas locais. 

Lindas cerâmicas artesanais




O domínio otomano na região se estendeu por 5 séculos e a Guerra Russo-Turca de 1877 resultou na formação do atual Terceiro Estado Búlgaro. Durante as duas grandes guerras mundiais, a Bulgária se aliou à Alemanha e em 1946 ela tornou-se um estado socialista de partido único, liderado pelos soviéticos, assim permanecendo até 1989, quando a Revolução fez com que o Partido Comunista renunciasse.
Rota 5

Covid (porquinho), Rob (diabinho) e Nemo assistindo o trajeto sinuoso

A caminho de Plovdiv, a segunda maior cidade do país, percorremos uma rodovia cênica (5) maravilhosa que corta os Balcãs Centrais. Apesar de seu passo não ser tão alto - 2000msnm, aproximadamente - a vista e o percurso foram lindos e valeram cada parada para tirar fotos. Lá no alto do passo há um Monumento que depois descobrimos tratar-se de um Memorial ou Mausoléu em homenagem aos soldados soviéticos e búlgaros que travaram muitas guerras por aqui. O acesso a este memorial é feito por uma escadaria com 900 degraus e depois, dentro do prédio, se sobem mais 3 andares, totalizando mais uns 50 degraus para subir. Nosso exercício diário já estava garantido!




Vista da torre do Memorial

Subindo os 900 degraus!

O ingresso do Memorial era de 3 BGN, porém Hristo, o vigia e recepcionista do local permitiu nossa entrada gratuitamente. Como ele não falava nenhuma palavra em inglês (e nós não sabemos nada de búlgaro e russo) com gestos e uso de tradutor, ele acabou chamando o guia local, Todor, que em bom inglês nos explicou a história de todo o Memorial e um pouco da história recente do país. 




Memorial e Mausoléu aos combatentes russos e búlgaros

Descendo a escadaria dentro do Memorial





                             

Antes de deixarmos o local, ainda passeamos pelo platô, admirando as montanhas e a vista, além das instalações que ali estão. Depois descobrimos que poderíamos ter subido de carro até o Memorial... havia uma placa indicativa, porém não estava traduzida e não quisemos arriscar em realizar uma contravenção! 

No caminho para Plovdiv, ainda passamos pelo vale onde se plantam as famosas rosas búlgaras, que produzem excelentes e caras essências que entram na composição de cremes e perfumes. Pena que já haviam sido colhidas! Só vimos os campos onde elas são cultivadas.

PLOVDIV

Mapa turístico do centro histórico da cidade antiga

Cidade habitada há pelo menos 6000 anos, é a cidade mais antiga ainda habitada pelo ser humano e a segunda mais antiga da Europa. Foi a capital da Trácia, terra de Spartacus, o famoso gladiador!!!! Perambulando pelas suas ruas calçadas de pedras irregulares pode-se visitar a Farmácia de Hipócrates!!! 

Em função do Covid-19, todas as placas turísticas e mapas ainda são de 2019, ano em que Plovdiv foi uma das capitais da cultura na Europa



Igreja Ortodoxa de Santa Nedelya - inicialmente construída durante os séculos XII e XIII, foi destruída pelos muçulmanos durante a ocupação otomana, sendo reconstruída em 1831-32







Passagem na muralha da cidade antiga

Situada às margens do rio Maritsa, Plovdiv possui pouco menos de 400 mil habitantes. Conhecida como Eumolpia, no ano 342 a.C., a cidade foi conquistada por Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, passando a chamar-se Filipópolis. Durante o Império Romano aconteceu a 4ª Cruzada e os eslavos só a conquistaram no século VI e os búlgaros a conquistaram no ano 815. 


As ruínas da Torre Circular da Fortificação da antiga Filipópolis, do período bizantino, ainda podem ser vistas. Durante a Idade Média, essas muralhas foram ampliadas. Suas paredes têm diâmetro externo de 8,7 m e interno de 5,2, construídas em pedra e tijolos.




Entrada da Igreja de São Constantino e Santa Helena, mencionado pela primeira vez em 1578


Interior da igreja ortodoxa

No local onde hoje está a Igreja de São Constantino e Santa Helena, no ano 304 foram mortos crentes da fé cristã perseguidos pelo então Imperador Dioclécio. As relíquias destes santos foram levadas posteriormente para a antiga capital, Veliko Tarnovo. No pátio e terreno anexo à igreja encontram-se uma escola, uma fonte de mármore e a casa paroquial do líder religioso.

Interior da St. Konstantin and Elena Church


A Farmácia de Hipócrates fica quase ao lado da igreja de St. Konstantine e Elena e seu prédio atual data do séc XIX (1872). Recebe este nome em homenagem ao Pai da Medicina e foi construída pelo primeiro médico formado em Plovdiv, dr. Sotir Antoniadi. Em seu interior há uma amostra (em forma de museu) de como eram preparados os medicamentos antigamente, a partir de ervas e raizes, extratos etc. 
Antiga Farmácia de Hipócrates (1872)




O nome Plovdiv só aparece no séc. XV e sob o domínio otomano a cidade passa a ser um importante centro de movimentos nacionalistas búlgaros, sendo estabelecida a primeira imprensa em idioma búlgaro. Libertada dos otomanos em 1878, passou a ser um país independente em 1885. 


Teatro Grego

Durante o Império de Domiciniano, no séc I, foi construído um teatro grego com 28 arquibancadas concêntricas, aproveitando o desnível natural , uma vez que está situado nas margens de um dos 3 Morros da cidade (3 Hills) de Plovdiv. Comportando entre 5000 e 7000 espectadores, foi destruído durante um terremoto e reconstruído na década de 1980. Hoje está sendo usado para apresentações culturais e acabou incorporando tecnologias modernas à construção antiga. 

Ingresso para visitação: 5 BGN por adulto

A Igreja Ortodoxa da Ascenção da Virgem Maria é uma das mais antigas dos 3 Hills (3 Morros) e foi construída por volta de 1188. Tendo sido destruída durante o Império Otomano, foi reconstruída posteriormente em 1844. Até o ano de 1859 as prédicas eram feitas em grego. 

Igreja Ortodoxa da Ascenção da Virgem Maria


Estávamos caminhando pela cidade, subindo e descendo ladeiras, quando chegamos a uma praça onde estava sendo preparada uma feira gastronômica que iria agitar o centro histórico à noite. Os preços não atraíram, mas o perfume e aparência das comidas oferecidas estavam ótimos!

Deliciosa culinária local, com um único inconveniente: muito cara! 


Admirando os pratos típicos oferecidos na Feira Gastronômica no centro de Plovdiv

Porco no rolete sendo preparado

O Estádio Romano de Trimontium, do séc. II,  ou o que sobrou dele, está misturado à cidade moderna. Nos áureos tempos abrigava até 30 mil espectadores. Hoje pode ser visto de passarelas elevadas no fim (ou começo) da via pedonal. Próximo dali, tem-se uma grande mesquita e outras atrações. 


Ruínas do Estádio Romano, meio "perdidos" no meio da cidade moderna

Maquete de como era o Estádio Romano: 240m de comprimento por 50m de largura, aproximadamente

Conhecendo a famosa "Mastika", bebida tradicional da Bulgária

Todor nos explicou a maneira que se destilam as bebidas e provamos todas!!! 

Em nosso caminho de retorno ao estacionamento onde havíamos parado o carro, ainda conhecemos o processo de destilação da Mastika e outros licores, inclusive de rosas, e o Todor ainda nos ofereceu um rodízio de degustação, free

Vendido em garrafinhas pequenas, por 10 levs cada - tamanho permitido em aviões!

Bebida de alto teor alcoólico e sabor bem particular, a mastika é a bebida tradicional da Bulgária, juntamente com o vinho da uva Mavrud, que também acabamos tomando em outra ocasião. Parecido com o Ouzo grego, a mastika é obtida a partir da seiva resinosa do arbusto Lentisk, parente distante do pistache. Esta resina era conhecida já na Grécia Antiga, onde a usavam como goma de mascar, conforme documentado em pergaminhos do séc. V a.C. Nos Bálcãs é usado também o anis entre outras especiarias para a preparação deste licor. 

Rua dos Artesãos
Continuando nosso caminho de retorno, ainda descobrimos um lugar muito bonito e histórico, porém abandonado, com pichações e lixo - Nebet Tepe. Uma pena, pois trata-se de um complexo arqueológico ao ar livre. 
Ruínas sobre os 3 Hills



Com o anoitecer se aproximando, fomos acampar fora da cidade, às margens do rio, a uns 10 km de distância. Retornamos à cidade no dia seguinte de modo a ver o restante e resolver alguns problemas com a internet. 
Aqui cabe uma curiosidade: o sinal de wi-fi e internet no país é horrível!!! Mesmo tendo Vodafone alemão com créditos suficientes, foi bem difícil conseguir conexão! As lojas e restaurantes oferecem o sinal para seus clientes, porém a qualidade do serviço é terrível! 

Local de nosso camping, ao lado do rio

Resolvidas as nossas pendências, retornamos ao Mar Negro, na localidade de Sozopol distante uns 300 km de Plovdiv. Este percurso foi feito parcialmente por rodovias secundárias e também pela autopista A1. O fenômeno ocorrido na Romênia, onde quase não há retornos na autopista e quando se perde uma saída, a próxima fica a 50 km de distância (muito ruim, pois não permite erros na navegação) também acontece aqui. O asfalto é ótimo e a estrada tem boa infraestrutura de apoio em postos de combustível espalhados em sua extensão. 

Em Sozopol, ou próximo da cidade, encontramos um local onde se pode fazer wild camping e já havia um casal da Áustria lá. Astrid e Mathias nos deram dicas e nos contaram que a Grécia está fechada para trânsito terrestre, só permitindo a entrada de turistas via aérea ou marítima... muito mais que questão sanitária, o Covid-19 está sendo usado de maneira política pelos governos do mundo! 

Com os amigos e conterrâneos, Astrid e Mathias



Pôr do sol em Sozopol, no nosso wild camping


Praia próxima de Sozopol

Nos próximos dias iríamos nos aventurar na Turquia. Portanto aproveitamos para curtir bem o Mar Negro e suas belezas. 








Passados  alguns dias na Turquia, tivemos de voltar para a Bulgária, pois a divisa com a Grécia estava fechada, conforme nossos amigos austríacos haviam contado anteriormente. Desta forma aproveitamos mais dois dias neste país lindo antes de atravessarmos para a surpreendente  e desconhecida Macedônia.

Canal do rio Maritsa, próximo da divisa de Svilengrad com a Turquia


Atravessamos o país da divisa com a Turquia, em Svilengrad, passando perto de Plovdiv novamente  (A4 e A1) e chegando a sul da capital, Sófia, descemos em direção à República da Macedônia do Norte. Mas esta já é outra história!!!!

Acampamento no Lago Iskar, próximo de Samokov

Nossa despedida definitiva da Bulgária








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