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Vista panorâmica do Mirante de Carapebus |
Depois de ficarmos mais de 15
dias rodando pelo Sertão do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco
(conforme as últimas duas postagens feitas), voltamos ao litoral, contornando
João Pessoa (desta vez não iremos visitá-la) e seguindo ao sul, uns 20/30km,
até a Praia de Jacumã.
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Acampamento em servidão - praia de Jacumã |
Nos próximos dias exploramos esta
última pontinha do litoral paraibano, passeando por Jacumã, Carapebus,
Tabatinga, Tambaba e Pitimbu.
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Praia de Jacumã |
ACAMPANDO POR AQUI - camping selvagem ou com alguma estrutura
Interessante um fenômeno que
observamos por aqui.
Quem tem propriedade em Tabatinga e Carapebus depende de
Jacumã (pertencente ao município de Conde) para fazer suas compras ou ter
acesso ao banco, por ex. Já quem tem sua casa ou hotel/pousada em Tambaba ou Pitimbu,
tem de ir a esta última pra conseguir as coisas básicas. A falta de infraestrutura
no local é flagrante... o normal por aqui é ir à capital, distante 65 km, para
fazer compras maiores e resolver problemas. Os comércios em Jacumã e Pitimbu
são pequenos, sem muita variedade e mais caros! A região, extremamente turística,
carece de supermercados, açougues, panificadoras, sorveterias, peixarias... o
que existe são restaurantes e lanchonetes para atender o turista que se hospeda
num dos resorts da região. Quem viaja com motorhome ou como nós, com barraca de
teto, acaba tendo dificuldade em encontrar água potável para reabastecer a
caixa, bem como víveres para sua subsistência. Há que se programar direitinho,
calculando o tempo gasto em cada praia. Caso contrário, terá sempre de ir e vir
para comprar o que falta.
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Acampamento ao lado do restaurante Taba Grill - Tabatinga II |
Por indicação do Severino, em Tabatinga I, parados ao lado de um prédio abandonado, acabamos parando ao lado do restaurante Taba Grill, localizado em Tabatinga II, cuja proprietária Rachel sublocou para o casal Marilice e Sormany, que nos acolheram e ofereceram água, além de usarmos banheiro e energia elétrica. Uma bela amizade nasceu aqui e acabamos ficando 2 dias. O lugar é lindo e a praia também!
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Praia de Tabatinga II - rio Mucatu e lagoa Preta |
A praia de Tabatinga, dividida por um maceió* em Tabatinga I e II, possui águas mornas, boa faixa de areia para caminhar e um visual lindíssimo, com falésias cuja argila é usada para tratamentos de beleza (rejuvenescimento da pele).
*maceió - lagoeiro que se forma no litoral em virtude das marés e das águas pluviais. No Ceará este tipo de lagoa litorânea se chama "caponga".
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Falésias coloridas da região |
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Acampamento no Cânion do Coqueirinho |
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Acampamento na Praia Bela - Tambaba |
UM POUCO DE HISTÓRIA
Em 1534 o rei de Portugal, D.
João III, divide a colônia em capitanias hereditárias e a região da Paraíba
ficou subordinada à capitania de Itamaracá (que ia do rio Guaju, na divisa do
RN com o rio Goiana, na divisa de PE). Por aqui havia comércio dos indígenas
com os franceses (pau-brasil, âmbar, peles de animais e óleos vegetais).
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Cânion do Coqueirinho |
Os indígenas que habitavam a
região litorânea eram os potiguaras, rivais dos tabajaras (originários do médio
São Francisco). Os tabajaras contavam com o apoio dos portugueses, enquanto os
potiguaras tinham o apoio dos holandeses que aportaram em terras paraibanas em
1625. As constantes “guerras” entre holandeses e portugueses pela disputa do território
acabaram com muitas mortes e idas e vindas de holandeses, franceses e
portugueses pela região (hoje RN, PA e PE). A influência holandesa no estado
está diretamente ligada à produção canavieira. Mudas de cana (caiana, vinda da
Guiana Francesa e Suriname, antiga Guiana Holandesa) foram introduzidas e a
produção de açúcar era o motor da economia na época. Com as revoltas, muitas
das plantações foram queimadas, “quebrando” a economia local. Até hoje a
produção açucareira (e álcool) – engenhos - é fortíssima e os canaviais se estendem
ao longo da costa, a perder de vista.
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Cânion do Coqueirinho - causadas pela erosão da chuva, as formações de ravinas e diversas falésias coloridas |
Com tanta cana, natural e
desnecessário dizer que a cachaça paraibana é uma das melhores do Brasil. Tivemos
o prazer de degustar muitas em nosso período de viagem pelo Nordeste e mesmo
não sendo famosas como as mineiras, não deixam nada a desejar! De sabor suave,
bem frutadas e envelhecidas em madeiras como amburana (ou umburana), carvalho,
castanheira, jatobá, angelim, ... seu sabor é delicioso e o aroma mais parece
um perfume!
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Variedades de cachaças da região |
Paraíba vem do tupi pará
(rio ou mar) + aíb (ruim), significando que o rio era ruim para
navegar. Como a boca do canal do rio Paraíba era muito estreita, isto
dificultava ao invasor efetuar a conquista. Bastava colocar 2 baterias de canhão
em cada margem para abater os navios pretendentes; sem contar um rochedo que
havia (aparece nos mapas antigos) e que foi dinamitado por razões portuárias no
início do séc. XX.
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Cânion Coqueirinhos - a praia de Coqueirinhos é uma das 10 mais bonitas do Brasil |
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Formações rochosas interessante e, coloridas presentes no Cânion do Coqueirinho |
NEM TUDO SÃO FLORES
Em 1860 a Paraíba tinha uma
população de aproximadamente 212 mil habitantes e sofria com sérios problemas
de saúde (cólera, febre amarela) provocados principalmente pela precariedade no
abastecimento de água potável. 160 anos depois, ela continua com os mesmos
problemas: a água do subsolo é salobra (apenas poços de grande profundidade
acessam água boa) e muitos vilarejos não têm água potável, precisando recorrer
a caminhões pipa para efetuar o abastecimento. Por questões políticas, não
existem políticas públicas que atendam a esta necessidade tão básica e
fundamental do ser humano. Desnecessário dizer que os donos dos caminhões pipa
são vereadores, deputados ou “amigos do rei” que permanecem no poder por conta
da compra de votos!
O povo hospitaleiro e guerreiro
continua sendo subjugado por falta de infraestrutura, com rodovias em péssimo
estado de conservação e sinalização precária, pra não dizer inexistente. Os
canais de transposição do rio São Francisco, prontos e funcionando quando
chegamos lá (em julho/2023) tiveram o abastecimento interrompido (por questões
políticas) e assim um lugar que tem tudo para ser lindo e próspero não o é, por
escolhas equivocadas e ignorantes.
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Cânion do Coqueirinhos |
Hoje o estado conta com aproximadamente
4 milhões de habitantes e 21% se concentra na capital, João Pessoa, sendo que
os outros 17% estão distribuídos entre Campina Grande, Santa Rita e Patos, as
mais populosas depois da capital. 140 dos 223 municípios do estado têm
população de até 10 mil habitantes (o menor município – Parari - conta com
pouco mais de 1720 habitantes (2022), mas “dizem as más línguas”, que tem 2379
eleitores inscritos!!! Dados oficiais apontam isto). Talvez este seja um
indicativo preocupante para o subdesenvolvimento de algumas regiões, pois
cidades muito pequenas não conseguem se sustentar e gerar empregos/renda suficiente!!!
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Praia de Pitimbu - rio Macatu |
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Com pescador, no rio Graú |
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Praia Bela - Pitimbu |
CURIOSIDADES
Ariano Suassuna é filho ilustre
desta terra, assim como Assis Chateaubriand (jornalista, empresário, fundador
do Museu de Arte de SP e membro da Academia Brasileira de Letras), João Câmara
Filho (pintor), Maílson da Nóbrega (ex-ministro da Fazenda), Epitácio Pessoa
(presidente do Brasil entre 1919 e 1922) e os compositores e cantores Zé
Ramalho, Chico César, Roberta Miranda, Elba Ramalho, Herbert Vianna, Sivuca,
Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda entre outras tantas personalidades paraibanas
conhecidas compõe o cenário literário, musical e político de nosso país.
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Praia Bela - Pitimbu |
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Curtindo a vista da barraca do Emerson - Praia Bela - Pitimbu |
Campina Grande é o local onde
fica “o maior São João do Mundo”, e danças como bumba-meu-boi, coco-de-roda, ciranda
e xaxado são muito populares, além dos folguedos, cavalhadas e festas juninas compõem
a riqueza da expressão cultural paraibana.
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Igreja N. Sr. do Bonfim - séc. XIX - Pitimbu |
Ainda há muito a se ver e
explorar neste estado tão bonito de nosso Nordeste. Mas isto ficará para uma próxima
vez...
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