Atravessamos o Rio Maroni (que faz a divisa entre o Suriname e a Guiana Francesa) depois de termos passado praticamente o dia todo dentro da aduana, em Albina (Suriname). O ferry/balsa que faz o trajeto só o faz quando há veículos para atravessar de um lado para o outro – eles vão esperando acumular um tanto para efetuar o transbordo. Lá pelas 16h vimos a balsa se aproximar e nos despedimos do Suriname.
Plage de Montjoly, próximo de Caiena |
Custo da balsa: 40 € (36 €:
carro + motorista e 4,30€: passageiro)!!!
Já em solo francês, fomos
até a aduana e demos entrada com nossos papéis europeus (eu tenho passaporte
austríaco e Marcos apresentou sua identidade alemã). Você deve estar se
perguntando: por quê?
Parque Sables Blans |
DOCUMENTAÇÕES LEGAIS
Em função da grande
imigração ocorrida há uns 10/15 anos, de brasileiros (ou surinamense,
guianeses, haitianos,...) atravessando para a França, o estado da Guiana
Francesa adotou medidas legais para evitar ou minimizar os efeitos desta
entrada ilegal e hoje, para brasileiros (e algumas outras
nacionalidades) é necessário apresentar o visto de entrada para a Guiana
Francesa. O único local onde se pode tirar este visto é na Embaixada da
Guiana Francesa, em Brasília, e o custo da documentação é alto (99 €).
Legalmente falando: a
Guiana Francesa, mesmo sendo um Estrado da França, é uma região ultramarina
francesa que não pertence ao Espaço Schenghen e por este motivo existe a
exigência de visto.
Além deste inconveniente,
existe ainda, para quem entra na Guiana Francesa via Brasil (Oiapoque – AP), o
seguro obrigatório para o carro, também chamado de Carta Verde, cujo valor
é de 260 Euro (válido para os 3 meses de permanência permitida).
Como nós estávamos
entrando “do outro lado” (vindos do Suriname) e havíamos pago o seguro para as
Guianas (Guiana, Suriname e Guiana Francesa) em Lethem, no valor de R$75,00,
aproximadamente, apresentamos nossa apólice de seguro que só foi aceita após
explicarmos e mostrarmos a inclusão do estado francês nela.
Tudo resolvido, fomos até
um ATM sacar uns Euro e aproveitamos o Intermarché (rede de supermercados onde
efetuávamos nossas compras na França/Espanha/Portugal) para comprar umas
coisinhas que não existem na América do Sul. Ops... estamos na América do
Sul!!! Rsrsrs
CURIOSIDADES
A composição étnica do
país é bem eclética. Após a retirada francesa da Guerra do Vietnã, em 1950, a
França ajudou a reassentar refugiados hmong do Laos, que fugiram do
regime comunista de Pathet Lao, imposto ao Laos em 1975. No final da década de
1980, mais de 10 mil refugiados surinameses, principalmente quilombolas,
chegaram à Guiana Francesa fugindo da Guerra Civil do Suriname. Mais
recentemente um grande número de brasileiros e haitianos entraram no país trabalhando
na mineração e extração de madeira.
Existem postos de fiscalização próximos das duas fronteiras (com o Suriname, em Iracoubo e com o Brasil, próximo de St. George de Oiapoque) de modo a tentar coibir a entrada de pessoas ilegalmente e também da retirada de ouro e madeira.
Incrível ver a diferença que existe entre o Suriname/Guiana e a Guiana Francesa. A começar pela pavimentação da estrada, a infraestrutura das cidadezinhas é completamente outra, o recolhimento do lixo segue padrões franceses (com separação parcial) e os produtos oferecidos (e preços) são iguais aos da Europa.
Igreja de São José, em Iracoubo (1893) |
Lindo interior com pinturas em afresco |
A Guiana Francesa é um
departamento ultramarino e segunda maior região da França, com aproximadamente
300 mil habitantes, dos quais metade vive na capital, Caiena, e sua região
metropolitana. É o único território continental das Américas que ainda está sob
o domínio de um país europeu.
Quem governa esta região
é a Assembleia da Guiana Francesa, responsável pelo governo regional e departamental.
Existem registros (informais ou da oposição) que deixam claro que a extração de ouro e mata nobre no país é chancelada pela França e que são de 500kg a 1ton de ouro retirados mensalmente, direto para a França... mas isto são "as más línguas!"
O primeiro assentamento
francês foi em 1503, mas apenas a partir de 1643 é que a colonização ocorreu
efetivamente, com a instalação de fazendas de açúcar. Os plantadores “importavam”
africanos como trabalhadores escravizados em grandes fazendas açucareiras e
outras plantações.
A abolição da escravatura
se deu na época da Revolução Francesa (1789) e 10 anos mais tarde a Guiana foi
designada como departamento francês, depois passando a ser usada como colônia
penal, estabelecendo uma rede de campos e penitenciárias ao longo do litoral,
onde os prisioneiros eram colocados para trabalhos forçados, em situação
desumana e tortura. Dos 56 mil
prisioneiros alocados nas Îles du Salut (3 ilhas com 3 prisões que funcionaram
entre 1852 e 1953), menos de 10% sobreviveram à sentença!!
Quem não conhece e assistiu
o filme Papillon? Tanto na sua versão antiga, com Steve McQueen no papel
protagonista, quanto na versão atual, ali está retratado algumas atrocidades
cometidas dentro das colônias penais estabelecidas na Guiana. Tentamos visitar
a Île du Diable, onde se deu a história de Papillon, porém o alto
custo do passeio não coube em nosso orçamento. Custo do passeio: 47€ por pessoa.
Dreyfus Tower - torre de comunicação com as Îles du Salut - aqui existia uma prisão |
Dreyfus Tower e, ao fundo, onde hoje está o Hotel ficava a prisão no continente |
Já na cidade buscamos um local bacana para ficarmos e havia uma marcação no IOverlander (APP) de um parque linear costeiro - Parc de la Cocoteraie - onde há um grande estacionamento e possibilidade de dormir. Fomos para lá e logo fizemos amizade com os proprietários do Restaurante Copacabana, onde há uma bandeira do Brasil exposta. Os proprietários, Frank, francês de Paris e Rosilene, brasileira de Macapá, tocam o bar há anos e depois de muito bate-papo, filosofia e troca de ideias, drink e café, fomos buscar um local sombreado e adequado para passar a noite.
Com Frank, francês de Paris, proprietário do Restaurante Copacabana |
A neblina/maresia não permitiu a vista das Îles du Salut |
Ali, no estacionamento,
conhecemos muitas pessoas que se aproximavam por curiosidade e perguntavam
sempre: vocês são mesmo do Brasil? Uma família muito linda veio bater papo e
nos convidou para ficarmos em sua casa, oferecendo água e energia elétrica em
seu quintal. Ismael (espanhol), Maria (argentina) e as meninas Ocean e Ariane
nos receberam por duas noites, onde pudemos aprender muito sobre a Agência
Espacial Europeia (ESA) para a qual trabalham e o Programa Ariane – Arianespace
– no qual Maria é física.
Família linda: Maria, Ismael, Ariane (1a) e Ocean (4a) |
Tentamos visitar o Musée
de L’Espace - Centre Spatial Guyanais, porém descobrimos que ele está em
reforma até o final de 2023. Kristhel e Daphné, funcionárias do Centro Espacial,
nos deram explicações e dicas de como percorrer a Rota Cênica do Espaço, onde
estão as instalações diversas do projeto Ariane e de onde são lançados os
foguetes para o espaço. Percorremos todo o trajeto (uns 10km) com o Garça,
parando aqui e ali para tirar fotos.
Existe um passeio guiado,
gratuito, com 2,5h de duração feito com bus e guia, que precisa ser
pré-agendado com 48h de antecedência (por questões de segurança). Fizemos o
agendamento, porém acabamos indo embora da cidade antes. (visites.csg@cnes.fr)
Kourou
foi habitada por indígenas da etnia Kalina ou Galibi, antes da chegada dos
europeus. Os jesuítas foram os primeiros a batizar alguns indígenas, porém a
missão foi abandonada em função da grande incidência de doenças tropicais. A
primeira leva de colonização, por volta de 1780, trouxe entre 10 e 12 mil
cidadãos, na maioria franceses que não conseguiram sobreviver às condições
encontradas. Cerca de 6 mil pioneiros morreram e muitos buscaram abrigo nas
ilhas próximas (Îles du Salut) por lá não haver tantos insetos em função do
vento constante.
Com Kristhel e Daphné, do Centro Espacial |
Modelo do módulo enviado ao espaço |
Ao fundo, instalações onde se montam os foguetes |
Apenas por volta de 1855,
durante a primeira corrida do ouro e também a segunda abolição da escravatura
(1848!) e com a criação das prisões ao longo da costa é que a região veio a se
desenvolver e ter mais habitantes. Os primeiros prisioneiros chegaram em 1862.
Deixamos Kourou para trás
e seguimos para a capital, distante 80 km. Encontramos uma cidade grande e, como
toda cidade grande, com grandes problemas. A parte histórica de Cayenne está
abandonada e suja.
Palácio do Governo - Assembleia da Guiana Francesa |
Fomos até o Fort Cépérou,
onde havia um forte construído em madeira em cima do morro, com vista para toda
a baía. Não há nenhum resquício do antigo forte (também pudera, ele foi
construído no melhor “estilo apache”, com paliçada de madeira ao redor e o que
se vê são apenas os locais onde estavam as construções principais). O local, que
poderia ser bem bonito, está tomado por desocupados e depois de meia dúzia de
fotos fomos embora. Passeamos de carro pelas ruas da cidade, percorrendo a Place
des Palmistes (Praça de Palmeiras), a Catedral de São Salvador (fechada e
nada especial – não mereceu uma foto) e paramos no Place des Amandiers.
A praça dos Amantes está localizada na beira mar, próxima do mangue. O local é
bem bonito e atrai muitos casais, merecendo algumas fotos.
Fort Cépérou |
Construções abandonadas dentro da área do forte |
Vista panorâmica da cidade |
Vista da cidade |
Uma curiosidade sobre
Caiena é que entre os anos de 1809 e 1817 a região toda foi dominada pelos
portugueses e o governador brasileiro João Severiano Maciel da Costa substituiu
o então governante francês, Victor Hughes. É resultante desta época a introdução,
no estado do Amapá, da variedade caiena (ou caiana) de cana-de-açúcar e também
da fruta-pão.
Vista do mangue na Place des Amandiers, ao fundo, construções da parte histórica da cidade de Caiena |
Caribe?? rsrsr |
Casario antigo, estilo criole |
Memorial em homenagem à Abolição da Escravatura |
Resolvemos buscar local
para acampar fora da capital e o lugar escolhido foi Rémire Montjoly,
localizado na região metropolitana de Caiena. A cidadezinha é usada como
dormitório e local de descanso dos moradores da capital, possuindo parques, áreas
verdes, praias e foi para a Plage de Montjoly (praia), na Crique
Mouche (península), onde paramos para curtir a natureza e fazer uma trilha –
Sentier des Salines (Trilha das Salinas). O local foi também o escolhido
para pernoitarmos.
Plage de Montjoly |
Península e encontro do rio com o mar - Crique Mouche |
Nosso último acampamento na Guiana Francesa... choveu "pouco" |
Nossa passagem pela Guiana
Francesa foi rápida – 5 dias! Mas foram dias muito intensos e de descobertas.
Já estávamos com o friozinho na barriga, pois a partir do dia seguinte,
retornaríamos para o Brasil e desta vez, sem saídas para outros países até o
sul... estes são os planos, né?
Bora conhecer os últimos
estados da região Norte do Brasil que faltam para conhecermos: Amapá e Pará!!!
Mas esta já é outra aventura e outras histórias...
Na ponte com o Oiapoque. Olhe o Brasil logo ali!! |
Au revoir, France |
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