Viagem Família______________________________________

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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Um pedaço da Holanda na América do Sul: conhecendo o Suriname

Deixamos a Guiana para trás, após algumas horas de espera esperando a balsa para fazer a travessia sobre o Courantyne River. Os trâmites do lado guianense foram bem burocráticos e demorados (acho que passamos por uns 5 guichês diferentes). 

Rua central de Paramaribo, com seu casario colonial

AS SURPRESAS COMEÇARAM JÁ NA ADUANA

Já em solo surinamês, fomos surpreendidos pela pergunta do oficial aduaneiro: "vocês têm visto para o Suriname?" Respondemos que não precisávamos, pois o Brasil e o Suriname tem acordo e apenas o passaporte é necessário. Ao que ele disse: "não, as regras mudaram recentemente e desde julho do ano passado existe uma solicitação de visto, com pagamento de taxa, que pode ser feito pela internet!" Affff!
Mas logo trouxe a solução: "vão até ali, no outro guichê e paguem a taxa. Assim vocês receberão o visto e poderão entrar no país."
Tudo foi feito rapidamente (depois descobrimos porquê) e com o valor de U$ 25 por pessoa, carimbaram nosso passaporte, verificaram o seguro do carro (que havíamos feito em Lethem -  GU) e costums rapidamente procedeu o registro do Garça. Enfim, em menos de 10 min. estava tudo resolvido e quando entramos no carro, os guichês e aduana foram fechados e chaveados e todos saíram... nós seguimos a fila de carros e descobrimos a segunda coisa que não sabíamos: por aqui, também é mão inglesa!!! 
Na contra-mão, pois o gado invadiu a pista...

Seguimos por uma estrada muito linda, cercada de floresta de ambos os lados e paramos num mercadinho para comprar alimentos. Marcos havia feito câmbio do lado guianense e tínhamos um pouco de dólares surinameses conosco... Já sabíamos que o custo de vida aqui é mais barato que na Guiana, por isto deixamos para fazer nossas compras aqui. 
O que só descobrimos mais tarde é que o comércio em geral só aceita cartão de crédito/débito de cidadãos locais e nossos VISA e MASTER não funcionavam (nem nos mercados, nem nos postos de combustível). Semelhantemente, nem todo ATM aceita transações de VISA ou MASTER. Desta forma, gastamos todo o dinheiro trocado no câmbio nesta comprinha... a proprietária do supermercado, chinesa (porque não estou surpresa!?) não nos explicou esta regra (penso que ela também desconhecia a regra), até porque não falava inglês e nós não entendemos dutch (neerlandês) e nem chinês!! 


Acampando no fim da rua Eduard Wolfstraat, em Totness

Agora com fuso horário de Brasília, seguimos pouco mais de 100 km até a localidade de Totness, onde paramos num fim de rua, na praia; na verdade, uma península muito bonita, de onde ficamos admirando o pôr-do-sol e o trabalho dos pescadores. 
Com vento intenso, paramos o Garça numa posição adequada para cozinharmos e posteriormente, aproveitamos para curtir a noite e o céu estrelado... (isto só é possível quando há muito vento, caso contrário, os milhões de mosquitos acabam por te comer vivo!)
De madrugada, já sem vento, fomos surpreendidos por minúsculos mosquitinhos que conseguiram entrar pelos buraquinhos da tela da barraca e se refestelaram conosco... foi um verdadeiro banquete!! rsrsr

Limpando os chinelos da lama colenta...



Cabe citar uma curiosidade: enquanto observávamos as estrelas à noite, vimos uma luz que se movimentava relativamente rápido, no sentido contrário ao da rotação da Terra... Ficamos conjecturando que parecia ser um foguete, mas naquela direção, a única possibilidade era de ter sido lançado no Oriente! Um semana mais tarde descobrimos a verdade: era, de fato, o maior foguete chinês que já foi lançado em órbita com alguns satélites!!! Estas são aquelas situações inesperadas e que tornam a viagem sempre uma novidade!!!

Aqui também as terras são abaixo do nível do mar e existe a necessidade de diques para conter a maré

Os queridos Prejai e Cashana, da Smart Connexxionz, que emprestaram wi-fi e nos deram dicas preciosas!

Deixamos este cantinho do paraíso (cheio de mosquitos rsrsrs) e seguimos para a capital, Paramaribo. Na região metropolitana, paramos numa loja de celulares e emprestamos seu sinal de wi-fi (optamos por não comprar chip das Guianas por serem países muito pequenos e ficarmos pouco tempo em cada um deles) para buscar um hostal ou albergue para passarmos duas noites (é muito difícil encontrar local para acampar em cidades grandes). Encontramos uma opção central e viável, o Twenty Four Hostel, que nos custou 1172 SRD (Dólar Surinamês), aproximadamente R$ 177,00, para duas diárias, com direito a uso da cozinha e banheiro coletivo. 

Twenty Four Hostel, em Paramaribo

Café da manhã ao ar livre

Quarto privativo

Preparando gostosuras

Vista da janela do quarto

O Suriname é o menor país da América do Sul e tem, aproximadamente, 630 mil habitantes. O país pertence à CARICOM (Comunidade do Caribe) e não faz parte da América Latina, semelhantemente à Guiana, por suas raízes étnicas e colonização. O idioma oficial é o neerlandês, mas o sranan - língua crioula baseada no inglês, que mistura holandês, chinês, javanês e hindu - é amplamente falado no país (calcula-se que 400 mil pessoas falam o sranan). 


Praça Onafhankelijkheidsplein (rsrsrs... leia rápido em voz alta), ou Praça da Independência e o Ministério das Finanças, ao fundo

Os primeiros europeus a chegarem por estas bandas foram os espanhóis, no séc. XVI. Em meados do séc. XVII os ingleses aportaram por aqui enquanto os mercadores neerlandeses já estabeleciam muitas colônias na região das Guianas. Apenas 1667, pelo Tratado de Breda, assinado no fim da Guerra Anglo- Holandesa, é que eles finalmente assumiram o controle do Suriname. 
Com a abolição da escravatura em 1863, foram trazidos trabalhadores de Java e da Índia o que compõem atualmente a população do país: os hindustanis (indu-paquistaneses) são 27,4%, enquanto os marrons (descendentes dos escravos africanos) são 21,7% da população. Depois vêm os crioulos e javaneses, com 15% e 13%, respectivamente. Mestiços, 13%; indígenas, 3,7% da população e restante está entre chineses e brancos (holandeses, judeus sefarditas) e um pequeno percentual de brasileiros. 

O Gouvernementsgebouw, "prédio do governo" em neerlandês, foi construído originalmente em 1730 e está localizado em frente à Praça da Independência (cujo nome é impronunciável) 

O país declarou sua independência em 1975 e logo em seguida transformou-se numa República Socialista, na qual o ditador Desi Bouterse tomou o poder, aliando-se à Cuba. Nos anos 1980 foram inúmeros casos de prisões, torturas e assassinatos de pessoas que se colocavam contra o governo. Nos anos 1990 houve troca de governo, porém os casos de abusos continuaram. Apenas no séc. XXI restabeleceu-se uma política mais democrática e de respeito à liberdade de expressão. 
A economia do país é dividida em setores. Na região costeira, mais produção de alimentos e atividade agrícola, enquanto que mais para o interior, as atividades extrativistas de mineração e madeira lideram a economia.   

Casario típico do centro histórico da cidade

A Igreja Reformada Holandesa do Suriname (1835) foi a igreja do Estado até a Independência, em 1975. A edificação foi tombada pela UNESC, é octogonal e não possui torre de igreja  

Paramaribo é a capital e maior cidade do país, com aproximadamente 250 mil habitantes. O nome significa "habitantes do grande rio" e é de origem tupi-guarani. Desde 2002 o seu centro histórico é Patrimônio Mundial pela UNESCO, com casarões, fortes, canais e catedral remanescentes da época holandesa.  

Catedral Basílica São Pedro e São Paulo, é uma catedral católica romana de madeira construída em 1885, sendo que as torres foram concluídas apenas em 1901. Antes de sua construção, a  congregação católica da cidade usava como igreja adaptada um antigo teatro judeu holandês (1809) 

Infelizmente não conseguimos ver seu interior, pois só abria suas portas em horário de missa

Passeamos muito pela cidade nos dois dias que ficamos por aqui. A cidade é muito linda, e diferentemente de Georgetown, limpa, organizada, com calçadas e prédios históricos em bom estado de conservação. 
Já quando chegamos à cidade fomos buscar um ATM que funcionasse com VISA e MASTER. Há um banco próximo da Catedral, 3 quadras de onde nos hospedamos. Fomos para lá e já aproveitamos para ver muita coisa bonita, tirar fotos e nos deslumbrar com a cidade. 

Monumento aos Soldados Caídos em diversas Guerras

Observando o rio Suriname ao pôr-do-sol

Passamos em frente do Gouvernementsgebouw - a residência oficial do Presidente do Suriname, da Catedral de São Pedro e São Paulo, dos Monumentos aos soldados caídos de diversas guerras, do Ministério da Justiça, do Ministério das Finanças e admiramos o rio Suriname da beira-rio. 

No dia seguinte, nossa aventura começou no Palmentuin, Jardim das Palmeiras, um parque cheio de palmeiras imperiais que foram plantadas por Cornelis van Aerssen van Sommelsdijck, entre 1683-1688, quando era Governador do Suriname. Localizado bem próximo do Forte e do Palácio Presidencial e que mesmo tendo recebido verbas da UNESCO para sua reforma, continua meio abandonado. Em seu perímetro, localizam-se muitos dos bares e restaurantes que agitam a vida noturna da cidade, bem como lojinhas com souvenires e lanches rápidos. 



Já em Fort Zeelandia, a maior atração turística da cidade, ficamos horas passeando pelo Museu e instalações anexas. A Ann, espécie de recepcionista do local, nos presenteou com um livro que conta sobre as pesquisas e escavações realizadas no lugar e no país, com fragmentos das antigas culturas indígenas (que têm tudo a ver com os indígenas amazônicos). O ingresso custa 150 SRD (mais ou menos 5 dólares por pessoa) e vale a pena cada centavo. O único senão é que a maior parte dos banners e explicações está em neerlandês... acabamos tendo que imaginar muita coisa rsrsrsr

Esta fortificação, originalmente construída em madeira, foi erguida no séc. XVII (1640) pelos holandeses, na margem esquerda do rio Suriname


 
Com Ann e nosso presente

O Forte tinha por objetivo fazer a proteção de um entreposto comercial fronteiriço neerlandês próximo à aldeia indígena de Parmurbo, posteriormente denominada de Paramaribo. Em 1651 o Forte foi dominado por forças britânicas e denominado "Fort Willoughby" em homenagem ao Lord Francis Willoughby. A reconquista aconteceu em 1667 com o Almirante holandês Abraham Crijnssen, numa batalha que durou apenas 3 horas. Posteriormente o Forte foi ampliado para uma planta pentagonal, com 5 baluartes, dos quais 3 ainda persistem. Estando em desuso, quase foi derrubado.

Ruínas de construções antigas anexas ao Forte



Instalação de botica e comércio

 
Durante a ditadura de Dési Bouterse (anos 1980), o forte foi usado como prisão e local de tortura de presos políticos.  


O Forte funcionava como entreposto e local de comercialização de escravos





O acervo do Museu é bem variado e contém peças de arqueologia, indumentária, móveis coloniais, fotos históricas e cerâmicas indígenas


O SRD é a moeda corrente no Suriname. Ela veio substituir o Gulden em 2004. Inicialmente, foram feitas apenas moedas, pois o Canadá não tinha papel-moeda disponível para a confecção de seu dinheiro. R$ 1,00 = 6,63 SRD, aproximadamente. 

Visitamos rapidamente o Museu do Banco Central, em Paramaribo

Nossas andanças pela capital do país ainda nos levaram até o Mercado Central, onde compramos peixe fresco e verduras frescas a um bom custo x benefício. Sempre negociando em inglês, muitas vezes tivemos de usar "mãos e pés" para efetuar as conversações! 

Setor do Mercado onde se encontram ervas medicinais e raízes para todos os males

"Sopropo" ou melão de são-caetano, originária da África, pertence à família do pepino



Bolas usadas para raspar peles e fazer esfregaços

Jantar de hoje garantido

Nossos dias por aqui estavam chegando ao fim... no dia seguinte "levantamos acampamento" e seguimos rumo à divisa com a França. Na cidade de Albina, nossa última parada em terras surinamesas, acabamos dormindo no estacionamento do Hospital Streekzickenhuis Marwina, onde conhecemos o médico Alain, cubano do programa Mais Médicos, que já esteve no Brasil (em Tabatinga, AM) e também em missões na Eritreia (África) e Arábia Saudita. Foi simpatia a primeira vista e acabamos conversando por horas, recebendo o convite de ficarmos em sua casa... deixamos pra quando ele estiver no Brasil novamente (pois está fazendo a documentação para ir ao sul do Brasil desta vez). 

Nosso último acampamento no Suriname, em frente ao Hospital de Albina

Com o cubano, dr. Alain, responsável pelo Hospital que foi construído com verbas do governo francês, para evitar a imigração ao país vizinho para tratamentos médicos 

A cidade de Albina é como toda a cidade fronteiriça e portuária... por estar na parte mais pobre do Suriname, ocupada majoritariamente por descendentes de ex-escravos muçulmanos, houve há alguns anos uma leva de imigração para a França (Guiana Francesa) e por este motivo - conter a imigração desenfreada - foram criados muitos empecilhos para o livre trânsito entre países. Por isto que é exigido o visto de entrada no país vizinho, além de as regras para adquirir cidadania francesa terem ficado mais rígidas atualmente. Mas esta já é outra história, que ficará para a próxima postagem. 

Na fila, esperando o ferry/balsa (por 6 horas)

Embarcações típicas

Preparados para a próxima aventura! E que venha a França, nossa velha conhecida!

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