Nossa chegada ao Panamá foi via aérea, pois não existem rodovias que liguem a Colômbia ao país. O Istmo de Darien é uma barreira natural, grande parte pantanosa, que une os dois países e separa a América Central da América do Sul.
Claro que grupos paramilitares e ilegais atuam na área, porém legalmente não há rodovias oficiais que façam a união entre as Américas. Já houve tentativas de construir estradas no início do século XX, porém a grande incidência de doenças tropicais e as difíceis condições de trabalho acabaram por atuar como impedimento na construção dessa ligação tão importante.
Neste trecho a Rodovia Pan-Americana é interrompida e por este motivo embarcamos o Garça num container na cidade de Cartagena, na Colômbia, para a cidade de Colón, no Panamá. Esse transbordo dura em média 3 dias, portanto aproveitamos este tempo para curtir a cidade alegre e barulhenta de Cartagena para depois seguir para a Cidade do Panamá, capital do país, metrópole cheia de arranha-céus.
|
Praça próxima da pousada, com Obelisco em homenagem a Democracia e Liberdade |
|
Dando um giro por perto, pra reconhecer a área |
Ainda na Colômbia, no aeroporto de Cartagena, encontramos a amiga chilena Pamee, que também está viajando e embarcou o carro no mesmo navio que a gente. Como ela estava sozinha, a convidamos para ficar conosco durante esses dias em que temos de esperar os trâmites de nossos carros.
ATENÇÃO:
Há muitas opções de passeios pela Cidade do Panamá e como estávamos sem carro, já na descida no aeroporto acabamos pegando um táxi executivo que nos levou até o endereço de nosso Hostal. O transporte foi rápido e seguro, porém o custo foi exagerado: U$ 40!!!! Infelizmente não encontramos um serviço de informações dentro do aeroporto que nos desse dicas sobre como proceder ou responder nossas perguntas. Dessa forma, descobrimos mais tarde que deveríamos ter seguido a pé até a parte externa do aeroporto e lá tomado um táxi ou então, adquirido um cartão de ônibus dentro do terminal e tomado um bus, que custaria MUITO MENOS!! Como não tínhamos as informações sobre o local, acabamos "entrando pelo cano", mas aprendemos rápido!
|
Vista panorâmica da Ciudad del Panamá, com o Casco Antíguo à direita |
Havíamos feito reserva para 3 dias na Pensión Madrileña por U$ 22 o casal, por dia. O local é simples, mas limpo e extremamente bem localizado. A pé se pode chegar ao centro, ou até a avenida beira mar (Cinta Costeira) ou ainda pegar o ônibus que irá até as estações de ônibus que são interligadas.
Chegamos à tarde e fomos dar uma volta nos quarteirões para nos localizarmos e sentirmos o ambiente. Combinamos de passear no dia seguinte junto com a Pam e conhecermos o famoso e incrível Canal do Panamá!!
Após pegamos informações com o Marcelino, gerente da Pensión, fomos até a rua principal, a uma quadra de distância, onde tomamos nosso café numa barraca. Conversando com a proprietária do local, ela nos deu seu cartão do ônibus com uma passagem de crédito e um cidadão que ali também estava disse que iria pagar os dois outros passes para nós, pois tínhamos de ir até a estação central Albrook. Assim, começando bem o dia, seguimos até a estação Albrook onde teríamos de recarregar o cartão que nos foi dado e pegar outra condução até Miraflores, onde fica o Canal do Panamá.
Conclusão: Cheio de gente boa querendo ajudar. Isso ten sido uma constante até aqui, quando completos desconhecidos nos abordam e oferecem todo tipo de ajuda. Muito gratificante!
A construção do Canal do Panamá foi iniciada pelos franceses em 1880, mas devido à alta mortalidade de seus trabalhadores, parou as obras, que só foram retomadas em 1904, quando os EUA assumiram sua construção e demoraram uma década para concluí-la. Trata-se de um sistema de bloqueios e eclusas para navios e que possui uma extensão de 82 km. No caminho foi criado um lago artificial, Lago Gatún, próximo do Oceano Atlântico, que torna a travessia (elevação dos navios) mais fácil. As últimas obras de adequação das eclusas para navios maiores foram concluídas em 2016.
|
Com Pamee, em Miraflores |
Essa passagem tão importante para encurtar a distância entre o Atlântico e o Pacífico é feita pelos navios em cerca de 20 a 30 horas e hoje é considerada uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno. Importante ressaltar que quando a construção do Canal foi iniciada, este território era colombiano. Depois, passou a ser francês e finalmente norte-americano. Os Estados Unidos controlaram a movimentação náutica no Canal até a assinatura do Tratado de Torrijos-Carter, em 1977, quando passou a ter uma administração conjunta entre os dois países. Só a partir de 1999 que o controle da Canal passou a ser exclusivamente do governo do Panamá.
Quando descobrimos o preço do ingresso para visitar o Canal do Panamá (U$ 20 + U$ 10: museu), desistimos da visita interna (não havia previsão de travessia de navio neste dia) e após dar uma volta pelo lugar, retornamos até Albrook, onde fizemos um lanche e nos informamos como ir até o centro histórico da cidade, conhecido por Casco Viejo ou Casco Antiguo. Um policial escreveu num papel as direções (Calidonia, zona paga del Marañon) e com nosso cartão recarregado e outro que encontramos no chão (e demos pra Pamee, assim ela também tem um) seguimos para o setor histórico.
|
Vista do Casco Viejo - existe uma grande amplitude entre as marés no lado do Pacífico |
A primeira cidade erguida em 1519 foi completamente destruída após 152 anos, a mando do governador Juan Perez de Guzman, que mandou incendiá-la antes do ataque e saque de piratas ingleses. Um ano depois, em 1672, iniciou-se a construção da nova cidade, construída em uma península completamente isolada e protegida por muralhas.
Casco Viejo foi Declarado Patrimônio Histórico da Humanidade em 1997.
O setor hoje abriga inúmeros restaurantes, bares, museus, igrejas históricas e prédios do governo, além de residências particulares com características arquitetônicas diferentes.
|
Catedral Metropolitana |
|
Órgão da Catedral Metropolitana |
|
Coreto na Praça da Independência |
|
Apresentação cultural na Praça da Independência |
A parte antiga da cidade é muito bonita, com muitos prédios históricos sendo reformados. Visitamos algumas igrejas e perambulamos pelas ruas tirando muitas fotos. O contraste entre o estilo colonial da parte antiga da cidade e da moderna Ciudad de Panamá é muito grande!
Decidimos fazer as compras pro nosso jantar à três num mercado popular aqui mesmo e seguimos a pé até nossa hospedagem, distante uns 3 km.
|
Compras feitas para o jantar! |
|
Jantar "chique" a base sanduíche e suco!! |
Pamee irá encontrar sua companheira de viagem amanhã cedo, portanto hoje nos despedimos dela!!!
No dia seguinte exploramos a Cinta Costeira ou Avenida Balboa! A Cinta Costeira tem uma extensão de 26 ha de aterramento marítimo, com 5 mirantes, espelhos d'água e fontes, ciclovia em toda a extensão, parques recreativos e banheiros públicos. Segundo informações, sua construção teve um custo de U$ 190 milhões e a segunda fase da obra, licitada a um custo de U$ 52 milhões, também foi realizada pela Odebrecht, que foi a empresa que ganhou as licitações para a realização do projeto, que ficou lindo!!! (também pudera!!)
|
Passarela sobre a Av. Balboa, em direção à Cinta Costeira |
|
Ciclovia em toda a extensão |
|
Fontes e espelhos d'água |
|
Atividades físicas |
|
Obra realizada pela brasileiríssima Odebrecht(adivinha quem pagou?) |
Depois de um dia de turismo, é hora de trabalhar um pouco. Na manhã seguinte, andamos meia cidade buscando o escritório da empresa que trouxe nosso carro de navio, a Seaboard, para liberação do carro no dia seguinte, em Colón, e para fazermos o SOAT (Seguro Obrigatório de Acidentes de Trânsito) na Fedpa. Papelada feita, voltamos à Pensão Madrileña e nos despedimos do Marcelino, indo em direção ao Albrook, onde pegamos o "busão" intermunicipal pra Colón.
|
Prédios "abandonados" no centro de Colón |
Colón não foi o que esperávamos... cidade abandonada, perigosa e suja, acabou sendo apenas o lugar utilizado para pegarmos o carro. Turismo por aqui, nem pensar! Quando descemos do ônibus no penúltimo ponto antes do terminal e seguimos a pé pela avenida buscando o endereço de nosso Hotel (que havíamos feito reserva no dia anterior), um taxista nos abordou e disse que a região não era propícia para caminhadas! Dissemos que não tínhamos dinheiro para a corrida e ele, preocupado, nos levou de graça, com segurança, até a porta do Hotel Meryland (U$ 40 o pernoite para casal)! Em função da insegurança, acabamos jantando no restaurante do próprio hotel e a comida estava boa, farta e barata (U$ 5 por pessoa)!!
|
Reencontro com Elad e Roy e ainda um outro viajante argentino de moto |
Reencontramos os amigos e companheiros de divisão de container, Roy e Elad, e combinamos como seria a liberação dos carros no porto de Colón no dia seguinte.
Na manhã seguinte, bem cedo, Marcos e os meninos seguiram para o Porto e lá "tomaram um chá de cadeira" de 5 horas! Os trâmites portuários e o serviço de entrega dos carros não correspondem ao preço cobrado: muita má vontade e falta de profissionalismo por parte dos agentes que trabalham neste porto! Enquanto os homens desembaraçavam os carros, eu fiquei no quarto do Hotel atualizando o blog e escrevendo nosso livro! Fui surpreendida por uma pessoa que inadvertidamente entrou no quarto, sem bater, e ficou surpresa com minha presença por lá! Após o susto, mandei ele sair e ele pediu desculpas, perguntando se eu precisava de algo!? Ufa!!!
Às 13h tive de sair do quarto e fiquei esperando na recepção até às 15h, quando finalmente todos retornaram com nossos carros sãos e salvos!
|
Finalmente com nossos carros... despedidas felizes!! |
Despedimo-nos de nossos amigos israelenses e retomamos o caminho para Ciudad de Panamá, parando num posto de combustível com boa infraestrutura uns 30 km antes. Quem reencontramos??? A Pamee com sua companheira, Ivi, e os cachorrinhos!!! Além delas, havia outros viajantes no local e aproveitamos para bater papo e relaxar!!
Tínhamos que devolver um canivete suíco "de estimação" de outro viajante e Alejandro, que havíamos conhecido em El Laguito, Cartagena, veio nos encontrar para pegar a encomenda!
|
Devolvendo a encomenda para Alejandro |
Juan, um caminhoneiro panamenho veio conversar conosco e deu excelentes dicas do que conhecer e lugares bonitos para ver no nosso caminho para a Costa Rica. Marquei tudo no mapa e nos próximos dias iremos visitar pelo menos alguns destes lugares sugeridos.
|
Estacionamento de viajantes na parte traseira do posto, com a Kombi das chilenas e a van dos uruguaios Ana e Cristian |
|
Rumo ao norte/litoral do Pacífico |
|
Passando por cima do Canal do Panamá, ponte das Américas |
Nossa primeira parada após retomarmos o carro foi arrumar o vidro dianteiro do motorista, que resolveu não fechar mais.
Após o conserto em Arraiyán, seguimos até Punta Chame - a primeira dica de Juan - que realmente se mostrou um lugar lindo! Assim com em outras praias, o descuido dos frequentadores é marcante, com lixo e muitas garrafas e latas de cerveja abandonadas na praia. Mesmo assim, o local é bonito e depois de passearmos bastante pela península, optamos por um lugar bacana e protegido (do vento e do sol) para passar a noite. Observamos um casal de surfistas (Miguel e Natália) limpando a praia antes de retornar para Cidade do Panamá (distante 1,5 h)... iniciativas como esta fazem toda a diferença!!!
|
Curtindo o final da tarde |
|
Acampamento na Punta Chame |
|
Windsurf e kitesurf na parte leste da península |
|
Áreas de mangue |
|
Saída de rio para o mar |
Esta península divide o mar em duas porções com características bem diferentes: de um lado é um mar calmo, interno, onde a prática do windsurf e kitesurf são frequentes e a outra parte, com mar aberto e mais ondas, onde os frequentadores são surfistas.
|
Farallón - vista do Pipas Beach Restaurant |
No dia seguinte, paramos em Farallón, outra dica do Juan, 50 km a noroeste do local onde havíamos acampado no dia anterior, no local chamado Pipas Beach Restaurant, onde os Overlanders costumam ficar hospedados gratuitamente, apenas prestando serviços de manutenção e limpeza. Nossa felicidade em chegarmos lá foi descobrir que além de ser um lugar lindíssimo, nossos amigos argentinos que havíamos conhecido em El Laguito - Carlito, Lorena e as filhas Meli e ... - estavam por lá!! Além deles, também havia um casal mexicano em lua-de-mel, Rogélio e Xtel!
|
Hora de arrumar as cabeleiras! |
|
Entardecer em Pipas Beach Restaurant |
|
Grupo de viajantes: Carlos Lizca e família e Rogélio e esposa |
Este restaurante onde acampamos funciona das 9h às 18h aberto ao público, pagando taxa de diária. Cesar, "Cheche", é o gerente do lugar e natural da Venezuela. Assim como outros tantos venezuelanos que conhecemos pelo caminho, ele também abandonou seu país natal buscando uma vida melhor em outro país.
Ficamos dois dias descansando aqui e aproveitando para escrever textos para nosso livro.
|
Hoje tem atum fresco pro jantar!!!(U$ 2,00) |
|
Nosso acampamento no restaurante |
A próxima parada foi em Las Lajas. A temperatura alta estava castigando (em torno de 40°C) e como havia dias que estávamos desconectados, resolvemos acampar no Las Lajas Cabins, por U$10, com internet, banheiro e ducha! A área era bem sombreada e Andrés, espécie de gerente do local, nos mostrou o lugar e onde poderíamos estacionar.
|
Las Lajas Cabins |
|
Cangilones de Gualaca |
Aproveitamos para pesquisar nosso destino no dia seguinte: Cangilones de Gualaca! Este pequeno cânion fica na província de Chiriquí, distante 100 km de onde estávamos. Com pouco mais de 40 m de comprimento, a fenda esconde um corredor de águas cristalinas e límpidas, cheia de peixinhos, e onde pessoas vêm se refrescar. Como estivemos durante a semana, havia poucos frequentadores, mas nos finais de semana este lugar fica cheio de visitantes.
Aproveitamos para nos refrescar e aqui eu, Mari navegadora, cometi um erro. Não observei que nossa entrada na Costa Rica estava prevista pela costa do Atlântico, de modo a conhecermos Limón, no Caribe costa-riquenho. Assim, nosso trajeto deveria ter sido em direção ao Bocas del Toro, caribe panamenho, destino caro, porém lindo, com mar azul turquesa!
No entanto, por descuido, seguimos em direção à divisa de Paso Canoas, passando ao lado do Vulcão Baru, as cidades de Boquete e David e alcançando La Barqueta.
|
Farol de observação do Vulcão Baru, escondido pelas nuvens |
Lá buscamos local para acampar e Alexsander, dono do lugar/restaurante onde paramos permitiu que acampássemos por U$ 3,50 (com direito a ducha e uso dos banheiros). Neste local há área sombreada e o day use é de U$10 por quadrante e U$ 0,50 por ducha ou uso do banheiro (cada vez que usa é cobrado).
|
Restaurante do Alexsander, em La Barqueta, onde acampamos free a convite do proprietário. |
|
Área sombreada, day use |
No dia seguinte, Costa Rica lá vamos nós!!!
O Panamá foi uma agradável surpresa, pois não tínhamos expectativas em relação ao país e descobrimos que se trata de um povo batalhador, que sofreu muitos anos com a ditadura de Noriega e teve a intervenção americana como divisor de águas, redefinindo sua economia, substituindo o balboa pelo dólar americano entre outras medidas e que hoje busca por melhor qualidade de vida, criando políticas públicas de preservação ambiental.
Sem dúvida, um destino interessante e muito bonito para conhecer!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato por visitar o ViagemFamilia. Críticas, elogios e quaisquer comentários são desejados, desde que feitos em terminologia ética e adequada.
SE FIZER QUESTIONAMENTOS POR FAVOR DEIXE ALGUMA FORMA DE CONTATO PARA POSSIBILITAR A RESPOSTA, COMO E-MAIL, POR EXEMPLO