Viagem Família______________________________________

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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Sergipe, o menor estado da Federação

Moreia no Oceanário de Aracaju - Projeto TAMAR

Sergipe era o último estado da Federação que não conhecíamos e nossa aventura aqui começou no sertão, no município vizinho à Piranhas (Alagoas), Canindé de São Francisco. 

Praia do Rio São Francisco, ao fundo Represa de Xingó, município de Canindé do São Francisco

Localizado às margens do Velho Chico, no extremo oeste do estado, a cidade de Canindé do São Francisco é portal de entrada dos passeios turísticos pelo cânion do rio (assim como a vizinha Piranhas) e também foi o cenário usado pela Globo para filmar a telenovela Velho Chico (durante as filmagens o ator Domingos Montagner veio a falecer, se afogando no rio).

UM POUCO DE HISTÓRIA

O território foi explorado pela primeira vez em 1629, durante o processo de bandeiras, e Canindé fazia parte de uma sesmaria de 30 léguas, cujas terras haviam sido doadas pelo Desembargador Cristóvão Burgos e Contreiras (da Bahia). No final do séc. XIX só havia 4 fazendas na região e numa delas foi implantado um curtume. Este curtume acabou virando uma indústria e atraiu inúmeros trabalhadores para a região até 1940, quando foi desativado.

Daqui também saem os passeios para visitar o Monumento Natural do Rio São Francisco (parque nacional), as visitas guiadas para a Usina Hidrelétrica de Xingó e o maravilhoso e rico MAX - Museu de Arqueologia de Xingó, onde foi nossa primeira parada. 

Com nosso guia, Felipe

Carinhosamente apelidado de MAX, o Museu de Arqueologia de Xingó foi inaugurado em 2000 com material resultante do salvamento arqueológico realizado pela UFS em parceria com a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) de 1988 à 1997. Seu acervo contém mais de 50 mil peças de arte rupestre, esqueletos humanos e diversos utensílios descobertos durante as pesquisas em sítios arqueológicos da região (41 sítios ficam na jusante da represa e 214 na foz), antes do alagamento provocado pela represa hidrelétrica de Xingó.


O Cemitério do Justino, descoberto em 1991, continha 188 esqueletos com seus adornos e pertences de vida

 Material lítico, cerâmico e malacológico (elaborado de conchas e ossos).

O Felipe foi nosso guia durante a visita monitorada e acabamos batendo um longo papo com ele, discutindo sobre as teorias de formação e ocupação da área, bem como pegando dicas para nossa próxima parada: Grota do Angico.

Normalmente as pessoas visitam o local onde Lampião e seu bando foram encurralados e mortos via Rio São Francisco (num passeio de barco), porém nós havíamos visto que existe caminho por terra para lá e assim, parando e perguntando algumas vezes e usando o Maps.me acabamos chegando ao Centro de Visitantes da Grota do Angico, porém o horário já era adiantado e o James, segurança do local, nos sugeriu acamparmos na praia do Restaurante Cangaço EcoPark, distante uns 2 km dali e voltar no dia seguinte para aproveitar o passeio com plenitude.


Restaurante Cangaço EcoPark




As piabas fazem companhia

Agradecemos a sugestão e seguimos o conselho. O acesso ao Restaurante era uma pirambeira só, mas o local era sombreado e plano e o pessoal que trabalha no local foi muito atencioso e prestativo. Aproveitamos para tomar banho na praia do rio, cercados por piabas e depois tivemos todo o lugar para nós, pois os funcionários todos foram embora (pelo rio).

Dentro do Museu do Mona, com James "escondido"


Lampião ("cabra da peste") e Maria Bonita

No dia seguinte voltamos ao Centro de Visitantes do Mona (Monumento Natural Grota do Angico) e James nos recebeu, indicando o caminho/trilha a ser seguido. Tivemos a companhia de 2 rapazes, Rafael e Thierry, que também estavam lá para conhecer o local da campanha.  O local é um patrimônio ambiental e cultural da Sergipe, pois preserva a rica biodiversidade da Caatinga além de marcar o fim do cangaço na história brasileira.

Iniciando a trilha, em companhia de Thierry e Rafael



Em 1938, Virgulino Ferreira, o Lampião, sua companheira, Maria Bonita, e outros cangaceiros foram mortos numa emboscada arquitetada pelos volantes (pessoas do exército junto com a população para combater os cangaceiros) a partir das informações obtidas do coiteiro (auxiliar, informante) que estava em Piranhas, fazendo compras para o bando.



Marcas de projéteis nas rochas deixam claro que o tiroteio foi feio!



Bate papo com os novos amigos

Chegamos ao local do embate e verificamos as marcas de projéteis nas pedras, observados de perto por saguis e mocós que ali vivem.


Depois do passeio histórico, pegamos a SE 200 em direção à Gararu, cidadezinha localizada às margens do rio. No trajeto, plantações de quiabo e milharais a perder de vista.

Porto da balsa, em Gararu

Cavalos que atravessaram o rio São Francisco a nado

Depois de uma passagem por Penedo, no Alagoas, voltamos a Sergipe cruzando pela última vez o Velho Chico e aportando em Neópolis. Dali, seguimos direto para a praia, em Pirambu, onde queríamos conhecer o Projeto TAMAR.

Debaixo de chuva forte, encontramos o local fechado e um funcionário (do ICMBio) nos atendeu, explicando os procedimentos e nos apresentando a Jaqueline, responsável pelo TAMAR propriamente dito (em outro endereço).

Com Jaqueline e sua filha

O bate papo com a Jaqueline foi ótimo e ela nos explicou todo o trabalho realizado pela ONG, assim como explicou a atual “parceria” com o ICMBio, além de nos levar para passear pela orla, mostrando os locais de desova das tartarugas, incidência de espécies e quantidade de ninhos, ... foi top! Pena não termos conseguido acampar por aqui, pois a chuva forte com vento afastou a possibilidade de ficarmos na praia e não havia opção de acomodação na cidadezinha. Assim, seguimos até um posto de combustíveis em Japaratuba (cidade famosa pela nascente cristalina, Banho de Prata), onde o Enderson permitiu que parássemos debaixo de uma área protegida e coberta.

CURIOSIDADES

A origem do nome Sergipe também é da língua tupi antiga e significa “no rio dos siris” (referindo-se ao rio Sergipe). Os primeiros indícios de vida humana na região datam de 9000 a.C. e através da coleta e estudo dos achados arqueológicos entende-se que houve três culturas na região: Canindé, Aratu e Tupi-guarani.

Inicialmente os portugueses não deram muita atenção ao território, deixando espaço para que os franceses comercializassem pau-brasil com os indígenas locais. Apenas após 1590, quando o arraial e vila de São Cristóvão foi fundado, é que o desenvolvimento chegou à região. Produtora de cana-de-açúcar e também forte na pecuária, acabou sendo disputada por holandeses. A capitania de Sergipe foi reanexada à da Bahia em 1763, desgostando a população local. Apenas após a Independência do Brasil é que Sergipe passou a ser província e em 1855 transferiu a capital da província para a planejada Aracaju.

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Laranjeiras

Interior da Igreja Matriz, pinturas do forro da capela atribuídas ao pintor baiano José Teófilo de Jesus

Foi na costa sergipana que ocorreram os 3 naufrágios durante a 2ª Guerra Mundial, quando o submarino alemão U-507 bombardeou os navios Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo, causando a ruptura de relações entre o Brasil e o Eixo e provocando a entrada do Brasil no conflito.

O estado é importante produtor de frutas, mas sua atividade econômica principal é a produção de açúcar. A exploração de recursos minerais também se sobressai, explorando petróleo, gás natural, calcário e potássio.

Calçamento original na cidade de Laranjeiras com o Marco da Cidade

Próxima parada: Laranjeiras! Cidade com prédios e igrejas datadas dos séculos XVII e XVIII, foi fundada em 1832 e ainda hoje é uma importante cidade sergipana, denominada “Atenas sergipana” (por ter sido o maior centro cultural e artístico de Sergipe)!

Rua pedonal no setor histórico da cidade



Mansão dos Rollemberg, atualmente Campus da Universidade Federal de Sergipe

A cidade funcionou como entreposto de especiarias e possuía alfândega (a primeira de Sergipe, de 1836), responsável pela exportação de todos os produtos comercializados pelo estado. O porto das laranjeiras, que identificou o local inicialmente, era o local onde se escoava a produção de cana-de-açúcar, gado e coco da cidade, intensificando o comércio local e fez a cidade crescer. Também aqui ocorria o escambo de escravos, mão de obra utilizada no cultivo da terra.


Igreja Presbiteriana (1884)

Infelizmente, a cidade que recebeu a visita de D. Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Teresa Cristina, em 1860, está meio abandonada... muito casario antigo está ruindo e há locais fechados ou parcialmente demolidos em todo lugar. Locais explicaram que este abandono se deve ao fato de que as famílias da elite se mudaram para a capital, Aracaju, no fim do séc. XIX, distante poucos km e vendendo os sobrados a preços baixos e muitos foram demolidos para venda do material!!!

Museu Afro

Lá no alto, Ig. do Sr. do Bonfim

Passeamos pelo centro histórico, tentamos pegar o mapa turístico da cidade (havia acabado há tempos) no Centro de Informação Turística e acabamos tirando uma foto do mapa de atrações exposto no hall para nos localizarmos. Na Câmara de Vereadores da cidade conhecemos o Guilherme, que gentilmente nos mostrou o local e contou as histórias da cidade.  

Com Guilherme, funcionária da Câmara de Vereadores da cidade



Ruínas da Igreja N. Sra. da Conceição dos Pardos

Depois de muita caminhada, voltamos pro Garça e seguimos para a capital, diretamente até a praia do Atalaia, onde há um local de acolhimento para viajantes. Lá conhecemos o Roger, a Leidi e o Biribinha, que acabaram sendo nossos vizinhos e companheiros de bate papo e comidinhas nos próximos dias.

Arcos da Orla de Aracaju

ARACAJU

O nome da capital do estado também tem origem tupi e segundo Eduardo Navarro, significa “cajueiro dos arás”. Já no popular a visão que se tem é que significa “ara = arara; caju = cajueiro”.

Fundada em 1855, Aracaju foi a segunda capital planejada de um estado (a primeira foi Teresina, no Piauí) no país. Projetada geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, de modo que as ruas todas desemboquem no rio Sergipe, substituiu a antiga capital da Capitania do Sergipe, São Cristóvão, localizada a 18 km de distância.

Parque linear da Orla do Atalaia

Nosso acampamento, na Atalaia


A Orla do Atalaia é um dos principais cartões postais da cidade. Possui 6 km de extensão, um parque linear (com quadras poliesportivas, kartódromo, beach tenis, rampas de skate e patins) situados na beira mar, com restaurantes e hotéis integrados à orla. O local onde há acolhimento para motorhomes fica próximo dos Arcos da Orla e também da Passarela do Caranguejo.







O Oceanário de Aracaju fica ali perto e ali funciona o Centro de Visitantes do TAMAR. Jaqueline havia conseguido nosso ingresso gratuito (caso contrário, o custo seria de R$ 25,00 por pessoa - U$5) e aproveitamos para ver os animais marinhos nos 18 aquários (5 de água doce e 13 de água salgada) e tanques distribuídos na área.





Inaugurado em 2002, o oceanário recebe mensalmente cerca de 10 mil visitantes que podem ver cerca de 70 espécies diferentes. Já na entrada fica o maior aquário que abriga cerca de 30 espécies (moreias, xaréus, meros, arraias, tubarões). Ficamos horas lá admirando os bichinhos, assistindo os vídeos e conversando com os monitores, super atenciosos.

Passeio de Marinete, com Mário e Roger

Fizemos o passeio gratuito na Marinete do Forró (dica do Roger), que passa pelo centro histórico e também outras atrações da cidade, ao som do melhor forró (ao vivo e em cores) e animado pelos bailarinos caracterizados! A primeira parada foi no Museu da Gente Sergipana (gratuito), onde tiramos fotos dos bonecos gigantes e do rio Sergipe. A ponte estaiada Ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros.




A 2ª parada foi no Centro de Artesanato onde acabamos fazendo umas comprinhas e a 3ª parada foi no Palácio do Governo (usado até meados dos anos 1990).




Noutra ocasião, fomos visitar o Mercado Central e Mercado de Artesanato, um paraíso para quem gosta de temperos, ervas, curiosidades, alimentos exóticos etc e tal!




Molho de pimenta "Chora, Negão!"

Quando deixamos Aracaju para trás, já era um pouco tarde para visitarmos São Cristóvão. Então... teremos de voltar um dia para conhecer a cidade que foi a primeira capital do estado!

Na praia de Abais acabamos encontrando um local top para pernoitarmos, ao lado do Estação Lord Beach, cujos proprietários Jane e Giovani permitiram que acampássemos. O local ainda é pouco explorado e mais parece uma vila de pescadores! Uma delícia!!

O paraíso de Abais

Na famosa Praia do Saco não vimos nada de especial! Dali saem os passeios de lancha para a famosa (e Global rsrsrs) Praia do Mangue Seco, localizada já na Bahia. Os passeios custam R$ 250,00 (U$50) para 5 pessoas).

Nossa estada no Sergipe chegou ao fim. Ainda há muito a explorar neste pequeno, mas bonito, estado.  



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