Nossa decisão de deixar a Europa após dois anos de permanência e aventuras por lá se deu na cidade de Hamburgo, localizada na Baixa Saxônia, norte da Alemanha.
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Vista noturna da cidade antiga, às margens do Binnenalster |
Segunda maior cidade da Alemanha e oficialmente denominada Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo, a cidade conta com 1,840 milhões de habitantes, sendo senão a mais rica, uma das mais ricas deste país e da Europa. Ao contrário de outras grandes cidades como Munique - que já foi capital da Baviera - ou Berlim - que foi capital da Prússia e hoje é a capital do país - Hamburgo nunca foi capital de um império, reino ou país, nunca tendo sido regida por um monarca.
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Estação central de trem (1906) |
Chegamos à cidade de trem, vindos de Bremerhaven, onde deixamos nosso Garça no porto para ser enviado à Colômbia, iniciando nossa volta ao Brasil. Já sabíamos que a cidade tinha muita beleza e história para conhecer, mas fomos surpreendidos com a riqueza e com as construções lindas que visitamos em um único dia intenso de passeio.
Escolhemos fazer o caminho a pé entre a estação de trem e o Instant Sleeping Hostal, pois assim já conhecíamos um pouco a cidade, sob um outro olhar, pois já estava anoitecendo. A distância de 4,5 km foi percorrida em pouco mais de uma hora, parando aqui e ali para tirar fotos e se localizar no Maps.me.
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Espécie de teatro ou cinema, tomando pelos homeless |
Como ainda estávamos em plena época de COVID -19, tivemos de apresentar um PCR para ingressar no hostal, pois não tínhamos o cartão de vacinação e havia pouco tempo (uns 2 meses) este cartão passou a ser exigido em algumas situações. O teste foi realizado rapidamente numa farmácia localizada a umas 5 quadras do hostal, numa região muito linda, cheia de prédios históricos e um calçadão onde as pessoas se reuniam para conversar e beber.
Como a cidade é muito grande, ela não foge dos problemas enfrentados pelas grandes cidades: a grande quantidade de moradores de rua nos chamou a atenção. Morando debaixo de marquises ou perambulando pelas ruas à toa, eles estavam espalhados por toda a região central e perto dos restaurantes.
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Delicioso kebab |
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Delicioso falafel |
Naquela noite, optamos por comer uma comida típica "turca" (de origem do Oriente Médio) e a senhora que nos atendeu foi super solícita e agradável. Estávamos tendo dias bem difíceis* e aquele manjar "foi dos deuses"!
*dias difíceis, pois nosso Garça fundiu o motor a caminho do porto de Bremerhaven e tivemos um baita contratempo para trazê-lo, em tempo, para entregá-lo. Mas esta já é outra história, que contaremos a seguir, no próximo texto!
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Igreja de São Miguel - Michaeliskirche (1647): é a maior igreja da cidade, com 2500 lugares. Seu pináculo de bronze de 132 m de altura pode ser visto de quase toda a cidade. |
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Estátua de Martinho Lutero, fundador do luteranismo |
O dia seguinte foi dedicado a andar meio sem rumo pela cidade histórica e explorar um pouco os canais, onde ficavam/ficam as docas de onde chegavam e saíam as mercadorias que movimentavam e continuam movimentando a cidade. O clima estava ameno e o sol brilhava timidamente, mas conhecendo um pouco a Alemanha no outono, usamos nossas jaquetas a prova d'água e guarda-chuva, o que foi super útil, pois a chuva também marcou presença algumas vezes ao longo do dia!
Conhecendo um pouco da história desta cidade linda...
A primeira construção permanente erigida neste local e que deu origem à cidade foi um castelo, construído por ordem de Carlos Magno no ano de 808. Este castelo, construído na confluência dos rios Elba e Alster tinha como função fazer a defesa das terras contra as incursões eslavas. O castelo chamava-se Hammaburg, onde burg significa castelo e Hamma não tem uma origem certa, podendo tanto se referir a um ângulo quanto a uma pastagem ou então referindo-se a uma vilazinha ali próxima, chamada de Hamm.
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Canais que circundam a cidade |
Vikings e poloneses invadiram o território diversas vezes, sempre destruindo e incendiando a cidade. Em 1189, o rei Frederico I - Barba Ruiva - deu a Hamburgo o título de Cidade Livre Imperial e com isto ela estava livre de pagar impostos. Sendo um porto importantíssimo já naquela época, ela passou a fazer parte da rota de comércio dos mares do Norte e Báltico. Posteriormente ela se aliou a outra cidade, Lübeck (1241), e assim surge a liga de cidades comerciais conhecida como Liga Hanseática (e que dá nome à cidade).
Hamburgo adotou oficialmente o luteranismo em 1529 e recebeu refugiados que foram expulsos de outras regiões, como os Países Baixos, França e Áustria, por exemplo. Em sua história também há uma passagem rápida das tropas de Napoleão pelo seu território (1810 - 1814) e em 1842 a cidade foi consumida durante 4 dias por um incêndio que destruiu 3 igrejas, a prefeitura e inúmeros prédios. Vinte mil pessoas ficaram desabrigadas e 51 perderam a vida.
CURIOSIDADE: a origem do hamburguer, tão difundido em sanduíches, é Hamburgo, daí o seu nome! Os marinheiros hamburgueses aprenderam com os marinheiros russos (que absorveram este conhecimento dos mongóis) a comer uma carne picada na ponta de faca. Alguns estabelecimentos nas proximidades do porto de New York passaram a preparar esta iguaria para atrair os marinheiros hamburgueses e assim, nascia o hamburguer!
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Ruínas da Igreja de São Nicolau (St. Nikolai Kirche) |
A Igreja de São Nicolau inicia sua história nos idos de 1195, quando foi construída uma pequena capela perto do porto, homenageando o patrono dos marinheiros e viajantes. Ela foi destruída no grande incêndio, em 1842, quando já era uma grande igreja e depois disso, reconstruída em estilo neogótico, com uma torre de 147m de altura, que já foi a mais alta do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, a torre serviu de referência para os intensos ataques e bombardeios que Hamburgo sofreu, tendo sido praticamente toda destruída. Esta operação, conhecida por Operação Gomorra, tinha por objetivo desmoralizar o povo germânico. Durante o dia a cidade era bombardeada pelos norte-americanos, atingindo fábricas e frotas de navios e durante a noite, os aviões ingleses atacavam zonas residenciais.
É possível visitar o alto da torre, utilizando um elevador para isto. Também há um Museu no local da cripta, onde se pode conhecer melhor a história da igreja e de como Hamburgo foi alvo de ataques aéreos intensos durante e IIWW.
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Escultura "Exame" (Prüfung) de Edith Breckwoldt - as pedras da base foram retiradas de campos de concentração localizados nos arredores da cidade |
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Hamburger Rathaus (Prefeitura de Hamburgo) |
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Hamburger Rathaus, ou Prefeitura de Hamburgo, é a sede do poder executivo e legislativo da cidade. Localizado na Alstadt (Cidade Antiga), na praça Rathausmarkt e muito próximo do lado Binnenalster (Lago interno) e da estação ferroviária central, onde chegamos na cidade.
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O edifício possui 647 aposentos, 7 a mais que o Palácio de Buckingham, em Londres |
Após o grande incêndio de 1842, boa parte do centro da cidade antiga teve de ser reconstruído, incluindo a antiga prefeitura, que foi dinamitada para impedir as chamas de prosseguir a destruição que já durava dias. Assim, por 40 anos foi planejado o novo prédio, maior e mais amplo. Finalmente construída em estilo renascentista, entre os anos 1886 e 1897, sua torre mais alta tem 112 m de altura a nova prefeitura foi instalada no local do antigo convento Johanniskloster, que lá estava desde 1230! Com uma área total de 17000m², 112 m de altura e 112 m de comprimento por 78 m de largura, tornou-se um grande cartão postal da cidade.
Para a construção do Rathaus foram gastos mais de 11 milhões de Marcos de ouro, uma fábula!! Como a região onde está edificada é pantanosa, utilizou-se técnica de construção parecida com as de Veneza, colocando 4000 troncos de árvores no solo para dar sustentação ao prédio.
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Obelisco localizado no Rathausmarkt (Praça da Prefeitura) |
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Canal norte do rio Elba |
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Igreja São Pedro (Petrikirche) |
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Igreja de São Pedro ou
Hauptkirche St. Petri é a mais antiga da cidade. Sua primeira construção foi terminada em 1195, reconstruída no séc. XIV e ampliada no séc. XV. No grande incêndio de 1842, foi destruída e dois anos mais tarde, reiniciou-se sua reconstrução, que levou 5 anos.
Finalmente chegamos ao canal principal do rio Elba, entrada do porto e local cheio de atrações. Interessantíssimo ver os armazéns onde ainda hoje estocam tapetes vindos do Oriente. Os navios entravam por estes canais e descarregaram as especiarias e demais mercadorias diretamente nos armazéns, que tinham sistemas de roldanas e gruas para efetuar o transporte.
Os antigos armazéns da cidade foram construídos em 1881, onde eram guardados chás, cafés, temperos e outras mercadorias. O fundamento dos prédios é todo feito em madeira (como Veneza). Calcula-se que foram necessárias 1 milhão de estacas no solo para dar estrutura para os prédios.
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Canais do Elba e os armazéns que estocam produtos até os dias atuais |
O rio Elba (Elbe, em alemão) nasce na divisa entre a Polônia e a Rep. Tcheca e possui 1165 km de extensão. Quando este está muito alto, os barcos não conseguem passar por debaixo de suas pontes. Os canais do Elba são chamados de fleete, e desde a Idade Média cortam o centro histórico da cidade.
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O porto de Hamburgo é um dos mais antigos em funcionamento no mundo: iniciou suas atividades no ano 1153!!!! Foi daqui que partiram milhares de ingleses, holandeses e judeus russos para New York |
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No canto esquerdo, o famoso prédio da Filarmônica do Elba, o Elbphilharmonie |
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70% de todo o chá consumido na Europa é transportado para cá, para depois ser distribuído para os países! Nosso café brasileiro também era exportado para a Europa usando o porto de Hamburgo |
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Hamburgo possui 2,3 mil pontes, mais que as famosas Veneza e Amsterdã |
Passeando pelo Hafencity (cidade portuária), finalmente chegamos ao famoso e incrível Sankt Pauli Elbtunnel, ou Alter Elbtunnel. Construído no começo do séc. XX (1907-1911) o túnel tinha como objetivo ligar os bairros de Landungsbrücken e Steinwerder, pois uma média de 50 mil trabalhadores atravessavam o rio todos os dias e as barcas usadas para este transporte não suportavam amis o grande e crescente volume de gente. Como uma ponte elevada ou móvel estavam fora de cogitação, em 1901 o senado de Hamburgo aprovou o projeto e foram iniciadas as obras.
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Antigo Elbtunnel: cúpula de cobre e torre de pedra em estilo Art Nouveu |
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Seis grandes elevadores fazem o transporte de veículos e pedestres até o fundo do túnel |
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425,5 m de comprimento a 24 m de profundidade |
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As paredes do túnel são adornadas com esculturas feitas em terracota vitrificada |
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Dentro do elevador |
Quando deixamos o Elbtunnel para trás já era fim de tarde. Após um dia intenso, onde percorremos por volta de 18 km a pé, retornamos para nosso hostal já bastante cansados. No dia seguinte, estávamos nos despedindo da Alemanha e da Europa.
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Resolvemos ir a pé até o aeroporto: mais 12 km, com direito a chuvinha fina e temperatura em torno de 10 graus |
Nosso voo para a Colômbia saiu de Hamburgo, com escalas em Madri e Bogotá, para finalmente nos deixar em Cartagena. Mas esta já é outra história...
Que experiência maravilhosa Mari!! Amei conhecer um pouco mais de Hamburgo!! Valeu ;)
ResponderExcluirObrigada(o) pelo apoio.
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