Viagem Família______________________________________

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domingo, 7 de novembro de 2021

Despedida da Europa em grande estilo: Hamburgo e seus encantos!

Nossa decisão de deixar a Europa após dois anos de permanência e aventuras por lá se deu na cidade de Hamburgo, localizada na Baixa Saxônia, norte da Alemanha.

Vista noturna da cidade antiga, às margens do Binnenalster

Segunda maior cidade da Alemanha e oficialmente denominada Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo, a cidade conta com 1,840 milhões de habitantes, sendo senão a mais rica, uma das mais ricas deste país e da Europa. Ao contrário de outras grandes cidades como Munique - que já foi capital da Baviera - ou Berlim - que foi capital da Prússia e hoje é a capital do país - Hamburgo nunca foi capital de um império, reino ou país, nunca tendo sido regida por um monarca. 

Estação central de trem (1906)

Chegamos à cidade de trem, vindos de Bremerhaven, onde deixamos nosso Garça no porto para ser enviado à Colômbia, iniciando nossa volta ao Brasil. Já sabíamos que a cidade tinha muita beleza e história para conhecer, mas fomos surpreendidos com a riqueza e com as construções lindas que visitamos em um único dia intenso de passeio. 

Escolhemos fazer o caminho a pé entre a estação de trem e o Instant Sleeping Hostal, pois assim já conhecíamos um pouco a cidade, sob um outro olhar, pois já estava anoitecendo. A distância de 4,5 km foi percorrida em pouco mais de uma hora, parando aqui e ali para tirar fotos e se localizar no Maps.me. 


Espécie de teatro ou cinema, tomando pelos homeless

Como ainda estávamos em plena época de COVID -19, tivemos de apresentar um PCR para ingressar no hostal, pois não tínhamos o cartão de vacinação e havia pouco tempo (uns 2 meses) este cartão passou a ser exigido em algumas situações. O teste foi realizado rapidamente numa farmácia localizada a umas 5 quadras do hostal, numa região muito linda, cheia de prédios históricos e um calçadão onde as pessoas se reuniam para conversar e beber. 

Como a cidade é muito grande, ela não foge dos problemas enfrentados pelas grandes cidades: a grande quantidade de moradores de rua nos chamou a atenção. Morando debaixo de marquises ou perambulando pelas ruas à toa, eles estavam espalhados por toda a região central e perto dos restaurantes. 

Delicioso kebab

Delicioso falafel

Naquela noite, optamos por comer uma comida típica "turca" (de origem do Oriente Médio) e a senhora que nos atendeu foi super solícita e agradável. Estávamos tendo dias bem difíceis* e aquele manjar "foi dos deuses"!

*dias difíceis, pois nosso Garça fundiu o motor a caminho do porto de Bremerhaven e tivemos um baita contratempo para trazê-lo, em tempo, para entregá-lo. Mas esta já é outra história, que contaremos a seguir, no próximo texto!

Igreja de São Miguel - Michaeliskirche (1647): é a maior igreja da cidade, com 2500 lugares. Seu pináculo de bronze de 132 m de altura pode ser visto de quase toda a cidade.  

Estátua de Martinho Lutero, fundador do luteranismo

O dia seguinte foi dedicado a andar meio sem rumo pela cidade histórica e explorar um pouco os canais, onde ficavam/ficam as docas de onde chegavam e saíam as mercadorias que movimentavam e continuam movimentando a cidade. O clima estava ameno e o sol brilhava timidamente, mas conhecendo um pouco a Alemanha no outono, usamos nossas jaquetas a prova d'água e guarda-chuva, o que foi super útil, pois a chuva também marcou presença algumas vezes ao longo do dia! 

Conhecendo um pouco da história desta cidade linda...

A primeira construção permanente erigida neste local e que deu origem à cidade foi um castelo, construído por ordem de Carlos Magno no ano de 808. Este castelo, construído na confluência dos rios Elba e Alster tinha como função fazer a defesa das terras contra as incursões eslavas. O castelo chamava-se Hammaburg, onde burg significa castelo e Hamma não tem uma origem certa, podendo tanto se referir a um ângulo quanto a uma pastagem ou então referindo-se a uma vilazinha ali próxima, chamada de Hamm.  


Canais que circundam a cidade

Vikings e poloneses invadiram o território diversas vezes, sempre destruindo e incendiando a cidade. Em 1189, o rei Frederico I - Barba Ruiva - deu a Hamburgo o título de Cidade Livre Imperial e com isto ela estava livre de pagar impostos. Sendo um porto importantíssimo já naquela época, ela passou a fazer parte da rota de comércio dos mares do Norte e Báltico. Posteriormente ela se aliou a outra cidade, Lübeck (1241), e assim surge a liga de cidades comerciais conhecida como Liga Hanseática (e que dá nome à cidade).

Hamburgo adotou oficialmente o luteranismo em 1529 e recebeu refugiados que foram expulsos de outras regiões, como os Países Baixos, França e Áustria, por exemplo. Em sua história  também há uma passagem rápida das tropas de Napoleão pelo seu território (1810 - 1814) e em 1842 a cidade foi consumida durante 4 dias por um incêndio que destruiu 3 igrejas, a prefeitura e inúmeros prédios. Vinte mil pessoas ficaram desabrigadas e 51 perderam a vida. 

CURIOSIDADE: a origem do hamburguer, tão difundido em sanduíches, é Hamburgo, daí o seu nome! Os marinheiros hamburgueses aprenderam com os marinheiros russos (que absorveram este conhecimento dos mongóis) a comer uma carne picada na ponta de faca. Alguns estabelecimentos nas proximidades do porto de New York passaram a preparar esta iguaria para atrair os marinheiros hamburgueses e assim, nascia o hamburguer! 

Ruínas da Igreja de São Nicolau (St. Nikolai Kirche)

 


A Igreja de São Nicolau inicia sua história nos idos de 1195, quando foi construída uma pequena capela perto do porto, homenageando o patrono dos marinheiros e viajantes. Ela foi destruída no grande incêndio, em 1842, quando já era uma grande igreja e depois disso, reconstruída em estilo neogótico, com uma torre de 147m de altura, que já foi a mais alta do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, a torre serviu de referência para os intensos ataques e bombardeios que Hamburgo sofreu, tendo sido praticamente toda destruída. Esta operação, conhecida por Operação Gomorra, tinha por objetivo desmoralizar o povo germânico. Durante o dia a cidade era bombardeada pelos norte-americanos, atingindo fábricas e frotas de navios e durante a noite, os aviões ingleses atacavam zonas residenciais.


É possível visitar o alto da torre, utilizando um elevador para isto. Também há um Museu no local da cripta, onde se pode conhecer melhor a história da igreja e de como Hamburgo foi alvo de ataques aéreos intensos durante e IIWW.

Escultura "Exame" (Prüfung) de Edith Breckwoldt - as pedras da base foram retiradas de campos de concentração localizados nos arredores da cidade


Hamburger Rathaus (Prefeitura de Hamburgo)

O Hamburger Rathaus, ou Prefeitura de Hamburgo, é a sede do poder executivo e legislativo da cidade. Localizado na Alstadt (Cidade Antiga), na praça Rathausmarkt e muito próximo do lado Binnenalster (Lago interno) e da estação ferroviária central, onde chegamos na cidade. 

O edifício possui 647 aposentos, 7 a mais que o Palácio de Buckingham, em Londres

Após o grande incêndio de 1842, boa parte do centro da cidade antiga teve de ser reconstruído, incluindo a antiga prefeitura, que foi dinamitada para impedir as chamas de prosseguir a destruição que já durava dias. Assim, por 40 anos foi planejado o novo prédio, maior e mais amplo. Finalmente construída em estilo renascentista, entre os anos 1886 e 1897, sua torre mais alta tem 112 m de altura a nova prefeitura foi instalada no local do antigo convento Johanniskloster, que lá estava desde 1230! Com uma área total de 17000m², 112 m de altura e 112 m de comprimento por 78 m de largura, tornou-se um grande cartão postal da cidade. 


Para a construção do Rathaus foram gastos mais de 11 milhões de Marcos de ouro, uma fábula!! Como a região onde está edificada é pantanosa, utilizou-se técnica de construção parecida com as de Veneza, colocando 4000 troncos de árvores no solo para dar sustentação ao prédio. 

Obelisco localizado no Rathausmarkt (Praça da Prefeitura)

Canal norte do rio Elba


Igreja São Pedro (Petrikirche)

A Igreja de São Pedro ou Hauptkirche St. Petri é a mais antiga da cidade. Sua primeira construção foi terminada em 1195, reconstruída no séc. XIV e ampliada no séc. XV. No grande incêndio de 1842, foi destruída e dois anos mais tarde, reiniciou-se sua reconstrução, que levou 5 anos. 




Finalmente chegamos ao canal principal do rio Elba, entrada do porto e local cheio de atrações. Interessantíssimo ver os armazéns onde ainda hoje estocam tapetes vindos do Oriente. Os navios entravam por estes canais e descarregaram as especiarias e demais mercadorias diretamente nos armazéns, que tinham sistemas de roldanas e gruas para efetuar o transporte.

Os antigos armazéns da cidade foram construídos em 1881, onde eram guardados chás, cafés, temperos e outras mercadorias. O fundamento dos prédios é todo feito em madeira (como Veneza). Calcula-se que foram necessárias 1 milhão de estacas no solo para dar estrutura para os prédios.

Canais do Elba e os armazéns que estocam produtos até os dias atuais



O rio Elba (Elbe, em alemão) nasce na divisa entre a Polônia e a Rep. Tcheca e possui 1165 km de extensão. Quando este está muito alto, os barcos não conseguem passar por debaixo de suas pontes. Os canais do Elba são chamados de fleete, e desde a Idade Média cortam o centro histórico da cidade. 


O porto de Hamburgo é um dos mais antigos em funcionamento no mundo: iniciou suas atividades no ano 1153!!!! Foi daqui que partiram milhares de ingleses, holandeses e judeus russos para New York

No canto esquerdo, o famoso prédio da Filarmônica do Elba, o Elbphilharmonie

70% de todo o chá consumido na Europa é transportado para cá, para depois ser distribuído para os países! Nosso café brasileiro também era exportado para a Europa usando o porto de Hamburgo

Hamburgo possui 2,3 mil pontes, mais que as famosas Veneza e Amsterdã

Passeando pelo Hafencity (cidade portuária), finalmente chegamos ao famoso e incrível Sankt Pauli Elbtunnel, ou Alter Elbtunnel. Construído no começo do séc. XX (1907-1911) o túnel tinha como objetivo ligar os bairros de Landungsbrücken e Steinwerder, pois uma média de 50 mil trabalhadores atravessavam o rio todos os dias e as barcas usadas para este transporte não suportavam amis o grande e crescente volume de gente. Como uma ponte elevada ou móvel estavam fora de cogitação, em 1901 o senado de Hamburgo aprovou o projeto e foram iniciadas as obras. 

Antigo Elbtunnel: cúpula de cobre e torre de pedra em estilo Art Nouveu




Seis grandes elevadores fazem o transporte de veículos e pedestres até o fundo do túnel




425,5 m de comprimento a 24 m de profundidade



As paredes do túnel são adornadas com esculturas feitas em terracota vitrificada

Dentro do elevador


Quando deixamos o Elbtunnel para trás já era fim de tarde. Após um dia intenso, onde percorremos por volta de 18 km a pé, retornamos para nosso hostal já bastante cansados. No dia seguinte, estávamos nos despedindo da Alemanha e da Europa. 

Resolvemos ir a pé até o aeroporto: mais 12 km, com direito a chuvinha fina e temperatura em torno de 10 graus







Nosso voo para a Colômbia saiu de Hamburgo, com escalas em Madri e Bogotá, para finalmente nos deixar em Cartagena. Mas esta já é outra história...

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