Viagem Família______________________________________

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terça-feira, 2 de abril de 2019

As Belezas de Honduras e Sua História

Rio Higuito, divisa dos departamentos de Copán e Lempira
Deixamos a Nicarágua com gosto de quero mais, com aquela sensação de que poderíamos ter ficado mais dias para descobrir seus encantos e... entramos em Honduras por Las Manos, depois dos trâmites e taxas pagas ao governo e Alcadia da Nicarágua (U$ 1 por pessoa para a Alcadia e + U$ 2 por pessoa para o governo central). Mesmo o país tendo moeda própria, que é o Córdoba, tivemos de fazer câmbio com cambistas esquisitos no meio da rua e pagar em dólar americano! 
Andamos 200 m e fizemos os trâmites na aduana de Honduras.


Aproveitamos para fazer câmbio e já trocar alguns dólares por Lempiras, moeda nacional de Honduras. U$ 1 = L$ 24,40, mesmo sem saber ao certo quanto seria uma cotação justa. Mas as coisas são assim mesmo.

Chegando à Aduana de Las Manos
Tivemos de tirar muitas fotocópias (essa papelada toda é exigida em todos os países da América Latina) e seguindo de um guichê e para o outro. Depois de uma hora, aproximadamente, tudo estava terminado! 
Fotocópias: L$ 20 + L$150 (L$75 cada) imposto individual + U$ 36 (U$16: permisso + U$20: licença): carro

Escolta armada policial na saída da cidade de Danlí, em direção à Rodovia Panamericana
Com baixa visibilidade em função da fumaça de queimadas e estradas em piores condições de manutenção que as anteriores, fomos até Danlí, onde paramos para pegar informações com a polícia local, que fazia o patrulhamento em duplas armadas com fuzis e Calibre 12. Nossa ideia era subirmos até o litoral caribenho de Honduras e de lá atravessar até as Ruínas de Copán, entrando na Guatemala. Numa conversa bem tranquila e cortês, os policiais afirmaram que a rota que queríamos fazer era perigosa, sem policiamento e que as condições das estradas eram ruins, muitas sem pavimentação. Recomendaram-nos outro trajeto e ofereceram-nos escolta para fora da cidade de Danlí, que segundo eles também era bem insegura, até a Panamericana... Parecíamos V.I.P's. sendo escoltados pelas ruas da pequena e não tão pacata cidade!!! Coisa cabulosa!!!

Muitas queimadas na região sul do país... fenômeno que se repete em outros países da América Latina

Abastecemos nos arredores de Tegucigalpa, a capital do país, e seguimos rumo norte, até La Paz, cidade pequena e pacata, onde estava havendo feira livre nas ruas. Pegamos informações num posto de combustível e nos indicaram o Hotel La Fuente, distante poucas quadras. No caminho para o hotel, aproveitamos para pegar informação e preço de estadia em outro "hotel de bacana", com piscina e tudo: U$32 o pernoite (aproximadamente L$800), com tv a cabo e tudo mais. Achamos muito caro e seguimos em frente.

Área de estacionamento do Hotel La Fuente, da dona Olímpia
Chegamos ao La Fuente e fomos atendidos pela Carmem (e a Joanita), negociando a acomodação por L$ 400 + L$ 100 (caução, devolvido no dia seguinte). Acabamos pagando só os L$ 100 ( U$ 4,00) o pernoite, usando apenas o banheiro (com ducha): acampamos na área do estacionamento fechado do Hotel. Saímos para fazer compras e fomos acompanhados pela Genesis (9 anos), filha da Carmem, que serviu como "guia". Viramos atração no mercado, pois muitos vieram conversar conosco, ver o que estávamos comprando e acabamos tendo uma boa discussão sobre cervejas locais!! Também tinha uns homens estranhos que ficavam nos olhando o tempo todo. Pareciam agentes do governo?!?! Compras feitas, retornamos para casa e fizemos nosso jantar, conversando por horas com Carmem e Genesis! 


La Paz é a capital do departamento de La Paz e recebeu o título de cidade em 1848, possuindo atualmente uma população de cerca de 48 mil habitantes. A cidade fica a 700 msnm e a agricultura, principalmente a cultura do café, e a mineração, além de cortumes e destilarias são a fonte econômica da cidade. 



No dia seguinte fomos conhecer a comunidad de la municipalidad que vive nos arredores da cidade, para analisarmos a qualidade da água que utilizam e para irmos até lá usamos o moto-táxi. Negociamos a corrida (L$ 80 ida e volta) e fomos conhecer uma realidade muito triste, onde a água (e outras coisinhas não tão cheirosas!) que escorre pelo meio da rua até uma cacimba ou tanque aberto é usada pela população para limpeza, pelos animais para beberem e, depois de fervida, é bebida!  Chegamos nos momento em que havia muitas pessoas por lá, enchendo baldes e levando para suas casas! O tanque está tomado por igarapés e a população mostrou-se preocupada, e envergonhada com a situação em que vivem, mas inativa perante o total descaso governamental. 


Genesis e nós nos divertindo no moto-táxi, tipo Tuc Tuc da América Latina
Cacimba de água onde a população local se serve de água para limpeza e consumo

Conversando com a população local.(reparem que ninguém olha para a câmera)
Honduras, cujo nome significa "profundezas", foi descoberta em 1500 por Cristóvão Colombo, em sua quarta viagem. Grande parte do país foi conquistado e colonizado por espanhóis a partir do séc. XVI e o país passou a ser independente em 1821. Seu território é bastante acidentado, possuindo montanhas, planaltos, vales profundos e planícies extensas e férteis, além de muitos rios navegáveis. 

A situação política e econômica de Honduras está bem complicada a muitos anos. Vivendo sob um regime ditatorial, não há empregos para todos. Sem estudo e especialização, nem infraestrutura, o país padece de postos de trabalho e muitos têm abandonado o país, buscando alternativas nos EUA. Carmem nos relatou que as mulheres, em geral, trabalham no setor agrícola, recebendo pouco mais de L$100 por dia (U$ 4).
Conversando debaixo de uma figueira, com Carmem e Genesis
Conversamos por horas e trocamos ideias sobre caminhos a serem seguidos, sobre (des)governos e falta de infraestrutura, qualidade de ensino e falta de informação. Explicamos como, de forma simples, é possível melhorar a infraestrutura com a comunidade trabalhando unida. Carmem é uma mulher muito inteligente e esperta. Fala inglês e possui um conhecimento e atitudes que incomodam o governo, por este motivo é apontada como líder comunitária, sendo perseguida por governantes locais por este motivo. Ficamos muito felizes em ficar mais dias por aqui, aprendendo como este povo sofrido têm se virado do avesso para tentar sobreviver a este regime totalitário implantado há muitos anos nesse país.
Ao voltarmos para casa, fomos abordados pela Elisabel, moça estudante do 1º ano do 2º Grau, que precisava de ajuda para montar um vídeo para a sua escola. Ficamos auxiliando e ensinando adjetivos para a Elisabel até o anoitecer!! O vídeo ficou top!!! Até tomamos parte dele rsrsrsr. Além de professores viramos diretores e roteiristas de cinema!!!

Aula de adjetivos, em inglês, para Elisabel e Genesis só "de butuca"! 

Ao final do trabalho

Churras esperto em Honduras
Hoje o jantar foi churrasco de set, com direito a roda de conversa com toda a família. Até a dona Olímpia, mãe da Carmem e dona do hotel, veio participar e argumentar dizendo que o ponto da carne estava errado. Imagina, ela queria que a carne ficasse bem marrom, que segundo ela era para não ter mais "sangue", rsrsrsrsrs...Todos são muito curiosos sobre o Brasil, pois não tem muita informação sobre nosso país. 
No dia seguinte seguimos adiante e percebemos a diferença entre a região sul e a norte do país: existe uma linha imaginária que divide Honduras ao meio. A parcela que fica ao sul é mais pobre, desorganizada e violenta. Na porção norte, as extensas plantações de café (de excelente qualidade!), cidades mais organizadas e bonitas atraem turistas e as Ruínas Maias de Copán são o maior chamariz!! Essa divisão já tinha nos sido falada pelos policiais que nos escoltaram na entrada do país. 
Até as estradas, até então muito ruins e em mau estado de conservação, ao sul, passaram a  ser melhores e a qualidade da água na região de montanha (sim, Honduras tem montanhas de quase 3.000 msnm e atingimos mais de 2000 msnm!) é ótima. 


Gracias foi fundada em 1536 e por alguns anos foi capital regional da Audiencia de los Confines, criando desagrado com El Salvador e Guatemala. Desta forma, a capital passou a ser Antigua, na Guatemala, e Gracias passou a ser a capital da província da capital geral da Guatemala, até 1821.  Sua praça central está a 800 msnm e a parte mais elevada da cidade, 2870 msnm, é o Pico da Montanha Celaque. Por sua geografia, a região é propícia para o plantio do café e outras culturas. Existem ainda fontes termais que atraem centenas de turistas à cidade. 

Ceibo de mais de 600 anos na praça da igreja


Curtindo um café granizado na praça central
Em Gracias demos uma parada para tomar cafe granizado (café gelado! Delicioso e refrescante!) e curtir a cidade, muito bonita e histórica, com casario colonial e a igreja construída em forma de cruz. Na praça central, um ceibo de mais de 600 anos fornece sombra e uma vista bonita!! 


Cânion do rio Higuito, divisa dos departamentos de Lempira e Copán
Na divisa dos departamentos de Lempira e Copán paramos novamente para admirar o cânion do rio Higuito, com suas formações rochosas interessantes e um pouco mais adiante fomos atraídos por uma piscina linda, azulzinha, de um parque aquático. Resolvemos entrar e negociar o pernoite, já que este não é lugar de camping.  El Yate é um parque aquático que durante os finais de semana atrai centenas de pessoas, mas hoje estava vazio, só com o pessoal da manutenção. 

El Yate, parque aquático, localizado em San Juan de Opa
Conversamos com a Tânia, espécie de gerente do local, e negociamos L$ 170 ( U$ 7,00) para nós dois. Já estávamos na piscina quando chegou outra família com dois meninos e dividimos todo os espaço com eles, aproveitando pra bater papo. 

Vista do toboágua

Antes de cair na água
Depois de nos refrescarmos, aproveitamos para dar uma voltinha e verificamos que há alguns animais em pequenas jaulas (tipo zoo) no local. Estressadíssimos, os animais nos deram pena e eu, Mari, queria soltá-los durante a noite, mas o Marcos, racionalmente, não deixou!! Não deixei (Marcos) por que já imaginou se descobrem? Game Over!!!





Nossa área de camping exclusivo
Fizemos nosso jantar em companhia do José, vigia noturno do lugar, e seu fiel cachorro. 
Na manhã seguinte, seguimos até Santa Rosa de Copán, onde fizemos compras e seguimos até Ruínas de Copán, com muitas obras na pista e que deveria levar 1 h, levou quase 3 horas. Chegamos às ruínas usando o caminho novo, asfaltado, mais longo, mas maravilhoso!
Antes de entrarmos no sítio arqueológico, fomos entrevistados pela TV local, que gostou de entrevistar  brasileiros, coisa não muito comum por aqui!

Entrevista para a TV local de dentro do Garça

Com nossa guia Maritza e o casal Yuval (ele)e Yuval (ela). Nome comum em Israel
Dividimos as despesas de guia com um casal israelense e pagamos o ingresso, bastante caro para padrões hondurenhos! Foram L$ 720 o casal (aproximadamente, U$ 15 por pessoa) mais U$ 9 de guia, apenas para um sítio arqueológico. Nossa guia, Maritza, é bilíngue e nos acompanhou até Sepulturas, que fica a uns 4 km de distância e que fecha mais cedo, por volta das 16h, local onde viviam os nobres com suas esposas. Para irmos até lá, pegamos carona com uma caminhonete do Museu. Senão teríamos de pagar o transporte também.

Debaixo desse montículo há ruínas que ainda não foram escavadas

Cama em uma residência

Pátio central onde se faziam as atividades coletivas e as edificações ao seu redor. Ao fundo, "casa del escribano"


Sepulturas nada mais é que um complexo residencial, em grande parte encoberto por séculos de terra e folhas que serviram de proteção para suas estruturas milenares. O sítio ficou abandonado por 700 anos e só no séc. XIX um arqueólogo britânico iniciou os trabalhos de pesquisa e  reconstrução. A estrutura familiar em Copán era poligâmica, onde os maridos se revezavam ao dormir com suas esposas. Por este motivo, as construções continham muitos quartos, onde ficavam as mulheres e as crianças. Os túmulos ficavam debaixo das casas, tendo sido encontradas ossadas e adereços debaixo das mesmas. Passeamos pelo local, tirando muitas fotos e trocando ideias com o casal Yuval e Maritza. 


Detalhes na "casa del escribano"
Quando retornamos ao Parque Arqueológico, o casal Yuval foi de TucTuc, pagando U$1 e nós seguimos novamente de carona com o mesmo cidadão da ida. Aqui os serviços da guia foram dispensados, pois para nos acompanhar nesse parque, teríamos que pagar mais U$ 15 o casal. A política de guias e pagamentos é regida pelo governo, portanto se a Maritza fizesse um preço muito mais baixo, deixaria de ganhar a sua parte. O normal é o guia cobrar U$ 45 para um grupo de até 6 pessoas. Detalhe: a própria guia, mesmo credenciada, tem que pagar ingresso todas as vezes que entra no Parque. Coisa louca!!

Entrada do Parque Arqueológico de Copán
Copán é o maior sítio arqueológico do período clássico da civilização maia. Esta cidade-estado, antigamente chamada de Xukpi, floresceu do séc. V ao séc. IX e é notável pelas suas estelas, (monolitos de pedra) que relatam a história e eventos ocorridos pela população que aqui vivia. Nesse conjunto de Copán, há 38 estelas bem preservadas e também um campo de jogo de bola meso-americano. Muitas construções possuem inscrições hieroglíficas, característica utilizada para enfeitar as casas das pessoas da alta sociedade. 

Em primeiro plano, o campo de pelota maia e ao fundo, protegido, a "Escalinata Hieroglifica"

Em suas laterais há inscrições hieroglíficas com calendário maia

Arquibancada e estela coberta
Após ter sido a cidade mais importante durante séculos, a partir do séc. IX sua população entrou em declínio, passando de 20 mil para 5 mil habitantes. Quando os espanhóis chegaram no séc. XVI haviam poucos povoados agrícolas ao seu redor e o centro cerimonial estava abandonado havia anos. 

Vista do alto da pirâmide/templo


Algumas estelas:




A natureza tomando conta das ruínas 
 A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana que se destacou pela escrita, arte, matemática, arquitetura e sistemas astronômicos. Os povos maias nunca desapareceram e seus descendentes formam populações consideráveis em toda a região que compreende Honduras, Guatemala e El Salvador, além do México e Belize, mantendo suas tradições, crenças e o idioma. 

No alto do campo de pelota
Este setor fecha às 17h45min e fomos os últimos a deixar o local. Aproveitamos cada minuto para subir e descer as ruínas, observando as construções e lendo as indicações. A história deste povo, maia, que estamos começando a conhecer aqui em Honduras é fantástica!! Vai muito além daqueles poucos parágrafos que estudamos nos livros de História quando éramos adolescentes. 
Quando saímos do Parque, seguimos até a cidade de Ruínas de Copán, muito linda e organizada, buscando local para acamparmos. Encontramos a indicação de um lugar top pelo IOverlander no Hotel El Bosque, onde negociamos com o Isauro e ficamos por L$120 a noite, com direito a banho quente e banheiro exclusivo! Delícia! Depois de um dia cheio de aventuras e descobertas, um banho quente é mais do que bem-vindo!


Artesanato encontrado nas muitas lojas da cidade



Mercado público
Na manhã seguinte, antes de deixarmos o país, demos uma volta pela cidade, fazendo compras no mercado público e trocando ideias com os locais. 
Honduras mostrou-se um país muito simpático e de gente que está buscando desesperadamente uma forma de viver tendo seus direitos respeitados e cumprindo seus deveres. Há muito o que se fazer, principalmente na área ambiental. Honduras é considerado um país bem perigoso para ativistas ambientais, pois nos últimos 10 anos 130 ativistas ambientais foram assassinados!!! Deixamos o país com a ideia de um dia voltarmos para rever nossos amigos e descobrir outros encantos, que desta vez não tivemos a oportunidade de conhecer!




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