The Blue Eye - (Syri i Kaltër) |
Não tínhamos a menor ideia de todas as aventuras e idas-e-vindas que iriam acontecer neste país pequeno, porém cheio de essência e identidade!!! A falta de informações de um país recém saído de um domínio totalitário, cuja economia é insignificante em termos globais, acabou por "esconder" essa joia dos Bálcãs!
Conhecendo o país e um pouco de sua história...
A Albânia é um país com idioma particular, único, possui o tamanho do Alagoas (27,4 mil km²) e uma população de aproximadamente 2,9 milhões de habitantes. Seu nome em albanês é Shqipëria, que significa "A Terra da Águia". Os albaneses costumam chamar-se de skipetars (moradores de terras altas).
A moeda corrente é o Lek (ALL ou L, simplesmente) e 1 Euro equivale a 124 Leks, aproximadamente. Economicamente falando, a Albânia é um dos países mais pobres da Europa, não faz parte da EU e nem da Zona Schengen.
Seus primeiros habitantes chegaram às terras da Ilíria (onde hoje é a Albânia) por volta do séc. X a.C. Mais tarde, por volta do séc. VII a.C., passaram a ter contato com gregos e macedônios (seus vizinhos) e em 336 a.C., Alexandre, o Grande, anexou estas terras ao seu império. Só depois da sua morte a região voltou a ser independente. No séc. II a.C., a Ilíria passou ao domínio romano (a Itália fica do outro lado do Mar Adriático, muito próximo). Nesta época, a Via Ápia foi continuada nas terras da Ilíria, chamando-se de Via Egnatia (já citada anteriormente no texto da Macedônia).
Bunker em Butrint |
Entre os séculos III e V d.D. a região foi assolada por invasões de bárbaros (hunos e visigodos) e nos séculos VI e VII chegaram os povos eslavos. Durante séculos foi território do Império Bizantino (ano 395 até o séc. XV) e posteriormente Império Otomano, domínio que se perdurou por 400 anos. A Albânia declarou sua independência durante a 1ª Guerra dos Bálcãs (1912) e em 1939, Benito Mussolini anexou as terras albanesas à Itália fascista. Em 1943, a Alemanha nazista ocupou seu território e a partir de 1944 passou a ser comunista.
Bunker na praia de Borsh, de frente pro mar Jônio |
Enver Hoxha, a figura política mais famosa e comentada do país, aproveitando-se de um hiato de lideranças políticas, liderou o país num regime ditatorial comunista mais severo de toda a Europa até a sua morte, em 1985!! Entre os anos 1945 e 1961 a parceria era com a então União Soviética. Após desavenças, Hoxha aliou-se aos chineses e a parceria comunista com estes perdurou até 1978. O rompimento econômico com as super potências fez com que a Albânia caísse em uma crise sem precedentes... a situação tornou-se insustentável e a pobreza do povo absoluta!
Ninguém conseguia sair ou entrar no país, comandado com mãos de aço pelo lunático e obsessivo Hoxha, que dentro de seus delírios mais loucos, imaginava conseguir isolar o seu país. Planejou construir 220 mil bunkers, mas "apenas" 173.371 bunkers foram construídos, espalhados pelo país. Com o rompimento da Albânia com o Pacto de Varsóvia (Moscou) em 1968, iniciou-se o Programa de Bunkerização do país. Em 1975, as construções destes bunkers estavam a todo vapor e consumiam cerca de 80% do orçamento nacional no empreendimento que objetivava a proteção do país, que agora não tinha mais amigos, nem comunistas, nem vizinhos e nem de lugar nenhum!
Madre Tereza de Calcutá foi impedida de visitar sua mãe albanesa antes da morte, pois Tereza era cidadã da vizinha Macedônia e considerada "espiã"!!!
A queda do Muro do Berlim e o colapso do comunismo em toda a Europa acabaram chegando à Albânia e em 1991 uma revolta popular derrubou a estátua do ditador Enver Hoxha na praça central de Tirana. Este ato simbólico marcou o reinício de uma política mais aberta e democrática no país. Ainda assim, o êxodo do país permaneceu... milhares de albaneses deixaram e continuam deixando seu país em busca de uma vida melhor em países vizinhos.
Outras curiosidades da Albânia...
- O queijo de cabra e outros tipos de queijo fazem parte da culinária local e não há refeição em que não esteja presente algum produto lácteo à mesa. A variedade de qualidades e sabores dos queijos aqui produzidos é imensa. Tivemos a oportunidade de experimentar alguns, muito saborosos e diferentes.
- 80% da superfície do país é montanhosa e a montanha mais alta está na divisa com a Macedônia: o Monte Korab que possui 2753 msnm.
- Em 1967 foram fechadas (e destruídas) todas as igrejas, templos e mesquitas do país e a prática religiosa foi proibida. Hoje calcula-se que 62% da população seja muçulmana e 30% cristã. O idioma albanês é o oficial, mas o italiano e o grego também são idiomas bastante utilizados pela população.
- Há um posto de combustível e um lava car a cada 500 m, ao longo das estradas albanesas!
- Os Mercedes, modelos mais antigos, compõem 50% da frota albanesa, no mínimo!
- Há bunkers e casamatas espalhadas pelo país inteiro... muitos foram transformados em estúdios de tattoo, adegas, depósitos de materiais ou abrigos para animais, uma vez que nunca foram utilizados para seu propósito.
Bunker no centro de Tirana |
- Em 2004, num acordo com os USA, o governo albanês recebeu cerca de 20 milhões de dólares para desativar e desmontar os bunkers, o que nunca aconteceu!!
Nossa passagem pelo país...
Ao deixarmos a Macedônia para trás na pequena divisa ao norte do lago Ohrid, entramos na Albânia e os trâmites foram muito rápidos. Apenas apresentamos nossos documentos e oficial aduaneiro os devolveu falando: "Welcome"! Simples assim...
TIRANA
A E852 passa por Elbasan, cidade grande para padrões albaneses e de lá seguimos até a capital, Tirana, onde fomos visitar o Bunk'Art, o bunker construído a mando de Enver Hoxha e que virou um Museu.
Corredor de acesso ao Bunk'Art 1 |
Corredor interno do bunker |
Habitação dentro do bunker |
Mercado dentro da estrutura fortificada |
Dentro do teatro |
O Bunk'Art é uma construção incrível, sólida e bem projetada... construído para abrigar Enver Hoxha e seus compatriotas do governo em caso de uma invasão ou guerra nuclear, possui toda a estrutura de filtragem de ar e dezenas de acomodações e espaços internos, inclusive uma sala de cinema.
Para acessar o Museu se passa por um túnel extenso onde se ouve uma música altíssima. Ao entrar nas instalações e seus andares subterrâneos, pode-se ver os aposentos do ditador, os utensílios que usava, e no telefone particular pode-se ouvir a sua voz durante um discurso.
Ouvindo o discurso de Enver Hoxha |
A obsessão e paranoia do ditador pode-se ver em cada detalhe e ordens dadas ao longo de mais de 40 anos de desmandos.
O próprio: Enver Hoxha |
Deixamos Tirana para trás mal imaginando que dentro de 10 dias estaríamos de volta à capital, após um giro por Montenegro (país vizinho ao noroeste) e termos sido impedidos de entrar na Croácia (mas essa já é outra história).
Embaixada do Brasil, em Tirana |
Usando banco alemão na capital albanesa |
Passeando no shopping |
Nosso retorno foi marcado pela urgência em fazermos documentos na Embaixada/Consulado do Brasil para resolver pendências em nosso país de origem. Desta forma, em nossa segunda passagem pela cidade acabamos nos hospedando em um Hostel, pertinho do centro da cidade e da Embaixada, chamado Hostel Albania. Novamente utilizamos o Booking.com e encontramos esta hospedagem boa e barata a poucos metros de onde estava nosso objetivo. O proprietário, Klaus, é alemão e a recepcionista uma brasileira muito querida, Leilane, de Ponta Grossa - PR, com quem fizemos amizade e pegamos ótimas e boas dicas.
Praça central da capital |
Com a querida Leilane (Lei), brasileira que está mochilando há 4 anos |
Permanecemos na cidade por mais 3 dias e desta vez, aproveitamos para andar a pé pelo seu centro histórico, apreciando a culinária local e curtindo o momento, enquanto providenciávamos os documentos necessários e os enviamos para o Brasil. Nosso próximo destino a partir daqui era a Itália que iríamos alcançar via marítima, pelo porto de Vlorë.
SHKODËR ou SHKODRA
Confluência dos rios Buna, Drini e Kiri |
Vista panorâmica da cidade de Shkodër |
Castelo de Rozafa |
Este Castelo de Rozafa, localizado a 130 msnm foi fundado pelos ilírios no séc. III a.C. e pela sua localização geográfica era um importante ponto de comércio dos Bálcãs. Durante a 1ª Guerra Mundial o local foi protegido pelos generais turcos, Hassan Riza Pasha e Essad Pasha (quando perderam esta posição, a cidade e toda a região passaram a fazer parte de Montenegro, só retornando a ser Albânia muito anos mais tarde). A vista lá de cima é bonita e permite observar a confluência dos rios Buna, Drini e Kiri.
A lenda da origem da fortaleza
Diz a história que 3 irmãos foram encarregados de construir a fortaleza, porém a cada noite que se passava, todo o trabalho realizado no dia anterior era perdido. Um sábio ancião predisse que a obra só teria êxito se a esposa daquele irmão que viesse trazer a comida no dia seguinte fosse sacrificada, sendo emparedada nos muros do forte. Os irmãos mais velhos contaram a sina para suas famílias, porém o mais novo e honesto seguiu a recomendação do ancião e sua esposa, Rozafa, ao trazer o alimento para os construtores foi emparedada viva... Ao saber de seu destino inglório, ela apenas solicitou que lhe fosse permitido deixar o olho, o braço, o seio e o pé direitos de fora, de modo que ela pudesse alimentar e acariciar seu filho pequeno. Assim foi feito e finalmente a obra de construção foi concluída.
Antiga casa da guarda, transformada em Museu |
Esta história macabra está simbolizada na entrada do Museu, antiga sede do comando militar, onde se podem ver utensílios e armas utilizadas durante os Períodos Helenístico, Bizantino e Otomano, inclusive, até a 1ª Guerra Mundial. A Igreja de Santo Estêvão, posteriormente transformada em mesquita, está em ruínas, assim como outras edificações do local. Ainda assim, passeando pelas suas ruínas pode-se ter uma ideia de como era esta importante edificação.
Igreja de Santo Estêvão, depois transformada em Mesquita. Hoje está em ruínas. |
Pernoitamos duas vezes próximos desta região, uma no caminho para Montenegro e outra, no retorno para a Albânia, alguns dias mais tarde. O lago é realmente muito bonito e bastante utilizado para lazer e pescaria.
Vista do Lago Shkodër |
VLORË (o Ë tem som de A)
A cidade portuária de frente para o Mar Adriático acabou sendo um importante ponto de apoio para nós. Após deixarmos a capital Tirana para trás (em nossa segunda passagem pela cidade) - e termos sido impedidos de atravessar a Croácia (depois de cruzarmos Montenegro) - retornamos para a Albânia com a intenção de atravessarmos de navio (ferryboat) para a Itália.
Havíamos comprado o tícket de passagem para a travessia pela internet e ao chegarmos à cidade de Vlorë, descobrimos que o navio só partiria no dia seguinte. Um agente portuário nos explicou os procedimentos e nos orientou a chegarmos mais cedo no dia seguinte para a emissão das passagens.
Nosso acampamento base por diversos dias |
Vista de nosso acampamento, perto de Zvernëe, ao norte de Vlorë |
Baio e Malhada, nossos companheiros de acampamento |
Quando chegamos ao porto no dia seguinte, com tudo arrumado, tivemos uma surpresa: não poderíamos atravessar para a Itália nesta data, pois como havíamos passado pela Macedônia e pela Croácia (mesmo não tendo podido entrar no país, tínhamos passado pela aduana e carimbado o passaporte) nos últimos 15 dias, teríamos de fazer quarentena na Albânia antes de cruzarmos para a Itália - exigência italiana em tempos de Covid.
Alterando os planos num posto de combustível - local de acesso à internet |
Foi uma ducha de água fria... nosso planejamento, já refeito dezenas de vezes, teria de ser modificado novamente. Nossa permanência na Albânia havia sido estendida por mais 10 dias e assim, com o mapa na mão e usando a internet de um posto de combustível (pois aqui o Vodafone da Alemanha também não funciona) replanejamos pela n-ésima vez nosso roteiro. Decidimos, desta forma, conhecer e explorar bem o sul do país, passando pela linda e histórica Gjirokastër, nas montanhas e dali, seguir até o litoral sul, em Saranda (de frente para o Mar Jônio), subindo novamente até Vlorë. E assim fizemos...
GJIROKASTËR ou GJIROKASTRA
Conhecida como "Cidade das Pedras", Gjirokastër é um Patrimônio Histórico da Humanidade e uma das mais bem preservadas cidades otomanas. Localizada no centro - sul do país, é o berço do ditador Enver Hoxha (que ninguém faz questão de lembrar!).
Detalhe dos telhados das casas, todos em pedra |
Hospedamo-nos pelo Booking.com, numa casa de família que aluga quartos (Guest House CFAKA. LATE) a 13,5 Euros por pernoite. A localização estratégica de nosso pouso, de onde se tem uma vista privilegiada do Castelo e da cidade, além do vale, é ótima. Mesmo com o clima chuvoso, conseguimos passear pela região e observar a linda arquitetura da cidade medieval.
Entrada de túnel, construído na história moderna da cidade e usado como bunker |
Túnel que passa por debaixo do castelo |
A Cidadela (Kalaja Gjirokastër ou Castelo de Argjiro) construída no cimo da montanha e de onde se tem uma vista privilegiada do vale do rio Drino foi construída entre os séculos VI e XII (há controvérsias e dizem que suas primeiras muralhas são do século V a.C). Ampliada algumas vezes nos séculos seguintes, e transformada em museu mais recentemente, foi um importante quartel e prisão durante o regime comunista.
Vista do Torre do Relógio |
Após pagarmos o ingresso, de 400 Lek cada, "nos perdemos" lá dentro por 4 horas, percorrendo inúmeros prédios e espaços internos. Segundo a lenda, a princesa Argjiro atirou-se de sua muralha quando a cidade foi invadida pelos turcos, pelos idos do séc. XV. Historicamente a cidade aparece em registros gregos do ano de 1336 e fazia parte do Império Bizantino.
Torre do relógio |
Há 150 anos, aproximadamente, o chefe otomano mandou utilizarem as pedras do aqueduto que abastecia a cidade para construir a cadeia dentro do castelo, que foi utilizada durante o regime comunista para aprisionar presos políticos!!!
Memorial dentro do Museu, onde estão em exposição armamentos usados pelos militares e opositores |
Corredor do cárcere |
Observando as "7 janelas" da prisão onde morreram ou foram encarcerados os presos políticos durante o regime comunista |
Vista do bazar e mesquita, no centro da cidade |
Em 1670 a cidade possuía 2000 casas, 8 mesquitas, 3 igrejas cristãs, 280 comércios e 5 fontes. Mais tarde, em 1811, Gjirokastër passou a ser a capital do império de Ali Pasha (1741-1822), turco que se auto intitulou sultão da região e cujo "reino" se estendia da Macedônia até a Grécia. Ali Pasha foi um general otomano que trouxe um regime autoritário para o país, descumprindo as ordens do sultão. Por este motivo, a cidade acabou sendo sitiada por um ano pelo exército do sultão, que por fim acabou ganhando a batalha e libertando a cidade. Ali foi executado como traidor.
Trocando ideias com Jonida e sua mãe, nas esquina mais famosa do Bazar. Jonida é guia turística e contou-nos histórias da cidade e país |
Experimentando as gostosuras da culinária local: qifqi (uma espécie de bolinho de arroz com ervas) e musaka (parece uma madalena com recheio de carne moída e berinjela) |
Nosso próximo destino neste roteiro era conhecer uma nascente d'água, distante 40km ao sul.
THE BLUE EYE (Syri i Kaltër)
O acesso a esta beleza da natureza se faz primeiramente por uma estrada sinuosa (78), num passo estre as montanhas que ligam o planalto ao litoral, próximo de Sarandë. Posteriormente acessa-se uma estradinha de terra onde se paga o ingresso do Parque: 100 Lek para o Garça e 50 Lek por pessoa.
Rota 78 |
Sem dúvida este lugar é, até agora, o mais belo (em natureza) que conhecemos na Europa!!!! Incrível a cor azul turquesa e a pureza desta água gelada (em torno de 10º C). É uma mistura de Bonito - MS com o Jalapão - TO, onde os afloramentos de água (fervedouros) são de água translúcida e cristalina, cercados por algas multicoloridas. O clima estava quente e Marcos aproveitou para se esbaldar na piscina natural ao que eu aproveitei para fotografar, filmar e tomar sol (água gelada não é minha praia!).
Corredeiras de Bistricë |
O Blue Eye é uma espécie de furna, cuja profundidade é superior a 50m! Também é conhecido pelo nome de "corredeiras de Bistricë", por ser a nascente deste rio que corre 25 km até desembocar no Mar Jônio.
Resolvemos acampar neste paraíso, passeando pelas redondezas e aproveitando o dia. Por conta do Covid, não havia muitos visitantes, ainda assim, conhecemos um casal bem bacana, ele, Sebastian, alemão e ela, Zoe, chinesa, que estão mochilando pela Albânia. Também acabamos encontrando uma brasileira de Fortaleza - CE que está na estrada, mochilando, há 12 anos!!! Houve muita troca de experiências e ideias!! Também acabamos batendo um papo com um grupo de poloneses que está morando na Noruega! Enfim, Blue Eye é uma atração internacional e faz jus a sua fama: o lugar é incrível!!!
Com Sebastian e Zoe |
Nosso acampamento no The Blue Eye |
SARANDË e BUTRINT NATIONAL PARK
Nosso próximo e último destino ao sul da Albânia é a glamorosa e famosa praia/cidade de Sarandë, onde também visitamos o Parque Nacional de Butrint.
Vista panorâmica do Canal de Vivari |
Butrint é uma cidade ancestral onde se testemunha a presença das civilizações antigas que datam do séc. VIII a.C. Por aqui passaram gregos, romanos, bizantinos, venezianos e otomanos, cada qual deixando suas marcas e cultura. Infelizmente o preço para acessar o sítio arqueológico estava bem salgado para nosso padrão (1000 Lek por pessoa = quase 10 euros) e acabamos desistindo de vê-lo, uma vez que nosso orçamento mensal já havia extrapolado.
Nosso acampamento, perto de Butrint. A chuva está chegando... |
Ainda assim, acampamos na área do parque, com uma linda vista do canal de Vivari e do Jônio e a presença de milhares de pernilongos... e muita chuva!
Sarandë ou Saranda é uma cidade cujo nome tem origem bizantina, em homenagem ao monastério de Agioi Saranda (40 Santos de Sebaste), onde 40 mártires tiveram suas vidas ceifadas pelos otomanos por serem cristãos. As ruínas deste monastério ficavam num local de difícil acesso, em vielas estreitas e subidas íngremes e acabamos nos perdendo no caminho...
Em algum lugar perto de Sarandë |
O outono está chegando com tudo: chuvas esparsas durante o dia e à noite acabaram sendo nossas companheiras diárias. Durante o dia as temperaturas têm sido boas, porém as noites estão bem frescas e agasalhos têm sido necessários.
O nosso caminho de retorno em direção à Vlorë foi feito pela via cênica litorânea, RH 8, lindíssima e cujas praias eram maravilhosas e desertas, na maioria.
Praia Borsh, 37 km ao norte de Sarandë |
Usamos o abrigo de um restaurante à beira da praia, abandonado. Esta temporada ficou tudo fechado |
Acabamos ficando alguns dias na praia Borsh, distante 37 km de Sarandë e a 100 km de Vlorë. Aqui tivemos a companhia de um casal jovem de alemães, Martin e Sabine, com quem fizemos amizade e acampamos um lado do outro, compartilhando as refeições, as ideias, trocando informações e dicas! Foram dias de puro relax, banhos de sol e de mar e em nossas caminhadas diárias, ainda pudemos observar como os albaneses colhem as olivas, num método bastante arcaico e rudimentar.
Colhendo olivas (está na época) no processo rudimentar, de "surrar" as árvores com varas |
Refeições comunitárias em companhia de Martin e Sabine |
Dias de puro ócio e banhos de mar |
Lua crescente sob o mar Jônio |
Também tivemos a companhia de um casal de cachorros. Mesmo tendo dono, eles acabavam ficando o dia todo conosco!
Na praia de Palermo fomos visitar o Castelo de Porto Palermo, de Ali Pasha. Ingresso: 300 Lek cada
Castelo de Porto Palermo (Ali Pasha) |
O Alexsandro, guia local, foi extremamente didático e nos contou sobre a vida e costumes do proprietário deste castelo, além de nos mostrar todas as instalações.
Este local também foi utilizado durante o regime comunista como cadeia para presos políticos e as celas utilizadas para este fim ainda tem ganchos nas paredes, onde os prisioneiros ficavam acorrentados. Na solitária os presos ficavam na escuridão completa por até 5 anos e quando de lá saíam, já estavam cegos!!!
Aposentos reais de Ali Pasha - a imagem é uma ideia de como ele seria, uma vez que nunca permitiu que se fizesse um retrato seu |
Aposento de Ali Pasha, com saída para o jardim particular |
Alexsandro explicando o porquê das portas serem pequenas: assim quem quisesse se aproximar de Ali Pasha teria de se abaixar e automaticamente fazer uma reverência |
Explicando como eram as formalidades de escolha das esposas do harém |
A pouco quilômetros de distância dali, ainda na rodovia RH 8, pode-se ver à distância uma base nuclear soviética de submarinos. A estrutura é impressionante, pois trata-se de um túnel de 800 m de extensão, que corta a montanha de um lado ao outro e onde ficava esta base. Por se tratar de área militar, não é permitida a entrada! Mas que ficamos com um gostinho de querer visitá-lo bem de perto, ah, ficamos!
A estrada RH 8 vai serpenteando o litoral em subidas e descidas íngremes. Finalmente, já perto de Vlorë, na cidade de Himarë, fizemos o Paso Logar - 1055 msnm - uma passagem pelo alto da montanha e de onde se tem uma vista linda do Mar Jônio.
Entrada do Porto |
Retornamos para Vlorë, pois nosso navio partia no dia seguinte, ou era isso que imaginávamos (já havia se passado o período de quarentena e nossa passagem estava válida para o dia 21 de outubro).
Novamente fomos surpreendidos, pois a empresa que deveria operar neste dia cancelou sua viagem e "nosso amigo do porto" nos deu duas opções: ou pagarmos outra passagem e seguirmos com outra companhia ou esperar mais dois dias e utilizar a nossa passagem já emitida!
Em frente ao Museu de Vlorë |
Não pensamos duas vezes: bora ficar mais dois dias na praia, perto dali, no nosso lugarzinho de sempre, junto de nossos amigos cachorrinhos Baio e Malhada, onde já havíamos acampado alguns dias antes.
Sacamos mais uns Lek (pois já havíamos gasto tudo imaginando estar na Itália no dia seguinte), fizemos compras e fomos aproveitar nossas "férias" perto de Zvernëe.
Passeando e nos divertindo no período de "férias", a espera do nosso navio |
Encontrando um jabuti |
A surpresa boa foi receber, na véspera de nosso embarque para a Itália, a companhia de nossos amigos austríacos, Matias e Astrid, com quem havíamos acampado na Bulgária às margens do Mar Negro, alguns meses antes. Eles estavam procurando um lugar top para acampar e chegaram no nosso lugarzinho, sem termos combinado nada! São aquelas coincidências que não se explicam... maior ainda foi a surpresa em saber que eles também estão embarcando para a Itália no mesmo navio que a gente!!!! Obaaaaa, teremos companhia!!!
No dia do embarque, fomos às 10h para a cidade e arrumamos nossa passagem com a data atual, compramos alguns gêneros alimentícios e outros que aqui, na Albânia, são bem mais baratos e nos preparamos para o embarque. Às 17h, éramos os primeiros da fila do embarque. Não queríamos mais surpresas! Nossos amigos austríacos chegaram mais perto da hora do embarque, já à noite (20h).
Nossa passagem era de Vlorë - Albânia para Brindisi - Itália e pontualmente às 22 h nosso navio deixou o porto para trás!!! Ficamos aliviados, pois a tal 3ª onda do COVID estava se intensificando e todas as fronteiras da Europa estão voltando a fechar. Nossa preocupação era de ficarmos "trancados" num país que não fazia parte da EU com nosso visto de permanência vencendo na Albânia.
Mostrando a documentação e nosso roteiro para os operadores de carga |
Os primeiros a entrar no navio... agora não tem mais volta! |
Passeando e conhecendo o navio Galaxy |
Os dias em que estivemos na Albânia foram incríveis e surpreendentes. A Albânia tem pessoas muito receptivas e agradáveis e paisagens lindíssimas a serem conhecidas. O tempo que ganhamos a mais por uma intercorrência acabou se mostrando perfeito para explorar com mais intensidade este belo país. Aprendemos a conhecer um pouco a história deste país tão intenso e particular e mesmo tendo tido as dificuldades provocadas pelo Covid -19 e documentação, acabou sendo uma experiência muito positiva e proveitosa.
Despedindo-nos da Albânia! |
Este é um lugar que vale a pena ser revisitado!!!
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