Viagem Família______________________________________

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A isolada e maravilhosa Ilha do Marajó (PA) + Ilha do Mosqueiro (PA)

Cavalos campeiros no Marajó

Enquanto passeávamos pela cidade de Belém, descobrindo suas belezas, aproveitamos para comprar as passagens para a Ilha do Marajó no Terminal Hidroviário Luiz Rebelo Neto, próximo do Porto Futuro, no Umarizal. Na manhã seguinte, bem cedo, deixamos o local onde havíamos ficado duas noites (na casa de um amigo, Olivar) e seguimos até Icoaraci - distante uns 20 km de Belém, porto de onde sai o ferryboat em sentido ao arquipélago do Marajó.

Ferry que interliga Belém (Icoaraci) à Ilha do Marajó (Camará)


Lá pelas 7h15min o barco deixou o porto e 3 horas mais tarde aportávamos em Camará, cidade localizada na Ilha. Marinatambal, como era chamada anteriormente a Ilha do Marajó, é a maior ilha fluviomarítima (banhada por águas de rio e mar) do mundo, banhada pelo delta do rio Amazonas, do estuário do rio Pará e do Oceano Atlântico.

Com aproximadamente 530 mil habitantes espalhados nos 16 municípios, a ilha possui 40100 km² de área (o arquipélago todo possui pouco menos de 105000 km² de superfície e cerca de 2500 ilhas). Camará é uma pequena localidade onde o ferry aporta e dali se segue pela PA 154 em direção à Salvaterra, distante 25 km. No caminho observam-se as plantações de abacaxis e macaxeira (aipim ou mandioca), além da grande variedade de árvores frutíferas (estamos na época da manga) e dos búfalos. 




Destaque: o rebanho de búfalos por aqui é enorme... o maior da espécie no Brasil, com cerca de 600 mil cabeças. Os produtos oriundos da criação de búfalos são encontrados nas cidadezinhas a um bom custo x benefício. Experimentamos o queijo de búfala, doce de leite de búfala, fizemos churrasco de alcatra de búfalo e há inúmeras opções de artesanato e utensílios que usam o couro do animal. 

Nil é vendedor e acabamos comprando o doce de leite e queijo de búfala... deliciosos!

Nossa primeira parada foi em Salvaterra, onde passeamos pela cidade, que possui boa infraestrutura, além de efetuarmos algumas compras. Buscamos um cantinho de praia para acamparmos e encontramos um local top, num finzinho de rua. Alguns chamam a praia de Lindinha, outros de Praia do Castelo. Enfim... apenas alguns pescadores apareceram por lá e aproveitamos para trocar ideias com eles, debaixo de uma frondosa árvore e a 50 m da praia. 


Igreja N. Sra. da Conceição (1911) - Padroeira de Salvaterra

A amplitude da maré por aqui é grande, mas a água é salobra pra doce... o rio Amazonas tem muita água pra competir com o mar por estas bandas. Montamos uma churrasqueira improvisada com uns tijolos e pedras que encontramos e degustamos um delicioso churrasco de búfalo, com direito a queijo derretido e tudo mais!! 






No dia seguinte, atravessamos com uma pequena balsa (e um grande preço: R$ 25,00) para Soure, considerada a capital da Ilha do Marajó. Deixamos para explorá-la na volta, apenas passando no mercado público para garantir o peixinho do dia e fomos direto até Caju-una, o ponto mais extremo da ilha que se chega pela PA 154, já dentro de terras particulares. 



Paróquia Menino Deus, Soure

Caju-una é uma comunidade pesqueira localizada no nordeste da ilha, distante 20 km de Soure, aproximadamente. Para chegar lá só existe uma estrada, mas como dito, existe uma porteira onde é necessário parar e se apresentar, pois as terras em seguida pertencem a uma família tradicional e abonada do Pará... o segurança nos orientou a não parar o carro e nem tirar fotos da propriedade, o que fizemos "em parte"! 



Os alagados estavam repletos de cavalos campeiros e aves migratórias de todos os tipos (tuiuiús, guarás, garças,...), além dos búfalos. A vegetação de mangue muito linda e preservada fica às margens da rodovia (de terra) e nos levou até a Vila do Céu, onde não encontramos local para acampar. Então seguimos uns 500 metros e chegamos à vila dos pescadores, muito bonitinha, toda em palafitas e conversando com moradores, nos autorizaram a acampar num canto próximo da saída para a praia.


Vila de Caju-una

A praia é linda! E deserta! E silenciosa... um pouco suja, mas muito do lixo vêm com as marés e acaba invadindo as dunas, a área de restinga e mangue. Aproveitamos para passear e curtir o paraíso. Vimos também a caça dos caranguejos de mar/rio antes de prepararmos nosso almojanta. Ao entardecer, aproveitando a maré cheia, tomamos banho no que chamamos de Lençóis Marajoaras. À noite nosso acampamento foi visitado por búfalos enormes que passaram por ali apenas para dar uma olhadinha!

Nosso acampamento em Caju-una, ao lado da trilha para a praia

Praia deserta




"Lençóis Marajoaras" que se formam na maré cheia

Na manhã seguinte, retornamos para Soure, para desta vez explorar as praias da "capital"! O primeiro local foi a Praia do Pesqueiro, onde conhecemos o casal Rosinha e Laedmo, de Goiânia, que viajam com a camper Old Goiás. 



Mercado Público de Soure


Praia do Pesqueiro, restaurantes e lanchonetes em meio às dunas

Escolhemos um lugar bem sombreado, ao lado da loja de artesanato do José e da Carla - Belas Artes, Artesanatos em geral - para acampar e de quebra, o José nos ofereceu energia para a manutenção de nossa geladeira. Com o calor forte que está fazendo, a bateria teria arriado mais cedo... Na praia do Pesqueiro há boa infraestrutura, com muitos restaurantes, bares, quiosques à beira mar/rio, além de banheiros públicos. Aproveitamos para tomar banho e curtir a praia, antes da chuva forte que veio. De tarde ficamos trocando "dois dedos de prosa" com o casal goiano até a noite chegar! 

Praia do Pesqueiro... o Folgado, cãozinho, foi logo chegando e tomando conta do guarda-sol

Nosso acampamento debaixo das árvores, ao lado da Casa de Artesanato

Um brinde à vida e às amizades. Com Laedmo e Rosinha, do "Old Goias"! Horas de conversa e troca de ideias

José produz e vende artesanato que difunde a arte marajoara na sua loja Belas Artes

Na manhã seguinte, retornamos à cidade de Soure, fizemos compras e seguimos para a Praia da Barra Velha... que lugar encantador!!! Assim como nossa cidade no sul do Brasil, esta Barra Velha é linda! Uma vegetação exuberante de mangue se estende pelas  margens do mar/rio, e além de tomarmos banho, aproveitamos para passear e tirar lindas fotos! 

Chegamos à Barra Velha, Soure e levamos nossa Barra Velha-SC




Aqui também existem restaurantes e alguma infraestrutura básica, e acampamos próximo da área dos banheiros públicos, usando uma cabana de palha como abrigo por conta do sol, inclemente. De tarde, Laedmo e Rosinha chegaram com um lindo e delicioso bolo de cupuaçu para festejar meu aniversário... que surpresa boa!! Festejamos e bebemos aos meus 53 anos, bem vividos e felizes!!! 

Festejar 35 ops, 53 com os amigos não tem preço!

Bolo de cupuaçu, delicioso, acompanhado de espumante comprado na Guiana Francesa!

Nosso acampamento na Praia da Barra Velha, Soure

Aqui conhecemos um contador de histórias, o Silvio, do Restaurante Netuno, que nos contou a origem do nome da praia e também particularidades da localidade e seus habitantes. 

Ouvindo as histórias da Maria Pretinha, curandeira e parteira da região, que viveu aqui há mais de 100 anos

Silvio, o contador de histórias, faz artesanato e encanta as pessoas com as histórias do lugar

O Portal dos Sonhos, a trilha do mangue

Curiosidades: entre os anos de 400 e 1300 a Ilha do Marajó era habitada por aproximadamente 40 mil marajoaras (alguns dizem que chegou a 100 mil indivíduos), que moravam nas suas casinhas de palafitas, em morrinhos, e possuíam uma arte em cerâmica muita apurada, com detalhes e decoração com esmero. A cultura marajoara foi a que alcançou o maior nível de complexidade social na pré-história brasileira. Durante o período colonial a ilha chamou-se Ilha Grande de Joannes. 

Era hora de voltar para o continente... retornamos à Salvaterra pela balsa (cara) e resolvemos pernoitar por aqui, no nosso cantinho "de sempre"! Para retornar à Belém compra-se a passagem em Salvaterra (se deixar para comprar direto no ferry, corre-se o risco de estar cheio e não haver espaço).  Assim, na manhã seguinte compramos nossa passagem e nos despedimos de Salvaterra, Soure, e suas lindas e paradisíacas praias, entrando na localidade de Joanes antes de retornamos ao porto, em Camará. 

Ruínas jesuíticas em Joanes


Praia de Joanes

Joanes é a cidade mais antiga da ilha e fomos visitar as ruínas jesuíticas de 1716, além de tomarmos um delicioso banho para fechar nosso período na Ilha. Depois pensamos: deveríamos ter comprado o tíquete de passagem para dali a dois dias, para curtir Joanes também! Enfim... nosso coração ficou no Marajó! 

Marajó é especial e ficou marcado em nossos corações... um dia voltaremos!

Retornamos para Belém e quando chegamos ao porto de Icoaraci já era noite. Nos foi permitido pernoitarmos dentro da área do porto, mais segura, e na manhã seguinte, após resolvemos alguns problemas técnicos, seguimos para nosso próximo destino no Pará: a Ilha do Mosqueiro.


Dormindo e cozinhando na área portuária de Icoaraci

Área portuária de Icoaraci

Na orla de Icoaraci

Tomamos café da manhã em frente à Igreja São Sebastião, em Icoaraci

A Ilha do Mosqueiro é uma ilha fluvial, pertencente a região insular de Belém, localizada na costa oriental do Marajó. A palavra Mosqueiro é uma corruptela da palavra moqueio do peixe, dada pelos indígenas tupinambás (filhos de Tupã) que habitavam a região antigamente. 

Quando os primeiros portugueses aportaram aqui, já encontraram os tupinambás que haviam fugido do litoral do nordeste (invadido pelos europeus). O ciclo da borracha impulsionou a região, trazendo luxo e desenvolvimento acelerado, provocado pelo imigração de ingleses, norte-americanos, alemães e franceses que vieram se instalar na área de Belém, impulsionados pelo dinheiro farto que a borracha e as riquezas da Amazônia proporcionavam (e continuam proporcionando) e que encontraram no Mosqueiro um local de veraneio e descanso.  

Praia do Farol, na Ilha do Mosqueiro


A ponte Sebastião Oliveira (1458m de extensão), construída em 1976, ligou a ilha ao continente fazendo com que seu desenvolvimento e ocupação se acelerassem. Suas praias são ótimas e contam com ótima infraestrutura. Exploramos as praias da região e acampamos na Praia do Farol, em frente do Restaurante O Comilão, numa área de estacionamento sombreada, local muito tranquilo e silencioso, pois era dia de semana. 

Acampamento na Praia do Farol

No dia seguinte fomos até a Baía do Sol, onde a tia Rosa e o tio Roberto (tios da Nazaré) nos receberam por duas noites. A região é linda, o contato com as pessoas locais é imprescindível para entendermos a culinária e costumes regionais e a interação foi ótima e divertida! Tomamos banho em diversas praias (Grande, São Francisco,...) e curtimos muito a região, linda e tranquila! 






Com "tia" Rosa, na Baía do Sol

Churrasqueando com o "tio" Roberto. Obrigada(o) pelo acolhimento!

Por indicação de Rosa e Roberto, seguimos até a praia de Ajuruteua, deixando a famosa Salinópolis (também chamada de Salinas por aqui) de lado, por ser um estilo de praia que não gostamos muito (cheia de gente, restaurantes, prédios,...). A condição das estradas, em geral, exige bastante cuidado e nenhuma pressa. 



Área de mangue às margens da PA 458 que leva à Ajuruteua

Chegamos à Vila dos Pescadores após percorrermos uma estradinha cênica - PA458 - cercada de mangue (após Bragança, 35 km distante) e com muitos guarás (ibis escarlate) e garças se alimentando em suas águas. Já faz alguns anos que nossos amigos Rosa/Roberto não vem para cá e com certeza não sabiam da ocupação desordenada que está ocorrendo no local... junto com a construção de um calçadão, a instalação de muitos quiosques e a construção de casas, hospedagens e afins acabou tirando um pouco do charme do lugar, que outrora era mais tranquilo.




Enfim, acampamos num fim de rua pavimentada, de frente para a praia e para as dunas, de onde víamos a carcaça de um navio que encalhou e naufragou há anos (1905) na saída do rio Caeté. 

Lloyd Brasileiro, construído em 1882, naufragou em 20m de profundidade numa colisão com outro navio (Anselm). Carga de borracha (110 mil libras de peso + passageiros (100: primeira classe e mais 100: segunda e terceira classes)).




Ajuruteua é a junção de "ajiru" - um fruto típico do local - com a expressão indígena "tela", que significa lugar onde tem muito, ou lugar de. Esta noite aqui foi memorável... além do ataque insano dos carapanãs (mosquitos, pernilongos, muriçocas, como queira) ainda fomos surpreendidos pela chuva com ventania que chegou de madrugada, quase "nos carregando" e que acabou entrando água na barraca (pela primeira vez, em 4,5 anos de uso)!!! Marcos desceu no meio da chuva, pelado rsrsrsr, e fechou os panos das janelas para minimizar os problemas internos... ainda bem que na manhã seguinte o sol apareceu e pudemos tirar tudo para secar!!! 


No dia seguinte, retornamos pela PA 458 até Bragança e de lá, até Capanema, onde pela BR 316 seguimos em direção ao Maranhão. Mas esta já é outra história...

O estado do Pará é o segundo maior da federação, ficando apenas atrás do Amazonas. Dizer que "conhecemos o Pará" seria uma falácia, pois nos ativemos a uma pequena porção deste estado, porém aquilo que vimos, vivemos e curtimos neste um mês, aproximadamente, foi intenso e maravilhoso!!! Na verdade, só ficamos com vontade de retornar e explorar mais este pedaço do Brasil, com sua Transamazônica (que por ser inverno, acabamos não percorrendo desta vez), a famosa Santarém e o lindo Alter do Chão... mas isto terá de esperar para a próxima oportunidade!! O Pará que nos espere, pois retornaremos com certeza!!! 

Tchau, Pará! Até a próxima!