Viagem Família______________________________________

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domingo, 26 de junho de 2022

Peru: da Cordilheira Blanca até a divisa com o Brasil (3S)

Paisagens estonteantes dos Andes

Deixamos o Parque Nacional Huascarán ainda pela manhã (perto do meio dia) e, quando passamos pela cancela, tivemos de pagar o ingresso que não havíamos pagado quando entramos havia dois dias, pois o parque já estava fechado naquela ocasião: o cidadão acabou cobrando apenas o ingresso de uma pessoa (30 soles) e embolsou o dinheiro!

Vista do lago Llanganuco Orconcocha

Laguna de Llanganuco - Parque Nacional de Huascarán



Descemos tranquilamente e devagar a estradinha (que é horrorosa, mas está sendo arrumada, em etapas, len-ta-men-te), indo em direção a Huaraz. Nossa ideia era ficarmos na cidade uns dois dias, explorando melhor a cidade e arredores, porém acabamos desistindo da ideia. O hostal que pegamos pelo Booking.com - Hostal Bella Vista - era no fim da cidade, lá no alto da montanha, na última rua, o último prédio,... rsrsrsr e fomos recepcionados por uma hóspede brasileira, Evellin, e seu esposo Anderson! Depois de uma hora apareceu a Sra. Margarida com uma chave e indicou o nosso quarto!
Brincadeiras a parte, acabamos passeando no mercado público e provamos um cerdo crocante, delicioso (que coloca o do Equador no chinelo)!!! 



Huaraz, capital do departamento de Ancash, foi fundada em 1574 com o nome San Sebastián de Huaraz. A cidade, originalmente povoada pelos Chavin, atualmente conta com aproximadamente 160 mil habitantes. 

Catedral de San Sebastián y la Immaculada Concepción, construída inicialmente em 1899, foi destruída no terremoto de 1970, tendo sido reconstruída (ainda está em obras)




Provando o delicioso porquinho, com seu torresmo pururucado, sentados no meio fio

Compras no mercado público (como sempre)

Daqui em diante, a 3N está pavimentada em quase a totalidade, faltando ainda alguns quilômetros que estão sendo asfaltados por uma grande empresa chinesa. Aliás, a China está por tudo aqui! Historicamente falando, a parceria entre os dois países é antiga e explica o fato das feições dos peruanos serem tão orientais!

Vou abrir um parênteses para explicar esta relação longínqua e profícua entre peruanos e chineses!!! Até na culinária esta parceria aparece com força total!

Huánuco: berço da culinária chifa

Arroz chaufa com carne de porco

Os restaurantes são temáticos

Os Restaurantes Chifas tornaram-se populares principalmente a partir dos anos 1930, quando a imigração chinesa do Peru recomeçou com força total... a culinária chifa nada mais é que um mix entre a culinária e técnicas peruanas e chinesas. Usando ingredientes peruanos (legumes, temperos, carnes) e técnicas chinesas, quase tudo é preparado numa panela wok, que distribui igualmente o calor, a presença do arroz e do macarrão é bastante forte. O arroz chaufa, em todas as suas variações (com frango, porco, carne bovina ou só legumes e ovos) é carro chefe. O talharim salteado (fideos misturados a legumes e um tipo de carne) também é bem apreciado. Há, ainda, o aeroporto, que mistura o talharim salteado e o arroz chaufa, com legumes e carne... enfim! A presença de molhos a base de tamarindo e outras iguarias também é bem forte! A variedade da comida e seu tempero gostoso atraem não só turistas como toda a população local. 





O nome chifa tem origem do cantonês chifan onde chi significa "comer" e fan significa "arroz". 
Historicamente, conta-se que os primeiros chineses chegaram ao Peru por volta de 1849, para trabalhar em plantações e minas costeiras de açúcar, construir ferrovias e extrair guano para combustível. O contrato previa que deveriam trabalhar por 8 anos para os proprietários de terras peruanos. Estes contratos eram firmados em Macao e também tinham uma contrapartida: cada latifundiário deveria separar uma parte de sua terra para o cultivo de alimentos da cultura chinesa. Assim, foi introduzido o cultivo do arroz, até então desconhecido na América. Os chineses que vieram adaptaram-se aos costumes locais, porém seus hábitos alimentares acabaram por modificar a culinária local. Os primeiros restaurantes chifa que registram esta mescla das culinárias peruana e chinesa datam do fim do séc. XIX, e o berço está localizado na cidade de Huánuco, por onde passamos em nossa rota rumo ao sul, ainda na 3N.

Montanhas nevadas, mesmo no verão

Flamingos e outras aves migratórias curtindo um laguinho no altiplano


As paisagens são indescritíveis... percorrer a Cordilheira dos Andes é top!!


Percorremos muitos quilômetros - e durante dias - sempre em altitudes acima de 3000msnm... as temperaturas bastante baixas acabaram nos motivando a gastar uns soles para dormirmos abrigados, com direito a banhos quentes bem vindos e deliciosos! Dormimos algumas noites em Hostals e hoteizinhos bons e baratos (em média, entre 30/50 soles o pernoite). Lugares simples, porém limpos e acolhedores. 
Preparando nosso café dentro do quarto

A 4300msnm, buscamos um hotel para dormirmos... tivemos a companhia de lhamas


Preparando o jantar dentro do quarto

A 4300msnm, frio intenso: dentro do quarto, uns 7°C!!!

Foram muitas as cidadezinhas e vilazinhas por onde passamos... a rodovia 3N (paralela à PanAmericana, que passa pelas montanhas) passa a denominar-se 3S depois de Lima. 

Trecho da 3N em construção

Empresa chinesa que faz a obra de pavimentação da estrada... 

Obras na pista... fila à espera de liberação. Observem que os caminhões são todos chinos

Foram semanas percorrendo o alto dos Andes, passando por localidades bucólicas, áreas de reserva (Reserva Nacional de Junín), lagos, grutas,... visitando mercados públicos, trocando ideias com os locais!  

Pachas - povoado às margens da 3N

Interior da igreja de Pachas


Vista da "Corona del Inca"

"Corona del Inca"

Lá pelas tantas, o Maps.me indicou uma outra rota, seguindo pela rodovia 105. A estrada tem um visual lindíssimo e, de quebra, conhecemos a bonita vila de San Pedro de Cajas, onde há uma gruta e um personagem folclórico.

Vista panorâmica de San Pedro de Cajas, na rodovia 105


"Señor de Pacchapata"- por volta de 1800, uma pastora de ovelhas teve uma visão de um senhor de vestes brancas e uma armadura de prata. Ao lado, há uma gruta onde foi visto o rosto de Cristo e uma cruz... ergueram uma igrejinha na localidade e os festejos acontecem em maio de cada ano

Gruta em San Pedro de Cachas



Rodovia 105, ligando San Pedro de Cajas a Tarma: desfiladeiro, curvas sinuosas, plantações em terraços!!!


Sempre na altitude, com tempo bom, paramos aqui e ali e num dos nossos acampamentos, ficamos às margens do Lago Tragadero, na região de Jauja.

Localizado a 3818msnm, é uma laguna onde os pássaros migratórios fazem sua parada para descanso e alimento


Acampamento às margens do lago Tragadero


"Terrazas de Aguas Calientes", perto de Izcuchaca

Ao fundo, rio Mantaro

Próximos de Izcuchaca, vimos uma linda formação rochosa com cachoeira de águas sulfurosas... paramos para ver esta lindeza e de quebra, acabamos conhecendo uma linda família que fazia um picnic nas margens da rodovia! Eles nos ofereceram batatas de diferentes tipos para provar (produção própria) e ainda um pedacinho de carne...

Confraternização, com direito à batatas e carninha

Izcuchaca, deve seu nome à belíssima ponte de cal que deriva de seu nome. Em quéchua, Izcu significa "cal" e chaca significa "ponte". Fundado em 1876, está localizado na província de Huancavelica e está a quase 3000msnm.







O pisco é uma bebida típica do Peru (apesar dos chilenos dizerem que a origem é de lá!)

O pisco é uma bebida exclusivamente feita a partir da destilação do mosto da uva. O nome de origem quechua faz referência à "Villa de Pisco", localizada no litoral peruano, onde haviam muitas aves (Pisku em quéchua significa "ave"). O Peru defende que o nome é uma denominação de origem (como o champagne, da França), porém os chilenos defendem se tratar de um nome genérico. 
Em meados do século XVI (1574), os monges que atuavam na costa passaram a produzir o pisco de uva peruano (que haviam aprendido com os nativos) e a bebida passou a ser popular. 

Rodovia 3S

Impossível dizer qual lugar é mais bonito... 



Na localidade de Acco Pata a rodovia se subdivide. À direita ela sobe e vai pelo cume das montanhas e à esquerda vai serpenteando o rio Mantaro, com pequenos aclives. A pista é não pavimentada em sua maioria, mas foi por aqui que fomos. A beleza das formações rochosas nos lembrou o estado de Utah ou de North Dakota, nos Estados Unidos. Montanhas multicoloridas, plantação de frutas e verduras (acabamos comprando alguma coisa ali, dos próprios agricultores) foram nos brindando vistas maravilhosas... a água dos rios está bastante baixa, pois é usada na irrigação das plantações, além de ser estação de seca! 





Acabamos não acampando nesta região linda por não termos tido oportunidade de comprar uma proteína e outros complementos pra nosso almojanta. Desta forma, seguimos até Huanta onde fizemos nossas compras e dali, buscamos um local para ficarmos. Uma pena que a estrada já não era tão bonita e atraente. 

Mercado Público de Huanta, conhecida como "Esmeralda dos Andes"

Sempre pela 3S, subindo e descendo montanhas, serpenteando rios, passando por vilas acabamos chegando a Pajonal, localizada a 2170msnm, com tempo bom e quente. Vimos do alto da montanha que havia esta localidade e umas ruínas próximas da estrada. Seguimos para lá e apenas no dia seguinte descobrimos a história daquela fazenda: Hacienda Pajona. 

Ruínas da Hacienda Pajona




Esta fazenda é do século XIX (1820) e funcionou até meados de 1980, quando o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso* afugentou seus proprietários (matando alguns membros da família), que acabaram abandonando a região. Ainda podem ser vistos a roda d'água, moinho, carros antigos e o sistema de canais de água escavados montanha abaixo, e que até hoje servem à população local. Tratava-se de uma fazenda de cana de açúcar.


*O Sendero Luminoso foi um movimento revolucionário que nasceu em 1960, como dissidente do Partido Comunista do Peru. Em 1977 ele passou de guerrilha rural para urbana. O seu objetivo era o de superar as instituições burguesas peruanas por meio de um regime revolucionário e comunista de base camponesa, utilizando-se do conceito maoísta de Nova Democracia (sabe-se lá o que isto significa!!). Existem registros de que este grupo terrorista matou entre 30 mil a 48 mil pessoas (mais de 54% agentes governamentais) durante o período de 30 anos em que atuou de maneira mais intensa. 


A família foi expulsa pelo Sendero e tudo foi deixado para trás. Os guerrilheiros pilharam o que havia e o restante foi queimado

Canais de irrigação ainda em uso



População local que nos contou a história do lugar e estavam fazenda a limpeza dos canais, em mutirão, que levam a água até a vila. Estes canais existem há 200 anos!

Depois dessa parada, continuamos em direção à Abancay, subindo novamente (e descendo) montanhas. 

Rio Chincheros


Abancay continua horrível, suja, descuidada. Esta cidade é passagem obrigatória para quem está indo de Cusco para o litoral ou quer seguir pela Cordilheira. As ruas da cidade mais parecem um tobogã... o desnível da parte mais baixa para a parte mais alta da cidade ultrapassa 600m! Paramos rapidamente na cidade apenas para fazer compras. Um guarda de trânsito nos orientou e paramos a exatos 5 passos da feira!!!

Congestionamento na entrada da cidade... acabamos pegando outra rota

Mercado público de Abancay: penso que é a única coisa boa da cidade! rsrsrs

 Nosso próximo destino era a inesquecível e maravilhosa CUSCO!!!

Pico Salkantay, a caminho de Cusco


Gominho, Covid, Rob e Sucumbíos (nossos mascotes) chegando pela primeira vez em Cusco


CUSCO, o umbigo do mundo



Esta é a nossa 4ª vez nesta linda cidade!!! Cada vez nos surpreendemos com alguma coisa distinta e desta vez não foi diferente! 




Cusco, ou Cuzco, é a capital da província de mesmo nome e atualmente possui uma população de 430 mil habitantes. A cidade, localizada a 3400msnm, já foi a capital do Império Inca - Tahuantisuyu. Lendas atribuem sua fundação ao Inca Manco Capac, no séc. XI ou XII, e as construções antigas deste povo instruído e altamente tecnológico ainda podem ser vistas, pelo menos parcialmente, em monumentos como o Korikancha (Templo do Sol), cuja construção foi usada para fazer o Convento de Santo Domingo sobre ele.  

Convento Santo Domingo, sobre o Korikancha

Construção inca embaixo (observe o encaixe das pedras) x construção espanhola em cima

A senhorinha que fazia a limpeza nos explicou que o Museu está fechado, já há anos... desta vez a desculpa é o Covid!! É nossa 4ª vez aqui e nunca conseguimos entrar nesta parte do Museu!!


Quando Francisco Pizarro (nascido em Trujillo, Espanha - fomos visitar sua casa, mas esta já é outra história!) invadiu e saqueou a cidade, em 1532, a maioria dos prédios incas foram destruídos ou transformados em construções cristãs. 
Um grande terremoto, em 1950, destruiu as construções espanholas, deixando aparentes as fundações e paredes construídas anteriormente pelos incas, de tão boas e de qualidade superior!!

Plaza de Armas - Haucaypata

Durante o governo do Inca Pachacuti e seu filho Túpac Yupanqui - 1438 - houve uma conciliação entre os povos de diferentes grupos tribais e o domínio de Cusco se estendeu até Quito (Equador), ao norte, até o rio Maule (ao sul), integrando culturalmente os povos em 4500km de cadeias montanhosas. 


O puma, símbolo da cidade

Painel demonstrativo da cidade, antigo

"Inca" - carro alegórico do desfile da festa do solstício


O local onde atualmente está a Plaza de Armas (Haucaypata), na época de Pachacuti (que teoricamente foi o idealizador que planejou a cidade), era a posição do peito do puma, pois segundo esta teoria, a cidade tinha o formato de um puma e a cabeça do animal seria onde está localizado o templo de Sacsayhuaman.
Chegamos à cidade três dias depois da festa do solstício (21/07) exatamente no dia 24/07, que é a data exata do Inti Raymi!! 

Grande volume de turistas nas ruas... alta temporada em Cusco



Inti Raymi, ou "Festa do Sol", foi estabelecido pelo Inca Pachacutec, em 1430, na data do solstício de inverno  no Hemisfério Sul. Havia tantos turistas que era impossível caminhar pelas ruas! Após conseguirmos tirar foto do Garça na Plaza de Armas (antes da polícia gentilmente solicitar que saíssemos rsrsr) seguimos em busca de um hostal. Optamos por escolher uma acomodação (Hostal Marcelo's - hostalhmmarcelos@gmail.com) fora do buchicho, próximo da estação rodoviária, em Wanchaq. Pagamos $147 Soles por dois pernoites... infelizmente o Garça não coube na garagem e tivemos a despesa de estacionamento para nosso companheiro: $60 Soles.
 
Obelisco Ovalo Pachacutec, a duas quadras de nosso Hostal




Dedicamos um dia e meio para rever esta cidade linda... desta vez, tivemos dois presentes: primeiro, a Festa do Sol com todo seu esplendor e alegria. O segundo presente, foi reencontrarmos, depois de muitos anos (faz 4 anos que saímos do Brasil e mais uns tantos que não nos víamos), o casal Joyce e Cláudio, que foi um dos que nos inspirou, há mais de 20 anos, a fazermos uma volta ao mundo de carro, com barraca de teto!!!!! 

Reencontro inesperado com os amigos de longa data: Cláudio e Joyce: se tivéssemos marcado, não teria dado certo!!! 

Compartilhando experiências, aventuras e comida deliciosa no Restaurante Green Point
 (greenpointcusco.com)

A alegria em encontrá-los em pleno San Blas (bairro típico) foi indescritível! Aproveitamos para almoçar juntos e trocar ideias... o tempo foi pouco para conversarmos e contarmos histórias!!! Eles irão fazer duas trilhas pesadas nos próximos dias (Ausangate e a Trilha Inca) e acabamos nos despedindo com o coração apertado! 
Procissão alegórica dos festejos 






Os dançarinos que participaram da procissão nos convidaram para participar da ciranda

Ganhamos um prato de escabeche, regallo de Damaris Rocio

Durante este dia e meio de permanência na cidade, tivemos a oportunidade de ver um desfile/cortejo religioso que faz parte dos festejos do solstício. Acabamos entrando na dança, pois os artistas populares nos envolveram na ciranda... foi muito divertido e ainda de quebra provamos um prato típico - espécie de escabeche de cerdo (porco), servido frio, com vinagrete e cenouras. 
A procissão se iniciou na igreja de San Francisco e foi percorrendo as ruas até chegar na Igreja de Santa Teresa, num misto de profano x religioso. 

Igreja de Santa Teresa


Monasterio de Carmelitas Descalzasde San Jose y Santa Teresa, ou simplesmente, Convento de Santa Teresa (fim do séc. XVII)

Construída totalmente em pedra, a igreja foi inicialmente construída em 1676, quando as primeiras carmelitas vieram para se enclausurar eternamente! O altar mor é barroco, sob uma cúpula de tijolos! A riqueza em detalhes e beleza da igreja impressiona. Ponto de chegada da procissão, abrigou a imagem e os devotos que vinham trazendo o estandarte pesadíssimo! 

A famosa pedra dos 12 ângulos, na Calle Hatum Rumiyoc


Do antigo para o moderno


Arco de Santa Clara

Passeamos por horas, sem rumo certo, apenas admirando e curtindo o astral maravilhoso desta cidade incrível! 

Não conseguimos resistir: deliciosas empanadas!!!

O artesanato é maravilhoso

Plaza em San Blas, música ao vivo

Caso queiram mais informações e dicas de Cusco e região, acessem nosso blog, com postagens anteriores. Seguem os links abaixo: 

https://www.viagemfamilia.com.br/2017/03/etapa-2-de-puerto-maldonado-cusco-e.html
https://www.viagemfamilia.com.br/2009/11/cuzco.html
https://www.viagemfamilia.com.br/2019/02/peru-pais-intrigante-e-cheio-de.html

Nosso último destino planejado no Peru eram as Montanhas Coloridas! Há diversos passeios que saem de Cusco diariamente e que levam até o local mais famoso, Vinicunca. Os preços não são caros, levando-se em consideração a distância (aproximadamente 100 km distante) e que inclui traslado, guia e alimentação básica - algo em torno de $70/120 Soles por pessoa.  

Laguna Langui

Porém, nós queríamos aproveitar que o local era no nosso caminho de retorno ao Brasil e fazê-lo por conta, sozinhos. Pesquisamos e descobrimos que há, na verdade, 3 locais com as mesmas características (Vinicunca, Palccoyo e Pallay Punchu). Julián, dono da oficina mecânica que recuperou o Garça na Colômbia nos contou que esteve, de moto, com seus amigos, em Pallay Punchu. Gratuito e lindíssimo!!!

Em Layo, próximo de nosso destino - Laguna Langui

Então, fomos para lá: destino PALLAY PUNCHU!!!

Quando chegamos à "cidade" de Layo, perto do meio dia, não sabíamos o que nos esperava... pegamos informações num barzinho e encontramos a trilha de subida. A estrada de chão, bastante estreita, estava em boas condições. Fomos subindo devagarinho, uma vez que o local já fica em altitude e nosso Garça sofre em subidas, por estar muito pesado!!! Algumas paradas a frente, sempre subindo, já tínhamos o visual deslumbrante do lago e da vilazinha. 




Observamos que a estrada a frente fazia uma espécie de zique-zague subindo a montanha, com desnível muito acentuado!!! Bah!!! O bagulho ficou tenso... Marcos, com tranquilidade, me disse: "Tá tudo bem, o Garça sobe e nós também!" 

O zigue-zague a frente, subindo a montanha!



É possível ver o ângulo acentuadíssimo das curvas


O visual lá em cima é lindo!!!! Indescritível!!!! Como chegamos de tarde, com o sol já nas costas da montanha, as cores não estavam tão vibrantes, mas a beleza do lugar é incrível!!! Valeu cada sufoco para chegarmos lá...  vantagem é que como nosso carro é 4x4 e pequeno, ele conseguia fazer as manobras de subida do zigue-zague "com facilidade"... Quem tem veículo maior, não recomendo! De van, em hipótese alguma... nestes casos, melhor ir a pé (que é o que a maioria das pessoas faz).
 

Finalmente chegamos ao topo

Visual é deslumbrante

Cores: vermelho (argila), esbranquiçado (areia de quartzo), amarelado (arenito limonitas) e fúcsia (lama e areia). 

A incrível cor das montanhas, a mais de 4300msnm

Por ser menos conhecida e frequentada, rituais de "pago a la tierra" (uma cerimônia que antecede os incas) acontecem aqui. Os "apachetas" (oferendas às montanhas e à Paccha Mama) são frequentes... sabe o que é um apacheta??? É uma pilha de pedras (que chamamos de fenshui) que serve de altar para oferendas!!! 

A vontade de acampar aqui em cima só foi substituída pelo frio... às 16h, quando iniciamos a descida, a temperatura já estava em torno de  12°C! Nas áreas de sombra, as águas das nascentes estavam congeladas!!
Descemos devagarinho, observando a linda paisagem e buscamos um local às margens do lago para passarmos a noite. 


Laguna Langui, de águas transparentes (3978msnm)

Felizes por termos atingido nosso objetivo, pela manhã fomos surpreendidos com um probleminha: pneu dianteiro direito furado!!! Marcos pegou o kit de remendo chin-chin e foi ao trabalho...

Analisando a posição e local do furo

Fazendo o remendo

Infelizmente o buraco era grande demais e quando chegamos à cidadezinha de Langui - 4 km a frente, descobrimos que não havia borracharia no local (apenas para motocicleta e bicicleta) e que teríamos de levar o pneu até uma cidade maior próxima, 35 km distante!!!!!
As coisas nunca são simples com a  gente!! Este foi o 3º pneu furado em nossa viagem de mais de 150 mil km rodados e quase 4 anos de duração! Imagine que o 1º pneu furado também foi no Peru, em 2019 (e foi complicado, também).
Como não havia transporte para a cidade de Siruani naquele momento, a decisão foi pegar o estepe e para isto, TUDO que estava no porta malas teve de ser retirado!!!!! AFFFFFFF

Toda a carga do porta-malas na calçada da praça

Pegando o estepe

O estrago foi grande demais para o chin chin


Hora de fazer a limpeza...aproveitando que tudo estava fora!

Quando Marcos terminou de tirar tudo e desmontar a estrutura das caixas e fogão, adivinhem???? Apareceu o táxi!!! Por $10 Soles o muchacho levou o Marcos até a cidade, com o pneu furado, e o deixou em frente da llanteria (borracharia), onde prontamente uma moça arrumou o baita furo e indicou o caminho para pegar a van do caminho de volta! 
Na pressa e atropelo de ideias, Marcos acabou esquecendo o celular no carro, em Langui, portanto não há fotos da peripécia e do transporte sentado em cima de um toco de madeira dentro da van, superlotada na volta. 

Plaza de Armas de Langui

Enquanto isto, eu aproveitei para fazer uma limpeza em regra no porta-malas!!! E tive de cuidar dos cachorros da vila, para que não urinassem em nossas coisas, empilhadas na calçada!! rsrsrsr
Duas horas se passaram até o retorno de Marcos e daí, mais 1,5h para remontar e recolocar tudo no lugar!!! Bastante cansado, mas determinado a seguirmos adiante pelo menos alguns quilômetros, retomamos nossa jornada em direção à Rodovia Interoceânica (PE30C), que liga o Oceano Atlântico (na costa brasileira) ao Oceano Pacífico (em Ilo). 

Acampamento em CIA das galinhas

A temperatura, às 8h, era -1°C!!! A barraca teve "geada" por dentro

Pernoitamos num posto de combustíveis e no dia seguinte iniciamos a "descida" dos Andes, em direção à Puerto Maldonado. "Descida" é só uma maneira de dizer, pois do entroncamento da 3S até iniciar a descida, propriamente dita, são uns 100 km de subidas fortes, com algumas descidas leves, até chegarmos ao Paso, a 4750msnm!!! Apenas depois disso, é que a descida começa, forte e constante, e só vai terminar em Quince Mil, já a 642msnm, a 235 km de Puerto Maldonado 


Devagar e sempre, fomos subindo em direção ao Paso, parando aqui e ali para ver a linda vista e deixar nosso Garça esfriar "a cabeça"!! rsrsrsr 



Passamos pela localidade onde ficam as Montanhas Coloridas famosas, de Vinicunca, vimos a linda Ausangate, nevada, onde nossos amigos Cláudio e Joyce deveriam estar em seu trekking, paramos para comer o famoso e delicioso cuy, iguaria por aqui, e encontramos dezenas de lugares lindos para pernoitarmos, porém a altitude sempre por volta de 4000msnm não nos animou nenhum pouco. 


Ausangate nevado, ao fundo

A Estrada do Pacífico, também chamada de Interoceânica, possui 2600km de extensão. De Rio Branco (AC) até o porto de Ilo (Peru) são 1550km, com o desafio de transpor a Cordilheira dos Andes. Isto acaba tornando a via pouco utilizada para o que se propôs, de início: ser uma ligação para transportes de mercadorias e cargas  que economizaria distância e custos, estabelecendo uma via de comércio entre Brasil - Bolívia - Peru com a Ásia! 

Dando uma paradinha numa vila

Aqui se vende tudo, "do piso ao teto"

Parada para o lanche!! Hoje almoçamos!!

Prato completo com truta frita: opção da Mari

Prato completo com cuy: opção do Marcos

Iniciando os trabalhos... rsrsrsrs

Fica como sugestão!!! Local top, comida deliciosa e barata! Ccatca Huayllabamba
https://www.facebook.com/people/Qryspy-cuyeria-restaurant/100067684122155/



Nossa despedida dos Andes foi silenciosa... sabíamos que daqui pra frente não teríamos mais a presença delas, as montanhas majestosas nevadas, com suas altitudes imensas, nos fazendo refletir quanto somos diminutos!!! 



Por total impossibilidade de dormirmos acima dos 4000msnm, fomos vencendo os quilômetros até chegar ao Paso (4750msnm) e dali, sempre descendo, até encontrarmos um local bacana onde pudéssemos descansar. Encontramos um pasto, anexo a uma casa e pousadinha (Kusikusa), onde pedimos permissão para pernoitarmos. Quando paramos o carro, já havia estrelas no céu. A temperatura estava em torno de 8°C e pouco vento!!!! 
Como já havíamos comido, agora foi a hora de tomar um quentão e comer uns biscoitos e milhos torrados! 
Nosso último acampamento na altitude foi tranquilo! 

Último acampamento na altitude... daqui em diante, floresta amazônica lá vamos nós!!

Chegamos a Puerto Maldonado dois dias depois... na busca por um local onde pudéssemos abastecer nosso botijão de gás, acabamos sendo abalroados por um tuc tuc, que vinha em alta velocidade pela via paralela, sem respeitar os cruzamentos!!! Tuc tuc capotado, carga espalhada pela pista, Garça amassado, motoristas nervosos!!! O peruano quis "tirar uma graninha", mas esperamos a polícia local, que veio e sugeriu que ele fosse embora, visto que Marcos optou em não registrar queixa! 
Tudo resolvido (era o que pensávamos!) finalmente encontramos o local para encher o bujão. O gás colocado estava com excesso de pressão, o que acabou danificando nosso fogão... posteriormente descobrimos que a qualidade do gás colocado também era bastante duvidoso: acabou que o barato saiu caro!!!
Primeiro sinal de que chegamos à planície amazônica




As castanheiras, majestosas, na beirada da estrada

Um pouco antes de Inãpari, com calor insuportável e sol forte, paramos numa fazenda com piscina para day use, Hacienda Jamaica, de Celiane Gonçalves, uma brasileira do sul do país e moradora do Peru há anos, permitiu que pernoitássemos em seu estacionamento e nos cobrou apenas a taxa de uso da piscina: $10 Soles por pessoa!!! O lugar é top e foi o fechamento com chave de ouro de nossa permanência neste país incrível! 

Além de restaurante, tem piscina com wetbar e piscina infantil, coberta, lago,...
https://www.instagram.com/jamaicahacienda/

Vista do restaurante

Tomando uma Skol brasileira, pra festejar!


Com Rubem, bartender filho da Celiane

Com Celiane e seu filho, Rubem: família nota 10!
https://es-la.facebook.com/people/Hacienda-Jamaica-I%C3%B1apari/100010433071578/

Área da cozinha e buffet... ainda estavam iniciando os preparativos para o almoço

MAIS SURPRESAS!!!

Chegamos à Aduana Peruana de Inãpari perto das 11h!!! Quando fomos efetuar a saída do país, fomos surpreendidos; o agente de imigração nos disse que estávamos ilegais!!! COMO ASSIM????? 
Não é que o agente aduaneiro que não quis deixar a gente entrar na divisa de Macara (Equador) nos deu apenas 15 dias registrados no passaporte???? Não percebemos isto... como o carro recebeu visto para 90 dias, seguimos tranquilos, sem nos preocuparmos com nosso tempo de permanência...
Ok... problema posto, perguntamos qual a solução oferecida para legalizarmos tudo! O agente nos disse que teríamos que pagar uma multa, ou então, sairmos do país sem carimbar o passaporte (o que poderia trazer problemas para uma futura entrada no Peru!). 
Optamos pela forma legal e após recebermos um papel com a multa, no valor de $64,40 Soles por pessoa (referente aos 14 dias a mais que ficamos ilegalmente), fomos até o Banco de la Nación para efetuarmos o pagamento. Infelizmente não tínhamos mais Soles e a caixa do banco não aceitava Visa. Como o caixa eletrônico estava offline, o jeito foi pagarmos em dólares!!!
Dívida paga, papéis acertados, passaporte carimbado, hora de voltar pra casa!!!! 
Adiós, Peru!!! Gracias por todo!!!  



 DICAS IMPORTANTES
 
- Para quem quer fazer o trecho da Interoceânica que vai a Cusco, a sugestão é fazer a aduana e seguir até Puerto Maldonado. Só ali é que se faz o seguro SOAT, obrigatório (e não disponível na divisa, em Iñapari). Este seguro é válido pelo tempo que você quiser, portanto já tenha uma ideia de quantos dias você pretenderá ficar no Peru... caso queira estender sua permanência, terá de refazer o SOAT
- Teoricamente, a distância entre Puerto Maldonado e Cusco pode ser feita em um dia... porém, estes 478 km que separam as duas cidades serão feitas em etapas: a primeira, de 230 km, tranquila, na planície. Depois de Quince Mil, inicia-se a subida dos Andes e serão 200km de subida ininterrupta até Urcos, com um desnível de 600msnm até 4750msnm, depois baixando um pouco para 3700msnm, e de Urcos até Cusco serão 60 km, aproximadamente, a 3400msnm!!! 
- Não tenham pressa... a estrada é linda, sinuosa, cheia de encantos! Lhamas, casinhas de campesinos, culinária local muito saborosa (o cuy e a truta aqui são mais econômicos, maiores e mais saborosos que em Cusco ou Lima). Não deixe de prová-los aqui!!! Existem inúmeras opções de restaurantes e todos muito próximos uns dos outros, numa cidadezinha depois do Paso (para quem está vindo do Brasil): Ccatca Huayllabamba (PE30C).