Viagem Família______________________________________

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quarta-feira, 3 de maio de 2023

As belezas do Ceará e sua natureza encantandora

Chegamos ao estado "mais famoso e badalado" do Nordeste na atualidade. E gostamos imensamente do que vimos!!! 


Como o Ceará é um estado inédito para nós dois, do Viagem Família, fizemos uma pesquisa detalhada e estabelecemos um roteiro macro destacando cidades/localidades/praias no mapa.

CURIOSIDADES

- O Ceará também é conhecido como "terra da luz" e possui este nome em função da grande quantidade de dias de sol no ano, mas que também se refere ao fato de ter sido o primeiro estado a abolir a escravidão, em 1884! Em contrapartida, etimologicamente, o nome Ceará vem do hebraico, citado no 2º livro de Reis (cap. 2, 1-11), significando: "chuva torrencial" ou "tempestade violenta ou repentina"!! Então, fica a sua escolha qual o significado mais adequado rsrsrsrs

Agora é estado inédito pra nós...

- Muito antes de Pedro Álvares Cabral aportar em "terra brasilis", Vicente Pinzón desembarcou num local hoje chamado de Mucuripe, ao redor dos anos 1490, antes do Tratado de Tordesilhas ter sido assinado!! Por conta deste acordo formado, os espanhóis nunca reivindicaram esta descoberta e posse. Também há documentos que relatam que os holandeses e franceses já comercializavam algodão, pimenta, âmbar gris e tatajuba (uma madeira de lei) com os indígenas potiguares antes de 1500! Este comércio continuou ocorrendo mesmo depois de Portugal ter retomado suas terras, em 1590... 

Nosso companheirinho na Lagoa Seca, próximo à Praia de Maceió, em Camocim

- José de Alencar, Chico Anísio, José do Patrocínio, Castelo Branco, Pe. Cícero, José Wilker, Dom Hélder Câmara, Tom Cavalcanti, Luíza Tomé, Raquel de Queiroz, Renato Aragão,... são apenas alguns nomes de personagens famosos em nosso país e que são nativos do estado. 

Lagoa Seca, Camocim

- Depois de 500 anos, o Ceará (e todo o litoral do Nordeste) voltou a ser sucessivamente invadido e ocupado  por franceses, suíços, espanhóis, portugueses, holandeses e italianos, e, posteriormente nos dias atuais, pelos brasileiros do Sul e Sudeste que vêm investindo em imensas áreas. Como os preços são mais vantajosos no nordeste e norte brasileiros, a compra de terras e vastas áreas acabou se tornando comum, criando empreendimentos, e na busca de uma vida melhor e mais tranquila ou apenas em busca de lucro.  

A enorme quantidade de resorts e condomínios residenciais de alto padrão se vê por toda parte. Beach Clubs, bares e restaurantes de grifes famosas também, o que por um lado fomenta o turismo, pelo outro lado ruim, aumenta os preços de tudo trazendo mais problemas para as populações locais. A verticalização, a concentração de imóveis, tem como consequências imediatas falhas na infraestrutura em geral!

Lagoa do Paraíso, Jijoca

NOSSO CAMINHO

Por intermédio do Archer, nosso amigo viajante maranhense, e sua esposa Taynara, seguimos direto até Jijoca de Jericoacoara, onde conhecemos  o Josimar e sua família, que moram num pedaço do paraíso por aqui!!!


Jijoca de Jericoacoara é aquela cidadezinha com poucos atrativos e da qual que ninguém nunca ouviu falar, pois a famosa Praia de Jeri (Jericoacoara) a encobre! Jericoacoara não é um município, mas apenas uma localidade subordinada a Jijoca! Jijoca é o município mais setentrional do Ceará e possui pouco mais de 20 mil habitantes com infraestrutura média, atendendo ao básico necessário à sua população e aos visitantes temporários, mas que oferece preços muito mais vantajosos em relação a Jericoacoara, distante uns 20 km da sede municipal. A principal lagoa que banha a cidade, chamada de forma muito apropriada de Lagoa do Paraíso, é um desbunde!!!

Igreja Matriz Santa Luzia

No tupi, Ji = rã e oca = casa; portanto Jijoca seria a "morada das rãs". Já Jericoacoara é traduzido do tupi para "toca das tartarugas", pois Yurucuá (ou Yuruque) = tartaruga e Coara ou (quara) = buraco, toca. 

Vista da Lagoa do Paraíso... realmente é um pedaço do céu!!!




Nosso acampamento, num cantinho do paraíso

Nossa visita, que deveria ter sido de uns 4 ou 5 dias, se prolongou para 15... aproveitamos os lindos dias e a companhia da família de Josimar/Odaísa para explorar os arredores! Fomos conhecer a famosa e badalada Praia de Jericoacoara, aqui carinhosamente chamada de Jeri, e o Parque Nacional de Jericoacoara, onde fica a famosíssima Pedra Furada! 

Com Odaísa e Rafaela, no começo da trilha do Parque Nacional

A fila para tirar a foto "tradicional"... que mico!


Esta visita fizemos em companhia da Odaísa e sua enteada, Rafaela. Foi divertido e bacana temos "guia", até porque o caminho a partir do Preá é feito pela praia e nossa amiga Odaísa conhece bem o trajeto. É recomendável utilizar um veículo 4 x 4 para alcançar o centrinho de Jeri, e indispensável quando a maré está alta. O povo dos 4 x 2 arrisca na maré baixa... o areião é pesado, mas firme! Na entrada da vila de Jeri existe uma guarita. Ali estacionam-se os carros, paga-se a taxa ambiental no valor de R$ 41,50 por pessoa - (maiores de 60 anos são isentos da taxa, bem como nativos) e todo o trajeto a partir dali é feito a pé. Jeri é uma vila "pé na areia", que cresceu demais e tornou-se turística, cheia de restaurantes e barzinhos caros e lojas de alto padrão. Existem pousadas para todos os gostos e todos os passeios saem daqui em direção às atrações que ficam na região. Uma diária de buggy não sai por menos de R$ 350,00 (3 pessoas), podendo chegar a R$ 500,00 dependendo do passeio/distância a ser percorrida. Se for de jardineira Toyota Hilux, o preço é aproximadamente o mesmo, porém o número de pessoas é maior para diluir o valor (até 10 pessoas). 


Depois de 15 min esperando na fila, hora da foto espetacular!!

Rua principal de Jeri

Construções charmosas de Jeri

Ruas de Jeri: pé na areia!

Até 1985, Jeri era uma vila de pescadores de difícil acesso, onde os poucos aventureiros aproveitavam o sossego para praticar windsurf, kitesurf e curtir a natureza. As grandes dunas eram o palco de lindos pores de sol... depois que o Jornal norte-americano Washington Post Magazine considerou Jeri uma das 10 praias mais bonitas do mundo, em 1984, o sossego acabou!!! E os preços inflacionaram... este triste fenômeno se repete em muitos outros lugares, onde se confunde "explorar o turismo" com "explorar o turista"! Só pra constar: Jeri é distrito de Jijoca e não o contrário!

Subindo o Serrote

Outra forma de alcançar a Pedra Furada: usar uma charrete

Pedra Furada


Em Jeri - Após uma caminhada de 10/15 min de subida do Serrote, alcançamos o cartão postal da região: a Pedra Furada. O arco natural formado numa rocha de 5 m de altura tem um bonito visual, onde as pessoas fazem fila para tirar fotografias! Acabamos "pagando o mico" e também entramos na fila... é meio ridículo, mas está valendo! Estas são aquelas coisas que se fazem quando se vai a um local "arroz de festa"! 

Almoço com as amigas Rafaela e Odaísa

Árvore da Preguiça

No retorno para casa paramos na Árvore da Preguiça... em função dos ventos fortes e constantes as árvores da região são todas inclinadas e parecem se esparramar pela areia. É bonito de ver! 

Restaurante Komakí, na Barrinha

Ambiente rústico chique, aliando paredes de barro, cobertura vegetal e madeira

Dunas da Barrinha, com o amigo Josimar

Lagoas em cima das dunas... elas só aparecem no inverno (época de chuvas)

Vizinhas à Jijoca, também visitamos Preá (passagem para chegar a Jeri), Barrinha e Acaraú. Em todos os locais turísticos é feita a cobrança de day use em torno de R$ 15,00 a R$ 35,00, dependendo dos serviços oferecidos nos Beach Clubs. Este é um diferencial do Restaurante Nova Esperança do Josimar... ele não cobra ingresso, apenas cobra pelos serviços oferecidos. Então fica a dica... visitem o Josimar e família e aproveitem o lindo (e delicioso) restaurante que ele tem às margens da Lagoa do Paraíso, em Jijoca de Jericoacoara!

Com o amigo Josimar

Lagoa de Flexeiras, pertencente a Icaraí de Amontada



Despedimo-nos de nossos amigos depois de 15 dias em Jijoca e região e seguimos sempre pela Rota do Sol Poente (C-085) até a Lagoa de Flexeiras, em Icaraí de Amontada. O lugar é muito lindo e buscamos um local para acamparmos ao lado de um restaurante. Conversamos com o proprietário, Daniel, e ele indicou onde poderíamos ficar... 



Churrasquinho no tio Cré, em companhia de Rozângela e Ninja

Esperando o pôr do sol... mais um lindíssimo para a coleção

Com tio Cré, Ninja e Rozângela


Aqui conhecemos um casal maravilhoso, Ninja e Rozângela, cearenses de Fortaleza. O bate papo rolou solto e acabamos passando dois dias juntos. Eles nos levaram para conhecer Moitas (praia vizinha) e vermos o encontro do rio Aracatiaçu com o Oceano e de quebra, conhecemos o Tio Cré, um personagem folclórico na região... O cara é um barato e passamos um delicioso dia num lugar paradisíaco e com um dos mais bonitos pores do sol que já vimos recentemente! Rolou até churrasco raiz, ao pé da areia! Uma delícia em ótima companhia. 

A presença de parques eólicos em todo o litoral nordestino é recorrente na paisagem.

Foz do rio Mundaú, no pôr do sol

Novamente despedidas e levamos mais amigos no nosso coração. Sempre seguindo em direção leste, pela C-085, chegamos a Mundaú. Do alto das dunas a vista da foz do rio Mundaú é linda... descemos e buscamos um local bacana para acamparmos. À beira mar, numa faixa bastante larga de praia, encontramos uma área gramada tranquila e ali fizemos nossa comida e, de quebra, conversamos com uns locais! 

Local do acampamento, na beira do mar

Estrada deserta entre Flexeiras (bem charmosa) e Guajiru (mais simples). Levando nosso lixo até um local adequado para descarte.

A Praia do Mundaú (e região) é aquele lugar paradisíaco, imperdível. Com dunas, rios, lagoas e praias maravilhosas, é sem dúvida um dos destinos mais bonitos do litoral do Ceará a ser explorado com calma. Junto com Flexeiras e Guajiru, são 13 km de praias quase desertas, todas pertencentes a Trairi. Mundaú, em tupi, significa "lagoa grande"!

Já havíamos percebido que as praias do Ceará possuem a característica de servirem como BR PRAIA e que o trânsito pela areia é permitido (ou tolerado), não só para veículos 4 x 4, como os mais simples, 4 x 2, por sua areia ser firme e fina. No dia seguinte, seguindo os rastros já deixados por outros veículos, trafegamos por alguns km pela praia, até encontrarmos uma saída para a CE-163, que nos levou até Lagoinhas. 

Região da Lagoinha

Lagoinhas é bem agitada e point de kitesurf. Na busca por um local mais tranquilo, de preferência às margens de uma Lagoa, seguimos por uma trilha de buggy e 4 x 4 pesado... foi uma aventura e tanto. Chegamos à Lagoa Almécegas e de lá, por indicação de um bugueiro, alcançamos nosso local escolhido: a Lagoa do Jegue!!! 

Com Jorge, na Lagoa do Jegue


Lagoa do Jegue e seus "donos"

O local é espetacular e ao lado do mar! O Jorge, cidadão local simples e espontâneo, nos acolheu e permitiu que acampássemos ao lado de um telhado de palha na área em que ele é o cuidador. Batemos papo com nosso novo amigo e o acompanhamos para subir a duna mais alta e de lá, admirar o lindo pôr do sol!! Mais um lindíssimo pra coleção!!! 

No dia seguinte nos despedimos e atravessamos o rio (nada como um bom 4 x 4) para depois seguirmos pela BR PRAIA até a cidade de Lagoinhas rsrsrsrs 


Daqui decidimos subir a serra, uma vez que não tínhamos a intenção de conhecer a capital, Fortaleza. 

Em nossas pesquisas anteriores descobrimos que no Ceará, na região do Maciço de Baturité, há a Rota Verde do Café, onde se produz café arábica de sombra de excelente qualidade. Então seguimos agora para o interior, por BR asfaltadas e também por estradinhas "de atalho" onde mal cabia o Garça! 


Pontes invertidas pelo caminho

Muito barro e mato

Mais uma ponte invertida

Já na BR 020 - Juscelino Kubitschek,  fomos até a cidade de Campos Belos, onde pegamos o acesso à serra (CE-253) bem sinuosa e de aclive bem acentuado. A vista panorâmica lá de cima estava linda. O ponto mais alto chega a mais de 1000 msnm, e depois descemos um pouco e chegamos a Pacoti, nosso destino do dia. 

Igreja matriz de Campos Belos


As curvas e aclive da CE-253

Acabamos pernoitando duas noites em Pacoti, aproveitando para conhecer a região e o friozinho da serra do Ceará. Pra quem pensa que no Nordeste não faz frio, se engana... à noite fica fresco e o uso de cobertor leve se faz necessário. Resolvemos ficar na Pousada Recreio, com a diária no valor de R$ 120,00 (com café da manhã e estacionamento próprio, além de piscina). 


Nosso pouso em Pacoti: Pousada Recreio, a 50m da igreja matriz


Igreja Matriz - N. Sra. da Conceição (1860, reformada no séc. XX)


Pacoti é uma cidadezinha pacata, com pouco mais de 12 mil habitantes, 100 km distante da capital, Fortaleza. Não há consenso sobre o significado de seu nome, porém uns dizem ser "Lagoa das Cotias", enquanto outros defendem que seria "Rio das Pacovas (espécie de banana)" na língua indígena. 

Instituto Vicentino Maria Imaculada (início do séc. XX) e sua capela N. Sra. das Graças (funcionou como escola para meninas, em sistema de internato e externato)

Cachoeira dentro do Nosso Sítio - antiga Fazenda Pau do Alho, que hospedou o Cond'Eu no fim dos anos 1890

Barril recepção do Nosso Sítio

Casario antigo da cidade

Arco de N. Sra de Fátima - reconstruído após o choque de um caminhão, em 2008, foi originalmente construído em 1953 por ocasião da passagem da imagem da Santa, vinda de Portugal, e em seu caminho para o Círio, em Belém

No dia seguinte passeamos pela cidade, também conhecida por "Princesinha da Serra", e fomos descobrindo sua história datada de fins do séc. XIX e anteriormente chamada de Pendência. 

Dali seguimos para a próxima cidade pertencente ao roteiro do café: Guaramiranga, distante uns 10 km, aproximadamente. A localidade é bem bonitinha e aproveitamos para passear pelas suas ruas, admirando a arquitetura e tranquilidade locais. Conhecida como "Cidade das Flores", Guaramiranga foi fundada em 1890 e a história da cidade se confunde com a história da primeira fazenda cafeeira da região, o Sítio da Conceição. 

Guaramiranga, a "Cidade das Flores"


Subimos o morro para o Convento dos Capuchinhos e Igreja de N. Sra. de Lourdes e o porteiro permitiu nosso ingresso, cobrando a taxa de visitação de R$ 5,00 por pessoa, mesmo com o horário de visitação já tendo sido encerrado. O antigo claustro, onde hoje funciona uma pousada, é muito bonito e transmite paz. 

A construção é linda e datada do começo do séc. XX. 

Igreja N. Sra. de Lourdes, em Guaramiranga

A capela foi construída pela família Caracas - importantes cafeicultores da região - como agradecimento pela graça atingida, no fim do séc. XIX 


Curtindo a paz do ambiente da Pousada Capuchinhos - Convento da Gruta

Compramos café produzido em Mulungu

Hoje o antigo claustro abriga uma pousada muito aconchegante

Dali descemos para a Igreja Matriz N. Sra. da Conceição, que tem origem no séc. XIX e está imponentemente localizada em frente a uma linda escadaria que pode ser vista lá da Igreja N. Sra. de Lourdes. O caminho que leva à igreja é ladeado de palmeiras imperiais e existe um cruzeiro para completar a paisagem. 

Igreja Matriz de N. Sra da Conceição


Ladeira que leva à Igreja Matriz, com seu casario colorido

Fizemos nosso lanchinho sentados num banco de praça, localizada em frente à Prefeitura da cidade. Providenciamos nosso almoço antes de seguirmos em frente - compramos deliciosos camarões. Nossa próxima parada foi a cidade de Baturité, fundada em 1858, onde nos deliciamos com um café expresso, arábica de sombra, produzido nos arredores. A Juliane e um outro rapaz do Centro de Referência do Café de Sombra nos explicaram o diferencial deste café e sua história. Aqui conhecemos o André, Secretário de Turismo do município, que nos deu dicas do que ver na cidade e também de onde poderíamos acampar. 


Degustando um delicioso café arábica de sombra "in natura"


Em sistema de cooperativa, cada pequeno produtor traz seus frutos e a torra é realizada de maneira artesanal

Como ainda era cedo seguimos até o Museu Ferroviário da cidade (localizado no outro lado da mesma, distante uns 10km) e que funcionou como terminal cargueiro até 2013, tendo encerrado suas atividades de transporte passageiro em 1990. Esta estação ferroviária era uma das principais ligações entre Fortaleza e Juazeiro do Norte. A Gislaide e o João, moradores antigos da cidade e que atualmente fazem a monitoria no museu, nos explicaram tudo e foram super atenciosos. João nos contou que seu pai trabalhava na empresa ferroviária e também outras histórias interessantes. 

Museu Ferroviário de Baturité - antiga estação

Peças do acervo

Com Gislaide e João, ouvindo as histórias


Antiga locomotiva - com João

Retornamos aproximadamente 6 km até o Parque das Cachoeiras, (já subindo a serra novamente) cujo acesso é horroroso e buscamos o local indicado pelo André para acamparmos tranquilamente. Acabamos parando no próprio Parque, cujo proprietário, Sr. Rui, foi super gentil e permitiu que estacionássemos em frente de sua casa, numa área plana e limpa. O funcionário Tarcísio ainda nos abriu um chalé para usarmos o banheiro a pedido de Sr. Rui. 

Dormimos com edredon e ao som de cachoeira e sapos, após preparamos nosso camarão no bafo e tomarmos aquela cachacinha local. Tudo perfeito! 

Mosteiro dos Jesuítas, em Baturité

Na manhã seguinte nos despedimos e agradecemos pela acolhida, parando no cartão postal mais famoso da cidade: o Mosteiro dos Jesuítas, construído no alto da colina de onde se tem uma vista bonita da cidade.  Aqui em Baturité nasceu o Major Antônio Couto Pereira, um dos antigos presidentes do clube de futebol Coritiba (em Curitiba - PR), responsável pela construção do antigo estádio Belfort Duarte, hoje Estádio Major Antônio Couto Pereira (ou simplesmente, Estádio Couto Pereira). 


Vista panorâmica da cidade e da serra

A região antigamente habitada por diversas etnias indígenas, a citar os Potyguares, os Jenipapo e Kanyndé, recebeu muitas expedições militares e religiosas a partir do séc. XVII. A expulsão dos holandeses da região fez com que os portugueses incentivassem as incursões dos jesuítas e seus aldeamentos e em 1755 Baturité, naquela época Missão de N. Sra. da Palma, surge. 


As primeiras mudas de café foram trazidas para cá em 1824, por Manoel Felipe Castelo Branco, oriundas do Pará. Em meados do séc. XIX a produção cafeeira em Baturité (e região) correspondia a 2% de tudo que era produzido no Brasil e por suas características únicas (ser de sombra, o que lhe confere um sabor diferenciado) era um dos preferidos do mercado francês. D. Pedro II era fã e dava preferência ao café produzido aqui no Maciço. 

Para escoar a produção cafeeira de maneira mais rápida e eficiente foi construída a ferrovia e a Estação Ferroviária - que conhecemos no dia anterior (hoje Museu) - inaugurada em 1882.

Museu Casa de Chico Anísio, em Maranguape


Nesa casa, Chico nasceu e viveu até os 8 anos de idade, quando sua família se mudou para a capital, Fortaleza, e posteriormente para o Rio de Janeiro


As personagens são retratadas através de bonecos e se pode manipulá-los

Mudando nosso trajeto planejado anteriormente, acabamos indo a Maranguape pela C-060 e C-350, nossa próxima parada. Nosso objetivo em Maranguape era conhecer o Museu Casa de Chico Anísio e também conhecer a fazenda produtora da marca de aguardente mais antiga do Brasil: a Ypióca

Quando chegamos à cidade descobrimos que o Museu Parque da Ypióca estava fechado e só abriria no dia seguinte (ele só funciona nos finais de semana). Desta forma, fomos à casa de Chico Anísio e lá o Daniel nos atendeu atenciosamente, contando sobre a ocupação da casa bem como sobre a transformação do espaço no museu. 

Aguardando a abertura do Museu da Ypióca. Acampamos no estacionamento

Casario antigo da fazenda, onde hoje moram alguns funcionários da fazenda


Pequeno alambique onde fazem doces e iguarias

Maior barril de cachaça do mundo, registrado no Guiness - 374 mil litros de cachaça!


Daniel também nos disse que o estacionamento do Museu Parque da Ypióca era amplo e sombreado e que se podia acampar lá. Então seguimos naquela direção e ao chegarmos, já fomos logo buscando um local apropriado para ficarmos. Logo chegou um vigia, de moto, Matias, nos dizendo que aquela área é particular e não era permitido ficarmos ali para pernoite. Argumentamos e explicamos nossa viagem, nosso estilo, e que na manhã seguinte iríamos visitar o Museu e seguir viagem. Ele se compadeceu e foi conversar com o gerente, voltando em poucos minutos e permitindo nossa estada ali desde que de manhã cedo fechássemos a barraca e deixássemos tudo limpo! Perfeito!!! 

Há diversos ambientes dentro da estrutura da fazenda, inclusive lanchonete e restaurante

Fomos os primeiros visitantes no dia seguinte... logo cedo estávamos a postos em frente à portaria e ali novamente conversamos com o Matias, que nos recebeu alegremente, e contou mais um pouco sobre o local.

Dario Telles de Menezes, português de Lisboa, chegou à Maranguape em 1843 e trouxe consigo um pequeno alambique de família, com capacidade para produzir 30 litros por dia. O nome Ypióca vem do tupi-guarani e significa "terra roxa". Três anos antes da Abolição da Escravatura, a mão de obra escrava foi substituída por trabalhadores livres e a produção da cana-de-açúcar só fazia aumentar (e consequentemente, de cachaça). Em 1904, com a morte do patriarca, Dario Borges Telles, filho mais velho, assumiu os negócios e modernizou a produção, trocando equipamentos rudimentares e manuais. Sua morte prematura, em 1911, fez com que sua esposa, D. Eugênia, assumisse os negócios e desenvolvesse o primeiro rótulo da Ypióca. Depois foi a vez de Paulo Campos Telles, filho da casal, assumir os negócios e alavancar as exportações, inclusive exportando a cachaça para a Alemanha. 


Antiga sede da fazenda, hoje abriga o Museu da Cachaça

A marca, criada por d. Eugênia, era originalmente escrita à mão por ela mesma

Em 2012, o Conglomerado de bebidas Diageo com capital britânico comprou a marca Ypióca por 940 milhões de reais. Esta empresa é responsável pela produção dos famosos: Bailey's, Guinness, Bells, José Cuervo, Johnnie Walker, Smirnoff, J&B, só para citar algumas... é uma potência!!!


Todos os toneis estão cheios de cachaça que não pode ser comercializada, pois a marca foi vendida

Bar antigo com diversas garrafas de época

Agradecimento especial ao Leandro, chefe do setor do Museu, super atencioso e com quem trocamos muitas informações e experiências! 

Não podia faltar a hora da degustação... que delícia!

Após alguns dias de serra e paisagens diferentes, descemos a serra cearense em direção  ao litoral, inclusive trafegando por alguns km da BR 116 (que nasce em Fortaleza e atravessa o país todo de Norte a Sul) e fomos ao lindo Morro Branco, pertencente ao município de Beberibe. Encontramos um lugar bacana, sombreado e bem tranquilo para preparamos nossa comidinha e, mais tarde, abrirmos nossa barraca e dormirmos ao luar. 

As lindas falésias de Morro Branco

Vista do farol, em meio às dunas


No dia seguinte fomos explorar o Monumento Nacional, com suas lindas e multicoloridas falésias!!! O local é bem turístico, mas nos agradou bastante. Aqui existe o serviço de guia - aproximadamente R$ 10,00 por pessoa (para grupos de mais de 6 pessoas) - mas dispensamos seus serviços e exploramos a região sozinhos, a pé, com tranquilidade. Realmente vale a pena visitar esta atração!!!


Morro Branco é lindíssimo!


Os passeios de buggy dominam a região

A região hoje conhecida por Beberibe (1882) era chamada, pelos tupis, de Uruanda. Posteriormente, com a ocupação portuguesa, mudou de nome diversas vezes, conforme as sesmarias eram distribuídas e doadas. Brasiliano Ferreira de Araújo deu o nome de Beberibe às suas terras, onde construiu uma pequena igreja. A produção de cana de açúcar alavancou a economia do lugar e ela chegou a ser conhecida como Vila Rica. 

Areias coloridas... com exceção do azul e verde, os outros tons são naturais (12 tons naturais). Antigamente os artesãos retiravam a  areia das falésias, mas hoje esta prática não é mais permitida; para se criar os lindos desenhos e trabalhos à disposição, usa-se areia artificial ou retirada de locais mais distantes, em diversos tons. 

A silicografia é a arte de criar desenhos em garrafas de vidro usando areia colorida

Dali seguimos para a Praia das Fontes e Praia do Diego, distante uns 5 km. Encontramos uma linda lagoa sobre as dunas e cujas águas limpíssimas nos convidaram a um delicioso banho. Ali ficamos, sozinhos, curtindo as falésias, dunas, laguinho e o canto dos téu-téus (quero-queros). 



Com direito à lagoa particular

Mais um pôr do  sol pra coleção

Na manhã seguinte, o Damião (morador local) nos deu dicas de como chegar à Praia do Uruaú mais rápido e com trajeto mais curto, além de no caminho podermos ver o piscinão que havia sido sugerido para a gente no dia anterior. O caminho era usando a BR AREIA rsrsrsrsr... Usamos nosso 4 x 4 e fomos curtindo a paisagem, linda e particular, visto que era segunda-feira e estávamos sozinhos no lugar. 

A caminho do Uruaú, o "piscinão"... lugar top para ficar também

O piscinão é um represamento artificial de riozinho... uma delícia para curtir

Em Fortim, fomos à Praia do Maceió e buscamos um cantinho para ficarmos. A Praia da Agulha está localizada num cantinho escondido, muito lindo... ela só tem um defeito: milhares de maruins!!!! Faz parte!

Coisas do Ceará - jangadas e vilas de pescadores ao longo da costa

Rio Jaguaribe, visto de cima do farol de Fortim


A Pontal do Maceió é a praia mais badalada e bonita de Fortim. Aqui existem muitas opções de acomodação e para a prática do kitesurf, aqui  é o point

Em 1603, a Expedição comandada por Pero Coelho de Souza foi malograda e aportou pelas bandas do que hoje é Fortim, denominando-a de Forte Nova Lisboa (ou Forte Nova Lusitânia). A cidade só foi fundada em 1992!!!!

Praia da Agulha

Observando os pescadores - Zé Biriba (que nos deu um peixe para o almojanta) e seu ajudante - voltarem em suas embarcações diminutas

Um cantinho especial

Costão de pedras na Praia da Agulha

Ficamos observando o trabalho e a habilidade incrível dos pescadores locais, equilibrando-se em suas pequenas jangadas, e acabamos ganhando um peixe fresco do Zé Biriba, que saiu para pescar às 3h, voltando às 7h já com o almoço garantido!

Na vizinha Canoa Quebrada, percebemos novamente o fenômeno de "exploração do turista"... a vilazinha é charmosa e possui uma vida noturna agitada. Sua Broadway (rua pedonal) é ponto de encontro para azaração, possuindo muitos restaurantes, lanchonetes e barzinhos, além de lojas de roupas e souvenires. Passeamos pela pedonal e aproveitamos para comprar camarões frescos (de criatório) a um bom custo x benefício (R$27,00 o quilo). 

Servidão, na Broadway

Centrinho da cidade, durante o dia

Pegando informação com locais, fomos (como é bom ter um 4 x 4) até as piscinas naturais (formação natural no mar, em maré alta) e aproveitamos um platô nas dunas para pararmos e abrirmos nosso toldo, de modo a curtir o vento e o visual da praia. Dali, observamos o ir-e-vir dos turistas, nos buggys, em passeios radicais para conhecer as praias e explorar as dunas da região. 

Vista de nosso acampamento. Na maré baixa, a praia fica extensa e mal se veem as piscinas naturais



O cartão postal de Canoa Quebrada... muito turístico, pouco atrativo


Acampados em Canoa Quebrada

Em nosso trajeto, agora na rodovia Sol Nascente (C-085), passamos por Icapuí (com suas extensas áreas de salinas), e fomos à Praia das Quitérias, pertencente ao município de Ibicuitaba

Fomos abordados pelo Bióia (Antônio Carlos), que perguntou se precisávamos algo, e nos ofereceu um abrigo à beira mar coberto de palha (muito comum aqui) e que é da família. Observação: em todas as praias é comum a existência de telhadinhos recobertos de palha, construídos por moradores locais (e de sua propriedade). Bióia nos levou até o abrigo e ainda ofereceu água e luz, além de apresentar seu primo, Tota, que mora ali e é pescador. Bom comerciante e muito falante, Bióia - que é uma espécie de atravessador de frutos do mar - nos ofereceu lagostas a R$ 50,00 o quilo e as trouxe logo em seguida. 

Com o amigo e comerciante Bióia... lagostas para o jantar

Improvisando uma churrasqueira


Pense numa delícia!!!! Um quilo de lagostas deu, aproximadamente, 10 peças!!!


Praia das Quitérias, pertencente à Ibicuitaba, Icapuí

Nosso último almojanta no Ceará foram lagostas assadas na brasa, com manteiga... hum!!! Que delícia!!! Infelizmente, no dia seguinte, não conseguimos nos despedir do amigo tão receptivo... deixamos nosso acampamento na beira do mar e nos dirigimos à divisa com o Rio Grande do Norte, usando a BR 304. 

A divisa entre os estados se dá em Manibu/Praia do Tibaú, muito linda! Mas isto não é novidade... as praias do Ceará são realmente muito bonitas e existem muitas que ainda são praticamente desertas! Uma delícia e aspecto muito particular do litoral do estado são as lindas e gostosas lagoas de água salobra às margens do mar! 

Outra curiosidade é que os ventos que sopram por esta área são super bons para a prática do kitesurf... em alta temporada, são centenas de velejadores disputando suas águas e áreas específicas! 

Com o sol cearense nas mãos!

Nossa aventura no estado do Ceará não terminou ainda... a ideia é voltarmos ao estado para explorar o seu sertão (mais ao sul), mas isto só daqui a algumas centenas de quilômetros, depois de explorarmos mais um pouco o litoral do nordeste de nosso país! 

Mas isso é história para a próxima postagem! Até lá...