Viagem Família______________________________________

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domingo, 2 de agosto de 2020

Letônia: o mais "fechado" dos países do Leste Europeu

Cascata do rio Venta: queda d'água mais comprida da Europa, em Kuldiga
 
Nossa passagem da Lituânia para a Letônia foi muito rápida que se não fosse pela placa indicativa de país nem teríamos percebido que já estávamos em Latvia (como é chamada por aqui)!


Já na chegada, buscamos um local onde pudéssemos encher nosso tanque d'água do carro. Apenas no Camping Veckursi, do Egmars, conseguimos enchê-lo por 3 Euros!!! Foi a segunda vez na viagem em que precisamos pagar pela água - a outra tinha sido no norte da Alemanha, também num Parking para traillers. Aproveitamos que estávamos lá, na beira da praia, para dar uma olhada. O lugar é top!! Apesar do vento forte, a praia era muito linda! 

Com Egmars, proprietário do Camping Veckursi

Praia no Mar Báltico, próximo de Liepaja

LIEPAJA - "a cidade onde o vento nasceu!" 

Seguimos direto para Liepaja - a cidade onde o vento nasceu! - e fomos ao Mercado Público, onde nos surpreendemos com o bom preço dos alimentos. Aproveitamos para comprar umas comidas típicas diferentes e na saída, conhecemos o casal Juris e Kristine, que ofereceram seu quintal para acamparmos naquele dia. 

Em frente ao Mercado Público, de 1910

Além disso, eles nos passaram muitas dicas do que ver e conhecer na cidade e redondezas! Ainda tivemos o privilégio de acampar em seu sítio, há alguns km de distância, onde participamos de um encontro de famílias. Foi top!! Conhecemos e conversamos com muitas pessoas, trocando experiências e ideias. Muito aprendizado e também, tempo de relaxar!

Casario típico em madeira



Pequeno musaranho

Esta cidade pitoresca, com pouco mais de 86 mil habitantes, é a terceira maior da Letônia e está localizada na região de Kurzeme. Fundada em 1253 por pescadores curonianos, inicialmente chamou-se de Lyva (nome do rio que banha a cidade). O nome Liepaja só passou a ser usado a partir de 1560. 

St. Joseph Cathedral (1900)


Interior da Catedral de São José

A Ordem Livoniana - sob a proteção dos Cavaleiros Teutônicos (germânicos) se estabeleceu no local a partir de 1263 e sob o governo do duque Jacob Kettler (1640-1681) desenvolveu-se muito, passando a um dos principais portos e com muitas relações comerciais externas. 

Durante a Partição da Polônia, em 1795, passou ao controle do Império Russo, e a partir daí, tornou-se um porto importante de saída para o Mar Báltico, de tal forma que por volta de 1900, 7% de toda a exportação russa  passava por aqui. Em 1913, 1738 navios entraram em Liepaja atravessando o porto com 1,5 milhão de toneladas de carregamentos!!


Torre de armazenamento da água de Karosta

Durante a 1ª Guerra Mundial, a cidade foi ocupada pelo exército alemão e na 2ª Guerra Mundial, Liepaja foi totalmente destruída. A anexação da Letônia à União Soviética pós guerra, trouxe miséria e milhares de presos deportados para a Sibéria. Muitas famílias foram separadas e nunca mais se reencontraram. 

Neste período tenebroso, Liepaja era uma cidade fechada, onde aldeões e fazendeiros precisavam de uma licença especial para entrar na cidade. O exército russo estabeleceu-se lá e sua principal base naval no Báltico ocupava a terça parte da cidade, com um efetivo de 26 mil homens. Em 1994 a última tropa russa deixou a cidade. 

St. Nicholas Russian Orthodox Naval Church, em Karosta (1901)





Esta base chama-se Karosta e fomos conhecê-la. Hoje é apenas um bairro da cidade de Liepaja, separada por uma ponte móvel (Ponte Oskars Kalparks) ou pelo outro lado, por uma ponte moderna, fixa. Desde a independência da Letônia, Liepaja trabalha arduamente para transformar a cidade em um importante porto na Europa. 

Ponte móvel que une Liepaja a Karosta


Estilo sisudo e quadrado dos prédios construídos durante o domínio soviético


A base de Karosta (Porto de Guerra, em letão) foi originalmente construída entre os anos de 1890 e 1906 a mando do Czar Alexander III, da Rússia. Ainda podem ser vistos e visitados os bunkers, parte das fortificações em frente ao mar e instalações militares, além de um museu (antiga cadeia militar) onde estão artefatos e outras curiosidades sobre o período de dominação soviético da cidade. 

Ruínas das instalações bélicas às margens do Báltico




KULDIGA - cidade onde o estilo medieval ainda está preservado

Nosso próximo destino na Letônia foi a cidade de Kuldigas, distante 90 km de Liepaja e onde fica a mais comprida queda d'água da Europa, com 249m de comprimento e uma altura média de 2m, no rio Venta.  



A cidade é muito charmosa e uma das mais visitadas no país por ter mantido seu centro histórico. A ponte antiga construída sobre o rio Venta, em 1874, tem 152m de comprimento, por 11m de largura, o suficiente para que pudessem passar duas carruagens ao mesmo tempo. 

Igreja do Santuário da Virgem Santa 

Ponte sobre o rio Venta



O Parque da Cidade é bem bonito, possuindo gasebo, caminho pavimentado para pedestres e 22 esculturas da artista letã Livija Rezevska, além de fontes.



A atual biblioteca da cidade e também local de exposição de arte fica onde antes, em 1875, havia a Sinagoga de Kuldiga. 


O calçadão da cidade, na Liepajas iela (rua), abriga lojas e restaurantes com arquitetura típica e bem pitoresca. O passeio sem pressa pelas ielas (ruas) da cidade é a melhor pedida. 



Liepaja iela (Rua Liepaja)

Igreja de Santa Catarina, a mais antiga da cidade, cuja primeira construção se deu em 1252 e foi reformulada inúmeras vezes ao longo da história


JURMALA
- linda praia e Parque Nacional

Como é verão estamos buscando um lugar onde possamos passar uns dias na praia... o vento tem sido um problema, pois nesta região venta muito e isso torna as temperaturas amenas. A caminho da capital, Riga, paramos na linda e paradisíaca Jurmala. 



Jurmala é uma cidade que se espalha por 32 km, entre o Golfo de Riga e o rio Lielupe. Durante o período de ocupação soviética, era o balneário favorito dos oficiais de alta patente do exército russo e do partido comunista. Entre os frequentadores, Brezhnev e Khrushchev eram figuras carimbadas. Mas muito antes da União Soviética ocupar este território, as praias de Jurmala já eram conhecidas dos latifundiários ricos do séc XIX que passavam suas férias por aqui. Também oficiais russos de altas patentes vinham para cá se recuperar dos ferimentos na Guerra Napoleônica de 1812.

Com suas casas de madeira em art nouveau, ainda hoje é bem frequentada e possui uma área de Parque Nacional. Isso dificultou um pouco a nossa busca por wild camping... acabamos encontrando um lugarzinho top às margens de um lago - lago Akacis, onde passamos uma agradável noite. 

LagoAkacis, na região de Jurmala




Cabe aqui, algumas curiosidades sobre a Letônia:

"Pelmeni"- comida típica dos países eslavos

- Um fato bem interessante que descobrimos aqui na Letônia é que as pessoas festejam o dia de seu nome (do Santo), fazendo festa e distribuindo presentes. Aqui se pode esquecer o dia do aniversário, porém esquecer o dia do nome é uma "ofensa"! rsrsrs

- A língua russa, oficializada durante o período de ocupação soviético (1940 a 1991) foi banida das escolas e locais de trabalho  a partir de 1991, quando o país se tornou independente. As placas em russo foram removidas das ruas e das escolas. Hoje, como segundo idioma nas escolas, é oferecido o inglês, o alemão ou até o francês. 

- As pessoas evitam conversar ou falar sobre o período de ocupação. Essa ferida ainda não cicatrizou, porém como existem muitos russos ainda morando no país, a presença cada vez mais forte do partido comunista no governo tem tido reflexos nas políticas internas adotadas, o que desagrada a uma grande parcela da população letã. 

- Os russos que optaram por continuar a morar na Letônia se recusam a falar o letão e  afirmam que estas terras eram deles e que foram retiradas de seu país, Rússia. 

Províncias da Letônia

- A situação é muito delicada quando se pergunta algo sobre "antigamente"! Normalmente as pessoas fogem do assunto. Com os amigos Juris e Kristine pudemos conversar um pouco sobre a questão de rito religioso, que também era proibido. Eles nos contaram, rapidamente e sem detalhes, que durante o período de ocupação os templos e igrejas foram ocupados e transformados em locais de armazenamento de materiais bélicos ou escritórios do partido comunista. A prática religiosa era proibida e punida com prisão dos membros familiares, demissão de cargo público e perseguição das crianças na escola. Caso um vizinho percebesse alguma irregularidade, ele já informava o que havia visto (ou suspeitado) para um membro do partido, que iria tomar "as devidas providências"!

Realmente foram tempos difíceis... 

RIGA - a capital da Letônia

Ponte sobre o rio Dalgava

A maior cidade do país e capital possui um terço da população de toda a Letônia, aproximadamente 700 mil habitantes. 



Torre da pólvora, originalmente chamada de Torre de Areia, construída por volta de 1330. Hoje abriga o Museu de Guerra da Letônia

O centro histórico de Riga foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e foi para lá que nos dirigimos. O preço do estacionamento de rua, por hora, próximo da Cidade Antiga é uma loucura, portanto optamos por parar nosso Garça um pouco mais longe e seguimos a pé, curtindo a arquitetura Art Nouveau e as belezas da cidade.

Palácio do Governo

Praça Central

Catedral de Riga, reconstruída muitas vezes ao longo do tempo. Sua primeira construção é datada de 1211, sob o nome de Catedral do Bispo Alberto

A Casa dos Blackheads - construída no séc. XIV pelos Cavaleiros Teutônicos, foi totalmente destruída durante a 2ª Guerra Mundial, tendo sido reconstruída em 1999.

Torre remanescente da antiga cidade medieval

A fundação da cidade de Riga está atribuída à chegada dos comerciantes germânicos, mercenários e Cavaleiros Teutônicos (Cruzados) que aportaram na região por volta do séc XII. O bispo Alberto de Buxhoeveden, nomeado Bispo de Livônia (Livônia era um estado que compreendia o território das atuais Letônia e Estônia) chegou em Riga em 1201, com 23 navios e mais 1500 cruzados em armas. Albert "converteu" o rei dos Livônios, Kaupo de Turaida, ao cristianismo e assim Riga ficou sob o domínio do Sacro Império Romano-Germânico. 


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Monumento à Independência, localizado na principal rua da cidade: Brivibas iela

Ao longo de sua história, Riga também foi dominada pelos suecos e russos, mesmo assim a língua alemã foi o idioma oficial até a imposição do idioma russo, em 1891. 

Experimentando bebidas típicas

O gato preto é o símbolo da cidade

O âmbar é a pedra símbolo do país


Por umas duas horas (ou mais) passeamos pelas ruas e vielas da linda Old Town, admirando as principais atrações turísticas da cidade. Antes de deixarmos Riga, ainda ganhei um lindo brinco de âmbar, pedra símbolo do país. 

SIGULDA - onde está localizado o Parque Nacional Gauja


A cidade localizada a 53 km da capital, Riga, atrai centenas de turistas e visitantes durante o ano todo. Também chamada de "Suíça do Vidzeme", em função da cor avermelhada do arenito nos rochedos e grutas em ambos os lados do rio Gauja, possui um castelo em ruínas, onde ocorre o Festival da cidade (em maio) e a Caverna Gutmanis, a maior caverna do Báltico, com 19 m de profundidade, 12 m de largura e 10 m de altura. 

Em nossa visita ao Parque, optamos por acampar num Camping estabelecido, onde tomamos banho no rio Gauja e fizemos amizade com um casal alemão, muito bacana. Ben e Maria moram em Köln e trocamos muitos ideias e dicas de locais para visitar, além de assistirmos ao pôr-de-sol (às 23h) tomando umas cervejas!!! 

Rio Gauja

Camping


Belo (e gelado) banho no rio Gauja

Praia do rio, no camping
Batendo um bom papo com Ben


A ideia de conhecermos a Caverna e Castelo acabou sendo frustrada, pois o estacionamento (todos pagos) ficava um pouco distante e o preço dos ingressos nas atrações acabaram nos desestimulando. 

TUJA - praia com balneário público gratuito

Deixamos o Parque Nacional de Gauja para trás e seguimos novamente para o litoral. Desta vez, encontramos um lindo local, com pit toilet e gratuito, bem sombreado e protegido do vento, que aqui deu uma trégua. Até conseguimos tomar banho de mar. Há um farol abandonado numa ponta da praia e aproveitamos para passear e tomar sol. 





Pôr-de-sol em Tuja - nossa despedida deste lindo país!

A Letônia, pequeno país em extensão, com área praticamente igual à da vizinha Lituânia, tem uma história riquíssima e muitas belezas naturais. Sua superfície é toda ocupada com extensas planícies  e pequenas elevações que não ultrapassam 300 m de altura. Seu principal rio é o Daugava, que tem sua nascente na Rússia e a Letônia possui 2,3 mil lagos glaciares e muitos pântanos. Fomos surpreendidos e adoramos conhecer o país, sua gente, culinária e as nossas experiências vividas foram muito intensas!!! 

Além da família de Juris e Kristine, ainda tivemos o privilégio de conhecer o Tyago, brasileiro, carioca,  treinador de futebol, que construiu aqui sua vida e família há 10 anos. Sem dúvida, boas amizades que nasceram aqui e que perduram até hoje! 

Nosso acampamento no quintal da casa de Juris e Kristine, em Liepaja

Com Kristine, Juris e Katrina, filha mais velha do casal
Iguaria que experimentamos na casa de nossos amigos letões: waffles com queijo (levemente adocicado) norueguês

                             

Sítio de Juris e Kristine


Com o Tjago, brasileiro que vive na Letônia

Sem dúvida, um lugar incrível e que vale a pena conhecer e revisitar!
















Um comentário:

  1. Amei, fica a anotação de um lugar a ser visitado. A foto do pôr do Sol ficou incrível. Me emocionei com a beleza do momento. Fiquem com Deus e continuem compartilhando essas experiências incríveis.

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