Viagem Família______________________________________

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sábado, 30 de março de 2019

Nicarágua, um país escondido

Vulcão Concepción, com 16 km de base, na Isla Ometepe. Lago Nicarágua
Mesmo sabendo que na atualidade as relações políticas-sociais na Nicarágua estão mais tranquilas, ainda assim tínhamos algumas incertezas sobre como seria nossa estada nesse país da América Central, que faz parte do CA4 (Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala). 
Todos os viajantes com quem conversamos e que passaram recentemente por aqui relataram sobre a extrema burocracia e papelada exigida para entrar no país, além das inúmeras taxas que são cobradas para a entrada do carro. Portanto, estávamos com "um saco de paciência" e muito bom humor quando chegamos à divisa!

Ônibus característicos da região
Como toda aduana na América Latina (ou quase todas!), o lugar é uma bagunça e a presença de agentes alfandegários que querem "auxiliar" na papelada e receber uma porcentagem ao final dos trâmites é imensa! 
Depois de uma conversa bem produtiva acabamos aceitando a ajuda de um rapaz, Douglas, que auxiliou o Marcos indicando o "caminho das pedras" de um guichê para o outro. Entre idas e vindas, ficamos 2 h para organizar toda a papelada e pagar todas as taxas, que totalizaram U$ 53 (U$2: imposto; U$24: entrada pessoal (2 pessoas); U$12: seguro; U$5:entrada do carro e fumigação; U$10: serviços aduaneiros*- foi o que pagamos, após negociação com o Douglas!!
Isso mesmo! Mesmo a moeda nacional sendo o Córdoba, as taxas são todas cobradas em dólares americanos!  (U$ 1 = C$ 32,50, câmbio durante nossa estada neste país) Isso já virou hábito nos países centro-americanos.


ATENÇÃO!
Importante ressaltar que existe um documento de entrada no país que deve ser preenchido pela internet, solicitando o visto de entrada na Nicarágua, 7 DIAS ANTES! Não havíamos preenchido este documento e nem sabíamos de sua existência. Assim sendo, solicitamos que a oficial aduaneira o preenchesse agora, no momento de nossa entrada, o que levou uns 40 min, aproximadamente. Trata-se de uma espécie de cadastro, onde se preenchem todos os dados pessoais, desde nome, endereço, profissão, idade,... e mediante a análise dessas informações, ganha-se o visto de entrada. Acabamos ajudando um casal de alemães que ali estava há horas tentando resolver esse mesmo problema, mas como não falavam espanhol, não estavam se fazendo entender e nem entendiam o que era necessário. Viajante ajuda viajante, esse é o lema!

Planta eólica, próximo de Rivas. Ao fundo, os vulcões Concepción e Maderas
Depois de todas as questões burocráticas resolvidas, seguimos ao norte em direção a Rivas, onde fica o Puerto San Jorge, local de onde sai o ferryboat para a Isla Ometepe, primeiro lugar que escolhemos conhecer nesse desconhecido país. Engraçado relatar que quando o nome do país, Nicarágua, me vinha à mente, automaticamente, a música do Ivan Lins: "Na Nicarágua, capital Manágua..." também aparecia! 
Quando chegamos ao porto em San Jorge, descobrimos que muitas são as empresas que fazem o transporte para a ilha, uma atuando a cada meia hora. Assim, escolhemos a empresa que faria a travessia dali a 20 min e negociamos nossa passagem: C$ 420: travessia do carro (é calculado pelo tamanho); C$ 50 por pessoa; C$ 82,50: imposto portuário; U$ 1: imposto por sermos turistas!)

Ferry no primeiro plano e Vulcão ao fundo

Entardecer no Lago Nicarágua

Seguindo em direção ao Porto de San José del Sur
A travessia demora, em média 1h30min, dependendo das condições de vento! Conhecemos dois franceses que estavam retornando para a ilha e que nos deram algumas dicas e mais alguma coisa... (!) Quando finalmente chegamos ao Puerto San José Del Sur já havia anoitecido! Buscar lugar para acampar num local desconhecido à noite não é fácil! 
Conversamos com alguns locais, mas nenhuma das informações obtidas era legal. Seguimos pela estrada escura e estreita buscando um local às margens no lago. Entramos em Santa Tereza, sem sucesso, e depois seguimos até Santo Domingo, onde há mais restaurantes e opções de pousadas. Reencontramos os franceses nessa estradinha e nos indicaram onde estavam hospedados, mas não havia lugar lá. Finalmente encontramos um estacionamento, do Hostal Miraflores, onde o Edi permitiu que acampássemos, pagando pelo uso do banheiro e ducha (U$10). Detalhe: apesar de ser um hotel/hostal com mais de 20 quartos, não havia um hóspede sequer além de nós...estranho...

Mapa da Isla
O dia seguinte foi dedicado a conhecer a Isla. Com um calor intenso, beirando os 40°C, dirigimo-nos à Mérida, onde acabamos desistindo de fazer a caminhada até a cratera do Vulcão Maderas, em função do calor sufocante. No entanto, aproveitamos a sombra das árvores para conversar com moradores locais, na sua maioria pescadores, e que possuem uma vida e linguajar muito próprio, diferente das pessoas que moram "no continente!" O pescador Santos Cruz nos ensinou sobre o sistema curioso de medidas local, onde o quintal, a carga e a cabeça são medidas de massa. Por exemplo: 3 bananas formam uma penca; 3 pencas formam uma cabeça (10 bananas, mais ou menos); 7 cabeças formam um quintal e 12 quintais formam uma carga (aproximadamente, 700 bananas).

Praia do Hostal Miraflores

Área interna da pousada


A Ilha Ometepe tem este nome originário da língua Nahuatl, ome (dois) e tepetl (montanha), ou seja, "lugar de duas montanhas"! Possui uma área de 276 km² e uma população estimada de 42 mil habitantes, aproximadamente. O Vulcão Concepción tem 1610 msnm e o Vulcão Maderas tem 1395 msnm, sendo que este último está inativo.
O Vulcão Concepción é originário do início da época do Holoceno e sua altitude faz com que a Ilha Ometepe seja a mais alta ilha de lago do mundo. Sua erupção mais recente foi em 2010 e apesar de ter sido extremamente violenta, poucos habitantes da ilha obedeceram a determinação do governo de abandonarem suas casas. 
Já o Vulcão Maderas, originário da mesma época, possui um lago de caldeira que foi descoberto em 1930 por um agricultor da região e os lados da montanha são usados para plantações de tabaco e café, sendo que o restante é uma reserva de floresta tropical. 
A cinza vulcânica torna o solo bastante fértil e este foi um dos fatores principais de manutenção e sustento dos povos que habitaram e continuam habitando essa região.

Estradinhas de terra que contornam a ilha. Árvore ao fundo: ceibo!

Criação de gado, plantações de bananas, pescado e turismo são as atividades econômicas da ilha
Retornamos o caminho em direção à Balgüe, onde visitamos uma igreja aberta, sem paredes nem muros, muito bonita, com telhado de palha e de lá, retornamos até San José, seguindo para Moyogalpa.




Curioso foi encontrar uma pista de aeroporto no meio da ilha... a pista interrompe a "rodovia" ou vice-versa e há um segurança que autoriza (ou não) a passagem! Provavelmente as autoridades vêm até aqui de avião, pois nem todos dispõe de 1,5h a 2 h para fazer a travessia! O aeroporto na ilha foi inaugurado em 2014!



Descobrimos também que na ilha há dois museus que contam a história dos povos antigos que habitavam a região. Como tudo aqui, o ingresso é cobrado em dólares americanos. Neste caso, o ingresso era de U$ 4 por pessoa, para cada museu. Achamos o preço meio salgado pelo acervo não muito rico e acabamos ficando só na entrada mesmo! 

Cerâmicas do Período Policromático Tardio


Há evidências que indicam a presença do homem na ilha por volta de 2000 a.C. a 500 a.C, porém são questionáveis. Existem vestígios destes povos, que falavam línguas macro chibchanas, datados de 300 a.C., com imagens de ídolos e petroglifos. A partir do séc. XVI a presença dos espanhóis na ilha fez com que a população nativa se mudasse para o alto da encosta dos vulcões. 

Esculturas em basalto
Aqui também existe o ceibo, árvore muito comum e típica do país, que pode chegar a 600 anos e que no Brasil é chamado de Sumaúma.
Descobrimos que o ferry que saía de Altagracia e fazia a travessia diretamente até Granada está inativo e, portanto, resolvemos deixar a Isla Ometepe e cruzar novamente com o ferry para Rivas.    

Ferry saindo de Moyogalpa em direção a Puero San José
Nosso ferry de retorno teve um custo de C$ 420 (carro) + C$ 82 (taxa portuária) + C$ 50 por pessoa.  Agora não foi cobrada a taxa de turista!!Coisa meio sem critérios. Tem hora que cobram, tem hora que não cobram, vai entender!

Capitão pilotando a nau... brincadeirinha!


O lago Nicarágua é o maior da América Central e cobre uma área de 8624 km². Atinge uma profundidade de 26 m e em suas águas existe uma espécie de tubarão de água doce (Carcharhinus leucas ou tubarão-cabeça-chata), que entra pelo estuário do rio San Juan, subindo a uma altitude de 32 m em relação ao nível do mar e encontrando aqui um habitat sustentável.

Destacamos aqui que não há postos de combustível nas rodovias, entre as cidades, na Nicarágua. Portanto, aproveitamos nossa passagem por Rivas para abastecermos, antes de seguirmos até Granada. Chegamos à cidade ao entardecer e percebemos que não haveria a possibilidade de dormirmos num posto de combustível. Assim, buscamos alternativas em algumas pousadas com área de estacionamento. Encontramos o Hostal Granada, onde o Moisés (vizinho) chamou o proprietário Amilcar com quem negociamos a estadia. O que ninguém contava era que  não haveria água naquela parte da cidade durante a noite! Consegui (Mari) lavar a louça num filete de água e coletamos água num balde grande, tomando banho de caneca e aproveitando o restinho para o vaso sanitário. 

Nosso Hostal Granada, na cidade. C$ 260 (U$8) pelo pernoite, para uso do banheiro e ducha! 
Granada é a cidade europeia mais antiga da América Central e é realmente muito bonita. Seu centro histórico com casario antigo está bem preservado e hoje é a sexta cidade mais populosa da Nicarágua, com uma população estimada de 130 mil habitantes. O único senão é o esgoto escorrendo a céu aberto, em poças e riozinhos que correm até o lago Nicarágua (também chamado de Lago Cocibolca)! Muito triste observar o descaso com o meio ambiente neste local, um dos mais visitados no país e poluindo o segundo maior lago da América Latina, ficando atrás, apenas, do lago Titicaca.  

Passeio de charrete pela cidade: U$ 10

Catedral de Nossa Senhora de Assunção ou Catedral de Granada, concluída em 1972, mas cuja primeira construção, com tapicel e rafaz, era datada de 1525, tendo sido reconstruída em 1751. A cúpula de ferro veio dos EUA no ano 1916.

Praça da Independência
A receptividade turística na Nicarágua definitivamente não é uma de suas qualidades!!!! Infelizmente em todos os lugares onde entrávamos a primeira coisa que a pessoa nos dizia era o preço da atração, esquecendo-se até de nos cumprimentar!! Desnecessário afirmar que os preços sempre são em dólares americanos... Uma pena! Esta particularidade acabou por nos afastar o desejo de irmos até o litoral do Pacífico, em León, e acabamos por decidir que nossa estadia neste país seria bem breve, o suficiente para atravessarmos até Honduras, nosso próximo destino! 

Convento e Igreja de São Francisco
Esta cidade foi vítima de inúmeras invasões piratas nos idos dos séculos XVI e XVII. Durante a Era Sandinista, nas décadas de 1970/1980, conseguiu evitar grande parte do regime totalitarista que se abateu sobre o país.

Igreja de Guadalupe

Rua larga e pavimentada, com iluminação subterrânea

Presença de esgoto a céu aberto nas ruas da cidade. Triste!

Mercado público


Deixamos Granada após fazermos umas compras no supermercado e seguimos rumo a Estelí, onde buscamos um lugar para pernoitarmos. Assim conhecemos o Alonzo, pessoa incrível e receptiva, que nos recebeu e ofereceu o que tinha para que nos sentíssemos bem e seguros. Ele tem uma área de estacionamento ao lado de posto de combustível e muitos caminhoneiros pernoitam ali. O lugar bem simples e cheio de ferro velho não era um paraíso, mas sentimo-nos felizes e tranquilos ao lado do cão Limber, e fizemos nosso jantar. Tudo aqui é meio adaptado, pois Alonzo está construindo uma estufa para plantas ornamentais e assim está vivendo com sua esposa de forma muito simples, até que consiga se organizar melhor.

O melhor de um lugar é a sua gente: Alonzo mostrou-se um bom e receptivo amigo!
Banheiro adaptado

Banho de caneca!!
Batemos um longo papo com esta pessoa especial e aprendemos sobre outras medidas utilizadas por aqui: a vara e a manzana. Uma vara corresponde a 33 polegadas e um quadrado de 100 varas x 100 varas equivale a 1 manzana! Vivendo e aprendendo!!

Uma vara =  33 polegadas

Não é venda de frutas!!  Quer comprar um terreno?? Vai ter de calcular a área primeiro!
Nossa passagem pela Nicarágua foi bastante rápida e acabamos não conhecendo muitas de suas atrações, mas deixamos um bom amigo lá para retornarmos um dia!!!

Conhecendo o sonho do Alonzo: plantas ornamentais

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